Publicado originalmente em 15 de abril de 2024
As potências imperialistas responderam aos ataques do Irã contra Israel no sábado com uma onda de condenações.
O presidente dos EUA, Joe Biden, declarou: “Condeno esses ataques da forma mais veemente possível”. Ele reafirmou “o compromisso ferrenho dos Estados Unidos com a segurança de Israel”.
O grupo de potências imperialistas do G7 declarou em um comunicado: “Nós (...) condenamos inequivocamente, nos termos mais fortes, o ataque direto e sem precedentes do Irã contra Israel”. E acrescentou: “O Irã deu mais um passo em direção à desestabilização da região e corre o risco de provocar uma escalada regional incontrolável”.
Essas declarações dos belicistas imperialistas, repetidas por todas as grandes potências da OTAN, são o cúmulo da hipocrisia. A força que “provoca uma escalada regional incontrolável” no Oriente Médio é Israel e seus apoiadores imperialistas.
É preciso retomar a sequência dos acontecimentos. O ataque do Irã foi feito em resposta ao ataque de Israel em 1º de abril a uma embaixada iraniana na Síria, que matou sete oficiais militares iranianos de alto escalão, incluindo dois generais.
Em resposta ao ataque flagrantemente ilegal e assassino de Israel onde era solo iraniano sob a lei internacional, as potências imperialistas efetivamente o endossaram. O embaixador dos EUA na ONU, Robert Wood, declarou: “líderes e elementos terroristas estavam supostamente presentes nessa instalação”. Os EUA, a França e o Reino Unido vetaram uma resolução no Conselho de Segurança da ONU condenando o ataque de Israel.
Hoje, os imperialistas estão ansiosamente condenando a resposta do Irã à ação de Israel. Isso é ainda mais impressionante, visto que a ação do Irã foi em grande medida simbólica. O governo iraniano anunciou o ataque de sábado aos países da região com 72 horas de antecedência, em um esforço para limitar o impacto. Conforme noticiou a Reuters no domingo:
“O Irã avisou com dias de antecedência sobre o ataque de drones e mísseis contra Israel no sábado, permitindo que fossem evitadas mortes em massa e uma escalada desenfreada”.
As potências imperialistas estão afirmando que elas e seus representantes podem matar quantas pessoas quiserem, realizar assassinatos seletivos e agir violando completamente qualquer coisa que se assemelhe ao direito internacional. Porém, qualquer resposta, mesmo que mínima, é denunciada como crime. Essa é a lei básica do colonialismo e do imperialismo.
Embora Biden “condene” as ações do Irã, ele não estende a mesma linguagem ao massacre em Gaza por Israel, que está sendo financiado, armado e apoiado politicamente pelos Estados Unidos e outras potências imperialistas.
Israel está ativamente realizando um genocídio contra a população de Gaza, já tendo matado pelo menos 40 mil pessoas. Israel está sistematicamente expulsando, matando de fome e bombardeando uma população inteira de 2,2 milhões de pessoas e assassinando de forma metódica e deliberada médicos e trabalhadores humanitários.
O genocídio em Gaza está se transformando em uma guerra regional, que pode rapidamente envolver todo o mundo.
Na medida em que o governo Biden está declarando, geralmente sem fazer declarações oficiais, que preferiria que Israel não respondesse com ataques militares imediatos, isso é determinado por considerações táticas.
Algumas dessas considerações foram apresentadas em um artigo de opinião no New York Times por Bret Stephens sob o título “Para Israel, a vingança deve ser um prato servido frio”.
Stephens escreveu:
“Por uma questão de autodefesa, Israel tem todo o direito moral e legal de responder à altura – e mais um pouco. Não é suficiente que Israel demonstre sua capacidade de defesa, como fez no fim de semana. Ele também deve restabelecer sua capacidade de dissuasão. Ou seja, precisa mostrar aos líderes do Irã que o preço por tirar sua guerra contra Israel das sombras será insuportavelmente alto e, portanto, não deve ser repetido”.
No entanto, Stephens desaconselha um ataque em escala total ao Irã. Ele escreveu:
“Israel possui uma guerra inacabada contra o Hamas em Gaza, e um ataque israelense direto ao Irã poderia desencadear uma segunda guerra em larga escala contra o Hezbollah no Líbano, se não contra o próprio Irã. A maioria dos israelenses entende que essa guerra específica terá que ser travada mais cedo ou mais tarde – talvez antes do final do verão – e que provavelmente será muito mais dura para eles do que a guerra de Gaza foi até agora”. (Nossa ênfase)
Em outras palavras, primeiro é necessário terminar o genocídio em Gaza, antes de passar para a tarefa “muito mais dura” da guerra contra o Irã.
Alguns setores do establishment político dos EUA estão defendendo abertamente uma guerra em larga escala, afirmando que o governo Biden não está indo longe o suficiente no apoio a uma guerra israelense contra o Irã. O Wall Street Journal escreveu em um editorial:
“O ataque deve pelo menos fazer com que Biden e seus colegas democratas acabem com sua guerra fria com Israel por causa de Gaza e reconheçam que essa é realmente uma guerra contra o Irã”.
O editorial acrescentou:
“Os líderes de ambos os partidos também deveriam começar a dizer a verdade aos americanos sobre o novo mundo de ameaças globais. A Rússia, a China, o Irã e a Coreia do Norte estão todos em marcha e trabalhando juntos”.
O gabinete israelense tem deliberado no último dia sobre as ações a serem tomadas e, evidentemente, existem divisões dentro do próprio regime. Além disso, embora Israel seja o cão de ataque do imperialismo no Oriente Médio, os EUA não possuem controle total sobre o que irão fazer. De qualquer forma, o governo Biden reafirmou que, se Israel agir, terá total apoio.
Em entrevista ao Meet the Press, o porta-voz da Casa Branca, John Kirby, declarou: “Se e como os israelenses responderão, dependerá deles”.
Quando foi questionado, “Se Israel decidir avançar com ataques retaliatórios, os Estados Unidos apoiarão Israel?”, Kirby respondeu que o “apoio dos EUA à autodefesa de Israel permanecerá firme. Ele não irá mudar”.
Os Estados Unidos responderam aos eventos de 7 de outubro lançando uma grande ofensiva militar em todo o Oriente Médio, com o Irã sendo um alvo central. Em poucos dias, os EUA enviaram uma frota de navios de guerra e centenas de aeronaves para a região, que foram empregadas para lançar dezenas de ataques aéreos ilegais nos últimos seis meses.
A ofensiva dos EUA no Oriente Médio é um elemento crucial de uma guerra global que está acontecendo, tendo a Rússia e a China como alvos principais. A subjugação do Irã, que se encontra no coração da Eurásia, é um componente essencial do esforço dos Estados Unidos para a dominação militar global.
Quaisquer que sejam os acontecimentos imediatos nos próximos dias, a guerra regional no Oriente Médio, como parte de uma guerra global em expansão, está ficando perigosamente fora de controle. O mundo está mais próximo de um conflito nuclear do que em qualquer outro momento desde a Segunda Guerra Mundial. Nada pode deter essa guerra global em expansão, exceto o desenvolvimento de um massivo movimento antiguerra orientado à classe trabalhadora e baseado nela.