Publicado originalmente em 11 de outubro de 2022
Em 9 de outubro, representantes do Comitê Internacional da Quarta Internacional (CIQI) e da Juventude e Estudantes Internacionais pela Igualdade Social (JEIIS) realizaram uma reunião para começar a organizar um movimento global da juventude contra a guerra dos EUA e da OTAN contra a Rússia pela Ucrânia.
Representantes de 11 países diferentes participaram da reunião, incluindo membros da JEIIS nos Estados Unidos, Turquia, Reino Unido, França, Alemanha, Canadá, Brasil, Sri Lanka, Austrália e Nova Zelândia. Particularmente significativa foi a presença de membros da Jovem Guarda dos Bolcheviques-Leninistas, uma organização na Rússia que declarou seu apoio político ao CIQI. A reunião foi realizada tanto em inglês quanto em russo, com todas as contribuições traduzidas nos dois idiomas.
A reunião votou unanimemente para tomar medidas imediatas para a construção de um movimento antiguerra entre estudantes e a juventude, incluindo a realização de um webinário global no próximo mês. A reunião também decidiu aprofundar as conexões organizacionais internacionais da JEIIS, o movimento da juventude e de estudantes do CIQI.
Na abertura da reunião, David North, presidente nacional do Partido Socialista pela Igualdade (EUA) e presidente do Conselho Editorial Internacional do World Socialist Web Site, disse que seu objetivo era “pôr em marcha um movimento mundial contra o conflito na Ucrânia, instigado pelas potências imperialistas, mas pelo qual o regime de Putin também carrega imensa responsabilidade”.
O CIQI, explicou o North, entende que o conflito na Ucrânia representa “o início da Terceira Guerra Mundial”.
“Quaisquer que sejam os acontecimentos que imediatamente desencadearam o conflito”, disse ele, “seu objetivo essencial é a subordinação da Rússia ao imperialismo americano, sua integração no bloco dos EUA e aliados da OTAN, e é, nesse sentido, a preparação para a guerra com a China”. Na véspera da Segunda Guerra Mundial, o slogan da Alemanha era: ‘Hoje a Alemanha, amanhã o mundo’. Hoje, o slogan do imperialismo americano é ‘Hoje Rússia, amanhã a China e o mundo.’”
A reunião foi realizada quando o conflito pela Ucrânia ameaça evoluir para uma guerra nuclear. Os líderes das principais potências imperialistas deixaram claro, entretanto, que os alertas do governo Putin de que poderia usar armas nucleares em resposta a uma série de derrotas não os impedirão de intensificar o conflito e derrotar militarmente a Rússia.
“Nunca é demais enfatizar”, disse North, “que a disposição da classe dominante americana em aceitar a morte de mais de um milhão de americanos pela COVID-19, para não mencionar milhões mais em todo o mundo, é da maior relevância social, política e histórica. Uma classe dominante cujo slogan em resposta à pandemia é ‘viver com o vírus’ é mesma classe dominante que também pode levantar o slogan ‘viver com a guerra nuclear’. Ambas as posições são social e politicamente insanas. Mas o capitalismo degenerou no reino da insanidade social e política.”
Para o CIQI, North enfatizou, a questão central na luta contra a guerra imperialista é a mobilização da classe trabalhadora internacional, baseada em uma perspectiva socialista. Entretanto, isto não exclui a necessidade da construção de um movimento de massa, internacional e socialista da juventude e estudantes.
“Quando consideramos a situação atual e o perigo extremo da guerra”, disse ele, “o que significa muito diretamente é que a juventude do mundo pode perder seu direito ao futuro. A realidade do capitalismo moderno e do imperialismo não só ameaça a juventude com a pobreza e a doença, mas também seu próprio direito à vida, porque essa é a realidade das consequências da guerra nuclear.”
A construção de um movimento antiguerra entre a juventude nos campi é particularmente importante, disse North, porque “a defesa do imperialismo, a justificação da guerra imperialista, encontra expressão reacionária nas ideologias promovidas nas universidades, na forma das muitas variedades do pseudoesquerdismo”.
“Mas a orientação essencial dessa luta, para ser bem-sucedida, deve ser a construção de um movimento da classe trabalhadora baseado em um programa revolucionário e socialista. A juventude por si só não pode derrotar o imperialismo.”
A fala de abertura de North foi seguida pela contribuição de muitos dos presentes.
Gregor, dirigente da JEIIS na Alemanha, disse que as experiências da juventude da classe trabalhadora são muito semelhantes em todo o mundo. “A juventude trabalhadora enfrenta a perspectiva de guerra nuclear, pobreza, catástrofes climáticas, ditaduras e um aprofundamento da crise social e política”, disse ele. “Ao mesmo tempo, a juventude da classe trabalhadora está internacionalmente conectada como nunca, e este caráter globalmente integrado da juventude da classe trabalhadora deve encontrar uma expressão organizacional.”
Evrim, dirigente da JEIIS na Austrália, analisou os esforços para bloquear a construção da JEIIS nos campi, no contexto do ataque mais amplo aos direitos democráticos por parte da classe dominante. Ele enfatizou o caráter global da JEIIS e a necessidade de uma organização internacional. “A letra ‘I’ na sigla JEIIS está lá por uma razão”, disse ele. “Enfatizamos aos estudantes que somos um movimento internacional.”
