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Bolsonaro e militares intensificam conspirações antidemocráticas às vésperas de eleições no Brasil

As conspirações antidemocráticas sendo promovidas pelo presidente fascistoide Jair Bolsonaro e pelas forças militares brasileiras avançam conforme se aproxima o primeiro turno das eleições presidenciais no país, em 2 de outubro.

Fuzileiros navais brasileiros (Fonte: Ministério da Defesa)

Ao mesmo tempo que o presidente prossegue ruidosamente com seu plano de contestar uma derrota cada vez mais certa nas urnas, os militares foram alçados à posição de árbitros do processo político, com a nomeação do próximo presidente dependendo do seu aval.

A apenas duas semanas do pleito, o presidente reiterou publicamente que não aceitará um resultado que não a vitória. Em uma entrevista no domingo ao SBT, Bolsonaro declarou que caso receba menos de 60% dos votos, isto é, se não for declarado eleito em primeiro turno, “algo de anormal aconteceu no TSE [Tribunal Superior Eleitoral]”.

A alegação de que uma fraude eleitoral está em andamento para removê-lo do poder é o argumento central da “grande mentira” ao estilo hitlerista sendo promovida sistematicamente por Bolsonaro. Essa narrativa golpista descarta como fraudulentos os resultados de todas as pesquisas recentes, que apontam uma liderança por ampla margem do candidato do Partido dos Trabalhadores (PT), Lula da Silva. A última pesquisa do Datafolha, publicada na quinta-feira, mostrou Lula com 47% da intenções de voto e Bolsonaro com apenas 33%.

Na entrevista gravada em Londres, onde participou do funeral da rainha Elizabeth II, Bolsonaro justificou a certeza de sua vitória sobre o que chama de “Data Povo”, ou seja, sua percepção subjetiva da “vontade popular” a partir da participação em seus eventos, em oposição aos dados de institutos como o Datafolha.

Ele disse: “Está bastante dividido, né, muito mais favorável a mim. Eu digo, se eu tiver menos de 60% dos votos, algo de anormal aconteceu no TSE tendo em vista obviamente o Data Povo que você mede pela quantidade de pessoas que não só vão nos meus eventos bem como nos recepcionam ao longo do percurso até chegar ao local do evento”.

O plano de Bolsonaro para contestar as urnas se espelha amplamente nas ações de Donald Trump durante as últimas eleições presidenciais nos Estados Unidos, que culminaram na tentativa de golpe do 6 de Janeiro no Capitólio. Mas, muito mais do que Trump, Bolsonaro tem motivos para confiar que um setor significativo das Forças Armadas legitimará sua tentativa de manter à força o poder de Estado.

Esta semana, os clubes militares do Rio de Janeiro divulgaram uma nota conjunta conclamando o “Resgate do Verde e Amarelo” contra o que dizem ser “uma tentativa explícita de destruir os conceitos de cidadania e patriotismo”. Encerrado com um trecho da Canção do Tamoio, do poeta romântico Gonçalves Dias, que diz que “A vida é combate, que os fracos abate”, o documento é um chamado inequívoco por um golpe.

As manifestações conduzidas pelo presidente no Dia da Independência, no último 7 de setembro, já haviam confirmado essas expectativas. Elas foram extremamente bem-sucedidas em fundir, com o consentimento dos generais, uma parada militar massiva ao ato de milhares de apoiadores de extrema-direita de Bolsonaro.

A corrompida oposição burguesa a Bolsonaro respondeu a este evento determinante na histórica política brasileira com novas concessões aos militares que depositam ainda mais o poder em suas mãos.

Em 13 de setembro, o TSE aprovou uma reformulação do teste de integridade das urnas eletrônicas para atender exigências dos militares. A mudança, feita às vésperas do processo eleitoral, vai introduzir o uso de biometria na fiscalização das urnas.

Como foi admitido pelo próprio presidente do TSE, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, a suposta “medida de segurança” é totalmente desprovida de justificativa técnica. Moraes afirmou que “não há comprovação de que o teste [com a biometria] melhore ou não a fiscalização”. Em outras palavras, o TSE acatou uma exigência que, sabidamente, tem como único objetivo fomentar a desconfiança sobre o processo eleitoral que embasa a conspiração de Bolsonaro.

Moraes, que assumiu a presidência do TSE em 17 de agosto deste ano, tomou como sua principal tarefa afinar as relações do Tribunal Eleitoral com os militares, aprofundando as concessões feitas por seus antecessores. Ele estabeleceu prontamente reuniões exclusivas do TSE com os militares, a portas fechadas e sem atas. Seu antecessor, Edson Fachin, havia resistido em acatar essa demanda antidemocrática feita insistentemente pelo ministro da Defesa e colaborador da conspiração de Bolsonaro, general Paulo Sérgio Oliveira.

É altamente reveladora da falência política do PT e seus aliados pseudoesquerdistas do PSOL a relação umbilical que estabeleceram com essas forças reacionárias no Estado burguês.

O mesmo Alexandre de Moraes foi enaltecido pela pseudoesquerda brasileira como o verdadeiro salvador da democracia no país. Ela confiou ao ministro do STF “tomar todas as providências que entender cabíveis para garantir que o resultado do pleito eleitoral de 2022 seja plenamente respeitado e cumprido”, como declarou um documento redigido por parlamentares do PSOL.

As “providências” tomadas por Moraes com o criminoso consentimento do PT e do PSOL estão se revelando peças-chaves para o avanço da tutela militar sobre o regime político.

Ao lado das concessões tomadas do TSE, os militares se preparam para realizar, pela primeira vez desde o estabelecimento do regime burguês democrático no Brasil, uma checagem paralela das urnas. Soldados serão enviados a centenas de locais de votação ao redor do país para checar pessoalmente a “lisura” do processo democrático.

Se as conclusões dessa apuração servirão para legitimar um golpe político de Bolsonaro, ou mesmo uma intervenção independente dos militares em nome da “estabilização política” do país, permanece uma questão a ser respondida. A degeneração da democracia burguesa no Brasil, por outro lado, é um processo em aprofundamento do qual não há volta.

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