Publicada originalmente em 7 de março de 2024
O ex-presidente dos EUA, Donald Trump, praticamente garantiu a nomeação como candidato do Partido Republicano, após suas vitórias nas primárias da “Super Terça” e a saída de Nikki Haley da corrida na manhã de quarta-feira.
O resultado das primárias republicanas expõe a enorme crise de todo o sistema político americano. Passaram-se pouco mais de três anos desde a tentativa de golpe de 6 de janeiro de 2021. O então presidente Trump mobilizou uma multidão fascista que invadiu o edifício do Capitólio dos EUA na tentativa de impedir a certificação da eleição de Biden, que havia vencido o voto popular e a votação no Colégio Eleitoral, ambos por margens substanciais.
À medida que as eleições avançam, Trump utiliza uma retórica cada vez mais abertamente violenta dirigida aos seus oponentes políticos, ao mesmo tempo que afirma que pretende operar como um “ditador” no primeiro dia do seu retorno ao cargo. Trump não só é a figura absolutamente dominante em um dos dois principais partidos capitalistas dos Estados Unidos, como recebeu milhões de votos e, neste momento, possui uma vantagem significativa sobre Biden nas pesquisas.
A mídia capitalista e a imprensa alinhada ao Partido Democrata não conseguem dar qualquer explicação coerente sobre como isso aconteceu. Vários comentários falam de uma economia que esteve “crescendo rapidamente por mais de um ano”, nas palavras do Washington Post, expressando perplexidade por isso não ter beneficiado Biden.
Na verdade, o ódio generalizado por Biden e pelos democratas não é um mistério. Nos três anos desde a tentativa de golpe, os democratas foram incapazes não apenas de apresentar argumentos contra Trump, mas de executar políticas que elevem os padrões de vida ou expandam os direitos democráticos dos trabalhadores, que constituem a grande maioria da população.
No seu discurso do Estado da União esta noite, a expectativa é que Biden enalteça os “sucessos econômicos” dos últimos três anos. Porém, a grande maioria da população enfrenta crescentes dificuldades sociais, provocadas pelo aumento da inflação e pela estagnação ou declínio dos salários. A dívida das famílias aumentou para US$17,5 bilhões, incluindo um recorde de US$1,13 bilhão em dívidas de cartão de crédito. A desigualdade social atingiu níveis recordes, com a riqueza coletiva dos multimilionários nos EUA atingindo US$5,2 bilhões no ano passado.
A prioridade central da administração Biden desde que chegou ao poder tem sido a escalada da guerra EUA-OTAN com a Rússia pela Ucrânia e a imprudente busca pela hegemonia global americana.
Para prosseguir essa política de guerra global, ele procurou ressuscitar o Partido Republicano e encobrir o significado do golpe de 6 de Janeiro. As limitadas investigações sobre o golpe de 6 de Janeiro, que avançaram com, basearam-se na proteção e no encobrimento dos co-conspiradores de Trump no Partido Republicano e no aparato de inteligência e militar.
Biden iniciou a sua presidência há três anos com um apelo à unidade bipartidária, insistindo na necessidade de um Partido Republicano “forte”, sobretudo para travar a guerra imperialista fora do país. Os democratas entregariam de bom grado a Casa Branca aos republicanos, e até ao próprio Trump, se conseguissem garantir um compromisso em relação à Ucrânia.
Até a mídia foi obrigada a reconhecer as consequências políticas do total apoio de Biden ao ataque israelense contra Gaza, que o condenou para sempre como apoiador do genocídio.
Quanto às proclamações ocasionais de Biden serem a última esperança de “democracia” contra Trump, isso é ficção. Duas semanas atrás, Biden apelou diretamente a Trump para que “se junte a mim” no apoio à legislação que autorizaria o ataque mais repressivo da história contra os migrantes na fronteira entre os EUA e o México. A administração Biden está levando adiante ativamente a perseguição de Julian Assange, procurando a sua extradição do Reino Unido para enfrentar acusações sob a Lei de Espionagem por expor os crimes do imperialismo americano. Além disso, todo o establishment político empreendeu uma cruel campanha contra a oposição em massa ao genocídio de Israel.
