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Perspectivas

Cresce apoio a Julian Assange dias antes das audiências de extradição

Publicado originalmente em 20 de fevereiro de 2020

Dias antes das audiências na Corte britânica sobre a extradição de Julian Assange para os EUA, que acontecerão a partir da próxima segunda-feira, há um reconhecimento crescente de que uma grave injustiça, com implicações de grande alcance para os direitos democráticos de milhões de pessoas, está em andamento.

A questão crítica é transformar esse sentimento latente em um movimento político de massas da classe trabalhadora para impedir a extradição de Assange e garantir sua completa liberdade.

Há muita coisa em jogo.

A tentativa de enviar o editor do WikiLeaks para uma prisão dos EUA por ter revelado crimes de guerra é o maior ataque à liberdade de imprensa em décadas. Os advogados e colegas de Assange, como a advogada Jennifer Robinson e o editor-chefe do WikiLeaks, Kristinn Hrafnson, soaram o alarme: se Assange for extraditado para os EUA, o mesmo poderá acontecer com qualquer jornalista, editor ou ativista que entre em conflito com o governo dos EUA.

Manifestante segura uma faixa pela liberdade de Assange em frente à Corte de Magistrados de Westminster, em 19 de fevereiro de 2020 (Crédito: AP Photo/Kirsty Wigglesworth)

Assange já passou pelo que Nils Melzer, relator da ONU, considerou uma tortura psicológica nas mãos dos governos que o perseguiam. Ele agora enfrenta a perspectiva de ser tratado como um terrorista nos confins de uma prisão dos EUA pelo resto da vida.

Em uma audiência administrativa ontem, o fundador do WikiLeaks apareceu magro e hesitou ao falar sua data de nascimento. Seus advogados sinalizaram que, durante a audiência, apontariam a ilegalidade da extradição do Reino Unido para os EUA por crimes políticos e detalhariam os inúmeros abusos sofridos por Assange, inclusive ter sido espionado na embaixada do Equador em Londres por agências de inteligência dos EUA enquanto ele era um refugiado político.

Evidências deixam claro que a tentativa de extradição é uma farsa judicial.

Os representantes da imprensa corporativa, no entanto, são amplamente indiferentes a essas questões. Ao invés disso, eles se concentraram na revelação de que uma testemunha de defesa dirá que o presidente dos EUA, Donald Trump, ofereceu perdão a Assange através do ex-deputado republicano Dana Rohrabacher no final de 2017. A oferta foi supostamente em troca de evidências que refutavam as alegações de que Trump foi eleito como resultado da “interferência russa” na eleição de 2016.

A mídia alinhada ao Partido Democrata já respondeu histericamente, alegando que a oferta de perdão noticiada confirma suas teorias de conspiração desacreditadas sobre o “Russiagate”, que ligam Trump, a Rússia e o WikiLeaks. Na realidade, as negociações entre Rohrabacher e Assange foram noticiadas publicamente na época, em agosto de 2017.

Além disso, Assange não precisou ser convencido a negar o envolvimento russo na publicação do WikiLeaks em 2016 de e-mails do Comitê Nacional Democrata (DNC, na sigla em inglês), que revelou a corrupção total dessa organização. Ele afirmou em várias ocasiões que a Rússia não era a fonte dos e-mails. Seu colaborador íntimo Craig Murray disse que eles foram fornecidos por especialistas do DNC. E, qualquer que seja o conteúdo das discussões, é o governo Trump que está liderando a tentativa de processar e prender Assange.

As calúnias do Partido Democrata contra Assange e os longos esforços das elites dominantes ao redor do mundo para isolá-lo estão colapsando.

Na Alemanha, os principais jornais, artistas e políticos aposentados condenaram a perseguição a Assange, enquanto os deputados australianos Andrew Wikie e George Christensen visitaram Assange na prisão de Belmarsh esta semana e exigiram que o governo australiano o defenda como um dos seus cidadãos.

Essas iniciativas foram, sem dúvida, uma resposta a uma onda de apoio de baixo. A ampla simpatia popular por Assange é uma expressão de uma crescente radicalização política de trabalhadores e da juventude, cada vez mais atraídos por posições de esquerda, antiguerra e socialistas em meio ao aumento da luta de classes e uma explosão do militarismo imperialista.

