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PT faz giro brusco à direita a uma semana das eleições

Na última semana de campanha antes das eleições gerais no Brasil, o presidente fascistoide Jair Bolsonaro continuou a advertir que não reconhecerá nenhum resultado que não seja sua vitória já no primeiro turno.

Seguindo o roteiro do ex-presidente americano Donald Trump na preparação para sua tentativa de golpe de Estado no Capitólio em 6 de janeiro de 2021, Bolsonaro declarou incansavelmente por quatro anos que as urnas eletrônicas brasileiras estão sendo ativamente manipuladas para favorecer o primeiro colocado nas pesquisas, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do Partido dos Trabalhadores (PT). Nas últimas semanas, ele atacou, como parte desta suposta conspiração, os institutos de pesquisa que unanimemente mostram que ele está atrás de Lula por mais de 10 pontos percentuais.

De forma muito mais grave, ele conseguiu integrar as forças armadas brasileiras, que impuseram uma ditadura brutal apoiada pelo imperialismo dos EUA entre 1964 e 1985, em sua operação para desacreditar as urnas eletrônicas. Os militares estão montando uma operação para “auditar” a votação em paralelo ao Tribunal Superior Eleitoral. Esta operação, que finalmente recebeu um endosso covarde do presidente do TSE, o Ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, fez dos militares, na prática, os árbitros finais da eleição.

Neste contexto, o PT lançou um giro à direita, com o objetivo de conquistar o apoio até mesmo dos mais reacionários apoiadores de Bolsonaro para um terceiro mandato para Lula. O partido promete às grandes empresas que trará o tipo de “paz” social e estabilidade para a obtenção de lucros que Bolsonaro está impedindo com sua demagogia de direita. A principal preocupação do PT é que a miséria geral da classe trabalhadora brasileira, que explodiu sob o regime de Bolsonaro, incluindo a morte e o sofrimento em massa causados por sua política de “imunidade de rebanho” em relação à pandemia da COVID-19, possa colocar em questão o capitalismo brasileiro como um todo.

Tendo como primeira e principal preocupação anestesiar a opinião pública quanto à profundidade da crise do capitalismo brasileiro, o partido reafirma dia e noite que “as instituições estão funcionando” e Bolsonaro está isolado em seus preparativos para um golpe. As negociações a portas fechadas das últimas duas semanas, no entanto, revelam precisamente o contrário.

Como amplamente divulgado tanto pela imprensa corporativa quanto pelos porta-vozes do PT como a Revista Fórum, Lula realizou uma reunião no dia 21 de setembro com a mais alta autoridade dos EUA no Brasil, Douglas Koneff, cuja nomeação para embaixador continua paralisada no Senado de seu país. A questão central na reunião foi a garantia de Washington de que os EUA reconhecerão imediata e publicamente os resultados proclamados pelo TSE, provavelmente confirmando a ampla liderança de Lula, na noite da eleição. Segundo os mesmos relatos, os principais conselheiros do PT solicitaram o mesmo a dezenas de embaixadores latino-americanos e europeus, em uma tentativa de dissuadir os militares brasileiros, historicamente pró-imperialistas, de se colocarem ao lado de Bolsonaro, barrando assim sua tentativa de golpe já antecipada.

Toda esta operação não é mais do que uma aposta criminosa. O Comando Sul dos EUA não teve nenhum problema em participar das marchas fascistas de Bolsonaro no 7 de Setembro. Os EUA enviaram um esquadrão naval para participar das comemorações ao largo da costa do Rio de Janeiro, com o objetivo de não trazer tensão à relação com o exército brasileiro, com o qual o Pentágono tem colaborado estreitamente por mais de um século. O PT conta quase exclusivamente com o fato de que Bolsonaro, um aliado próximo de Trump, irritou mais de uma vez as autoridades americanas com críticas tanto a Biden quanto à guerra por procuração dos EUA contra a Rússia – incluindo um forte repúdio às sanções impostas pelos EUA durante a 77ª Assembleia Geral da ONU na semana passada.

Assim, Lula reforçou recentemente seu giro político em direção ao imperialismo com uma entrevista altamente roteirizada com o porta-voz dos magnatas do agronegócio brasileiro, o Canal Rural, também em 21 de setembro, na qual ele fez uma crítica sem precedentes do falecido presidente venezuelano Hugo Chávez, um alvo histórico do imperialismo americano, que tentou sequestrá-lo e assassiná-lo em um golpe de Estado fracassado em 2002.

Lula aproveitou a deixa de uma pergunta sobre os direitos de posse de armas, que foram enormemente ampliados por Bolsonaro, levando a um forte aumento da violência perpetrada por capangas a serviço de grandes proprietários de terras e garimpos contra camponeses e comunidades indígenas. Pressionado sobre se ele reverteria as medidas de Bolsonaro, Lula afirmou que nunca se opôs à posse de armas no campo e garantiu que o mundialmente famoso Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), um elemento-chave do teatro de esquerda do PT, não tinha mais nenhum interesse em ocupar terras privadas, e tinha se transformado em um administrador bem-sucedido da produção orgânica de arroz e outros produtos básicos. O movimento, que já foi retratado internacionalmente como um opositor radical da concentração da propriedade da terra e até mesmo “socialista”, tinha “amadurecido”, disse Lula. Em uma provocação anticomunista totalmente gratuita, Lula declarou então que se opunha à expansão da posse de armas porque era “o que Hugo Chávez havia feito na Venezuela”.

