Abaixo segue a palestra ministrada na escola de verão do Partido da Igualdade Socialista (Socialist Equality Party — SEP) em agosto de 2007
A Greve Geral britânica de maio de 1926 permanece, depois de mais de 80 anos, um momento determinante na história do movimento dos trabalhadores. Suas lições são essenciais para o desenvolvimento de uma estratégia revolucionária, na Grã-Bretanha e no mundo.
A greve geral deveria ter sinalizado o início de um desenvolvimento pronunciado em direção ao socialismo revolucionário pelos trabalhadores britânicos e uma ruptura organizacional e política com a burocracia dos sindicatos e do Partido Trabalhista. A greve tinha o potencial de desenvolver-se num confronto revolucionário entre capital e trabalho. Desde os seus primeiros dias, envolveu milhões de trabalhadores, incluindo mais de um milhão de mineradores.
Ainda assim, historiadores retratam a greve como um episódio excepcional dentro de um movimento reformista, legalista e pacífico desenvolvimento que se desenvolvia nos trabalhadores ingleses — uma sociedade caracterizada por antagonismos agudos, mas que poderiam ser controlados dentro do quadro da democracia parlamentar.
Essa interpretação é auxiliada pelos escritos de historiadores do trabalho de caráter social-democrata e stalinista, que insistem que a revolução nunca foi uma possibilidade ou que, se o perigo se apresentasse, sua realização teria sido o maior desastre já abatido sobre o povo britânico. As ações incendiárias dos responsáveis, caso a revolução houvesse acontecido, ameaçariam os esforços de assegurar um acordo industrial aceitável para ambos os lados.
Como afirma um livro recente, Uma Greve Muito Britânica, 3-12 de maio de 1926, pela jornalista do Guardian Anne Perkins: “Em grande medida, a Greve Geral britânica em 1926 foi quase um produto acidental do medo da revolução; em uma atmosfera mais calma, poderia não ter havido um catalisador.”
A greve foi supostamente um grande mal entendido, resultado de uma reação interna exagerada a uma ameaça que era na verdade externa.
Esse retrato é geralmente sustentado com anedotas sobre jogos de futebol entre grevistas e polícia (o que de fato aconteceu, cortesia dos líderes sindicais — os grevistas ganharam por 2 a 1), e sobre fura-greves pertencentes à um grupo cômico de estudantes. Acima de tudo, o argumento para chamar a greve de infeliz incidente está em sua curta duração e no curso de desenvolvimento subseqüente da classe trabalhadora.
De fato, era a avaliação dos perigos contidos na greve feita por representantes da burguesia britânica no governo, e não a dos intérpretes dos dias posteriores, que estava correta. Era uma avaliação compartilhada pelo Congresso e por líderes do Partido Trabalhista, que responderam vendendo a greve após meros nove dias, abandonando os mineradores, que lutaram sozinhos até a derrota.
Foi a rejeição pelo Partido Comunista de uma perspectiva revolucionária, em favor do Conselho Geral do TUC (Congresso dos Sindicatos) e em particular dos esquerdistas, que desarmaram politicamente a classe trabalhadora e facilitaram essa traição histórica. A facção de Stalin do Partido Comunista Soviético e do Comintern impuseram essa linha sobre o Partido Comunista da Grã-Bretanha (PCGB).
Stalin e seus aliados retiraram da derrota na Alemanha em 1923 a conclusão de que o capitalismo estava entrando em um período de estabilização no qual não havia chance real de um desenvolvimento revolucionário na Europa. A tarefa central era, desse modo, resguardar a União Soviética da ofensiva imperialista.
Na Inglaterra, esse rumo oportunista tomaria a forma do Comitê Anglo-Russo estabelecido em 1925 — uma aliança entre os sindicatos russos e o TUC feita para garantir o auxílio mútuo e o apoio entre sindicalistas dos dois países, opor a guerra e encorajar relações amigáveis entre a Inglaterra e a URSS.
A Oposição de Esquerda, formada por Leon Trotsky em 1923, era contrária a essa perspectiva.
Para estimar o significado da greve geral e sua traição, é necessário colocar a questão: havia ou não uma situação pré-revolucionária na Inglaterra?
Stalin negava tal possibilidade. Falando sobre sua perspectiva do socialismo em um só país e sua batalha contra Trotsky, ele declarou em 10 de fevereiro de 1926, “Ora, se a vitória da revolução no Ocidente está um tanto atrasada, nada podemos fazer, aparentemente, a não ser esperar... Há um longo, longo caminho entre o apoio dos trabalhadores no Ocidente e a vitória da revolução no Ocidente...”
Qual era a posição de Trotsky sobre a situação na Inglaterra e a política da facção de Stalin? Ele explica em sua autobiografia Minha Vida:
“O destino da Inglaterra após a guerra era um assunto de grande interesse. A mudança radical em sua posição não poderia deixar de trazer mudanças igualmente radicais em sua correlação de forças interna. Estava claro que mesmo se a Europa, incluindo a Inglaterra, restaurasse certo equilíbrio social por um período mais ou menos estendido de tempo, a própria Inglaterra poderia alcançar tal equilíbrio somente pelo meio de sérios conflitos e abalos. Eu acreditei ser possível que na Inglaterra, se comparada com todos os lugares, a luta da indústria do carvão levaria a uma greve geral. A partir disso, assumi que a contradição essencial entre as velhas e as novas organizações da classe trabalhadora e suas novas tarefas históricas seriam, é claro, reveladas no futuro próximo. Durante o inverno e a primavera de 1925, enquanto estava no Cáucaso, escrevi um livro sobre isso — Whither England? [Para Onde Inglaterra?]. O livro abordava principalmente a concepção oficial do Politbureau, em suas esperanças de uma evolução para a esquerda do Conselho Geral Britânico e de uma penetração gradual e sem dor do comunismo nas fileiras do Partido Trabalhista Britânico e dos sindicatos.”
