Publicado originalmente em 9 de outubro de 2023
1. O Comitê Internacional da Quarta Internacional (CIQI) denuncia inequivocamente a declaração de guerra do governo de Netanyahu contra o povo palestino após o levante em Gaza contra a ocupação israelense. A declaração histérica do regime israelense, semelhante aos nazistas, pode ser interpretada como nada menos que um chamado para uma grande parte da população de Gaza seja exterminada. O CIQI denuncia de forma não menos enfática as declarações de apoio irrestrito dadas pelo governo Biden e pelos governos da União Europeia à campanha genocida que está sendo planejada e implementada pelas forças armadas israelenses. O envio de um porta-aviões americano para a região é uma vil demonstração de solidariedade imperialista com o ataque massivo ao povo palestino.
2. É responsabilidade da classe trabalhadora internacionalmente e em Israel defender os trabalhadores e os jovens palestinos em sua luta contra a opressão. Nos centros imperialistas e em todo o mundo, devem ser lançados protestos e oposição ao envio de armas e ao apoio financeiro ao governo israelense. Em todos os países, devem acontecer manifestações em massa exigindo o fim da ocupação de Gaza e da Cisjordânia.
3. Fazemos um apelo especial à classe trabalhadora israelense e a todos os elementos progressivos da população judia para que rejeitem o chauvinismo venal do regime. Os trabalhadores e jovens israelenses devem se desvencilhar e denunciar as ações criminosas do governo Netanyahu, que não representa seus interesses.
4. Como sempre foi o caso ao longo da história, todo ato de resistência das massas evoca denúncias frenéticas das elites dominantes. Biden, Scholz, Macron e os demais podem gritar “terrorismo” o quanto quiserem. Porém, apesar da implacável propaganda pró-sionista, a simpatia dos trabalhadores, dos jovens e dos oprimidos em todo o mundo está com os palestinos. Entende-se que o que está ocorrendo é uma revolta em massa contra uma brutal ocupação e que, por “terrorismo”, a classe dominante se refere a qualquer manifestação de oposição a seus interesses e políticas.
5. Assim como a guerra na Ucrânia, os eventos na Palestina são retirados de todo o seu contexto histórico na mídia capitalista. Já se passaram 75 anos desde a ocupação da Palestina pelo recém-formado Estado israelense e a expulsão de sua terra natal daqueles que viviam lá. Já se passaram 55 anos desde a Guerra dos Seis Dias, em 1967, que deu início à ocupação israelense e à anexação da Cisjordânia. Já se passaram 17 anos desde a guerra israelense de 2006 em Gaza e o consequente bloqueio, que transformou Gaza em uma “prisão a céu aberto”, nas palavras da Human Rights Watch. Ao longo das décadas, ocorreram inúmeros assassinatos e bombardeios nas cada vez menores porções de terra em que os palestinos se concentraram, bem como em áreas para as quais fugiram, como no massacre de 1982 de palestinos nos campos de refugiados de Sabra e Shatila, no Líbano.
6. Durante todo esse processo, Israel tem sido apoiado pelas potências imperialistas, principalmente pelos Estados Unidos, para os quais Israel tem funcionado como o principal representante no Oriente Médio. A ONU se recusou a fazer cumprir suas próprias resoluções contra anexações, enquanto os regimes burgueses árabes fizeram acordos com o imperialismo e com Israel, deixando o povo palestino ser massacrado e oprimido. Apesar de tudo, o Estado israelense e seus apoiadores não conseguiram suprimir as lutas dos palestinos por seus direitos democráticos e sociais.
7. Este é um momento decisivo. Durante meses, Netanyahu e seus parceiros de coalizão fascista, o Sionismo Religioso, liderado por Bezalel Smotrich, e o Poder Judaico, liderado por Itamar Ben Gvir, lideraram uma ofensiva do exército israelense. A polícia e os grupos de colonos realizaram ataques quase diários a cidades e vilarejos na Cisjordânia, em Gaza e dentro de Israel, juntamente com provocações na mesquita de Al Aqsa.