Os últimos esforços políticos do PT também incluíram o restabelecimento de alianças com Marina Silva, ex-ministra do meio ambiente de Lula, que deixou seu governo para se tornar uma defensora do “eco-capitalismo” e das reformas neoliberais, bem como com o ex-presidente do Banco Central nomeado por Lula, Henrique Meirelles, que chefiou o Ministério da Fazenda sob o predecessor de Bolsonaro, Michel Temer. Tanto Marina Silva como Meirelles participaram de elaboradas cerimônias para anunciar seu apoio a Lula após anos de oposição pública ao PT.

Após deixar o PT e o governo de Lula em 2008, Marina Silva tornou-se uma das maiores destinatárias de doações empresariais nas três vezes em que concorreu à presidência em 2010, 2014 e 2018. Liderando brevemente as pesquisas em 2014, contra a presidente Dilma Rousseff do PT, ela foi duramente criticada pelo partido por defender a independência formal do Banco Central. A medida foi finalmente aprovada por Michel Temer, que sucedeu Dilma Rousseff após seu fraudulento impeachment em 2016. Na época, Meirelles era o Ministro da Fazenda.

Os diários financeiros foram unânimes em indicar que um ligeiro aumento no valor da moeda brasileira, o real, em relação ao dólar em 20 de setembro, no dia seguinte à reunião Lula-Meirelles, devia-se à confiança de que Lula não questionaria nem o draconiano teto de gastos imposto por Meirelles em 2017, nem a independência do Banco Central, apesar de suas promessas públicas passadas e presentes.

Quanto ao apoio de Marina Silva, ele incluiu compromissos de regulamentação do mercado de crédito de carbono no Brasil e de contenção do desmatamento, ajudando assim a destravar um acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia. O acordo está em elaboração há décadas e é anunciado como o maior acordo comercial já assinado, mas foi bloqueado por inúmeros governos nacionais europeus com o argumento de que os métodos agrícolas brasileiros, intensos e destrutivos, ofereceriam concorrência desleal aos pequenos produtores agrícolas europeus. Lula foi historicamente contrário ao acordo alegando que ele destruiria a indústria nacional. Agora, com Marina Silva ao seu lado, ele prometeu concluí-lo em seus primeiros seis meses de governo, oferecendo assim mais benesses para as grandes empresas, enquanto os esquemas fraudulentos de “créditos de carbono” são incapazes de deter o aquecimento global.

Há uma profunda ironia histórica no fato de que a tão divulgada garantia contra uma ditadura bolsonarista, isto é, o apoio a um possível terceiro mandato de Lula por parte do imperialismo dos EUA, vem à medida que o próprio Bolsonaro busca um tom desafiador em relação ao governo norte-americano, expondo a deterioração da posição dos EUA no mundo e a deterioração das relações internacionais em crescentes rivalidades nacionais e guerras. Uma das principais razões da oposição a Bolsonaro na classe dominante, e aquela expressa da forma mais estridente pelo PT, é que seu alinhamento unilateral com a política externa dos EUA foi contrário aos interesses comerciais do Brasil, especialmente porque este ano o país se tornou o maior destinatário do investimento estrangeiro chinês.

Outra grande figura empresarial anteriormente demonizada pelo PT, Pedro Parente, que foi nomeado pelo presidente Temer para chefiar a gigante petrolífera estatal Petrobras após o impeachment de Dilma Rousseff, declarou em um evento na Bolsa de Valores de São Paulo em 20 de setembro que “Se houver uma certa competência do governo que entrar, especialmente com a esperada melhora da relação com a China se o ex-presidente Lula ganhar a eleição, a gente tem uma oportunidade de recuperar a atratividade” para os investimentos estrangeiros.

A transformação da América Latina em um campo de batalha para os confrontos cada vez mais belicosos dos EUA com a Rússia e a China só torna ainda mais imprudentes e criminosas as negociações a portas fechadas do próprio PT com Washington. O mesmo fator que motiva a exaltação do PT à expansão dos laços econômicos com a China e outros países – o enfraquecimento da posição dos EUA, especialmente na América Latina – também coloca a necessidade de que Washington preserve os laços com os militares brasileiros, independentemente de suas preocupações de curto prazo com a imprudência de Bolsonaro, como foi demonstrado no 7 de Setembro. Ao mesmo tempo, a subordinação dos apelos populistas do PT à busca do apoio das potências imperialistas deixa claro que qualquer que seja o resultado da votação de 2 de outubro, os trabalhadores brasileiros enfrentarão um governo de austeridade e ataques aos seus padrões de vida sem precedentes, tudo em nome da “competitividade” e do “jogo das grandes potências.”

A organização de uma contraofensiva à guerra de classe anunciada tanto por Bolsonaro como pelo PT exige uma estratégia socialista e internacionalista. Esta perspectiva só é defendida pelo Comitê Internacional da Quarta Internacional.

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