A questão decisiva é como a luta pela liberdade de Assange deve ser levada adiante. O maior erro – e o caminho mais seguro para garantir a extradição de Assange – seria semear ilusões de que qualquer elemento do estado capitalista, no Reino Unido ou em outro lugar, garantirá a liberdade do fundador do WikiLeaks.

O líder do Partido Trabalhista britânico, Jeremy Corbyn, está à frente dos esforços para desviar os defensores de Assange para o próprio establishment político responsável por sua terrível situação.

Corbyn, como seus colegas, promoveu a tentativa de incriminar Assange com falsas acusações de má conduta sexual na Suécia. Ele então permaneceu em silêncio sobre Assange, prisioneiro político do Reino Unido, por mais de 10 meses, inclusive durante as eleições gerais do ano passado. O objetivo claro era suprimir a oposição, particularmente entre os membros do Partido Trabalhista, contra a extradição de Assange.

Agora, depois de perder a eleição e de capitular para a direita de seu próprio partido em todas as situações, Corbyn declarou que se opõe à perseguição dos EUA a Assange. A declaração, dada poucas semanas antes de ele deixar o cargo de líder do partido, tem como objetivo reabilitar os trabalhistas e canalizar a raiva pelos ataques a Assange por trás do aparato parlamentar.

Isso foi demonstrado pelas tentativas de Corbyn desta semana de apresentar o primeiro-ministro conservador Boris Johnson como um convertido recente à luta pela defesa da liberdade de imprensa.

Em entrevista à rede de TV Australian Broadcasting Corporation, Corbyn disse que, em resposta a uma pergunta que fez no parlamento, Johnson tinha “aceitado” que o tratado de extradição entre o Reino Unido e os EUA era “desequilibrado”. Corbyn proclamou que isso era uma “grande mudança” do governo.

Corbyn declarou então que Johnson “parece-me entender que existe um princípio aqui de que alguém que se abre e diz a verdade, como Julian Assange fez, não deve ser deportado para os Estados Unidos”.

Johnson é uma figura de extrema direita. Seu programa é o nacionalismo britânico, a expansão das forças armadas, o ataque aos direitos sociais da classe trabalhadora e a repressão do estado policial. Ele se gabou quando Assange foi ilegalmente arrastado para fora da embaixada do Equador por policiais britânicos no ano passado.

Corbyn fez os comentários quando foi revelado que Johnson se cercou de conselheiros fascistas, incluindo defensores abertos da eugenia.

O chamado de Corbyn por um apelo moral a Johnson é uma tentativa de desviar a oposição à perseguição a Assange para canais inofensivos. A defesa de Assange, como todos os direitos democráticos, é inseparável da luta para construir um movimento socialista de massas da classe trabalhadora.

Em outras palavras, a campanha pela liberdade de Assange é um componente essencial da luta por todos os direitos sociais e democráticos da classe trabalhadora.

Campanha do Partido Socialista pela Igualdade (Austrália), em Toronto, no estado de Nova Gales do Sul

Essa luta é inseparável da luta para acabar com o militarismo e a guerra, que acontece em meio aos preparativos das principais potências para novos conflitos catastróficos. Ela faz parte da luta para impedir a censura na Internet pelos governos à medida que se voltam para medidas cada vez mais autoritárias para suprimir a oposição social de massas.

Os milhões de trabalhadores que estão entrando em grandes batalhas de classe, da França, Líbano e Chile ao Reino Unido, EUA e Austrália, são aqueles que podem garantir a defesa de Assange, da corajosa denunciante Chelsea Manning e de todos os prisioneiros da guerra de classe.

Como parte de sua luta para mobilizar a classe trabalhadora em defesa de Assange, o WSWS e os Partidos Socialistas pela Igualdade estão realizando uma série de iniciativas nas próximas semanas, incluindo comícios em Sydney e Melbourne neste fim de semana e uma reunião pública em Londres no domingo. Chamamos todos os defensores dos direitos democráticos a participarem dessas atividades.

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The international witch-hunt of Julian Assange
[14 de janeiro de 2020]

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