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Quem está por trás da pressão pela reabertura das escolas em São Paulo?

Publicado originalmente em 12 de fevereiro de 2021

Enquanto professores em São Paulo se posicionam contra a política assassina de imunidade de rebanho das classes dominantes de todo o mundo, falando por milhões de trabalhadores que se recusam a aceitar a alternativa entre a fome e a exposição à pandemia da COVID-19, as autoridades locais estão organizando uma ofensiva midiática para difamá-los como preguiçosos e contrários à ciência. Eles estão tentando convencer os pais de que é seguro enviar seus filhos de volta às escolas, que sofrem cronicamente com a falta de recursos e a precariedade.

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Dois sindicatos, representando um total de 250.000 professores no estado de São Paulo (APEOESP) e na capital do mesmo nome (SINPEEM), foram forçados, por esmagadora maioria de votos, a declarar uma greve que eles já estão tentando liquidar através de negociações fraudulentas de condições "seguras" para um retorno às aulas presenciais.

A ofensiva de propaganda governamental pela reabertura das escolas é entusiasticamente apoiada pela imprensa corporativa, mesmo enquanto o estado de São Paulo registra uma média móvel de 245 mortes por dia de COVID-19, a mais alta desde agosto. O Brasil como um todo registrou até agora mais de 237.000 mortes por COVID-19 e 9,7 milhões de casos, o segundo pior número a nível internacional depois dos Estados Unidos. E apesar das cenas horríveis que emergem diariamente da capital amazônica de Manaus, o estado de São Paulo continua sendo o epicentro da pandemia no país, com mais de 55.000 mortes.

Indispensável no impulso pela reabertura das escolas é a promoção ininterrupta pelo governo e pela mídia corporativa de "movimentos populares" de pais e think tanks de educação que adaptaram a política de imunidade de rebanho promovida pelo presidente fascistóide Jair Bolsonaro às reaberturas escolares. Reproduzindo o mantra de que "a cura não pode ser pior que a doença", eles insistem que o fechamento das escolas está provocando uma onda sem precedentes de problemas de saúde mental e nutrição para os alunos mais empobrecidos.

Estes esforços exalam a hipocrisia, vindos de forças que não têm interesse em controlar a pandemia, e anteriormente concentraram seus principais esforços em promover a privatização da educação e o corte dos salários e pensões dos professores. Eles estão seguindo um roteiro comum que enfatiza o fardo social do isolamento das crianças, enquanto afirmam que a transmissão na escola é baixa se houver uma série de protocolos, e que os alunos não estão sujeitos a consequência sérias da doença.

Em São Paulo, estes esforços têm sido liderados por um punhado de grupos lobistas que são velhos conhecidos de professores e pais, incluindo a ONG Todos pela Educação e o Instituto Ayrton Senna. Além deles, está envolvido, há o recém-formado movimento "Escolas Abertas".

As duas primeiras entidades têm estado na vanguarda da promoção de "reformas" apoiadas pelo Banco Mundial nas escolas brasileiras. Já em abril, essas mesmas forças estavam promovendo a adoção permanente do ensino à distância, com o coordenador de área do Banco Mundial para o Brasil escrevendo que “Em termos pedagógicos, é crucial avaliar quais práticas do ensino a distância podem ser mantidas após a reabertura das escolas, se beneficiando da estrutura posta em funcionamento durante a pandemia”.

Priscilla Cruz, a presidente de Todos pela Educação que hoje derrama lágrimas de crocodilo sobre o impacto da pandemia nas crianças, declarou em uma conferência on-line em abril, onde foi fortemente oposta pelos professores, que “as pessoas falam, ‘mas o ensino a distância pode gerar desigualdade’. Pode produzir alguma desigualdade, mas a gente precisa medir quais são os impactos todos.”

Priscila Cruz, presidente da ONG Todos pela Educação (Twitter)

Agora Cruz abandonou sua promoção anterior do ensino à distância para apoiar a reabertura de escolas como o "pilar de sustentação da recuperação econômica", ou seja, a restauração dos lucros capitalistas através da atividade econômica desenfreada procurada pela classe dominante.

