O Comitê de Base pela Educação Segura no Brasil realizará uma reunião online na próxima terça-feira, 2 de novembro, às 15 horas (horário de Brasília), sobre “A necessidade de fechamento das escolas e os meios para acabar com a pandemia”. Inscreva-se para a reunião preenchendo este formulário ou entre em contato conosco através da página do CBES-BR no Facebook.
Três meses após a maior reabertura de escolas desde o início da pandemia no Brasil, governadores e prefeitos estão eliminando as últimas restrições que impediam que as precárias salas de aula no país estivessem totalmente ocupadas. Essa medida faz parte da política da elite dominante brasileira para fazer a população a “aprender a viver” com o novo coronavírus, com resultados potencialmente catastróficos para as crianças e toda a classe trabalhadora no país.
Dos vinte e sete estados brasileiros, 16 já determinaram o retorno obrigatório de 100% dos alunos para as escolas. Em outros dois estados, o Distrito Federal e Minas Gerais, o segundo estado mais populoso do Brasil, a presença obrigatória de alunos nas escolas irá acontecer a partir de 3 de novembro. Para isso, governadores e prefeitos estão abandonando o distanciamento de 1 metro entre alunos nas salas de aula, o que limitava a ocupação delas e fazia com que muitas escolas adotassem um sistema híbrido de ensino, com o revezamento de alunos. O ensino remoto continuará sendo oferecido apenas aos alunos com doenças crônicas.
Esse esforço para reabrir totalmente as escolas está sendo realizado por governadores de todas as afiliações partidárias, dos aliados locais do presidente fascistoide brasileiro Jair Bolsonaro àqueles da suposta oposição do Partido dos Trabalhadores (PT). Isso é uma expressão das claras forças de classe que os assim chamados “governadores progressistas” do PT representam, abandonando as medidas de mitigação mínimas e totalmente insuficientes contra a pandemia e abraçando abertamente a política de imunidade de rebanho de Bolsonaro.
Dos quatro estados governados pelo PT no Nordeste, apenas o Rio Grande do Norte ainda não determinou o retorno obrigatório dos alunos para as escolas. Porém, desde o início de outubro, as salas de aula no estado funcionam com ocupação máxima. No Ceará, os alunos estão sendo obrigados a voltar às escolas inseguras desde 20 de setembro, enquanto na Bahia e no Piauí isso está acontecendo desde 18 de outubro. Nesses estados, foram também eliminadas praticamente todas as restrições à atividade comercial.
No estado mais populoso do Brasil, São Paulo, as aulas passaram a ser obrigatórias em 18 de outubro. Porém, até 3 de novembro, ainda deve-se manter 1 metro de distância entre os alunos nas salas de aula, o que tem feito com que muitas escolas ainda funcionem em sistema híbrido. Na capital do estado, São Paulo, apesar de a presença não ser obrigatória, as salas de aula podem receber 100% dos alunos sem distanciamento social desde 25 de outubro.
Também em 25 de outubro, o Rio de Janeiro, o terceiro estado mais populoso do Brasil, reabriu as escolas da rede pública estadual para 100% dos alunos. Em uma medida que ecoa à infame escolha que o presidente fascistoide deu ao povo brasileiro no início da pandemia, entre morrer de fome ou morrer de COVID-19, o governo do Rio forçou o retorno dos alunos suspendendo tanto a distribuição de cestas básicas como de crédito no cartão-alimentação.
Como tem sido o caso desde o início da pandemia em todo o mundo, as alegações avançadas para a ampliação da reabertura de escolas no Brasil não possuem nenhuma base científica. As autoridades políticas brasileiras, falando em nome dos interesses de grandes empresas através da imprensa burguesa, estão semeando as ilusões de que o fim da pandemia está próximo com o avanço da vacinação e o suposto controle da pandemia no país.
O Brasil possui 52% da população totalmente imunizada, com grandes desigualdades regionais na distribuição de vacinas. São Paulo, o estado mais rico, possui 66% da população totalmente imunizada, enquanto em Roraima, o estado mais pobre, esse número cai para 27%. Como os modelos da Dr. Malgorzata Gasperowicz, da Universidade de Calgary, tem mostrado claramente, apenas a vacinação da população a esse nível não consegue controlar a propagação do vírus, particularmente de uma variante mais infecciosa como a Delta.