Trotsky complementou: “...dentro de alguns meses, a greve dos mineradores de carvão se tornou uma greve geral. Eu não havia esperado uma confirmação tão prematura de minha previsão.”
Na introdução de 24 de maio de 1925 à edição americana de Whither England?, publicada depois como “Where is Britain Going?” [Para Onde Vai a Inglaterra?], Trotsky escreveu:
“A conclusão que eu alcanço em meu estudo é que a Grã-Bretanha se aproxima, em máxima velocidade, de uma época de grandes levantes revolucionários... A Grã-Bretanha se move na direção da revolução porque a época do declínio capitalista se assentou. E se procurarmos os perpetradores, então em resposta à questão de quem ou o que está propelindo a Inglaterra a percorrer a estrada para a revolução precisamos dizer: não Moscou, mas Nova Iorque.
“Uma resposta como essa pode parecer paradoxal. Ainda assim, corresponde inteiramente à realidade. A poderosa e sempre crescente pressão mundial dos Estados Unidos torna a problemática da indústria britânica, do comércio britânico, das finanças britânicas e da diplomacia britânica crescentemente irresolvível e dramática.
“Os Estados Unidos não podem deixar o rumo da expansão no mercado mundial, ou o excesso ameaçará sua própria indústria com um ‘golpe.' Os Estados Unidos somente podem expandir às custas da Inglaterra.”
A mineração de carvão se tornou central na luta para reorganizar a economia e a vida social britânica. Havia passado ao controle governamental durante a guerra e era pesadamente subsidiada.
Frente à rigorosa competição global por mercados, ainda mais com a retomada da produção no Ruhr, os subsídios governamentais precisavam acabar — mesmo diante do risco de provocar a oposição feroz da classe trabalhadora.
O conservadorismo e gradualismo que permeavam o movimento trabalhista na Inglaterra são submetidos à crítica implacável de Trotsky. Mas ele sabia que a base objetiva desses traços — a dominação de uma aristocracia trabalhista e o cultivo deliberado da colaboração de classes pela classe dominante — entrava em colapso juntamente com a hegemonia global da Grã-Bretanha.
A radicalização da classe trabalhadora britânica já havia se manifestado imediatamente após a guerra, com três vezes mais dias de greve entre 1919 e 1921 do que nos anos do pré-guerra.
Mas essa onda militante havia se dissipado após a Sexta-feira Negra, 15 de abril de 1921, quando a liderança dos sindicatos ferroviário e do transporte renegaram seu compromisso da Tripla Aliança de entrar em greve em apoio aos mineradores. Muitos trabalhadores rasgaram seus cartões do sindicato em desprezo, decididos que nenhuma traição similar ocorreria no futuro — uma motivo chave, junto com a rejeição de qualquer processo de conciliação pelo governo, pelo qual cinco anos depois o TUC se sentiu compelido a chamar uma greve geral.
A classe trabalhadora buscou uma solução política, respondendo com um governo Trabalhista em 1924. O governo foi derrubado depois de apenas nove meses como resultado de uma caça às bruxas anti-comunista.
O temperamento militante e revolucionário da classe trabalhadora também se expressava na crescente influência do Partido Comunista da Grã-Bretanha, formado em 1920. O PCGB, que possuía apenas 4.000 membros em 1923, formou o NMM [National Minority Movement — Movimento Nacional de Minoria] nos sindicatos, que nos anos seguintes, cresceu para englobar cerca de um quarto do corpo de membros dos sindicatos e teve sucesso em eleger Arthur James Cook como líder do sindicato dos mineradores em 1924. Também formou o Movimento de Esquerda Nacional dentro do Partido Trabalhista em 1925, fazendo campanha pelo direito de afiliação e contra a expulsão Trabalhista dos Comunistas.
Os Comunistas haviam tido sucesso em tornarem-se delegados nos comitês trabalhistas e na conferência do Partido Trabalhista. Na conferência de 1923 havia 430 delegados Comunistas, e na eleição geral de dezembro de 1923 o PC elegeu nove candidatos, sete dos quais integrantes do Partido Trabalhista. Os candidatos do PC receberam 66.500 votos. O Workers' Weekly vendia então cerca de 50.000 cópias, mais que qualquer outro semanal socialista.
Enquanto Trotsky terminava Whither England?, os proprietários das minas de carvão pressionavam por um choque frontal com os mineradores. Mas o governo Conservador de Stanley Baldwin decidiu que não estava pronto, e em 31 de julho de 1925, a “Sexta-feira Vermelha,” recuou e garantiu mais subsídio aos proprietários das minas de carvão para adiar as demandas por cortes salariais massivos e reestruturação.
Nos nove meses que se seguiram, a classe dominante também se preparou para o conflito com a classe trabalhadora. Estabeleceu a Organização para a Manutenção dos Suprimentos (OMS) para liderar operações quebra-greve, incluindo o treinamento de forças militares e o recrutamento de voluntários civis. A OMS se tornou uma casa oficial para praticamente todo elemento fascista e de extrema-direita na Bretanha. A Lei de Poderes Emergenciais de 1920 permitiu a prisão sem mandado de qualquer um que fosse simplesmente suspeito de um crime, e buscas sem mandado e se necessário forçadas. O secretário de estado foi capacitado a usar as forças armadas conforme julgasse necessário.