O Partido Democrata repudiou há muito tempo qualquer associação com reformas sociais e, portanto, qualquer capacidade de apelar a setores mais amplos da classe trabalhadora. Ele é um partido da CIA e de Wall Street. A sua plataforma política concentra-se na construção de um eleitorado entre setores da classe média alta com base em questões de “identidade”, nas quais os trabalhadores brancos são apresentados como a personificação do racismo e do “privilégio”.
Tudo isso é explorado por Trump e pelos republicanos. Embora o próprio Trump seja fascista, não existe um movimento fascista de massa nos EUA. Os milhões de pessoas que votam nele, incluindo setores significativos da classe trabalhadora, não fazem isso porque querem uma ditadura. Em vez disso, Trump se beneficia do fato de que a oposição nominal a ele é totalmente de direita e reacionária, justamente desprezada e odiada. Como todo demagogo de direita, ele aproveita a confusão e a raiva que não encontram forma de expressão progressiva.
A crise extrema da democracia americana não surgiu do nada nem da mente de Donald Trump. Ela pode ter sua origem rastreada ao longo do último quarto de século, desde o impeachment de Bill Clinton até o roubo das eleições de 2000 e à “guerra ao terror”, primeiro sob Bush e depois Obama.
Ao longo desse período, a desigualdade social cresceu para níveis historicamente sem precedentes, enquanto a guerra sem fim se transformou em um crescente conflito global que representa o risco da aniquilação nuclear. Essas são as condições que levam as elites dominantes à ditadura.
A reeleição de Trump seria uma ameaça direta à classe trabalhadora nos Estados Unidos e internacionalmente. A decisão unânime do supremo tribunal para garantir o lugar de Trump nas urnas expõe a mentira de que os direitos democráticos podem ser defendidos e o perigo do fascismo evitado confiando nos partidos e nas instituições do Estado capitalista. Quanto mais tempo a oposição à extrema direita permanecer ligada ao cadáver político do Partido Democrata, maior se tornará o perigo de uma ditadura fascista. A questão crítica é a guinada da classe trabalhadora para a política socialista revolucionária. O Partido Socialista pela Igualdade está intervindo nas eleições presidenciais, com os seus candidatos Joseph Kishore para presidente e Jerry White para vice-presidente, para avançar e lutar para fornecer uma alternativa socialista para a classe trabalhadora.
Ao anunciar a campanha eleitoral do SEP, o presidente nacional do partido, David North, explicou que o seu objetivo é “elevar a consciência política da classe trabalhadora, desenvolver a sua compreensão de que nenhuma solução pode ser encontrada para qualquer dos problemas que confrontam os trabalhadores, exceto através do fim do sistema capitalista e da sua substituição pelo socialismo, e que essa grande tarefa histórica só pode ser alcançada através da adoção de uma estratégia global que vise a mobilização do poder da classe trabalhadora americana e internacional em uma luta unificada contra o sistema capitalista mundial”.
O desenvolvimento dessa compreensão não é automático. Requer uma luta persistente e determinada para romper as mentiras e a propaganda dos partidos capitalistas. Porém, o socialismo corresponde ao mesmo tempo aos interesses objetivos da classe trabalhadora, uma enorme força social internacional, a grande maioria da população, cujos interesses não encontram expressão no esclerosado e falido sistema político dos EUA.
Armada com um programa e uma liderança socialista, é a classe trabalhadora que se mostrará capaz de impedir a escalada da guerra mundial, opondo-se à descida da classe dominante para o fascismo e a ditadura, acabando com a exploração capitalista, reestruturando a vida social e econômica e retomando a marcha do progresso humano – com base na igualdade e no socialismo.