Publicado originalmente em 21 de março de 2020
Em resposta às greves selvagens que forçaram o fechamento da indústria automotiva dos EUA, os trabalhadores da General Motors no México estão fazendo um apelo aos trabalhadores estadunidenses e canadenses para que apoiem o fechamento de fábricas mexicanas para evitar a propagação do novo coronavírus.
Durante a greve nacional dos 48 mil trabalhadores da GM nos Estados Unidos, em setembro e outubro do ano passado, os trabalhadores do Complexo da GM em Silao, no estado de Guanajuato, se organizaram contra as tentativas da empresa de impor horas extras e acelerar a produção com o objetivo de compensar os efeitos da greve nos EUA. A GM revidou demitindo pelo menos uma dúzia de trabalhadores e tem retaliado aumentando o ritmo de trabalho e realizando outros abusos. Um fundo de defesa internacional arrecadou milhares de dólares para a luta dos trabalhadores demitidos da GM de Silao para que fossem readmitidos.
Embora a General Motors, juntamente com a Ford e a Fiat Chrysler, tenham anunciado na quarta-feira que encerrariam a produção em toda a América do Norte, os trabalhadores do Complexo de Silao da GM avisaram o Boletim do Trabalhador Automotivo do WSWS que estão sendo obrigados a continuar trabalhando.
Os sindicatos e a mídia corporativa silenciaram-se completamente sobre as greves selvagens que se espalharam por várias fábricas da Fiat Chrysler em Michigan (EUA) e em Windsor, na província canadense de Ontário. Elas foram a continuação de uma onda global de greves selvagens que teve início nas fábricas automotivas na Espanha e Itália. Os trabalhadores no México apontaram que o Boletim dos Trabalhadores Automotivos do WSWS foi a única fonte noticiando a onda de greves.
O governo mexicano do presidente Andrés Manuel López Obrador tem sido amplamente denunciado pelas autoridades de saúde por sua falta de ação e um número insuficientes de testes. Apesar disso, casos de COVID-19 foram confirmados nas cidades de León e Irapuato, onde residem a maioria dos trabalhadores da fábrica de Silao.
Um trabalhador do setor de transmissões em Silao (GRX) disse que o líder de sua equipe leu um documento oficial que declarava que, mesmo que casos sejam confirmados dentro da fábrica, “as medidas tomadas pela empresa seriam desinfetar e promover o uso de máscaras, manter a distância, entre outras coisas”. O líder rasgou o comunicado com nojo depois de lê-lo.
Esses relatos foram confirmados ontem pelo jornal mexicano El Economista, que escreveu: “A General Motors, a maior montadora do México, anunciou que suas operações de produção no México continuam normalmente...”.
Os trabalhadores da linha de montagem em Silao informaram que a gerência só fornecerá um “kit de limpeza” composto por um borrifador de água com cloro e paninhos, e dará 10 minutos no início de cada turno para limpar as estações de trabalho. As trabalhadoras grávidas receberam licenças médicas.
Até o momento, Audi, Fiat Chrysler, Ford, Honda e Toyota anunciaram fechamentos parciais de dois a dez dias em suas fábricas no México. Seus anúncios não mencionavam a necessidade de interromper a produção até que o perigo de contágio passe, mas “ajustes” para atender às interrupções na cadeia de suprimentos e à redução na demanda de veículos. Os 3 mil trabalhadores da fábrica de motocicletas e peças de reposição da Honda em El Salto, no estado de Jalisco, continuarão trabalhando, o que foi confirmado pelo WSWS por um ex-funcionário.
Como foi noticiado em vários artigos do WSWS, a administração do Complexo de Silao da GM é conhecida por dar aos trabalhadores literalmente menos de dez minutos para fazerem suas refeições, por não permitir aos trabalhadores pausas para usar o banheiro, por rejeitar pedidos de licença médica e demitir arbitrariamente trabalhadores com problemas de saúde. “É triste que a GM, mesmo sendo uma corporação internacional, forneça tão poucos recursos para proteger seus funcionários – já que os gerentes não estão vindo trabalhar”, observou uma operária da linha de montagem da fábrica.
