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Perspectivas

“A desigualdade mata”: o capitalismo e a pandemia da COVID-19

Publicado originalmente em 19 de janeiro de 2022

Na segunda-feira, a organização de caridade britânica Oxfam publicou um relatório documentando o extremo crescimento da desigualdade social durante os dois primeiros anos da pandemia da COVID-19.

Foi constatado que enquanto a renda dos 99% da base da sociedade caiu, a riqueza dos 10 homens mais ricos do mundo dobrou, mesmo enquanto milhões morriam desnecessariamente de uma doença infecciosa.

As descobertas da organização foram resumidas no título do relatório: “Desigualdade mata”.

O relatório da Oxfam expressa uma realidade inegável: a pandemia da COVID-19 é um subproduto maligno da ordem social capitalista e do domínio da sociedade por uma oligarquia financeira. O relatório conecta as mortes sofridas por milhões de pessoas internacionalmente por causa das políticas governamentais que “criaram as condições para que o vírus da COVID-19 sofressem mutações perigosas”.

Abby Smith, enfermeira do Centro Médico do Leste do Alabama, atende um paciente da COVID-19 na unidade de terapia intensiva, na quinta-feira, 10 de dezembro de 2020, em Opelika, Alabama. O centro médico enfrenta um novo fluxo de pacientes da COVID-19 à medida que a pandemia se intensifica. (AP Photo/Julie Bennett)

Ao mesmo tempo, o relatório conclui, os governos “criaram as condições para uma variante inteiramente nova, bilionária, da riqueza. Esta variante, a variante dos bilionários, é profundamente perigosa para o nosso mundo”.

A Oxfam escreve: “um novo bilionário surgiu a cada 26 horas desde que a pandemia começou. Os 10 homens mais ricos do mundo dobraram suas fortunas, enquanto mais de 160 milhões de pessoas foram empurradas para a pobreza. Enquanto isso, estima-se que 17 milhões de pessoas tenham morrido de COVID-19 - uma escala de perda não vista desde a Segunda Guerra Mundial”.

E continua: “a pequena elite mundial de 2.755 bilionários viu sua fortuna crescer mais durante a pandemia de COVID-19 do que nos últimos 14 anos - 14 anos que em si mesmos mesmos foram uma bonança para a riqueza dos bilionários”.

(Crédito: Oxfam)

A Oxfam então coloca a escala e o alcance sem precedentes da acumulação de riqueza bilionária em seu contexto histórico: “Este é o maior aumento anual da riqueza dos bilionários desde o início dos registros. Ele está ocorrendo em todos os continentes. Ele é viabilizado pela disparada dos preços nas bolsas de valores, uma explosão de entidades não regulamentadas, um aumento do poder dos monopólios e privatizações, juntamente com a erosão das taxas de impostos e regulamentações direcionadas aos donos de empresas, e dos direitos e salários dos trabalhadores'.

O relatório continua:

Novos números e análises divulgados em dezembro de 2021 pelo Laboratório Mundial de Desigualdade revelam que, desde 1995, o 1% do topo capturou 19 vezes mais do crescimento da riqueza global do que os 50% da base da humanidade. A desigualdade é agora tão grande quanto era no auge do imperialismo ocidental no início do século 20. A Era Dourada do final do século XIX foi ultrapassada.

A pandemia levou a um forte aumento da pobreza em todo o mundo, relata a Oxfam.

Projeta-se que haja agora 163 milhões de pessoas a mais vivendo com menos de 5,50 dólares por dia do que quando a pandemia começou. A crise mostrou que, para a maior parte da humanidade, não houve saída permanente da pobreza e da insegurança social.

A Oxfam informa que as projeções do Banco Mundial, FMI e Credit Suisse mostram que

Os níveis de pobreza não voltarão aos seus níveis pré-crise nem mesmo em 2030. A pobreza não cria apenas imenso sofrimento. A pobreza mata. É em grande parte uma forma de violência econômica, perpetrada contra bilhões de pessoas comuns em todo o mundo todos os dias. Em todos os países, as pessoas mais pobres vivem vidas mais curtas e sofrem uma morte mais precoce do que aquelas que não são pobres.

Mais uma vez, o relatório diz que a atual catástrofe enfrentada por massas de pessoas em escala mundial não é um acidente, mas o produto de uma política governamental consciente. “Enormes quantidades de dinheiro público, derramadas em nossas economias, inflaram drasticamente os preços das ações e, assim, impulsionaram as contas bancárias dos bilionários mais do que nunca”.

