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Jacobin defende pacto Trump-Mamdani e o Estado capitalista

O presidente Donald Trump aperta a mão do prefeito eleito de Nova York, Zohran Mamdani, no Salão Oval da Casa Branca, em 21 de novembro de 2025. [AP Photo/Evan Vucci]

Após a reunião do prefeito eleito de Nova York, Zohran Mamdani, com Donald Trump na Casa Branca, na qual o chamado “socialista democrático” e o aspirante a ditador fascista trocaram gentilezas e elogios mútuos, a Jacobin, órgão não oficial dos Socialistas Democráticos da América (DSA), publicou uma série de artigos saudando a reunião e elogiando a capitulação de Mamdani a Trump como uma proeza política.

Um dos artigos mais significativos é um comentário de Christopher Marquis intitulado “Trump e Mamdani concordam sobre o Estado, mas não sobre a quem ele serve”. No decorrer do artigo, Marquis, professor de administração da Universidade de Cambridge, argumenta que o Estado capitalista não é intrinsecamente hostil aos interesses da classe trabalhadora e pode ser pressionado pela “esquerda” a servir às necessidades dos trabalhadores ou capturado por eles.

Esse argumento exemplifica o papel dos DSA e da pseudoesquerda de classe média de maneira mais ampla na promoção de ilusões no Partido Democrata e no apoio ao sistema capitalista, que está caminhando rapidamente em direção ao fascismo e à guerra mundial, protegendo-o da iminente ofensiva revolucionária da classe trabalhadora.

O artigo não é um exercício acadêmico. É um manifesto político dos DSA e do meio pequeno-burguês privilegiado da Jacobin, justificando sua colaboração aberta com um governo fascista e defendendo o próprio Estado capitalista. A afirmação do título de que “Trump e Mamdani concordam sobre o Estado” está correta. Há um acordo subjacente entre os dois, assim como com os DSA, de que o Estado existente é sagrado.

Marquis e a Jacobin fazem de tudo para tranquilizar a oligarquia corporativa, garantindo que ela não tem nada a temer do chamado “socialismo democrático”.

“Nas questões básicas sobre como a economia é organizada”, escreve Marquis, “Trump não é tão diferente de Mamdani”. Em determinado momento, ele resume o objetivo patético de Mamdani e companhia como dar ao Estado “um empurrão firme em direção ao valor público”. Para que não haja mais dúvidas, ele escreve: “Quando Mamdani defende políticas socialistas democráticas, ele não está sugerindo que os mercados sejam abolidos...”.

Marquis define a “questão subjacente” como “governança econômica” (ênfase no original). Essa é uma afirmação falsa que poderia ter sido tirada dos argumentos de um político qualquer do Partido Democrata.

Na realidade, a questão subjacente são as relações sociais de produção sob o capitalismo, nas quais os capitalistas possuem os meios de produção e os trabalhadores, que produzem toda a riqueza, não possuem nada além de sua força de trabalho, que precisa ser vendida aos seus exploradores em troca de um salário. Essas relações geram uma luta de classes irreconciliável, levando ou à derrubada revolucionária do capitalismo pela classe trabalhadora e ao estabelecimento de um Estado operário e do socialismo, baseado na propriedade comum dos meios de produção, na igualdade e na produção para satisfazer as necessidades sociais, em vez do lucro privado, ou à descida à barbárie fascista e à guerra nuclear.

Não há uma única menção à luta de classes ou à revolução da classe trabalhadora no artigo da Jacobin, nem na política dos DSA e de Mamdani. Pelo contrário, esse é o seu maior medo, o que os leva aos braços do representante fascista da oligarquia, Trump.

Governo da, pela e para a oligarquia

É impressionante que a apresentação da situação política feita por Marquis, redigida em jargão acadêmico abstrato, não dê nenhuma noção dos níveis impressionantes e sem precedentes de concentração de riqueza e desigualdade social nos Estados Unidos de hoje. Ele não diz nada sobre o pogrom fascista de Trump contra os imigrantes, seu envio inconstitucional de militares às principais cidades, sua reivindicação de poderes ditatoriais, seu apoio ao genocídio em Gaza ou seus ataques militares ilegais ao Irã, Venezuela e outros países.

Isso, no entanto, não é surpreendente em um comentário que defende que a máquina estatal não é, por natureza, um instrumento da classe dominante e que pode ser conquistada, pelo menos em parte, para o lado dos trabalhadores. Não seria conveniente reconhecer os fatos que mostram que o governo Trump é um governo de, por e para uma oligarquia financeira irresponsável que representa uma pequena fração da população.

Em sua recente palestra, “Aonde vão os Estados Unidos? Oligarquia, ditadura e a crise revolucionária do capitalismo”, o presidente do Conselho Editorial Internacional do World Socialist Web Site, David North, traçou um retrato devastador da sociedade americana contemporânea. Ele analisou o “colapso sem precedentes na história da democracia americana” em condições de ascensão de uma oligarquia super-rica que exerce poder político direto. Ele observou que 16 dos 25 principais nomeados de Trump estão entre os 813 bilionários do país, em um país onde 1% dos mais ricos detém dezenas de trilhões de dólares em riqueza, enquanto 75% dos americanos vivem de salário em salário e quase metade de todas as crianças são pobres ou de baixa renda. Como o WSWS tem repetidamente apontado, tais níveis de desigualdade são incompatíveis com formas democráticas de governo.

