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Perspectivas

Biden quer guerra com a China

Publicado originalmente em 4 de agosto de 2022

A viagem da presidente da Câmara, Nancy Pelosi, a Taiwan nesta semana escalou enormemente o conflito dos Estados Unidos com a China, provocando a maior crise militar no estreito de Taiwan em uma geração.

Hoje, Taiwan será submetida ao que é na prática um bloqueio militar enquanto a China realiza exercícios com munição real no entorno da ilha. Dois porta-aviões chineses estão se deslocando em direção a Taiwan, competindo com um grupo de ataque de porta-aviões americano e dois grupos anfíbios operando em águas próximas.

Em meio a uma crise militar que ameaça eclipsar a atual guerra contra a Rússia na Ucrânia, nenhuma figura da mídia americana procurou seriamente explicar, muito menos perguntar sobre a óbvia questão: Por que a presidente da Câmara dos EUA, com o apoio da Casa Branca, foi a Taiwan?

Porta-aviões, USS Abraham Lincoln, (CVN 72) em formação durante exercícios RIMPAC 2022 (Crédito: Marinha dos EUA)

As afirmações do porta-voz da Casa Branca, John Kirby, de que a viagem não muda “nada” nas relações dos EUA com a China, é absurda.

As administrações Trump e Biden identificaram ações que a China interpreta como violações inaceitáveis da sua soberania e as implementaram, uma após outra, no sistemático desmanche da política de uma só China que governou a normalização das relações entre os EUA e a China desde os anos 1970.

O presidente americano, Joe Biden, sabe muito bem, e a China tem advertido publicamente, que se os Estados Unidos repudiarem a política de uma só China, efetivamente reconhecendo Taiwan como nação independente, a China retomará a ilha militarmente. O próprio Biden se comprometeu a entrar em guerra contra a China se isso acontecer.

Em outras palavras, a administração Biden está em uma trajetória sabendo conscientemente que irá levar a um conflito militar com o país mais populoso do mundo. Biden quer, na prática ou formalmente, um estado de guerra com a China, que é considerada em Washington a maior ameaça à dominação global americana.

Em março do ano passado, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, disse que Biden instruiu o “Departamento de Defesa a manter a China como seu desafio constante”. Blinken acrescentou: “A China é o único país com o poder econômico, diplomático, militar e tecnológico para desafiar seriamente o sistema internacional estável e aberto”.

As motivações geopolíticas dos EUA para entrar em guerra com a China foram apresentadas por Elbridge Colby, o principal autor da Estratégia de Defesa Nacional de 2018, que declarou no Twitter na terça-feira que um conflito com a China por Taiwan “faz sentido para os interesses econômicos concretos dos americanos”.

A menos que a China seja contida militarmente, Colby adverte sobre um futuro no qual “a China terá uma influência controladora sobre mais de 50% do PIB global. Ela será a porteira e o centro da economia global”. Em adição, “o yuan será a moeda dominante”.

Em seu livro The Strategy of Denial (A Estratégia da Negação) de 2021, Colby defende uma política de levar a China à ação militar. “Talvez a forma mais clara e às vezes mais importante de garantir que a China seja vista dessa forma [como o agressor] seja simplesmente garantindo que seja ela a atacar primeiro. Poucas intuições morais humanas são mais profundamente enraizadas do que aquela em que o iniciador é o agressor e, portanto, aquele que presumivelmente detém uma parcela maior de responsabilidade moral”.

Em outras palavras, os Estados Unidos estão procurando identificar todas as “linhas vermelhas” da China, cruzá-las, e depois fingir surpresa quando a China responder com ação militar.

Os objetivos geopolíticos do imperialismo americano são apenas um componente da marcha de guerra dos EUA. Diante de uma crise médica, econômica e social incontrolável, a classe dominante dos EUA está ansiosa para usar o conflito militar como um meio de assegurar a “unidade nacional”.