Winston Churchill era então o Chanceler de Exchequer. Ele assumiria o papel-chave no trabalho para esmagar a greve geral, junto com o secretário doméstico William Joynson-Hicks.
Em 14 de outubro de 1925, a polícia invadiu os quartéis-generais nacional e de Londres do PCGB, da Jovem Liga Comunista, do NMM e do Workers Weekly. No total, doze líderes foram presos — oito na época, quatro depois — incluindo Willie Gallacher, Harry Pollitt, e Robin Page Arnott — quase todo o birô político. Eles foram encarcerados e acusados de incitação ao motim, sob um ato datado de 1797. Permaneceram na cadeia por seis meses ou um ano, e a maioria ainda estava presa quando a greve geral começou.
Cento e sessenta e sete mineradores da Federação de Mineradores de Gales do Sul também foram levados a julgamento por conta de uma greve em julho e agosto. Cinquenta foram mandados à prisão.
A prisão dos líderes do PC evocou protestos em massa. Ocorreram marchas, uma de 15.000 pessoas, para a Prisão de Wandsworth todo fim de semana, e um comício no Queen's Hall de Londres em 7 de março, descrito pelo membro do Partido Trabalhista George Lansbury como “um dos maiores encontros já organizados em Londres”. Lansbury notou que parlamentares do Partido Trabalhista usaram linguagem sediosa para desafiar o secretário doméstico a prendê-los.
Cerca de 300.000 assinaturas foram colhidas para uma petição exigindo a soltura dos 12, e um prisioneiro membro do PCGB, Wally Hannington, foi eleito para o comitê executivo do Conselho Sindical de Londres.
No coração dos avanços do PCGB estava uma linha política que direcionava o partido à classe trabalhadora e à uma disputa com a burocracia sindical e Trabalhista pela direção do movimento. Essa política se baseava na linha desenvolvida pelo Comintern em 1921 sob o slogan, “Às massas”. Mas o sucesso de tal disputa dependia acima de tudo da exposição das pretensões dos representantes de “esquerda” da burocracia.
Enquanto direitistas como Walter Citrine e Jimmy Thomas da União Nacional de Ferroviários eram oponentes explícitos do comunismo, esquerdistas como Alonzo Swales da união dos engenheiros, Alfred Purcell do comércio de mobílias e George Hicks dos construtores civis afagavam o PCGB e discursavam com retórica radical e mesmo marxista para melhor enganar a classe trabalhadora.
Purcell era presidente do TUC e Bromley seu secretário. Sua eleição era medida do humor militante dentro dos sindicatos. Purcell havia se juntado ao PCGB em seus primeiros dias, junto com o líder da Federação de Mineradores, A. J. Cook. Ambos saíram logo e estabeleceram um certo grau de independência, mantendo ao mesmo tempo uma conveniente conexão com o partido, o que lhes dava credenciais esquerdistas.
Suas declarações mais radicais geralmente eram feitas com relação a questões de política externa — oposição à guerra e chamada pelo estabelecimento de relações com a URSS, questões que eles tratavam porque não os comprometiam com nada de prático e não interferiam em sua aliança com a direita. Na conferência do Partido Trabalhista de 1925, em Liverpool, que assumiu a decisão de excluir os Comunistas do corpo de membros do Trabalho, eles não disseram nada.
Foi a partir da iniciativa dos “esquerdistas” que o Congresso do TUC de 1924 decidiu enviar uma delegação para visitar a Rússia em novembro-dezembro. A visita levou à formação do Comitê (de Unidade) Anglo-russo em abril de 1925.
Trotsky não havia se oposto à formação do Comitê Anglo-russo. Era correto, disse ele, tirar vantagem da virada para a esquerda da classe trabalhadora, à qual os “esquerdistas” estavam se adaptando retoricamente. Mas a tarefa era expor os “esquerdistas” do TUC e, assim fazendo, travar uma guerra contra toda a burocracia, construindo a influência do Partido Comunista.
A linha stalinista era o pólo oposto de tal perspectiva. Como Trotsky explicou em Sobre o Esboço de Programa do Comintern em 1928, “O ponto de partida do Comitê Anglo-russo, como vimos, foi a impaciência de pular por cima do Partido Comunista, jovem e lento demais em seu desenvolvimento. Isso investiu toda a experiência com um falso caráter mesmo antes da greve geral.
“O Comitê Anglo-russo era visto não como um bloco episódico no topo que teria de ser quebrado e que inevitavelmente e demonstrativamente seria quebrado no primeiro teste, comprometendo o Conselho Geral. Não, não apenas Stalin, Bukharin, Tomsky e outros, mas também Zinoviev, viram em uma “parceria” duradoura, um instrumento para o revolucionamento sistemático das massas trabalhadoras inglesas, e se não um portão, ao menos uma aproximação em direção ao portão através do qual cavalgaria a revolução do proletariado inglês. Quanto mais longe ia, mais o Comitê Anglo-russo se transformava, de uma aliança episódica, em um princípio inviolável parado acima da luta de classes real. Isso se revelou na época da greve geral.”
Para resumir, a linha de Stalin era baseada em:
1) Um profundo ceticismo quanto à possibilidade da revolução, como evidenciado por seu argumento de um novo período de estabilização capitalista.
2) Um desvio para longe da tarefa de construir um Partido Comunista, em favor de alianças oportunistas com a burocracia sindical.
3) A noção de que essas forças poderiam eventualmente ser empurradas para a esquerda por pressão militante e de que agiriam como substitutas ao partido.
4) O abandono ou diminuição da crítica aos aliados de Moscou, ao menos aos “esquerdistas”, e uma recusa em retirar quaisquer conclusões práticas mesmo quando se tornava impossível permanecer em silêncio.
