Publicado originalmente em 14 de setembro de 2021
As tentativas recentes de Jair Bolsonaro de estabelecer um regime ditatorial no Brasil ajudam a explicar uma reunião há dois meses entre a vice-líder do Alternativa para a Alemanha (AfD) de extrema-direita, Beatrix von Storch, e o presidente brasileiro.
Von Storch e o seu marido, Sven, encontraram-se com Bolsonaro no palácio presidencial em 21 de julho. Ela divulgou em seguida o encontro no Instagram com uma fotografia de Bolsonaro dando um abraço amigável em ambos.
Ela escreveu: 'Uma reunião impressionante no Brasil: Agradeço ao presidente brasileiro pela recepção amigável e estou impressionada com a sua clara compreensão dos problemas na Europa e dos desafios políticos do nosso tempo. Em um ponto no qual a esquerda está promovendo a sua ideologia a nível global através das suas redes e organizações internacionais, nós, conservadores, também precisamos estabelecer mais redes e defender os nossos valores conservadores a nível internacional'.
Durante a sua viagem ao Brasil, os Storch também se encontraram com o filho de Bolsonaro, Eduardo, o braço direito do presidente. Eduardo Bolsonaro lidera o ultradireitista Partido Social Liberal (PSL) na Câmara dos Deputados e mantém ligações com organizações de extrema-direita em todo o mundo.
Entre outras ligações, Eduardo mantém laços estreitos com Donald Trump e a sua família. Quando Trump e os seus apoiadores tentaram impedir a confirmação da presidência de Joe Biden invadindo o Capitólio em 6 de Janeiro, Eduardo Bolsonaro estava em Washington e envolvido diretamente nos preparativos do golpe. Ele também é o representante latino-americano na organização O Movimento, que foi criado pelo ex-principal estrategista de Trump, Steve Bannon, para a coordenação de movimentos de extrema-direita na Europa e em todo o mundo.
No Instagram, Storch elogiou o seu encontro com o filho do presidente nos mais elogiosos termos:
'Parada importante na minha viagem ao Brasil: um encontro fantástico com Eduardo Bolsonaro. Os valores partilhados são a base para uma boa cooperação internacional. No plenário da Câmara dos Deputados, ao lado da cadeira do presidente da Câmara: a Bíblia'.
Um fato conhecido há muito tempo é o de que Jair Bolsonaro considera a ditadura militar como um modelo a ser imitado. A ditadura exerceu uma brutal ordem de terror no país mais populoso da América Latina entre 1964 e 1985. O próprio presidente se esforça para sustentar o seu governo por meios ditatoriais. Porém, em 7 de setembro, esses esforços atingiram um novo clímax.
Há semanas, Bolsonaro vinha tentando mobilizar uma multidão de extrema-direita para o Dia da Independência do Brasil. Os meios de comunicação internacionais alertaram que, tal como a tentativa de golpe nos EUA em 6 de janeiro, poderia acontecer uma invasão do Supremo Tribunal Federal (STF) no Brasil ou uma tomada do poder pelos militares, onde o presidente possui apoio considerável. Bolsonaro incluiu dez oficiais militares de alta patente no seu governo e colocou outros 6.100 em ministérios e agências.
No Dia da Independência, um grande número de apoiadores do presidente foram às ruas. O próprio Bolsonaro falou em dois comícios massivos. Ele jurou ao estilo de um ditador que somente Deus poderia retirá-lo do palácio do governo, chamou por um desafio ao STF e fez ameaças violentas ao tribunal. O STF está investigando Bolsonaro e os seus apoiadores por incitação à violência e por divulgarem informações falsas.
Os preparativos do golpe de Bolsonaro são uma reação à crescente oposição da classe trabalhadora. A sua política assassina durante a pandemia, que rejeita qualquer forma de proteção contra o vírus, custou até hoje 586 mil vidas, com 600 pessoas morrendo todos os dias. Além disso, o país está mergulhado em uma grave crise econômica, com mais de 14% da população desempregada, o aumento significativo da pobreza e da falta de moradia, e inflação galopante.
Quando Beatrix von Storch e seu marido visitaram Bolsonaro, algumas semanas antes do Dia da Independência, a mobilização da multidão fascista estava em pleno andamento e o seu encontro com o presidente foi uma clara demonstração pública de simpatia pelos seus planos para um golpe. Ao mesmo tempo, o casal confirmou como o AfD está profundamente enraizado na ideologia e na prática fascistas.
