Como parte da Investigação Mundial dos Trabalhadores sobre a Pandemia de COVID-19, o Comitê de Base pela Educação Segura no Brasil (CBES-BR) realizou uma pesquisa entre os trabalhadores brasileiros sobre o impacto da pandemia em suas vidas. A pesquisa, divulgada pelo Facebook, abordou diferentes aspectos dessa experiência, passando pelas condições sanitárias dos locais de trabalho; a experiência dos trabalhadores com a contaminação, doença e morte de colegas, familiares e alunos; as lutas de classes desencadeadas pela pandemia e os impactos da crise econômica crescente.
A pesquisa foi respondida até o momento por 47 trabalhadores de diferentes estados do país, entre eles Amazonas, Bahia, Minas Gerais, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Santa Catarina e São Paulo. Sua maioria (66%) são educadores, mas participaram também trabalhadores da saúde, metalúrgicos, rodoviários, operadores de telemarketing, servidores sociais e desempregados. Vários deixaram breves relatos das situações pessoais – geralmente terrivelmente penosas – que enfrentaram nos últimos dois anos e meio.
Ela levantou dados e fatos impactantes, que revelam as consequências das políticas pandêmicas criminosas impostas por todos os partidos políticos no poder (do presidente fascistoide Jair Bolsonaro aos governadores e prefeitos do PT, PSDB, e outros) e empresas capitalistas. As verdades apresentadas pelos trabalhadores têm sido totalmente ignoradas pela mídia corporativa, assim como pelos sindicatos e organizações pseudoesquerdistas, coadjuvantes da campanha de “imunidade de rebanho” da classe dominante.
Contaminação em massa dos trabalhadores
Entre todos os entrevistados 36,5% dizem ter contraído COVID-19. Destes, 69% acreditam ter contaminado outros membros da sua família e 75% dizem ter ficado com alguma sequela da doença. A metade deles afirma que a contaminação ocorreu dentro do local de trabalho.
Falando sobre sua experiência nas empresas, 86% clamam ter tido pelo menos um colega que se infectou dentro do local de trabalho. E, chocantemente, 46,5% clamam que algum dos colegas morreu de COVID-19.
Os dados fornecidos por educadores sobre a exposição de crianças são assustadores: 94% afirmam que algum de seus alunos foi infectado por COVID-19, e 83% dizem que as contaminações ocorreram após a reabertura das escolas. Dois educadores declararam que algum de seus alunos morreu de COVID-19.
A exposição em massa da população, incluindo crianças, ao vírus mortal e debilitante SarsCov2 foi aptamente caracterizada por cientistas internacionais como uma política de assassinato social, fazendo referência à definição apresentada por Friedrich Engels em A Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra.
Após descrever a situação degradante imposta pela sociedade capitalista às massas trabalhadoras, Engels questionou: “Dadas tais condições, como esperar que a classe mais pobre possa ser sadia e viva mais tempo? Que mais esperar, senão uma enorme mortalidade, epidemias permanentes e um progressivo enfraquecimento físico da população operária?”.
Insegurança nos locais de trabalho
As condições a que os trabalhadores foram submetidos pelas empresas e governos capitalistas durante a pandemia de COVID-19 – sobre as quais a pesquisa do CBES-BR colheu uma amostragem – servem como vívida atualização da obra escrita por Engels em 1845. Ambientes de trabalho mal ventilados, pouco higienizados, falta de equipamentos de proteção necessários, retenção de pessoas doentes no trabalho são alguns dos aspectos amplamente reportados pelos trabalhadores.
Enquanto 51% dos entrevistados descreveram seu ambiente de trabalho como “mal ventilado”, 56% afirmaram que o local de trabalho não é bem higienizado. A grande maioria, 88,5%, afirmou existir espaços dentro da empresa onde ocorre aglomeração de pessoas.
Considerando a natureza aérea da transmissão do vírus, não é surpreendente que a metade dos que declararam ter se infectado com COVID-19 acreditem que isso ocorreu dentro do local de trabalho ou no transporte. Ou que 33,5% dos entrevistados afirmem que ao menos um surto de COVID-19 ocorreu na sua empresa.
Um fator crítico para o agravamento das condições insalubres nos locais de trabalho é a resposta dos gestores ao adoecimento dos trabalhadores e, no caso das escolas, dos estudantes.
Testemunhando contra as atitudes criminosas adotadas pelos gestores capitalistas, 81,5% dos entrevistados afirmaram que quando houve um caso na empresa aqueles tiveram contato com a pessoa infectada não eram dispensados; 72% afirmaram que os casos na empresa não foram divulgados aos trabalhadores; e 95,5% declararam que em nenhuma circunstância o turno de trabalho ou toda a empresa foram fechados por contaminações.
Nas escolas, 53,5% dos educadores afirmaram que quando um aluno se infectou ninguém foi dispensado; 37% que apenas a sala foi dispensada; e 7% que a escola toda foi fechada.
As condições nas escolas
Os relatos sobre a situação nas escolas – cuja reabertura insegura foi determinante para a explosão de casos e geração de novas variantes da COVID-19, e à implementação da política de “volta ao trabalho” pela classe dominante – demandam um tópico à parte. Muitos educadores escreveram breves depoimentos sobre a situação que têm enfrentado no último período.