Zinoviev declarou em 1924, no Quinto Congresso do Comintern: “Na Inglaterra estamos agora passando pelo começo de um novo capítulo do movimento Trabalhista. Não sabemos exatamente de onde o partido comunista de massas da Inglaterra virá, se pela porta Stewart-MacManus [do PCGB — Bob Stewart e Arthur MacManus eram líderes do PCGB] ou se por outra porta.”
Trotsky apresenta uma crítica paralisante à posição da facção de Stalin e seus cálculos políticos em Minha Vida:
“Stalin, Bukharin, Zinoviev — nessa questão eles estavam todos em solidariedade, ao menos no primeiro período — buscavam substituir o Partido Comunista Inglês por uma “corrente mais ampla” que tinha em sua cabeça, certamente, não membros do partido, mas “amigos,” quase-comunistas, de qualquer forma bons homens e bons conhecidos. Os bons homens, os “líderes” sólidos, não queriam, é claro, submeterem-se à liderança do pequeno e fraco Partido Comunista. Era seu pleno direito; o partido não pode forçar ninguém a submeter-se a ele. Os acordos entre os Comunistas e os “esquerdistas” (Purcell, Hicks e Cook) na base de tarefas parciais do movimento sindical eram, é claro, bem possíveis e em certos casos inevitáveis. Mas sob uma condição: o Partido Comunista precisava preservar uma completa independência, mesmo dentro dos sindicatos, agir em seu próprio nome em todas as questões de princípio, criticar seus aliados de “esquerda” sempre que necessário, e desse modo, ganhar a confiança das massas passo a passo.
“Esse único caminho possível, porém, parecia longo demais e incerto para os burocratas da Internacional Comunista. Eles consideraram que por meios de influência pessoal sobre Purcell, Hicks, Cook e outros (conversas nos bastidores, troca de correspondência, banquetes, tapinhas amigáveis nos ombros, exortações gentis), iriam encaminhar, de forma gradual e imperceptivelmente, a oposição de “esquerda” (“a corrente ampla”) para o rio da Internacional Comunista. Para garantir o sucesso dessa empreitada com maior segurança, os queridos amigos (Purcell, Hicks e Cook) não deveriam ser contrariados ou incomodados, não deveriam sofrer de insatisfação como alvos de críticas inoportunas, intransigência sectária etc... Mas já que uma das tarefas do Partido Comunista consiste precisamente em atrapalhar a paz e alarmar todos os centristas e semi-centristas, uma medida radical teve de ser tomada na subordinação do Partido Comunista ao “Movimento de Minoria.” No campo do movimento sindical apareciam apenas os líderes desse movimento. O Partido Comunista britânico havia praticamente deixado de existir para as massas.”
Essa foi a traição política fundamental da clique de Stalin. Em Lições de Outubro, Trotsky avisara:
“Sem um partido, à parte de um partido, sobre a cabeça de um partido, ou com o substituto de um partido, a revolução proletária não pode ser vitoriosa. Essa é a principal lição da década passada. É verdade que os sindicatos ingleses podem se tornar um nivelador em favor da revolução proletária; eles podem, por exemplo, até tomar o lugar dos soviets dos trabalhadores sob certas condições e por um certo período de tempo. Eles podem ter tal papel, porém, não à parte de um Partido Comunista, e certamente não contra o partido, mas somente sob a condição de que a influência comunista se torne a influência decisiva nos sindicatos.”
Em um artigo publicado no Internacional Comunista logo após a Greve Geral, Problemas do Movimento Sindical Britânico, Trotsky citou passagens de sua correspondência de janeiro-março de 1926, imediatamente antes da greve, onde explicou:
“O movimento de oposição liderado pelos esquerdistas, semi-esquerdistas e pelos de extrema-esquerda reflete uma profunda mudança social nas massas.”
Porém, ele continou, “A lanosidade dos “esquerdistas” britânicos junto com seu elcetismo teórico, e sua indecisão política, para não dizer covardia, torna a clique de MacDonald, Webb e Snowden senhora da situação, o que por sua vez é impossível sem Thomas. Se os chefes do Partido Trabalhista britânico formam uma rédea posta sobre a classe trabalhadora, então Thomas é a fivela na qual a burguesia insere as rédeas...
“O atual estágio de desenvolvimento do proletariado britânico, onde a enorme maioria responde com simpatia aos discursos dos “esquerdistas” e apóia MacDonald e Thomas no poder, não é, certamente, acidental. E é impossível pular por cima desse estágio. O caminho do Partido Comunista, como o futuro grande partido das massas, passa não apenas por uma luta irreconciliável contra a agência especial do capital sob a forma da clique Thomas-MacDonald, mas também pelo desmascaramento sistemático dos burros “esquerdistas” por meio dos quais MacDonald e Thomas podem manter suas posições.”
As exigências de Trotsky foram suprimidas, rejeitadas e denunciadas com a defesa, feita pelo Comintern, de que o Partido Comunista da Grã-Bretanha se subordinasse à aliança com o Congresso dos Sindicatos (TUC, na sigla em inglês) e sua ala esquerdista, tomando como demanda central do partido e de sua agitação o lema “Todo o poder ao Conselho Geral [do TUC]”.
Para entender exatamente que mudança estava sendo imposta, podemos olhar o que o PCGB dizia antes de ser totalmente conduzido pelo Comintern à sua nova linha política. Alguns perigos já estava colocados com a idéia de um Movimento Nacional de Minoria, mas, ainda assim, o contraste é gritante.