Após a derrota de Donald Trump nas eleições americanas, o Brasil, onde Bolsonaro mantém todos os poderes de Estado, tornou-se um centro da extrema-direita internacional. O filho do presidente não apenas trabalha com a família Trump e com Steve Bannon, como também apareceu ao lado de Santiago Abascal do partido espanhol, Vox, e do chefe de governo húngaro, Viktor Orbán. O Vox segue a tradição da ditadura fascista franquista, enquanto Orbán pretende estabelecer o que ele chama de uma 'democracia iliberal', baseada na subjugação do poder judiciário e da mídia húngaras, enquanto reprime toda a oposição.
Esses movimentos de extrema-direita aprendem uns com os outros e imitam uns aos outros. Eles desenvolvem temas comuns ‒ a incitação contra os refugiados, a proibição do aborto, o negacionismo do clima, a recusa em tomar vacinas, a discriminação contra os LGBT, etc. ‒ para mobilizar uma multidão de direita, copiando as técnicas para realizar um violento golpe de extrema-direita.
Beatrix von Storch é uma figura sênior dentro do AfD. Com 50 anos de idade, ela é membro do partido de extrema-direita desde a sua fundação em 2013. Ela é a vice-porta-voz do AfD e vice-presidente do seu grupo parlamentar. Em relação tanto à sua política quanto à sua biografia, Storch encarna a continuidade do regime nazista.
O avô materno de Von Storch, o conde Schwerin von Krosigk, foi ministro das Finanças de Hitler durante 12 anos e foi condenado como criminoso de guerra em 1949. O seu avô paterno, o grão-duque herdeiro, Nikolaus von Oldenburg, que perdeu o seu trono na Revolução Alemã de novembro de 1918, foi membro do NSDAP e da Sturmabteilung (SA) de Hitler. No início de sua carreira política, von Storch fez campanha pela devolução de terras aos junkers (proprietários de terras feudais) da Alemanha Oriental que haviam sido expropriados após a Segunda Guerra Mundial.
Storch sempre esteve à direita do AfD, um partido já de extrema-direita, criando a sua carreira com declarações cruéis e desumanas. Em 2016, por exemplo, ela chamou pelo uso de armas de fogo para expelir os refugiados, incluindo mulheres e crianças, da fronteira alemã. A sua agitação contra os homens muçulmanos levou a acusações legais contra ela por incitação. Mais recentemente, ela repetiu as mentiras de Trump sobre a eleição presidencial americana ter sido 'roubada'.
Alguns jornais alemães noticiaram a viagem dos Storch ao Brasil, mas não houve protestos na mídia ou por políticos. Isso não foi surpreendente, dado que o próprio governo alemão mantém as mais estreitas relações com o regime Bolsonaro.
Há dois anos, o ministro de Relações Exteriores alemão, Heiko Maas do Partido Social Democrata (SPD), visitou Brasília e se juntou ao presidente brasileiro de extrema-direita no apoio à tentativa de golpe do fantoche americano, Juan Guaidó, contra o presidente venezuelano, Nicolás Maduro. A dupla anunciou em uma declaração conjunta que 'Ambos os lados reafirmaram o seu reconhecimento de Juan Guaidó como presidente interino da Venezuela'.
Quando se trata de promover o seus próprios interesses econômicos e suprimir a classe trabalhadora, o governo alemão e todos os partidos tradicionais se alinham com os regimes autoritários de direita. Isso se aplica não somente a Bolsonaro no Brasil, mas também a al-Sisi no Egito e a muitos outros.
Isso também determina a sua postura em relação ao AfD, que é cortejado no parlamento federal e nos parlamentos estaduais em todo o país. Os seus membros foram encarregados da liderança de importantes comissões. Na política de refugiados e na construção do aparato de segurança do país, o governo adotou há muito tempo as políticas do AfD. Os serviços secretos, a polícia e os militares estão todos repletos de apoiadores do AfD.
Diante da profunda crise econômica e política do capitalismo e das crescentes lutas de classe, a classe dominante em todos os países está se voltando para os métodos de governo autoritários e fascistas. Somente um movimento socialista da classe trabalhadora internacional pode deter esse perigoso desenvolvimento.