8. A resistência das massas palestinas é um desastre político para Netanyahu, que é um criminoso até mesmo dentro da lei israelense. É um fato da vida política em Israel que esse gângster inescrupuloso se agarra ao poder para ficar fora da prisão. Também é reconhecido por milhões de israelenses que Netanyahu encenou provocações contra os palestinos com o objetivo de provocar uma resposta violenta, que poderia ser usada para distrair a oposição interna. Entretanto, a reação palestina aos seus esquemas criminosos excedeu em muito os cálculos de Netanyahu.
9. O Hamas lançou uma ofensiva militar que envolveu milhares de pessoas, apesar de estar cercado por tropas inimigas em um gueto supostamente impenetrável e sujeito a vigilância constante e assassinatos direcionados. Uma operação dessa escala só poderia ter sido planejada e mantida em segredo devido ao apoio esmagador dos dois milhões de habitantes de Gaza. É uma revolta popular genuína, empreendida contra um opressor massivamente armado, que evoca o exemplo da revolta dos judeus presos no Gueto de Varsóvia em 1943 e a rebelião massiva da classe trabalhadora de Varsóvia contra a ocupação nazista alemã em 1944.
10. A classe dominante de Israel está hoje no ponto em que a perspectiva reacionária de garantir um Estado judeu exclusivista por meio da expulsão forçada dos palestinos só pode ser mantida por meio de assassinatos em massa e da limpeza étnica. Netanyahu prometeu reduzir a faixa de Gaza de 43 quilômetros de comprimento e 10 quilômetros de largura a “escombros” e diz à população mantida presa para “sair do caminho”, sabendo que eles não podem.
11. A brutal resposta militar já começou. No segundo dia da “Operação Espadas de Ferro”, Israel realizou ataques contra 800 alvos em Gaza, interrompeu o fornecimento de eletricidade, impediu a entrada e saída de mercadorias do enclave sitiado e bombardeou hospitais e apartamentos que abrigam centenas de civis indefesos. Os palestinos se aglomeraram nas escolas administradas pela ONU, buscando refúgio do bombardeio aéreo.
12. Essa é a dura realidade por trás do apoio universal à declaração de guerra de Netanyahu pelo governo Biden nos Estados Unidos, pelos líderes de todas as grandes potências mundiais e pela mídia de massa. Em um momento de crescente agitação social e greves em todo o mundo, a classe dominante em todos os lugares está aterrorizada de que qualquer manifestação de oposição popular servirá de exemplo.
13. Os líderes imperialistas e a servil mídia estão se opondo não ao “terrorismo”, mas à oposição em massa à ocupação e ao terror infligido diariamente por Israel. Eles chegarão ao ponto de apoiar o genocídio contra os palestinos e estendendo-se a uma guerra regional contra o Irã, a Síria e o Líbano. O Wall Street Journal publicou um editorial escrevendo:
Por favor não condenem mais o “bloqueio” ou a “ocupação” de Israel... a tentação da Casa Branca será dar a Israel uma semana ou mais para responder com liberdade e depois pressionar o governo de Netanyahu a se retirar. Esse é sempre o padrão dos EUA, mas não deveria ser desta vez. E se uma guerra mais ampla for deflagrada, os EUA terão de fornecer a Israel as armas e o apoio diplomático necessários para destruir o Hamas e a capacidade militar do Hezbollah.
14. A mídia não precisa temer tal recuo por parte do governo Biden. Ontem, o secretário da Defesa Lloyd Austin confirmou que os EUA irão enviar um grupo de ataque de porta-aviões para a região, incluindo o porta-aviões Ford de US$ 50 bilhões, e irão fornecer munições “nos próximos dias”. Isso não é apenas “solidariedade” a Israel, mas os preparativos para participar de uma guerra. No apoio total à resposta militar de Israel, nenhuma palavra é dita sobre a matança indiscriminada de palestinos. Não há pedidos de contenção, muito menos de um cessar-fogo. A única preocupação que está sendo expressa agora nos círculos imperialistas é que o fornecimento de munições a Israel pode diminuir o fornecimento de munições necessárias para a escalada da guerra entre os EUA e a OTAN contra a Rússia na Ucrânia.