Em agosto de 1924, a primeira conferência anual do Movimento Nacional de Minoria convocou a instauração de comitês de fábrica e o fortalecimento dos poderes do Conselho Geral como arma contra o regionalismo. Mas isso foi combinado com um chamado pela luta contra o topo da burocracia sindical. Uma resolução declarava: “Não se pode imaginar que o aumento dos poderes do Conselho Geral terá a tendência de fazê-lo menos reacionário. Pelo contrário, a tendência é que se torne ainda mais reacionário... Podemos evitar que o Conselho Geral se torne uma máquina dos capitalistas. Somente podemos fazê-lo avançar do Conselho Geral para uma Comissão Geral dos Trabalhadores, antes de tudo e fundamentalmente, se desenvolvermos uma consciência de classe revolucionária no corpo de membros do sindicato...”
Escrevendo em 1924 sobre o papel dos esquerdistas, que demandavam relações com a URSS e faziam discursos anti-guerra, John Ross Campbell já alertava: “No entanto, seria uma política suicida se o Partido Comunista e o Movimento de Minoria depositarem muita confiança sobre o que chamamos de ala esquerda oficial... É o dever do nosso partido e do Movimento de Minoria criticar suas fraquezas implacavelmente e transformar o ponto de vista confuso e incompleto dos líderes mais progressistas da esquerda num ponto de vista revolucionário. Mas os trabalhadores revolucionários jamais podem esquecer que sua principal atividade deve ser capturar as massas”.
Rajani Palme Dutt escreveu em 1925: “Uma ala esquerda no movimento da classe trabalhadora precisa se basear na luta de classes, caso contrário realizará apenas manobras para confundir os trabalhadores”.
Ele declarou que o maior perigo no período futuro seria a habilidade dos “esquerdistas — devido à fraqueza do desenvolvimento revolucionário na Inglaterra e à autoridade e prestígio de suas posições — em ganhar o ouvido das massas com um punhado de frases e promessas, ganhando também em torno de si o movimento das massas em ascenso para, depois, dissipá-lo num fiasco de uma ópera cômica... o Partido Comunista precisa conduzir uma incessante guerra ideológica contra a esquerda, expondo desde sempre toda expressão que traga confusão, ambiguidade, bravata vã, frivolidade e oposição à luta real e sujeição prática à direita”.
Mesmo sobre do estabelecimento do comitê anglo-russo, o Workers Weekly comentou:
“Unidade que significa apenas um acordo educado entre líderes é inútil, a não ser que seja apoiada pela pressão das massas. A unidade que se limita a negociações entre Amsterdã e sindicatos russos apenas alcança a superfície da questão... Vastas massas trabalhadoras em todos os lugares avançam vagarosamente. Os líderes que estiverem em seu caminho serão varridos. A luta de classes não pode se limitar a uma troca de cartas diplomáticas”.
A luta política contra os esquerdistas estava ligada a uma orientação revolucionária. Depois da Sexta-feira Vermelha, em 1925, J.T. Murphy escreveu que a greve geral havia sido adiada mas ainda era inevitável: “Nos deixem expressar claramente o que significa uma greve geral. Só pode significar a derrubada de todo o poder à disposição das mãos do Estado capitalista. Ou esse desafio é um gesto... ou ele precisa se desenvolver em uma luta real pelo poder...”
Sob a tutela de Stalin, Zinoviev e companhia, tais críticas foram abandonadas e a perspectiva revolucionária previamente avançada foi denunciada como ultra-esquerdismo e trotskismo.
Stalin ora identificava a revolução com o Conselho Geral do TUC — insistindo em janeiro de 1925 que a “ruptura incipiente entre o Conselho Geral do TUC e o Partido Trabalhista” era um sinal de que “algo revolucionário... se desenvolve na Bretanha” —, ora rejeitava qualquer possibilidade de revolução, escrevendo no Pravda em março que o capital havia “se libertado do pântano da crise do pós-guerra”, o que criou “um tipo de calmaria.”
O PCGB se comprometeu com esse ponto de vista. Uma resolução denunciando Trotsky foi enviada à Moscou e um artigo de Bukharin atacando Trotsky foi publicado no Communist Review de fevereiro de 1925, com um comentário editorial descrevendo-o como “uma brilhante contribuição à teoria e prática do leninismo.”
Em março e abril, uma plenária conjunta da executiva do Comintern e do comitê central do Partido Comunista Soviético foi realizada para organizar a campanha contra o “trotskismo.” Tom Bell relatou que o PCGB não “hesitou” em associar-se à direção do partido soviético.
O Workers' Weekly de 5 de junho de 1925 relatou que o Congresso do PCGB não havia dado qualquer “suporte ao otimismo revolucionário daqueles que sustentam que estamos às vésperas de imediatas e vastas lutas revolucionárias. Reconheceu que o capitalismo havia se estabilizado temporariamente.”
A segunda conferência anual do Movimento Nacional de Minoria em agosto fez de sua exigência central a garantia de plenos poderes ao Conselho Geral do TUC, praticamente sem qualquer crítica.
Dutt, escrevendo em novembro para desculpar os aliados de esquerda do Comintern por não terem se oposto às expulsões de comunistas do Partido Trabalhista em 1925, explicou que eles careciam de “auto-confiança.” A “superação dessa fraqueza” era “uma tarefa essencial para o futuro”, declarou.
Três dias antes da erupção da greve geral, em 30 de abril de 1926, Murphy escreveu na capa do Workers' Weekly: “Nosso partido não tem posições dirigentes nos sindicatos. Não está conduzindo negociações com os empregadores e o governo. Somente pode dar sugestões e dispor suas energias aos trabalhadores — liderados por outros... Sustentar quaisquer perspectivas exageradas sobre as possibilidades revolucionárias desta crise e visões de uma nova liderança 'se levantando espontaneamente em meio à luta' é algo fantasioso...”