Uma educadora da rede pública estadual de São Paulo, que sofre de hipertensão, relatou: “Trabalhando home office nunca fui contaminada mas, quando fui obrigada a retornar, em menos de 20 dias fui contaminada pela COVID. Acredito ter ficado com a imunidade muito baixa, porque peguei outra gripe em menos de 2 meses, novamente com os mesmos sintomas mas não o mesmo diagnóstico. Tirei férias e retornando este ano já tive outro afastamento novamente com diagnóstico de COVID.”
Isto é, num período de menos de um ano, duas infecções por COVID-19. Jogando luz sobre o problema da COVID Longa, que afeta centenas de milhões de pessoas ao redor do mundo, a educadora escreveu: “Essa doença me deixou sequela psíquica e física. Hoje, o meu raciocínio é muito lento, tenho perdas de memória repentinas.”
Outra professora de São Paulo, que trabalha na rede pública e privada da capital, relatou uma experiência muito semelhante: “Peguei COVID 15 dias após o retorno das aulas presenciais na rede particular. Não fui hospitalizada, mas fiquei com sequelas de memória e aumentou minha ansiedade”.
De Paulista, Pernambuco (estado governado por uma coligação supostamente de “esquerda” do Partido Socialista Brasileiro e o Partido Comunista do Brasil), uma educadora escreveu: “Na rede pública, atualmente estamos lidando com salas lotadas e sem medida alguma de proteção. Alunos aglomeram sem máscara e o governo deu ordem para que tudo seguisse na normalidade.”
Relacionando a política de “imunidade de rebanho” implementada nas escolas aos severos ataques econômicos sofridos pela classe trabalhadora, outra educadora de São Paulo escreveu: “Governantes retiraram à revelia direitos de todos, inclusive de aposentados. Casos de COVID-19 foram ocultados para que a dispensa de professores e alunos não acontecesse, funcionários da limpeza foram demitidos e muitas outras atrocidades e maldades ocorreram durante esse período [da pandemia]”.
Comentando sobre os mesmos problemas, uma educadora de Manaus escreveu: “Período muito difícil, onde em na escola particular tivemos diminuição salarial e muita cobrança para manter os alunos”.
Lutas nos locais de trabalho
Dos entrevistados, 53,5% afirmaram ter participado de lutas por medidas de proteção contra a COVID-19. Eles relataram brevemente os diferentes motivos que as impulsionaram:
“Greve pela vida. Abrir as escolas fornecia um grande risco”; “A escola não queria afastar os contatos da professora que teve COVID”; “Devido a morte de um colega de trabalho”, disseram educadores. “Por urgência em vacinação”, disse um rodoviário. “Por EPI e por orientações acerca da pandemia”, disse uma assistente social.
Apenas 44% afirmaram que as lutas em que participaram foram organizadas pelo sindicato, enquanto 25% disseram que o sindicato as organizou apenas parcialmente, e 31% que os sindicatos não tiveram participação em sua organização.
Uma imensa maioria dos entrevistados, 70%, afirmaram que seu sindicato não coleta nem divulga informações sobre casos nos locais de trabalho. E 86% que seu sindicato não se opôs de nenhuma forma ao fim da obrigatoriedade do uso de máscaras.
Conclusões
Os resultados iniciais da pesquisa são uma forte confirmação dos princípios e objetivos que motivaram o lançamento da Investigação pelo World Socialist Web Site, em novembro de 2021. Ao explicar sua importância, o WSWS declarou:
Esta Investigação é necessária para combater o encobrimento, falsificações e desinformação que vêm sendo utilizados para justificar as políticas responsáveis por milhões de mortes evitáveis desde a detecção inicial do SARS-CoV-2. A Investigação reunirá e colocará à disposição do público as amplas evidências de indiferença socialmente nociva e mesmo criminosa à vida humana.
O objetivo último da Investigação é impulsionar um movimento socialmente consciente das massas trabalhadoras mundiais, internacionalmente unificado e com base nas pesquisas científicas pela eliminação global da COVID-19.
A pesquisa revela a existência de um terreno fértil para o desenvolvimento dessa perspectiva entre a classe trabalhadora brasileira, em oposição aos esforços dos sindicatos pró-capitalistas para sabotar suas lutas.
E reafirma a necessidade de aprofundamento da colaboração entre a classe trabalhadora e os cientistas, médicos e especialistas em saúde pública comprometidos com os interesses sociais. Uma avaliação precisa das condições de risco existentes nos locais de trabalho, bem como a elaboração de novas práticas de trabalho seguras dependem dessa colaboração.
O Comitê de Base pela Educação Segura no Brasil (CBES-BR), em coordenação com a Aliança Operária Internacional de Comitês de Base (AOI-CB), está construindo as formas de organização democráticas necessárias para a classe trabalhadora avançar sua luta, e está à frente do combate para erradicar a COVID-19, impedir o desenvolvimento de outras pandemias e refundar a sociedade com base no princípio de preservação da vida humana.