A escalada do conflito com a China será acompanhada de ataques generalizados aos direitos sociais e econômicos da classe trabalhadora e exige que os trabalhadores sacrifiquem seus padrões de vida em nome do esforço de guerra.

O plano de guerra insano e homicida de Biden foi recebido com o apoio de todo o establishment político dos EUA.

Na terça-feira, o líder republicano do senado, Mitch McConnell, com outros 25 republicanos do Senado, publicou uma declaração, dizendo: “Apoiamos a viagem da Presidente da Câmara dos Deputados, Nancy Pelosi, a Taiwan”.

Um editorial no Wall Street Journal, alinhado aos republicanos, declarou “A crise de Taiwan se aproxima”, acrescentando: “A entrega de armas precisa ser mais rápida, e do tipo que mais ajudaria a impedir uma potencial invasão”.

O senador Bob Menendez, presidente do comitê de relações exteriores do senado, escreveu um artigo no New York Times elogiando a viagem de Pelosi, dizendo: “A sra. Pelosi estava certa em não deixar a China decidir quem pode e quem não pode visitar Taiwan”.

Nesse editorial de opinião, Menendez anunciou que ele e o senador republicano, Lindsey Graham, iriam introduzir um projeto de lei que aumentaria em uma ordem de magnitude os gastos militares dos EUA no armamento de Taiwan.

Menendez escreveu:

Nossa legislação reforçaria a segurança de Taiwan fornecendo quase US$ 4,5 bilhões em assistência de segurança durante os próximos quatro anos e reconhecendo Taiwan como um “grande aliado fora da OTAN” ‒ uma designação poderosa para facilitar o estreitamento dos laços militares e de segurança. Também ampliaria o espaço diplomático de Taiwan através de sua participação em organizações internacionais e em acordos comerciais multilaterais.

Isso marcaria na prática o fim da política de uma só China dos Estados Unidos. Em outras palavras, os democratas estão abraçando a política que era a marca da administração Trump.

Em meio aos esforços de Biden para provocar uma guerra com a China, a ala “progressiva” dos senadores do Partido Democrata, Bernie Sanders e Elizabeth Warren ‒ mantiveram-se em silêncio sobre a viagem de Pelosi, recusando-se a responder perguntas diretas dos repórteres.

Porém, a posição de Sanders foi deixada clara pelas declarações de um assessor, seu conselheiro de política externa, Matt Duss, que, em entrevista ao The Intercept, apoiou integralmente os objetivos dos preparativos militares dos EUA.

Duss defendeu “a melhoria de segurança para Taiwan” e “priorizar ... a segurança e a autodefesa de Taiwan”.

Ele condenou o “desenfreado exagero da ameaça” por aqueles que alertaram sobre as conseqüências da viagem de Pelosi a Taiwan, dizendo que “entrar em um padrão de exagero da ameaça em relação a Taiwan é contraproducente”.

Em outras palavras, aqueles advertindo que as ações de Pelosi ameaçam toda a humanidade são o problema, não os provocadores, Pelosi e os militares dos EUA. O entrevistador do Intercept condenou os “progressivos” que enquadram a “relação EUA-China como sendo principalmente sobre as ações dos EUA quando tem existido um crescente autoritarismo na China”.

Essas declarações tornam claro, mais uma vez, que não há nenhuma seção do Partido Democrata ou do establishment político dos EUA que se opõe seriamente ao militarismo dos EUA, por mais imprudentes ou perigosas que sejam as ações da Casa Branca.

Diante do alinhamento de todo o establishment político americano em apoio à escalada contra a China, é a classe trabalhadora que forma a base social para a luta contra a guerra. Os trabalhadores, que já estão enfrentando uma massiva crise de custo de vida e a recessão iminente, devem rejeitar o “sacrifício” em nome da campanha xenófoba anti-China dos EUA e se unir aos trabalhadores chineses na luta contra a guerra.

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