[Citações retiradas de Essays on the History of British Communism, M. Woodhouse e B. Pearce, New Park, 1975]
O papel do PC em desarmar a classe trabalhadora evidencia-se na declaração subseqüente de Murphy, onde se afirma que “o choque” da traição da greve “era grande demais para tornar possível a rápida construção de uma nova direção.”
O mesmo é válido para os comentários de George Hardy, secretário em exercício do Movimento de Minoria Nacional durante a greve geral. Em suas memórias, diz que “apesar de sabermos da traição que os líderes da direita eram capazes de realizar, não entendíamos claramente o papel dos assim chamados esquerdistas na direção do sindicato. Eles acabaram se provando sacos de ar e capitularam à direita. Aprendemos uma grande lição: ao desenvolver oficialmente um movimento em direção à esquerda, o principal ponto de preparo precisa ser sempre o desenvolvimento de uma liderança com consciência de classe na base dos membros.”
Tais declarações demonstram que, privada de qualquer orientação revolucionária pelo PCGB, a classe trabalhadora não tinha qualquer possibilidade de se armar contra os esquerdistas, que eram continuamente elogiados sob ordens do Comintern.
Dessa forma, os esquerdistas foram capazes de assumir um papel direto e instrumental na traição da greve. O direitista Thomas, da União Nacional de Ferroviários, estava encarregado das negociações com o governo e trabalhava deliberadamente para assegurar a derrota. Mas os esquerdistas permitiram que ele o fizesse, em condições onde milhões não possuíam qualquer confiança no Conselho Geral do TUC ou na liderança do Partido Trabalhista. O presidente do Comitê de Organização da Greve era Purcell, enquanto Swales negociava ao lado de Thomas com o governo Baldwin. Hicks e outros também ocupavam postos-chave.
Os líderes do PCGB tiveram sucesso em transformar o partido em um subgrupo de esquerda dentro da burocracia sindical, enquanto os sindicatos russos serviam de meros advogados da militância industrial. Todo o aparato da Internacional Comunista estava mobilizado para negar a necessidade da greve geral ser conduzida como uma luta política contra o Estado e para insistir que a união sindical sozinha podia trazer a vitória.
Quanto aos líderes do PCGB não terem sido avisados sobre a traição dos esquerdistas, isso é simplesmente mentira.
Trotsky escreveu em 6 de maio, em meio à greve, em seu prefácio à segunda edição alemã de Para Onde a Bretanha Está Indo?: “Nunca foi possível atravessar uma torrente revolucionária montado no cavalo do reformismo. Uma classe que entra na batalha dirigida por líderes oportunistas está compelida a mudá-los, mesmo estando sob fogo inimigo.”
O PCGB procurou suprimir esses avisos. Para Onde a Bretanha Está Indo? não foi publicado na Inglaterra até muito depois da traição do TUC.
Brian Pearce era um membro do Grupo de História do PCGB, ao lado de E.P. Thompson e Eric Hobsbawm. Foi recrutado para o movimento trotskista por Gerry Healy após o discurso secreto de Kruschev em 1956 e escreveu alguns dos melhores textos sobre a Greve Geral e a história do Partido Comunista. Ele observa que o prefácio citado acima da edição americana de “Para Onde a Bretanha Está Indo?” foi omitido, assim como todo o parágrafo seguinte: “A mais importante tarefa dos participantes verdadeiramente revoluciónários da greve geral será lutar resolutamente contra todo sinal de traição e expor implacavelmente as ilusões reformistas.”
Graças ao Comintern, a greve geral foi dirigida não apenas por pessoas que não acreditavam na revolução, mas por uma liderança que era a oponente mais resoluta e determinada da revolução. A atitude do TUC quanto à greve, e consequentemente o serviço prestado ao TUC pela facção de Stalin do Comintern, foi resumida por Thomas no parlamento em 13 de maio, um dia após a traição da greve. Ele disse: “O que eu temia sobre esta greve mais do que todo o resto era: se por algum motivo ela escapasse das mãos daqueles capazes de exercer algum controle, todo homem são sabe o que teria acontecido... Esse perigo, esse medo estava sempre em nossas mentes...”
A greve ocorreu somente porque o TUC foi lançado numa disputa que não podia evitar e o governo queria uma disputa para a qual tivesse se preparado com grande antecedência. A Comissão do Carvão, indicada pelo governo e liderada por Sir Herbert Samuel, se manifestou em 10 de março recomendando cortes salariais e restruturação. No dia 8 de abril, os mineradores pediram ao TUC que apoiasse seu lema “nem um centavo a menos de salário, nem um minuto a mais de trabalho” [not a penny off the pay, not a minute on the day] e a não-retirada dos acordos nacionais. O Comitê Especial do TUC apoiou uma redução nos salários e recomendou maiores conversas.
Chamadas por paralisações do trabalho foram coladas em toda área mineradora no dia 16 de abril, marcadas para durar 14 dias. O governo exigiu que os mineradores aceitassem o relatório da Comissão do Carvão e o Conselho Geral concordou com o governo. Mas os mineradores recusaram. As paralisações começaram em 30 de abril e o Rei assinou uma Proclamação Emergencial para o 1 de Maio.
Thomas explicou que “implorou e implorou” como nunca. “Nós primamos, nós apelamos, nós imploramos por paz, porque queremos paz. Ainda queremos paz. A nação quer paz”, disse. Mas a paralisação continuou.