Referindo-se às greves selvagens internacionais, ela explicou: “Existe um medo por aqui de que [os trabalhadores] sejam demitidos e percam os meios de sustentar suas famílias”. Ela concordou com a necessidade de uma luta conjunta internacional, acrescentando: “Eu concordo porque não estamos assumindo riscos apenas como trabalhadores. Se ficamos expostos à infecção, estamos expondo as nossas famílias à infecção.”
“A empresa não se importa com a nossa saúde”, comentou uma de suas companheiras de trabalho. “Não temos nem sequer álcool gel no refeitório, muito menos na entrada da fábrica... nós mexemos com peças que vêm de outras fábricas e até de outros países e depois comemos com as mãos totalmente sujas.” Ainda segundo ela, alguns trabalhadores estão vindo trabalhar doentes e os ônibus que os levam para a fábrica vêm lotados com 40 pessoas.
Ela, então, fez uma declaração direcionada aos trabalhadores das empresas automotivas nos EUA e no Canadá: “Irmãos, eu peço a solidariedade de vocês nestes tempos difíceis que atravessamos globalmente com essa pandemia que ameaça toda a humanidade. Na GM Silao, estamos completamente expostos a contrair o vírus, uma vez que não temos as proteções mínimas.”
“Pedimos o apoio de vocês para exigir que as fábricas no México sejam fechadas devido à gravidade dessa crise, com pagamento integral dos nossos salários para que possamos pagar as despesas das nossas famílias. E, se alguém acabar ficando doente devido a tal negligência, exigir uma compensação para o trabalhador e sua família, já que ainda não sabemos as implicações dessa doença.”
“Como trabalhadora da GM Silao, vejo o sindicato totalmente indiferente a esta questão, por isso que peço a colaboração de vocês, irmãos. Por favor, nos ajudem, exijam que sejamos ouvidos sobre essa necessidade. Deixo o meu total agradecimento em nome dos meus companheiros de trabalho.”
Essa colaboração internacional da classe trabalhadora é tão crucial para os trabalhadores mexicanos quanto para os seus companheiros estadunidenses e canadenses. Só assim poderão superar a resistência de algumas das mais poderosas empresas transnacionais, de seus investidores e dos estados capitalistas. As montadoras estão adiando ao máximo a paralisação da produção nos EUA e no Canadá, enquanto mantém algumas instalações, como armazéns de peças, funcionando totalmente. Além disso, planejam reiniciar a produção assim que seus laranjas dos sindicatos retomem o controle da situação e sejam capazes de evitar novas greves.
O governo mexicano tem trabalhado incessantemente para minimizar o risco enfrentado pelos trabalhadores e suas famílias, ao mesmo tempo que lembra às corporações que, durante os fechamentos de emergência, elas só são legalmente obrigadas a pagar salários mínimos. Em outras palavras, o governo está condenando os trabalhadores e suas famílias ao risco de infecção ou ao salário de fome de 123 pesos – equivalente a 25 reais – por dia.
A pandemia global só pode ser contida e suas consequências mitigadas se os trabalhadores organizarem sua força coletiva internacionalmente para derrotar a política de negligência maligna dos governos capitalistas e das grandes corporações, que enviam trilhões de dólares para os bancos e Wall Street e alguns centavos para retardar a propagação do vírus ou tratar a infecção. Isso só pode ser realizado de forma independente dos sindicatos pró-capitalistas e nacionalistas, que têm atuado de mãos dadas com as empresas para manter os trabalhadores no serviço, e a partir de uma luta contra o capitalismo, que impede a utilização coordenada e racional dos recursos da sociedade para combater a pandemia.
A pandemia de COVID-19 tem reforçado, de forma urgente, a necessidade de ampliar e consolidar a colaboração através das fronteiras entre os trabalhadores mexicanos e estadunidenses por meio de uma rede internacional de comitês de base para garantir os direitos sociais dos trabalhadores e a proteção de suas vidas, acima de qualquer consideração sobre o lucro privado.
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