Publicado originalmente em 24 de abril de 2021
O 1˚ de Maio de 2021 será o segundo ano em que o dia internacional da solidariedade da classe trabalhadora será realizado em meio à pandemia global de COVID-19. O Comitê Internacional da Quarta Internacional (CIQI) irá marcar esse dia com um Comício On-line em que será realizado um chamado para a formação da Aliança Operária Internacional de Comitês de Base (AOI-CB).
O CIQI e suas seções nacionais, os Partidos Socialistas pela Igualdade, estão levando adiante essa iniciativa para começar e desenvolver uma contraofensiva global da classe operária contra as políticas homicidas dos governos controlados pela classe dominante capitalista, que são responsáveis por esta catástrofe mundial.
A formação da AOI-CB é uma resposta crucial a uma crise global que tem causado um terrível impacto na vida humana. No 1˚ de Maio de 2020, o número global de mortos era quase 250 mil. Hoje, esse número é 12 vezes maior, de mais de 3 milhões de mortos.
O número de mortes em países e regiões do mundo é espantoso. Mais de 850 mil pessoas morreram na América do Norte, incluindo mais de 583 mil nos Estados Unidos e 213 mil no México. Na América do Sul, 640 mil pessoas morreram, com mais da metade, 380 mil, apenas no Brasil.
Um milhão de vidas foram perdidas na Europa, incluindo 130 mil no Reino Unido, 120 mil na Itália, 110 mil na Rússia, 100 mil na França e 80 mil na Alemanha. Na Ásia, o número de mortos aproxima-se de 500 mil, liderado pela Índia com quase 200 mil vítimas, Irã com 70 mil, Indonésia com 44 mil e Turquia com 37 mil.
Mais de 120 mil pessoas morreram na África, com quase metade dos mortos na África do Sul.
Além do enorme número de mortes, as consequências a longo prazo para aqueles que sobreviveram são colossais. Cerca de 150 milhões de pessoas foram infectadas no mundo inteiro, com milhões sofrendo com sintomas permanentes muito tempo depois de terem supostamente se recuperado. De acordo com um estudo recente, aqueles que foram infectados mas não foram hospitalizados têm um risco de morte 60% maior nos próximos seis meses do que aqueles que não foram infectados.
Quase um ano e meio após o início da pandemia, o vírus ainda está se espalhando pelo mundo. Impulsionado pela propagação de novas e mais contagiosas variantes do novo coronavírus, o número médio de novos casos em todo o mundo está em seu nível mais alto.
Na Índia, os novos casos diários têm chegado a mais de 250 mil. Os sistemas de saúde das grandes cidades estão em colapso e os crematórios estão sobrecarregados enquanto os mortos se amontoam. No Brasil, os novos casos diários e novas mortes estão em níveis recordes. No Irã, inicialmente um epicentro da pandemia, as novas infecções estão em níveis muito mais altos do que em qualquer outro momento da pandemia.
Os Estados Unidos é o país mais rico e mais poderoso de todas as nações imperialistas. Mas apesar de sua riqueza e de seu controle das tecnologias mais avançadas, a pandemia expôs o atraso reacionário de seu sistema político e de sua organização social. Desde o início, a resposta dos Estados Unidos à pandemia tem sido determinada – antes de tudo e sempre – pelos interesses econômicos da oligarquia dominante. A política governamental – primeiro sob Trump e agora sob Biden – foi direcionada não para a erradicação do coronavírus, mas para a perpetuação do boom de Wall Street e para fazer avançar a campanha do imperialismo americano para a hegemonia global.
O resultado das políticas impulsionadas pelo mercado é um aumento espantoso da taxa anual de mortes. O número de “mortes em excesso” em 2020 é maior do que o registrado durante a pandemia de gripe espanhola de 1918. Apesar de todos os avanços da ciência e tecnologia ao longo de um século, mais americanos morrerão na pandemia de COVID-19 do que durante a pandemia de 1918-19.