O Brasil está na posição 126 de testagem no mundo, sendo impossível ter uma noção real da gravidade da pandemia. Nos últimos meses, o país tem também registrado inúmeros problemas no sistema de registro de casos e mortes por COVID-19. Em 26 de outubro, o Brasil registrou uma média móvel de 409 mortes e 13.424 casos, números que especialistas apontam ser até dez e duas vezes maiores, respectivamente. No total, são 606.293 mortes, atrás apenas dos EUA, e quase 22 milhões de casos.
Essa campanha de reabertura também ignora o papel de escolas como vetores da transmissão do novo coronavírus. Vários estudos científicos têm mostrado que o fechamento de escolas é uma das maneiras mais eficazes para impedir a transmissão do vírus, e um estudo recente mostrou que o aumento da mobilidade urbana em Manaus por causa da reabertura de escolas em setembro de 2020 fez surgir a variante Gama mais infecciosa. Além disso, o abandono do distanciamento social nas salas de aula com pouca circulação de ar, e onde alunos não tem acesso a máscaras seguras, será um aliado poderoso de um vírus cuja transmissão é predominantemente pelo ar, inclusive por aerossóis.
Os efeitos dessa reabertura negligente de escolas poderão ser ainda mais catastróficos para a pandemia no Brasil. Ao contrário do que aconteceu em todo o mundo, o país ainda não passou por um surto da já predominante variante Delta, o que com certeza será impulsionado pela ampliação da reabertura de escolas.
Sem dúvida, o número de casos e mortes entre crianças e adolescentes aumentará ainda mais no país que já é recordista mundial de mortes nessa faixa etária. No Brasil, há 35 milhões de crianças menores de 11 anos para quem ainda não há vacinas disponíveis, e apenas 8% das crianças e jovens entre 12 e 17 anos já estão totalmente imunizadas. Além de toda essa faixa etária suscetível a contrair o vírus e desenvolver todos os efeitos conhecidos e desconhecidos da COVID longa, 194 mil crianças no Brasil já foram devastadas pela perda de um de seus responsáveis, segundo estudo do Imperial College de Londres.
Pais e professores se manifestaram revoltados nos comentários de postagens nas redes sociais de secretários de educação e governadores anunciado a ampliação da reabertura escolar. Professores do Rio de Janeiro escreveram para o governador: “Não fizeram obras para adequar as estruturas das escolas! Ainda há escolas com salas sem janelas e sem ventilação!”; “Turmas com mais de 40 alunos. Professores com comorbidades! Vocês são irresponsáveis, incompetentes e cruéis.”
Em resposta à postagem em uma rede social do secretário de Educação de São Paulo, Rossieli Soares, que alegava que “Não há justificativa técnica ou sanitária para a escola não estar aberta hoje”, um professor escreveu: “Justificativa sanitária: não tem funcionário para limpeza”. Outro declarou que, além de funcionários de limpeza, “faltam agentes de organização escolar. Falta testagem.”
Em outra postagem de Soares anunciando a obrigatoriedade da presença dos alunos, uma mãe escreveu nos comentários: “Eu sou a favor da vida! Meu filho não volta ... MEU FILHO PERDE O ANO, MAS NÃO A VIDA!”.
O sentimento dessa mãe é o mesmo de inúmeros outros pais preocupados, que nos últimos meses criaram inúmeros grupos no Facebook e outras redes sociais contra a reabertura de escolas, pelo direito ao ensino remoto ao longo da pandemia e contra a obrigatoriedade das aulas presenciais. Nas últimas semanas, muitos abaixo-assinados online contra a obrigatoriedade das aulas presenciais foram criados e compartilhados inúmeras vezes nas redes sociais.
