Em 17 de maio, o World Socialist Web Site publicou um artigo expondo o apoio da Liga Internacional Socialista à guerra por procuração dos EUA/OTAN contra a Rússia na Ucrânia e às suas tropas de choque fascistas sob a bandeira de uma luta contra o “imperialismo russo” e defesa da “democracia” na Ucrânia.
O WSWS escreveu:
As falsas concepções de “imperialismo russo” e “Ucrânia democrática” devem ser rejeitadas pelos marxistas. Os Estados russo e ucraniano têm características fundamentalmente comuns como o produto reacionário da dissolução da União Soviética. Ambos são governados por oligarquias capitalistas falidas – descendentes da burocracia stalinista e herdeiras dos bens roubados do Estado soviético – que são fundamentalmente incapazes de afirmar seus interesses independentes do imperialismo.
A orientação podre da LIS ao Estado burguês ucraniano e à OTAN não é meramente platônica. Seus apoiadores na Ucrânia sentam-se em mesas de negociação com agentes imperialistas, fazem compromissos com políticos de extrema-direita e forjam suas bases entre as forças paramilitares fascistoides.
Como era esperado, a LIS não deu qualquer resposta a essa exposição.
Mas, os desenvolvimentos posteriores confirmaram plenamente a análise do WSWS. Nas últimas duas semanas, Oleg Vernyk, líder do grupo ucraniano da LIS e do sindicato Zakhyst Pratsi (Defesa do Trabalho), fez vários posts no Facebook glorificando a Organização dos Nacionalistas Ucranianos (OUN, na sigla em ucraniano) fascista de Stepan Bandera.
Em 24 de maio, Vernyk compartilhou uma postagem reproduzindo o panfleto de 1948 “Quem são os banderistas e pelo que lutam”, juntamente com um longo trecho do documento. A citação do panfleto, escrito no espírito do “nacional-socialismo” fascista, dizia que os “banderistas” lutavam “pela construção de uma sociedade sem classes, pela verdadeira destruição da exploração do homem pelo homem ... Pela democracia, contra a ditadura e o totalitarismo, pela liberdade de expressão e de reunião ... Por garantir que as minorias nacionais da Ucrânia tenham todos seus direitos”.
Em sintonia com os esforços das potências imperialistas para fracionar a União Soviética de acordo com linhas nacionais e restaurar o capitalismo, o panfleto conclamava os “povos escravizados da União Soviética” a se unirem à “luta de libertação contra os opressores bolcheviques”.
Em 5 de junho, Vernyk compartilhou outra postagem com uma passagem de um livro de Danylo Shumuk, ex-membro do Partido Comunista da Ucrânia Ocidental (KPZU), que, desorientado pelos crimes do stalinismo, juntou-se ao Exército Insurgente Ucraniano (UPA, na sigla em ucraniano), a ala paramilitar da OUN, em 1943. A postagem das memórias de Shumuk descreve sua transformação de militante do PC em membro do UPA, chamando este último de um movimento de “forças democráticas” lutando em nome do “povo comum”. A postagem de Vernyk declara: “O KPZU e a OUN somos nós, esse é o nosso povo nos anos [19]20 e 30”.
Em outra postagem, de 26 de maio, Vernyk compartilhou um comentário glorificando uma revolta de 1953 em um campo de trabalho forçado soviético (Gulag), que foi liderada por Shumuk e outros membros da OUN e do UPA presos pelas autoridades soviéticas.
Vernyk compartilhou todas essas postagens, tanto em seu perfil pessoal como no grupo de seu sindicato, sem nenhum comentário. Elas dizem toneladas sobre a orientação política de direita da LIS.
A Organização dos Nacionalistas Ucranianos, fundada em Viena em 1929, era uma organização abertamente fascista e terrorista cuja ideologia foi moldada acima de tudo pelo anticomunismo, nacionalismo extremo, racismo e antissemitismo.
A maioria de seus membros fundadores eram ex-soldados do exército da República Popular Ucraniana fundada por Symon Petliura, que lutou contra o Exército Vermelho após a Revolução de Outubro de 1917 e participou de alguns dos maiores pogroms da guerra civil de 1917-1921. No total, estima-se que 200 mil pessoas foram assassinadas em pogroms durante a guerra civil na Ucrânia. Foi o maior assassinato em massa de judeus antes do Holocausto, e só terminou com a vitória do Exército Vermelho contra as potências imperialistas e as forças nacionalistas regionais.