No dia 1 de maio, o TUC realizou uma conferência especial e anunciou planos para a greve, indicada para 3 de maio. O chamado de greve foi aceito pela maioria massiva dos presentes na conferência. Os líderes sindicais continuaram a fazer esforços desesperados para alcançar um acordo entre governo e proprietários de minas. Mas quando os impressores do Daily Mail recusaram um editorial condenando a greve geral como “um golpe revolucionário que só pode ter sucesso com a destruição do governo e a subversão dos direitos e liberdades do povo”, o primeiro ministro Stanley Baldwin usou isso como pretexto para cancelar as negociações.
Ele disse ao presidente do comitê de negociação do TUC: “É um desafio direto, um desafio direto, Mr. Pugh, e não podemos continuar. Eu sou grato a você por tudo o que fez, mas essa negociação não pode continuar. Adeus. Este é o fim”. Disse ainda a Walter Citrine: “Bom, foi bom conhecer você e eu acredito que, se vivermos, nos encontraremos de novo para resolver o assunto. Se vivermos.”
Em seguida, mostrou a ambos a porta de saída.
A greve começou em 3 de maio e atingiu imediatamente os transportes, impressão e indústrias produtivas — aço, metal, químicos pesados, comércio de materiais de construção, eletricidade e gás. Envolveu quatro milhões dos cinco milhões e meio de trabalhadores organizados nos sindicatos.
Os trabalhadores responderam não apenas por simpatia aos mineradores, mas por saberem que seriam os próximos. Muitos lembraram da declaração de Baldwin em 1925 durante negociações com os líderes dos mineradores, afirmando que “todos os trabalhadores deste país precisam aceitar reduções salariais para ajudar a colocar a indústria em pé”.
A Organização pela Manutenção dos Suprimentos (OMS) foi acionada, focando sua atenção em manter o transporte funcionando. Os navios de guerra Ramillies e Barham foram chamados de volta do Atlântico e ficaram ancorados em Mersey. Além deles, outros também foram ancorados na maioria dos grandes portos.
Em 6 de maio, Baldwin descreveu a greve como “um desafio ao parlamento” e “o caminho à anarquia.” O advogado atuante na corte superior, Sir John Simon, disse à Câmara Baixa do parlamento que a greve era ilegal e os grevistas haviam quebrado seus contratos. Assim, disse ele, a Lei de Disputas Comerciais de 1906, que protegia sindicalistas individuais e fundos sindicais de danos externos, não era mais válida. No dia seguinte, o TUC se encontrou com Sir Herbert Samuel e a Comissão do Carvão, onde fez propostas para encerrar a disputa. Essas propostas, no entanto, foram rejeitadas pela Federação de Mineradores.
Do ponto de vista da classe dominante, e em contraste com a covardia do TUC, se tratava de uma verdadeira guerra. Eles organizaram uma força de centenas de milhares de homens — a OMS, 240.000 tropas especiais, as forças armadas — para quebrar a greve. Para citar apenas as duas maiores ofensivas: no dia 8 de maio, logo pela manhã, mais de cem caminhões formaram um comboio escoltado por mais de vinte carros blindados carregando soldados para manter o fluxo de suprimentos nas docas de Londres. Caminhões quebraram a linha de piquete e transportaram comida para Hyde Park. Além disso, o governo também tentou usar a OMS nas docas em Newcastle com o apoio das armas de dois destróieres e um submarino, provocando a fuga dos funcionários portuários que cuidavam dos alimentos. A ação da polícia causou confrontos por todo o país.
Se tratava de uma situação pré-revolucionária? Permitam que eu leia a seguinte passagem, um tanto longa, sobre o tipo de conflito que se desenvolveu, no relato de Christopher Farnam (The General Strike 1926, Panther, 1972).
“Piquetes de massa aglutinaram-se nas vias principais da saída ao leste de Londres antes das sete horas na manhã de terça-feira. Durante o dia, filas de veículos suspeitos de carregar suprimentos ou trabalhadores administrativos para dentro ou fora da cidade eram parados e frequentemente destruídos. Vários veículos foram incendiados, outros foram jogados no rio. Depois de uma noite de intensas batalhas de rua, trinta vítimas civis foram levadas ao Hospital em Poplar. Um homem morreu na manhã de quarta-feira...
“Na noite de terça-feira também ocorreram distúrbios em Newcastle e em Chester-le-Street perto de Durham, onde a polícia atacou uma multidão que tinha invadido a estação ferroviária.”
Na quarta-feira, “ocorreram mais ataques da polícia em Poplar e Canning Town, além de choques violentos no Túnel Blackwall, onde carros foram amassados e incendiados. Em Hammersmith sete ônibus foram destruídos, grevistas e fascistas lutaram ferozmente e a polícia fez quarenta e três prisões. Ataques contra bondes e ônibus também levaram a embates esporádicos em Leeds, Nottingham, Manchester, Stoke, Liverpool, Glasgow e Edimburgo. Em Sheffield, quatro homens foram presos por porte ilegal de armas.
“Na quinta-feira, ocorreram mais enfrentamentos na saída leste. Em Elephant e Castle a polícia montada atacou uma multidão nervosa que perseguia um ônibus que, ao desviar dos piquetes de greve, bateu numa calçada, matando um homem. Na mesma área, outro ônibus foi incendiado. O correspondente londrino do Manchester Guardian Bulletin relatou que 'As coisas parecem mais sérias hoje com as ruas mais vazias por conta da adesão dos taxistas. Há mais ônibus agora, cada um com um ou dois policiais ao lado do motorista. Um novo plano dos grevistas foi tentado esta manhã em Camberwell; algumas mulheres colocaram seus bebês na estrada no caminho de transportes comerciais e, quando os carros pararam, homens pularam sobre os estribos e retiraram os motoristas, esmagando a maquinaria dos veículos'. Ocorreram novos enfrentamentos em Nottingham quando os grevistas tentaram marchar até as fábricas onde o trabalho ainda ocorria e grevistas enfrentaram a polícia em batalhas acirradas em Cardiff, Ipswich e Leeds...