Com quase 600 mil mortos nos EUA, o número de mortos pela COVID-19 aproxima-se rapidamente do número de soldados mortos na Guerra Civil, o conflito mais mortal da história americana. Mais de 70 mil novos casos são registrados a cada dia, com quase 750 novas mortes. Muitos estados, particularmente no centro-oeste industrial, estão em meio a uma onda de casos, com surtos centrados em escolas, creches e fábricas.
A distribuição da vacina é tão descoordenada e irregular quanto qualquer outro aspecto da resposta da classe dominante à pandemia. Mesmo em muitos dos países capitalistas avançados, a porcentagem daqueles que foram totalmente vacinados está em um único algarismo. Em muitas partes do mundo, uma vacina não estará amplamente disponível durante meses ou mesmo anos. A disseminação descontrolada do vírus significa que novas variantes estão constantemente surgindo, minando os esforços de vacinação em todos os lugares.
A resposta da classe dominante à pandemia
O vírus é um fenômeno biológico, mas a resposta dos governos em todo o mundo foi determinada por cálculos políticos e interesses de classe. Todos aqueles que estão no poder – governos e partidos políticos, bancos e corporações, mercados e mídia – carregam todo o peso da responsabilidade pelo que aconteceu.
Desde o início da pandemia, a classe dominante se recusou a implementar as medidas necessárias para interromper a propagação do vírus – testagem em massa e rastreamento de contatos, fechamento da produção não essencial e de escolas, fornecimento de renda integral aos trabalhadores e assistência efetiva às pequenas empresas. A preocupação da classe dominante não foi com o impacto da pandemia na saúde de milhões de pessoas, mas com o impacto financeiro das medidas necessárias para salvar vidas sobre os lucros das corporações e a riqueza dos ricos.
Milhões de vidas foram perdidas, mas bilhões de dólares foram acumulados. Para a classe trabalhadora, a pandemia tem sido uma tragédia humana. Para as elites dominantes, tem sido uma bonança financeira.
A riqueza coletiva dos bilionários do mundo cresceu 60% desde o ano passado, de 8 trilhões de dólares para mais de 13,1 trilhões de dólares. O crescimento maciço da dívida será pago através de uma enorme intensificação da exploração da classe trabalhadora.
Ao longo dos últimos 16 meses, tornou-se absolutamente claro que a resposta dos governos capitalistas à pandemia é estritamente determinada por considerações econômicas e geopolíticas. Ao justificar suas políticas de “negligência maligna”, a classe dominante americana difere das demais apenas na extensão de seu cinismo e falsidade. Em sua racionalização de sua negligência criminosa, o governo dos EUA pode contar com a colaboração da mídia.
Rejeitando propostas cientificamente fundamentadas e exequíveis para a erradicação global do vírus da COVID-19, a política capitalista afirma que a pandemia deve ser aceita como uma condição perpétua, uma realidade inevitável com a qual a classe trabalhadora tem que “viver”, ou, mais precisamente, morrer. Na mídia, as notícias de mortes diárias e o crescimento de novos casos ficaram em segundo plano. A população deve deixar de se sensibilizar com a morte em massa e a miséria humana e deve ser encorajada a adotar um estado de espírito de passividade e fatalismo.
Quando sua política encontra oposição na classe operária, a resposta das elites dominantes é recorrer à repressão e à violência. Os fascistas e os neonazistas estão sendo mobilizados para se opor a qualquer restrição à atividade econômica. Trump nos EUA e Bolsonaro no Brasil são expressões abertas de um fenômeno internacional. A declaração de um ministro do Sri Lanka de que o presidente deveria ser “mais como Hitler” expressa as tendências autoritárias da elite dominante em todos os países.
E mesmo em meio à morte em massa e à miséria social, os Estados Unidos estão intensificando sua campanha contra a Rússia e a China. O último orçamento militar, que se aproxima de um trilhão de dólares, é o maior da história. O ano passado testemunhou uma perigosa escalada de provocações imperialistas contra a Rússia e a China. A mídia americana, em particular, tentou incitar o ódio popular contra a China com alegações inteiramente fabricadas de que a pandemia foi causada por um vírus produzido em um “laboratório de Wuhan”. Essa mentira foi complementada por uma feroz campanha de propaganda acusando o governo chinês de realizar um genocídio contra o povo Uyghur.