Durante a década de 1930, a OUN cometeu ataques terroristas contra membros de minorias nacionais e opositores políticos no que era então a Polônia. Nas palavras de Grzegorz Rossolinski-Liebe, a OUN “considerava o assassinato como um meio de propaganda” e realizou 830 atos violentos contra cidadãos poloneses e judeus poloneses somente em 1937. Enquanto realizavam esses ataques terroristas, os membros da OUN e suas publicações recebiam apoio estatal da Alemanha nazista e da ditadura de direita de Antanos Smetona na Lituânia.
Em 1940, a OUN se dividiu em duas alas, uma encabeçada por Stepan Bandera (OUN-B), a outra por Andrey Melnyk, ambos líderes de longa data da OUN. Ambas as alas colaboraram intensamente com os nazistas, que haviam invadido a União Soviética em 22 de junho de 1941 e ocuparam a Ucrânia soviética até 1944, resultando na morte de pelo menos 27 milhões de cidadãos soviéticos, entre 5 e 7 milhões deles na Ucrânia. A OUN realizou massacres em larga escala tanto de judeus como de poloneses, assassinando dezenas de milhares e aterrorizando civis ucranianos que se opunham à ocupação nazista.
Quando ficou claro que o imperialismo alemão, no qual os fascistas ucranianos haviam depositado suas esperanças para a criação de seu “próprio” Estado-nação “etnicamente puro”, estava perdendo a guerra, os líderes da OUN rapidamente estabeleceram contato com representantes do imperialismo americano, britânico e canadense. O Exército Insurgente Ucraniano (UPA), a ala paramilitar da OUN, começou a receber apoio de inteligência e logística e financiamento dos EUA e do Canadá, em particular, para travar uma guerra contra o Exército Vermelho e as autoridades soviéticas na Ucrânia soviética que durou até boa parte dos anos 1950. De acordo com o historiador Rossolinski-Liebe, a OUN/UPA matou cerca de 20 mil civis ucranianos nessa guerra civil, a maioria deles trabalhadores de fazendas coletivas e camponeses que eles suspeitavam ser apoiadores das autoridades soviéticas.
O panfleto de 1948 que Vernyk compartilhou foi impresso como parte dessa campanha de propaganda apoiada pelos imperialistas com o objetivo de apresentar os assassinos em massa fascistas ucranianos como uma “força de libertação democrática” lutando para “libertar” o povo ucraniano do “comunismo”.
A promoção desse material por Vernyk não é apenas uma questão de divulgar e apresentar a OUN – cuja propaganda, na verdade, era surpreendentemente semelhante à propaganda atual da OTAN sobre a guerra – como supostamente de “esquerda”. Como outras organizações pseudoesquerdistas na Ucrânia que apoiam a guerra por procuração da OTAN contra a Rússia, a LIS e o sindicato de Vernyk, Zakhyst Pratsi, estão encorajando seus membros a aderir às Forças de Defesa Territorial da Ucrânia, o guarda-chuva oficial de centenas de destacamentos paramilitares que estão desempenhando um papel importante na luta contra o exército russo em nome da OTAN e do Estado ucraniano. Muitos desses batalhões são dirigidos por nacionalistas de extrema-direita e fascistas.
Em seu site, a LIS publicou um vídeo de um de seus membros, Kirill Medvedev, mascarado e com colete à prova de balas, e identificado como membro da UVO, um destacamento das Forças de Defesa Territorial. O grupo Sotsialnyi rukh (Movimento social), que também apoia a guerra da OTAN como uma luta contra o “imperialismo russo”, também publicou em suas mídias sociais fotos de membros que se juntaram a essas forças paramilitares.
No grupo do Facebook do sindicato Zakhyst Pratsi de Vernyk, outro membro postou um chamado pelo “desmembramento da Rússia”. Essa é a linha oficial do partido neofascista ucraniano Svoboda, com o qual a LIS também mantém laços, e a lógica objetiva da intervenção imperialista na região e na política russa.