Tom Scripps, secretário assistente nacional do PSI no Reino Unido, disse: “Particularmente nas universidades encontramos esforços para afastar a juventude da classe como a categoria essencial. Eles têm sido afastados da tradição do internacionalismo socialista, que agora é urgentemente levantada pela guerra. As organizações da classe média alta, disse ele, promovem “políticas de identidade em oposição à solidariedade internacional da classe trabalhadora”.
O camarada Andrei, representante da Jovem Guarda dos Bolcheviques-Leninistas, falou sobre como o grupo de jovens socialistas na Rússia iniciou contato com o CIQI e passou a concordar com sua perspectiva política e análise do papel do stalinismo.
“Como nossa organização é uma organização juvenil trotskista, o próximo passo mais importante será nossa integração com a JEIIS, a organização juvenil do CIQI”, disse ele. A integração no trabalho da JEIIS será fundamental para “construir a influência do CIQI na Rússia, na Ucrânia e em toda a ex-União Soviética”.
Ulaş Ateşçi, dirigente do Grupo Socialista pela Igualdade na Turquia, analisou a evolução da esquerda de classe média, desde seu envolvimento no movimento antiguerra dos anos 1960 e 1970 até se tornarem hoje os defensores abertos do imperialismo.
“O enorme movimento mundial antiguerra antes da invasão do Iraque em 2003 foi desmobilizado pelas tendências de classe média”, disse ele. “Desde então, a principal função da pseudoesquerda internacional tem sido legitimar a guerra imperialista, especialmente as guerras contra a Líbia e a Síria, e agora a guerra contra a Rússia pela Ucrânia. Hoje, a maioria das tendências da pseudoesquerda e dos sindicatos internacionalmente são os principais apoiadores da campanha imperialista contra a Rússia.”
Kapila, um dos responsáveis pela convocação da reunião da JEIIS e membro do comitê político do PSI no Sri Lanka, disse que o impacto da guerra na Ucrânia, dois anos depois da pandemia, e os cortes na educação, cuidados de saúde e outros serviços sociais básicos são comuns a todos os países. Ele explicou: “Estas condições expõem a falência dos programas nacionalistas dos governos capitalistas e de outras organizações nacionalistas.”
Ele observou que as classes dirigentes no sul da Ásia, inclusive no Sri Lanka, estão alinhadas ao capital financeiro internacional e à guerra imperialista, enquanto as organizações da pseudoesquerda que têm liderado protestos da juventude e trabalhadores trabalham para canalizar a oposição por trás do establishment político.
Tomas Castanheira, dirigente do Grupo Socialista pela Igualdade no Brasil, revisou as experiências dos movimentos de juventude anteriores no país. Através da influência do stalinismo e do pablismo, esses movimentos foram utilizados como ferramentas para subordinar a classe trabalhadora à burguesia. “Hoje, sob a perspectiva do CIQI, a juventude no Brasil se orientará para a classe trabalhadora, mas com uma nova perspectiva revolucionária e socialista”, disse ele.
Clara Weiss, dirigente da JEIIS nos Estados Unidos, destacou que a atual guerra é o resultado da dissolução da União Soviética, “tanto em termos da erupção do imperialismo americano como em termos da resposta reacionária dos regimes oligárquicos que surgiram a partir da União Soviética.”
Ela observou que toda uma geração da juventude na Ásia, na África, na antiga União Soviética e nos centros do imperialismo mundial enfrenta as consequências desastrosas do capitalismo e da contrarrevolução social que se seguiu à dissolução da URSS. “Ao mesmo tempo, a juventude foi afastada da história do movimento operário pelos ataques ao marxismo e pela promoção de todo tipo de ideologias reacionárias e falsificações históricas”, disse ela.
“Não há nenhuma tendência fora de nosso movimento que se oponha a esta guerra, se oponha ao capitalismo do ponto de vista socialista e possa falar da história do movimento trotskista e da luta marxista contra a guerra e o stalinismo.”
Ao concluir a reunião, David North enfatizou o significado da discussão e a participação de representantes de todo o mundo. “Mais importante do que a representação quantitativa de participantes e países”, entretanto, “é a perspectiva unificada qualitativa enraizada em toda a história do movimento trotskista”.
“Nesta guerra”, disse ele, “estamos enfrentando os problemas não resolvidos do século XX, e entendemos que se esses problemas não forem resolvidos nos anos imediatamente à nossa frente, isso significará o fim da civilização humana.
“É por isso que a questão que estamos colocando é tão crítica: ‘A juventude, se querem ter um futuro, terão que lutar por ele, e essa luta tem como conteúdo a luta pela derrubada do capitalismo e a construção do socialismo.’”
Ao mesmo tempo, disse ele, a construção de um movimento da juventude contra a guerra deve ser baseada na oposição a “todas as correntes reacionárias que, de uma forma ou de outra, alegam representar a juventude: stalinismo, pablismo, socialdemocracia, nacionalismo burguês, infinitas formas contemporâneas de política de identidade, e até mesmo a hipocrisia de várias formas de pacifismo, que se opõem à guerra em tempos de paz e se opõem à paz em tempos de guerra.”
Outra tendência que deve ser combatida, disse ele, “é a infecção do pessimismo, a crença de que a mudança é impossível, uma perspectiva que é encorajada por todas as tendências a que me referi. Nosso partido é o partido do otimismo e, portanto, o partido do futuro. O futuro pode ser conquistado, mas a juventude deve lutar por ele e lutar por ele com base em uma perspectiva histórica correta. Toda a história demonstra que a revolução é possível, o capitalismo pode ser derrubado, mas o grande problema é o desenvolvimento da direção na classe trabalhadora.”