O fomento deliberado do ódio contra a Rússia e a China é obviamente dirigido para legitimar os preparativos americanos e europeus para a guerra, que possui o objetivo de satisfazer os interesses imperialistas globais. Entretanto, tal propaganda e os conflitos militares aos quais eles conduzem têm um propósito crítico adicional: desviar a crescente raiva popular interna para longe dos governos nacionais e para fora em direção aos “inimigos externos”. Os governos irão explorar o perigo da guerra para intensificar a repressão política contra a crescente oposição social interna.
Por uma contraofensiva da classe operária internacional!
A pandemia é um evento histórico mundial cujos efeitos ainda serão sentidos nas próximas décadas. Em seu impacto, a pandemia pode ser comparada à Primeira Guerra Mundial. Quando a guerra eclodiu, em julho de 1914, após o assassinato do Arquiduque austríaco Franz Ferdinand, os soldados partiram para o campo de batalha com a expectativa de que estariam em casa no Natal. Mas a guerra continuou, mês após mês, ano após ano. O número de mortos subiu dos milhares para as dezenas de milhares e depois para os milhões. A barbárie selvagem arrastou-se porque serviu aos interesses geopolíticos das potências capitalistas e aos interesses de lucro dos especuladores da guerra. Ela só chegou ao fim com a intervenção da classe operária, culminando com a Revolução Russa de 1917.
Como na guerra, assim também com a pandemia. A pandemia continuará até que haja uma intervenção consciente e independente da classe operária para retirar o controle da gestão e da direção da resposta ao vírus das elites capitalistas dominantes e colocá-lo em suas próprias mãos.
Os trabalhadores já começaram a reagir – dos trabalhadores da indústria automotiva, da saúde e professores nos EUA e na Europa, passando por petroleiros e ferroviários no Brasil até os trabalhadores do transporte público na Índia. Há um entendimento crescente na classe trabalhadora de que a pandemia não será detida sem medidas de emergência para implementar lockdowns e forçar o fechamento de escolas.
Todo o esforço da classe operária para resistir às políticas da elite dominante, no entanto, entra em conflito com todas as instituições do Estado e toda a estrutura da política oficial. Seja explicitamente de direita ou nominalmente de “esquerda”, os partidos oficiais e as organizações políticas de cada grande país capitalista rejeitaram as medidas exigidas pelos cientistas e pelas autoridades de saúde pública para deter a pandemia.
Quanto aos sindicatos oficiais, ao contrário de organizar a oposição às políticas da classe dominante, eles têm ajudado a implementá-las. Essas organizações são “sindicatos” apenas no nome. Na prática, eles há muito abandonaram qualquer defesa dos interesses dos trabalhadores que afirmam representar e agora funcionam como co-conspiradores da administração das empresas e do Estado.
Embora a degeneração corporativa dos sindicatos e sua completa integração na estrutura da administração e do Estado seja talvez mais grotesca nos Estados Unidos, as mesmas condições prevalecem em todos os países. Não houve uma única luta travada pelos sindicatos contra a política da classe dominante de “imunidade de rebanho” e de ajuda em massa aos ricos.
A Aliança Operária Internacional de Comitês de Base
Para que a classe operária possa reagir, deve ser criado um caminho para coordenar suas lutas em diferentes fábricas, indústrias e países em oposição à classe dominante e aos sindicatos corporativistas. Com esse objetivo, o Comitê Internacional da Quarta Internacional e suas seções nacionais, os Partidos Socialistas pela Igualdade, estão lançando a formação da Aliança Operária Internacional de Comitês de Base (AOI-CB).
A AOI-CB irá trabalhar para desenvolver a estrutura para novas formas de organizações de base independentes, democráticas e militantes de trabalhadores em fábricas, escolas e locais de trabalho em escala internacional. A classe trabalhadora está pronta para lutar. Mas está acorrentada por organizações burocráticas reacionárias que reprimem toda a expressão de resistência.