(Crédito: Oxfam)

Referindo-se à distribuição desigual de vacinas em escala mundial como uma “mancha na história de nossa espécie”, o relatório da Oxfam afirma: “A pandemia do coronavírus foi ativamente transformada em algo mais mortal, mais prolongado e mais prejudicial à subsistência por causa da desigualdade. A desigualdade de renda é um indicador mais forte da possibilidade de morrer de COVID-19 do que a idade”.

O relatório também revela o mecanismo pelo qual a elite financeira usou a pandemia como alavanca para o maior aumento da riqueza bilionária da história.

Com a expansão da COVID-19, os bancos centrais injetaram trilhões nas economias de todo o mundo, com o objetivo de manter a economia mundial em funcionamento. Grande parte desse estímulo foi para os mercados financeiros, e de lá para o patrimônio líquido dos bilionários. Os governos injetaram 16 trilhões de dólares na economia global desde o início da pandemia e, em grande parte em consequência disso, os bilionários viram sua riqueza aumentar em 5 trilhões de dólares, passando de 8,6 trilhões para 13,8 trilhões de dólares desde março de 2021, uma vez que a intervenção governamental fez os preços das ações subirem.

Em julho de 2020, o World Socialist Web Site chamou a COVID-19 de “a pandemia da desigualdade”. Esta análise é agora inegável. As mortes em massa pela COVID-19 foram, nas palavras de Oxfam, “mortes por desigualdade”.

A pandemia é um “evento gatilho” na história, encarnando todos os processos subjacentes enquanto os intensifica massivamente. A indiferença à morte em massa por parte dos governos e das elites dirigentes é o resultado de décadas de grande crescimento da desigualdade social e do caráter cada vez mais oligárquico da sociedade.

Desde o início da pandemia no início de 2020, a resposta dos governos de todo o mundo, liderados pelos Estados Unidos, deu prioridade de forma consistente ao lucro privado sobre a vida. No início de 2020, a administração Trump, juntamente com ambos os partidos políticos, Republicano e Democrata, encobriu o perigo representado pela pandemia.

Quando a realidade se tornou impossível de esconder e os mercados caíram drasticamente, a administração Trump e o Banco Central dos EUA implementaram um programa de resgate de US$ 6 trilhões, a esmagadora maioria dos quais foi canalizada para os lucros das empresas e para o mercado de ações.

(Crédito: Oxfam)

Em uma colaboração ampla entre ambos os partidos, os estados reabriram escolas e empresas, levando a onda após onda da doença, culminando na maior das ondas até hoje, causada pela variante Ômicron.

Apesar de Biden ter vencido as eleições de 2020 por se comprometer a “seguir a ciência”, sua administração abandonou qualquer pretexto de conter, quanto mais eliminar o vírus, permitindo que ele infectasse quase um milhão de pessoas dia após dia.

Todas estas decisões foram guiadas pelo esforço de enriquecer a oligarquia financeira em detrimento da classe trabalhadora. O relatório da Oxfam deixa claro que a pandemia tem sido extremamente lucrativa para a elite dominante. E é por isso, acima de tudo, que eles não têm a intenção de detê-la.

Na reunião de bilionários conhecida como Fórum Econômico Mundial, o Dr. Anthony Fauci, Conselheiro Médico Chefe do Presidente dos EUA, Joe Biden, foi perguntado se 2022 seria “realmente o ano em que passamos de pandemia para endemia”, dada a capacidade do vírus “de se espalhar e oferecer imunidade através da infecção?”

Fauci respondeu: “Espero que seja o caso...”

Em outras palavras, de acordo com a principal autoridade de saúde pública dos EUA, o “melhor cenário” é que a COVID-19 se torne “endêmica” na população, matando centenas de milhares de pessoas perpetuamente.

A conclusão inescapável é que o problema fundamental é que a ordem social capitalista é intrinsecamente hostil às necessidades da sociedade. O que é necessário é um movimento da classe trabalhadora internacional em oposição à ordem social, baseado em uma luta para eliminar e erradicar o vírus em cada país através de uma política de COVID Zero.

Tal luta só pode ser articulada através do desenvolvimento do programa político socialista e internacionalista defendido pelo Comitê Internacional da Quarta Internacional e pelo World Socialist Web Site.

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