O Instituto Ayrton Senna havia promovido a reabertura de escolas em setembro, uma prescrição que foi seguida principalmente por Manaus, levando ao ressurgimento descontrolado da pandemia naquela cidade. Este ressurgimento é visto por especialistas como o processo fundamental por trás do surgimento da nova variante brasileira do vírus que agora se espalha por todo o país e internacionalmente, com o potencial mortal de evadir a proteção dada pelas vacinas atuais.

Por sua vez, o movimento "Escolas Abertas" é a mais recente adição a este grupo de lobistas, e tem a pretensão declarada de representar uma suposta maioria de pais que gostariam de uma reabertura das escolas, mas cujas exigências seriam supostamente silenciadas pela mídia corporativa. O movimento está peticionando à Justiça paulista a reabertura total das escolas da cidade. Também encenou uma manifestação de 50 pessoas em frente ao apartamento do prefeito de São Paulo, Bruno Covas, no dia 13 de janeiro, contra o que eles consideram uma reabertura lenta das escolas.

O movimento publicou nas redes sociais uma cara peça publicitária para obter apoio para sua petição. Ela apresenta menos de um punhado de trabalhadores do empobrecido projeto habitacional Água Branca, na zona oeste da cidade, declarando que eles não podem trabalhar porque têm que cuidar das crianças. Eles acrescentam que algumas semanas após o início da pandemia, eles ficaram sem recursos para pagar pela internet, e assim seus filhos não puderam mais seguir as aulas.

Em número muito superior a estes trabalhadores entre os signatários originais da petição apresentados no vídeo estão os representantes ricos da elite dominante capitalista. A petição foi lançada originalmente no grupo de WhatsApp dos pais de alunos da escola particular de elite Saint Paul's, que é frequentada pelos filhos do governador multimilionário de São Paulo, João Doria. Entre eles está Tide Setubal Souza, herdeira do maior banco privado do Brasil, o Itaú - com 90.000 trabalhadores e 60 milhões de clientes - e Ilona Becskeházy, uma bolsonarista fanática que trabalhou no Ministério da Educação sob o comando do ministro fascistóide Abraham Weintraub, que foi demitido no ano passado para apaziguar a embaixada chinesa depois de promover teorias de que a China tinha criado deliberadamente o novo coronavírus e por usar insultos racistas anti-chineses.

A ofensiva concertada na imprensa foi projetada para quebrar a resistência dos professores e trabalhadores em geral à política mortal de imunidade de rebanho, contra a qual os cientistas emitiram advertências expressas.

Revisando dados científicos sobre a carnificina que está sendo produzida pela classe dominante em Manaus, onde os pacientes estão recebendo morfina para aliviar a dor da morte por sufocamento, os especialistas de saúde britânicos Devi Sridhar e Deepti Gurdasani escreveram na revista Science há menos de um mês: "Mesmo uma estratégia de mitigação, através da qual ao vírus é permitido se espalhar pela da população, com o objetivo de manter as internações dentro da capacidade de atendimento à saúde, como é feito para o vírus da influenza, é claramente mal orientada para o SARS-CoV-2".

Aqueles que promovem a reabertura das escolas em São Paulo e procuram estender tal política por todo o Brasil, em meio a uma pandemia descontrolada que está se reproduzindo e evoluindo através de novas variantes, têm sangue nas mãos. Os professores paulistas em greve, por sua vez, falam pelos milhões que se opõem a esta política e não têm confiança no governo para proteger a vida de seus filhos.

Na entrevista de setembro com a diretora do Instituto Ayrton Senna promovendo a reabertura das escolas, o maior diário brasileiro, a Folha de S. Paulo, reconheceu indiretamente o sentimento popular, declarando que "É curioso como, dentre grupos de pais, haja pouca repercussão de conteúdos favoráveis à abertura das escolas, enquanto notícias alarmantes têm destaque."

A luta para colocar a defesa da vida humana acima dos lucros capitalistas deve ser realizada através da formação de comitês de base para organizar os professores em oposição consciente a todos aqueles que procuram facilitar a política de imunidade de rebanho, negociando uma reabertura "segura" das escolas que a classe dominante não tem absolutamente nenhum interesse em assegurar. Entre essas forças estão a APEOESP e o SINPEEM e seus promotores pseudoesquerdistas, que estão fazendo tudo ao seu alcance para sabotar a greve dos professores de São Paulo.

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