Esse movimento em defesa do mais alienável dos direitos, o direito à vida, faz parte de um amplo e internacional movimento da classe trabalhadora de todo o mundo. Recusando-se a colocar a sua vida e a de seus entes queridos em risco em nome dos interesses de lucros de corporações e dos governos que as representam, trabalhadores tem realizado greves e protestos internacionalmente desde o início da pandemia.
Longe de ter diminuído, esse movimento só se ampliou. Ao longo do último mês, o chamado de greve da mãe britânica Lisa Diaz, que tem se recusado a enviar seus dois filhos a escolas onde um número crescente de crianças tem sido infectado, tem conquistado um apoio global. Nos EUA, dezenas de milhares de trabalhadores estão envolvidos em uma das maiores ondas de greve da história do país contra o rebaixamento salarial por causa da inflação crescente, as precárias condições de trabalho e a política de imunidade de rebanho da elite dominante americana.
No Brasil, nas últimas semanas, os mesmos motivos levaram a uma greve de 15 dias de mais de 4 mil trabalhadores da GM na região industrial do ABC, em São Paulo, e a uma paralisação de dois dias de caminhoneiros de combustíveis em seis estados brasileiros. Em 25 de outubro, os metroviários do Distrito Federal encerraram uma greve de seis meses que paralisou até 40% da frota de trens todos os dias. Inúmeras outras paralisações e greves em praticamente todos os setores da classe trabalhadora brasileira – trabalhadores da saúde e do transporte, petroleiros, ferroviários, professores e funcionários de escolas – estouraram desde o início da pandemia, além de enormes manifestações impulsionadas pela juventude contra o governo Bolsonaro.
Em todas as oportunidades que tiveram, em todos os lugares do mundo, os sindicatos, auxiliados pela pseudoesquerda, agiram para isolar e suprimir esse potencial explosivo da classe trabalhadora e da juventude.
Com o anúncio da obrigatoriedade da volta às aulas, eles seguiram o mesmo roteiro traidor, melhor expresso pela nota de repúdio do sindicato de professores do Rio de Janeiro (SEPE). Além de prometer apelar aos deputados na Assembleia Legislativa e ao Ministério Público contra “a volta às aulas ... perigosa”, ele pediu para que professores e pais “enviem fotos ou relatos da situação das escolas”. Enquanto um professor perguntou ironicamente nos comentários da nota em uma rede social “O que vocês vão fazer com as fotos??? Um álbum de recordação da pandemia???”, outro declarou que “estão fazendo trabalhadores e crianças de cobaias para justificar um réveillon e um carnaval que trarão lucro e vírus. O sindicato está ciente, porém aguarda paciente, mesmo com provas contundentes de que os protocolos não estão sendo cumpridos. O que esperar? Vocês já conversaram e agora é a hora de agir.”
Contra a sabotagem aberta dos sindicatos, pais, professores e funcionários de escolas devem se voltar a essa imensa força social que é a classe trabalhadora brasileira e internacional, a única capaz de colocar um fim a toda a tragédia da COVID-19. Embasada em uma compreensão científica da pandemia, a classe trabalhadora deve se mobilizar para eliminar globalmente o novo coronavírus. Caso contrário, a COVID-19 pode se tornar uma doença endêmica, com a possibilidade de surgir uma variante ainda mais contagiosa, mais letal e que escape às vacinas, e continuar causando mortes e sofrimento em escala global.
Esse esforço tem sido avançado principalmente pelo WSWS e pela Aliança Operária Internacional de Comitês de Base, que no último sábado organizaram o webinário “Como acabar com a pandemia” para armar a classe trabalhadora internacional com o conhecimento científico para defender sua própria vida. No Brasil, foi recentemente criado o Comitê de Base pela Educação Segura, que tem defendido o fechamento de escolas e de serviços não essenciais, com todo o suporte financeiro a todos os afetados, até o fim da pandemia.
Nós fazemos um chamado a todos para que assistam às apresentações do webinário e participem de um encontro online que o Comitê de Base pela Educação Segura no Brasil (CBES-BR) irá realizar na próxima terça-feira, 2 de novembro, às 15h (horário de Brasília).
Inscreva-se para o encontro preenchendo este formulário. Siga também a página do CBES-BR no Facebook.