15. Para desacreditar toda e qualquer expressão de apoio ao povo palestino, os governos imperialistas e a mídia inevitavelmente lançam a acusação de “antissemitismo”. Essa calúnia miserável é repleta de hipocrisia. Quando isso atende a seus interesses, as elites dominantes possuem qualquer ressalva sobre se aliar a defensores de Hitler e neonazistas. O governo alemão endossa os esforços de acadêmicos de direita para justificar e encobrir os crimes do regime nazista. Há menos de duas semanas, todo o parlamento canadense, com o primeiro-ministro Trudeau e o embaixador alemão, aplaudiu de pé Yaroslav Hunka, ex-membro da Waffen-SS nazista, que participou do massacre de judeus no Holocausto.
16. O regime de Netanyahu é capaz de cometer qualquer crime. Porém, ele não é invencível. A sanguinária agressividade de seus gritos de guerra não consegue esconder o medo e o desespero do governo. Ele enfrenta não apenas a resistência das massas palestinas, mas também a crescente oposição da classe trabalhadora israelense. Durante todo o ano, houve manifestações em massa de trabalhadores e jovens israelenses contra o governo de Netanyahu e suas medidas autoritárias. Essas manifestações foram prejudicadas pela liderança oficial, que se recusou a levantar a questão da opressão dos palestinos. A declaração de guerra de Netanyahu também expôs de forma irrevogável os principais líderes da oposição sionista, Yair Lapid, do Yesh Atid, e Benny Gantz, do Partido da Unidade Nacional, que previsivelmente apoiaram os planos de guerra israelenses. Conversas intensas estão em andamento para formar um governo de unidade nacional com Netanyahu.
17. Para as massas de trabalhadores e jovens em Israel, o inimigo não são os palestinos, mas o governo de Netanyahu e a classe dominante israelense. As ações para derrubar as formas democráticas de governo em Israel estão ligadas ao crescimento extremo da desigualdade social e à intensificação do ataque aos programas sociais.
18. O grande paradoxo histórico e político da atual situação é o seguinte: A classe trabalhadora israelense não pode defender seus próprios direitos democráticos sem lutar pelos direitos democráticos do povo palestino contra a opressão sionista, e os palestinos não podem alcançar suas aspirações por direitos democráticos e igualdade social sem forjar uma aliança de luta com a classe trabalhadora israelense. A única perspectiva viável não é uma mítica “solução de dois Estados”, mas um Estado socialista unificado de trabalhadores judeus e árabes.
19. Por mais heroica que seja a luta dos palestinos, as condições intoleráveis que eles enfrentam não serão resolvidas sem o desenvolvimento de um movimento internacional da classe trabalhadora pelo socialismo. Isso não é menos verdadeiro para os trabalhadores e jovens judeus em Israel. O perigo representado por um renovado crescimento do antissemitismo é real. Porém. ele não emana dos esforços democráticos das massas de Gaza e da Cisjordânia ocupada, mas do chauvinismo nacional reacionário incitado pelo capitalismo e pelo imperialismo.
20. O levante na Palestina é parte de uma erupção de revolta e oposição em desenvolvimento na forma de greves e protestos em massa em todo o mundo. É esse movimento social, guiado por um programa e uma perspectiva conscientemente socialistas e revolucionários, que deve ser mobilizado para pôr fim à guerra imperialista, à desigualdade e a todas as formas de opressão. Essa é a perspectiva e o programa da Quarta Internacional Trotskista, liderada pelo Comitê Internacional.