Ela será um meio pelo qual os trabalhadores do mundo inteiro poderão compartilhar informações e organizar uma luta em conjunto para exigir medidas de proteção, o fechamento de instalações inseguras e o da produção não essencial, e outras medidas de emergência que são necessárias para deter a propagação do vírus.
O CIQI está iniciando a formação desta aliança em escala global, que é a única maneira de combater a pandemia. A Aliança Operária Internacional de Comitês de Base, com a assistência política da Quarta Internacional e dos Partidos Socialistas pela Igualdade, lutará para unificar os trabalhadores em uma luta comum mundial, opondo-se a todos os esforços dos governos capitalistas e dos defensores reacionários das inúmeras formas de chauvinismo nacional, étnico e racial e das políticas de identidade para dividir a classe trabalhadora em frações em conflito.
Naturalmente, as condições enfrentadas pelos trabalhadores variam de região para região e de país para país, e isso pode afetar a escolha de táticas. Mas é inegavelmente verdade, em todos os países, que os sindicatos burocratizados existentes funcionam como uma força policial institucionalizada, determinada a proteger os interesses corporativos e financeiros das elites dominantes e de seus governos contra a crescente resistência popular.
Novos caminhos para a luta em massa devem ser criados. Há mais de 80 anos, em um ponto da história em que a degeneração das organizações sindicais existentes estava muito menos avançada que hoje, Leon Trotsky – o maior estrategista da revolução socialista mundial – escreveu que a tarefa da Quarta Internacional era “criar em todas as instâncias possíveis organizações militantes independentes que correspondam mais de perto às tarefas da luta de massas contra a sociedade burguesa, não hesitando mesmo diante de uma ruptura direta com o aparato conservador dos sindicatos”.
A luta para desenvolver a rede de comitês globalmente conectados não se limita às fábricas, escolas e locais de trabalho onde existem sindicatos. Na realidade, a esmagadora maioria dos atuais locais de trabalho não são sindicalizados. Esse fato da realidade social significa que os comitês de base surgirão como a forma inicial e única de organização prática em inúmeros locais de trabalho.
O desenvolvimento destes comitês inevitavelmente atrairá o apoio de seções mais amplas da classe trabalhadora, incluindo a juventude e os desempregados.
Esta é uma luta internacional. O surgimento de novas variantes onde a pandemia continua se espalhando, potencialmente resistente às vacinas, demonstra que a pandemia não pode ser erradicada em nenhum país, a menos que seja erradicada globalmente. A competição nacional entre as potências capitalistas bloqueou uma resposta globalmente coordenada à pandemia. Agora, a vacina que salva vidas está sendo acumulada pelos países capitalistas dominantes e usada como um instrumento em suas intrigas geopolíticas.
A luta pelo socialismo
O Comitê Internacional da Quarta Internacional está propondo a formação da AOI-CB dentro da perspectiva da revolução socialista mundial.
O desenvolvimento de uma rede de comitês operários é absolutamente essencial. Não se trata, entretanto, de substituir a construção do partido revolucionário. É necessário agir, mas uma ação séria deve ser baseada em programas e princípios. Sustentar e desenvolver uma rede de organizações independentes requer o desenvolvimento de uma direção socialista na classe trabalhadora.
Assim como a propagação da pandemia é inseparável do enriquecimento da oligarquia financeira, o fim da pandemia é inseparável da expropriação dos oligarcas. A vasta riqueza acumulada pela elite financeira deve ser usada para financiar medidas de emergência para salvar milhões de vidas.
A luta contra a pandemia, assim como contra a guerra, a desigualdade, a exploração e a ditadura, é uma luta contra toda a ordem social e econômica capitalista. Os trabalhadores de todos os países devem se unir em uma ofensiva política comum para tomar o poder, expropriar os oligarcas e estabelecer uma sociedade socialista baseada no controle racional, científico e democrático da produção com o objetivo de servir às necessidades sociais e não ao lucro privado.
O Comitê Internacional da Quarta Internacional faz um chamado aos trabalhadores em todo o mundo: Assumam esta luta! Desenvolvam comitês de base em todas as fábricas e locais de trabalho!