Esses laços e a aparente identificação política e ideológica de Vernyk com a OUN fascista revelam o caráter de classe e a orientação política não apenas da LIS, mas da pseudoesquerda internacional.
A LIS e Vernyk estão ligados a várias tendências da pseudoesquerda pelas Américas e Europa. A LIS foi fundada por várias tendências nacionalistas pequeno-burguesas na Turquia e na América Latina, incluindo o turco Sosyalista Emekçiler Partisi (Partido Socialista dos Trabalhadores, SEP na sigla turca), a venezuelana Marea Socialista (Maré Socialista, MS) e o argentino Movimiento Socialista de los Trabajadores (Movimento Socialista dos Trabalhadores, MST).
O MST é um dos principais partidos da coalizão eleitoral pseudoesquerdista argentina FIT-U (Frente de Esquerda e dos Trabalhadores - Unidade), que articula várias organizações morenistas e pablistas, incluindo o Partido Obrero (Partido Operário, PO) e o Partido de los Trabajadores Socialista (Partido dos Trabalhadores Socialista, PTS). Alguns de seus membros estão dando total apoio à guerra liderada pelos EUA-OTAN e promovendo abertamente os paramilitares fascistas ucranianos à sua frente.
É o caso dos morenistas do Partido de los Trabajadores Socialista Unificado (PSTU), membro da Liga Internacional dos Trabalhadores - Quarta Internacional (LIT-QI). Ao mesmo tempo que enviavam representantes da América Latina à Ucrânia para apoiar politicamente suas operações militares, a LIT-QI escreveu um artigo intitulado “Ucrânia e Rússia: sobre fascismos e fascismos”. Nele, eles reproduziram fielmente os argumentos dos defensores de Bandera para afirmar que o histórico da extrema-direita ucraniana não passa de um mito. Diminuindo, se não diretamente negando, a colaboração de Bandera com os nazistas, eles afirmam: “Provavelmente a figura de Bandera tenha sido inflada por Stalin para justificar a repressão, como hoje é inflada por Putin para justificar a agressão contra a Ucrânia”.
Enquanto o PO e o PTS tentam de alguma forma se distanciar da LIS e da LIT, fazendo-se passar por opositores dos EUA e da OTAN, nenhum deles respondeu às revelações feitas pelo WSWS das conexões sinistras de seus parceiros da FIT-U com as forças fascistas na Ucrânia. Na verdade, o papel sendo desempenhado pelo PTS – cuja organização afiliada brasileira é o MRT e seu Esquerda Diário – é encobrir ativamente o apoio aberto da FIT-U à OTAN e aos fascistas ucranianos, pintando-o como uma legítima “polêmica dentro da esquerda trotskista”!
O sindicato Zakhyst Pratsi de Vernyk também é listado como um dos membros da Progressive International (Internacional Progressista), cofundada pelo Instituto Sanders de Bernie Sanders em 2018. Ela inclui, entre outros, veículos como o The Nation e a Jacobin, a revista afiliada aos Socialistas Democráticos da América (DSA), uma facção do Partido Democrata. Inclui também a organização pseudoesquerdista europeia Diem25, que engloba o MeRA25 grego (um racha do Syriza) e a polonesa Lewica Razem. O DSA e a Razem estão apoiando explicitamente o armamento da Ucrânia com o dinheiro e as armas do imperialismo americano.
Como o Comitê Internacional tem advertido por muitos anos, essas forças não são de “esquerda”, muito menos socialistas ou trotskistas. Ao contrário, elas representam setores privilegiados e fundamentalmente nacionalistas da pequena burguesia cujos interesses sociais os ligam ao aparato estatal capitalista e ao imperialismo.
Em meio aos estágios iniciais de uma nova conflagração mundial, e diante de um ressurgimento da luta da classe trabalhadora internacional, essas camadas são conduzidas cada vez mais à direita, incluindo até mesmo um abraço a forças fascistas. A guerra imperialista por procuração na Ucrânia os expõe pelo que verdadeiramente são: inimigos inveterados da classe trabalhadora que estão preparados para alinhar-se com os fascistas e pegar em armas para lutar em nome dos interesses do imperialismo.
Publicado originalmente em 10 de junho de 2022