Publicado originalmente em 14 de dezembro de 2019
O colapso eleitoral sofrido pelo Partido Trabalhista sob a liderança de Jeremy Corbyn na eleição geral da quinta-feira no Reino Unido é mais um exemplo da falência política do que se passa por organizações de esquerda e trabalhistas.
Corbyn enfrentou um governo amplamente desprezado e dividido internamente, cujo líder é visto como meio monstro e meio bufão, em meio à desigualdade social recorde e ao crescente apoio ao socialismo.
No entanto, Corbyn e o Partido Trabalhista não foram apenas incapazes de capitalizar essa situação, mas sofreram uma derrota eleitoral esmagadora.
Não faltarão explicações fraudulentas para o desastre do Partido Trabalhista. A direita declarará que a vitória de Johnson é uma consequência da política “dura de esquerda” de Corbyn, da ameaça de implementar uma revolução socialista, entre tantas outras justificativas.
Para qualquer pessoa remotamente familiarizada com o histórico do Partido Trabalhista e da liderança de Corbyn, essa alegação é absurda.
Os corbynistas oferecerão seu próprio conjunto de desculpas prontas, tentando transferir a culpa de si para a classe trabalhadora, que será denunciada por ter sido insuficientemente esclarecida para votar em Corbyn.
A esquerda internacional de classe média recebeu o resultado de maneira patética e desmoralizadora. “Estou chorando, você está chorando”, soluçou uma manchete na Revista Jacobin.
“A luta até para manter as coisas como estão será muito mais difícil. Mas, a título de consolo, pelo menos agora temos mais camaradas com quem chorar.”
Essas pessoas estão chorando por si mesmas, não pelas consequências de suas próprias ações ao promoverem o odiado e desacreditado Partido Trabalhista.
O Reino Unido agora é liderado por um governo conservador de extrema direita que, sob Boris Johnson, prometeu sair da União Europeia (UE) em 31 de dezembro para concluir a “revolução de Thatcher”.
Johnson adotará a guerra comercial e militar em aliança com o governo Trump à custa de empregos, salários e condições de trabalho. Sua agenda é destruir o Serviço Nacional de Saúde (NHS, na sigla em inglês), estimular o nacionalismo, impor medidas anti-imigrantes e realizar um ataque frontal aos direitos democráticos.
Entre todas as mentiras e sujeiras divulgadas pela mídia nesta eleição, uma coisa era verdade: Corbyn era amplamente impopular.
Ele era impopular porque, nos quatro anos desde que chegou à liderança do Partido Trabalhista por ampla maioria, ele traiu completamente a confiança daqueles que votaram nele. Fraco, imprudente, preguiçoso, sem vontade de demonstrar qualquer capacidade de luta, Corbyn personificou a covardia e a capitulação.
Corbyn se opôs aos esforços para expulsar os blairistas, permitiu um voto livre sobre o bombardeio da Síria, prometeu renovar o sistema de mísseis nucleares Trident, apoiou as metas de gastos da OTAN e deu declarações dizendo que consideraria utilizar armas nucleares. Seus principais apoiadores foram expulsos do partido com acusações falsas de antissemitismo, sem Corbyn ter levantado um dedo na defesa deles.
No entanto, a personalidade de Corbyn era a expressão de sua política falida. Toda a sua carreira política, centrada em uma aliança com os stalinistas do jornal Morning Star, se deu no sentido de distanciar-se dos maiores crimes políticos do Partido Trabalhista, como a Guerra do Iraque de 2003, sem pôr em risco sua posição em Westminster.
O que é revelado no desastre do Partido Trabalhista é um tipo de política que busca negar a natureza revolucionária da classe trabalhadora.
Sob a liderança de Corbyn, o Partido Trabalhista rejeitou qualquer apelo de classe em favor da promoção de uma agenda baseada nas políticas de identidade de raça, nacionalidade, etnia, gênero e orientação sexual.
A ideóloga da esquerda de classe média, Chantal Mouffe, descreveu Corbyn como potencialmente o exemplo mais bem-sucedido de uma nova onda de “populismo de esquerda”, uma vez que ele “está à frente de um grande partido e conta com o apoio dos sindicatos”. O resultado dependeria de sua rejeição à “tradicional fronteira política de esquerda ... estabelecida sobre a base de classe”.
O que aqueles que agora choram pela derrota de Corbyn estão descobrindo é que seus próprios delírios e ilusões não foram compartilhados pela grande massa da população, que sabia o número eleitoral de Corbyn.
A verdade trágica é que, se Corbyn vencesse a eleição, ele viria ao Palácio de Buckingham para beijar a mão da rainha e depois anunciaria um gabinete dominado pela direita do Partido Trabalhista. As figuras políticas envolvidas na participação de Tony Blair na guerra criminosa do Iraque, se não o próprio Blair, seriam escolhidos para a equipe do número 10 de Downing Street.
A traição de Corbyn teria sido ainda mais miserável do que a do governo da “esquerda radical” do SYRIZA na Grécia, que transformou o país em um vassalo do FMI e da UE, uma prisão suja para refugiados e uma ditadura policial virtual.
Não haveria quaisquer chances de reforma social no governo de Corbyn. A única diferença é que as nomeações teriam sido feitas para satisfazer vários critérios étnicos, raciais, de gênero e sexuais, de acordo com os requisitos da política de identidade.
O colapso de Corbyn é a exposição não apenas do Partido Trabalhista, mas de toda a perspectiva da “via parlamentar ao socialismo”. As grandes questões sobre a guerra, pobreza e desigualdade social não serão resolvidas com campanhas eleitorais habilmente conduzidas.
A pré-condição para resolver qualquer um dos grandes problemas sociais que a humanidade enfrenta é uma mobilização massiva da classe trabalhadora e a intensificação da luta de classes em escala global.
Somente um movimento que se identifique com essa luta, que rompa o miserável debate nacionalista sobre o Brexit, e lute por um programa de unidade proletária internacional, será capaz de conquistar a confiança da classe trabalhadora e liderá-la na luta pelo socialismo.
Essa é a perspectiva do Comitê Internacional da Quarta Internacional.