Em sua obra fundamental de 1916, Imperialismo, fase superior do capitalismo, Vladimir Lenin escreveu sobre as monstruosas depredações contra a classe trabalhadora do “capitalismo monopolista de Estado”, com sua concentração maciça de riqueza e poder econômico nas mãos de um número relativamente pequeno de corporações gigantescas. O imperialismo, escreveu Lenin, significava “reação em toda a linha”. Mas o crescimento do domínio oligárquico hoje colocou a concentração de riqueza no topo muito além do que existia na época de Lenin.

A função de classe do Estado nunca foi tão evidente, tornando absurda a política dos DSA de fazer ajustes superficiais no status quo capitalista.

O argumento de Marquis não é apenas errado em teoria. Ele cumpre uma função de classe definida. A Jacobin é um instrumento dos DSA e de uma camada mais ampla da classe média abastada concentrada na academia, nas ONGs e na burocracia sindical. Esse meio tornou-se social e politicamente dependente do Estado capitalista: de subsídios públicos, cargos vitalícios, fundações e dos espaços “de esquerda” controlados pelo Partido Democrata. Seus interesses materiais o vinculam à preservação da ordem existente, mesmo enquanto cultiva uma imagem de esquerda por meio de retórica sobre “socialismo democrático” e política de identidade.

O marxismo sobre o Estado

Contra a Jacobin e os DSA, é necessário reafirmar os princípios básicos do marxismo sobre o Estado. Engels, em A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado, explicou que o Estado é

produto e manifestação da irreconciliabilidade dos antagonismos de classe. O Estado surge onde, quando e na medida em que o antagonismo de classe não pode ser objetivamente reconciliado. E, por outro lado, a existência do Estado prova que os antagonismos de classe são irreconciliáveis.

O Estado não é um árbitro acima da sociedade, mas o poder organizado de uma classe para suprimir outra. Seus “corpos especiais de homens armados, prisões, etc.” existem para manter o domínio da classe exploradora.

Em setembro de 1917, na véspera da Revolução de Outubro, Lenin escreveu O Estado e a Revolução precisamente para combater o tipo de reformismo agora propagado pela Jacobin e preparar o partido para dirigir os trabalhadores e soldados na derrubada armada do governo burguês e no estabelecimento de um Estado operário após o golpe militar fracassado do general Kornilov no final de agosto. Ele foi escrito enquanto Lenin se escondia da repressão desencadeada contra os bolcheviques pelo governo provisório burguês após as manifestações em massa da classe trabalhadora em julho.

Lenin travou uma guerra teórica e política contra todos aqueles que procuravam adaptar o marxismo ao parlamentarismo burguês e ao reformismo social. Isso incluía Karl Kautsky, um importante teórico do Partido Social Democrata Alemão e da Segunda Internacional, que se opunha à derrubada revolucionária e à destruição do Estado capitalista e pregava um caminho pacífico e parlamentar para o socialismo. Lenin combatia, ao mesmo tempo, as tendências de direita dentro da direção bolchevique.

No início do prefácio de O Estado e a Revolução, Lenin escreveu:

A luta para libertar os trabalhadores da influência da burguesia em geral, e da burguesia imperialista em particular, é impossível sem uma luta contra os preconceitos oportunistas relativos ao “Estado”.

Ele explicou que a lição central da Comuna de Paris de 1871 foi que a classe trabalhadora não podia simplesmente tomar o controle da máquina estatal burguesa e usá-la para seus próprios fins. Ela tinha que desmantelá-la e substituí-la por órgãos de poder operário.

Lenin, em condições de guerra e levantes revolucionários, empreendeu uma “escavação histórica” sistemática de Marx e Engels sobre o Estado para armar o Partido Bolchevique e a classe operária internacional para a tomada do poder. Trotsky observou que Lenin considerava isso tão crítico que, temendo ser assassinado, pediu aos camaradas que publicassem seus cadernos preparatórios sobre “Marxismo e o Estado” caso ele fosse morto.

Lenin enfatizou que, sob o imperialismo, o aparato repressivo do Estado capitalista assumiu “proporções monstruosas”, enquanto a democracia se tornou uma fachada para o militarismo e a violência policial. A tarefa do proletariado não era “redesenhar fronteiras” dentro desse aparato, mas destruí-lo e construir um Estado operário baseado em instituições novas e radicalmente democráticas (sovietes) como instrumentos da transformação socialista.

Isso é ainda mais verdadeiro hoje. Os propagadores antimarxistas de ilusões na reforma social – como o Syriza na Grécia, o Podemos na Espanha, o partido A Esquerda na Alemanha e Sanders nos EUA – traíram a classe trabalhadora. A classe trabalhadora deve estabelecer sua independência política e organizacional de todos os partidos e agências da classe capitalista, desde os democratas até a pseudoesquerda e as burocracias sindicais.

Comitês de base devem ser construídos nos locais de trabalho, escolas e comunidades da classe trabalhadora nos Estados Unidos e internacionalmente, afiliados à Aliança Internacional de Comitês de Base. O partido revolucionário – o Comitê Internacional da Quarta Internacional e sua seção americana, o Partido Socialista pela Igualdade – deve ser construído para dirigir a luta para expropriar a oligarquia e derrubar o regime capitalista.

As condições objetivas para a revolução socialista estão amadurecendo rapidamente. Os mesmos processos tecnológicos e econômicos, como a IA, que impulsionaram a ascensão da oligarquia, também estão criando a base material para a radicalização política em massa da classe trabalhadora. A questão decisiva é a construção de uma direção revolucionária capaz de transformar esse movimento objetivo em uma luta consciente pelo poder.

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