“Uma multidão de 4.000 homens quebrou suprimentos e estações de passageiros em Middlesbrough e acorrentou caminhões aos trilhos de trem. Enquanto a marinha lutava para quebrar a linha, a luta também emergiu no terminal de ônibus e perto de uma delegacia de polícia... Em Aberdeen a polícia atacou com golpes de bastão uma multidão de mais de 6.000 pessoas que quebrava as janelas dos ônibus e trens que passavam...
“Na sexta-feira, houve nova violência em Polar, Ipswich, Cardiff e Middlesborough, além de distúrbios em Sheffield, Newark e Darlington. Uma multidão de 1.500 demoliu um muro de tijolos em Wandsworth para obter mísseis e um membro dos British Fascisti [Fascistas Britânicos] quase foi linchado quando dirigiu deliberadamente sua van em direção a uma multidão de manifestantes em Wormwood Scrubs, ferindo gravemente um homem”.
Em Hull, “conforme a revolta se espalhava, vagões eram atacados e queimados, autoridades civis apelavam à ajuda do Capitão do Ceres, o cruzador leve responsável pela proteção das Docas de Hull. Enquanto cinquenta de seus homens enfrentavam a multidão com rifles e baionetas, o capitão se dirigiu à eles do mezanino da prefeitura, explicando que era seu dever resguardar a propriedade da cidade e avisando que se outro vagão fosse atacado iria posicionar marinheiros em todos os vagões.”
O desenvolvimento de conselhos de ação durante a disputa continha elementos embrionários da dualidade de poder—o equivalente dos soviets, mas na Bretanha. Um Conselho Nacional de Ação havia sido formado em agosto de 1920 para se opor à intervenção contra a União Soviética, inspirando muitas versões locais que, como escreveu o Diretorado de Inteligência, “mais e mais assumiam a forma de soviets e em algumas áreas formavam planos para a tomada da propriedade privada e dos meios de transporte.”
Durante a greve, os conselhos de ação estiveram à frente em todo o país. Um grevista de Clydeside explica, “Os comitês de greve centrais e os conselhos de ação ficavam em sessão vinte e quatro horas por dia. Eles possuíam seu próprio transporte; paravam todas as outras formas de transporte mas mantinham seu próprio sistema de entregas para carregar mensagens, porque não havia serviço postal ou imprensa. A imprensa aderiu cem por cento à greve e parou todos os jornais, e assim o conselho de ação precisava fazer seu trabalho com bicicletas, velhas e novas, motocicletas, vans velhas — qualquer coisa que tivesse rodas era usada pelos mensageiros e também para levar os líderes da greve a certas frentes.”
O conselho de ação de East Fife havia estabelecido sua própria milícia trabalhadora de defesa, com 700 membros, e regularmente se engajava em combates contra a polícia.
Que essa expressão inicial da dualidade de poder não tenha ido adiante foi somente devido à liderança do Partido Comunista e do Comintern.
Brian Pearce observa que a fidelidade do PC ao Conselho Geral do TUC havia tornado-o impotente, ao ponto de possibilitar que o teórico social-democrata Harold Laski escrevesse em 1927, “É digno de nota que na Greve Geral britânica de 1926 os comunistas não tiveram qualquer papel,” e que o jornalista Hamilton Fyfe afirmasse em seu diário, “Os comunistas se mantiveram muito quietos... no Continente, mesmo na América, são os extremistas que vão ao topo durante crises. Aqui eles afundaram para longe da vista.”
Quanto ao governo e o Estado, eles faziam tudo o que podiam para eliminar a ameaça comunista. Relatos da imprensa Comunista, informando que o regimento dos Guardas Welsh do exército havia se amotinado e estava confinado à base e que outros regimentos haviam se recusado a atacar os operários da mineração, foram apreendidos pela polícia para justificar prisões e invasões ao quartel-general do Partido Comunista com base na acusação de incitação ao motim.
Como Margaret Morris deixa claro em sua obra, A Greve Geral (Journeyman Press, 1976), o PC continuou a ser um alvo preferencial durante toda a greve.
“Muitos dos presos por produzir ou distribuir boletins contendo `incitações ao motim´ ou `falsos rumores´ eram Comunistas envolvidos na edição do boletim dos Trabalhadores do Partido Comunista ou suas versões locais. A mera posse de uma cópia de um desses boletins era considerada base suficiente para a tomada de medidas legais... a invasão aos escritórios do Partido Comunista e o foco em retirar suas publicações de circulação mandou os Comunistas à ilegalidade completa: os membros dirigentes mudavam de endereço toda noite para evitar o encarceramento...” Ao fim do processo, “O secretário doméstico disse à Câmara Baixa do parlamento que 1.760 pessoas foram indiciadas por crimes na Inglaterra e Wales durante a greve, das quais 150 foram acusadas de `incitação´ sob o Ato de Poderes Emergenciais e imputados de `desordem´; 632 foram aprisionadas e o resto saiu sob fiança. O número total de processados na Escócia não foi disponibilizado, mas 409 pessoas foram sentenciadas à prisão, 140 das quais sob o Ato de Poderes Emergenciais e o resto por intimidação, contrariar a paz, invasão, etc... o Partido Comunista... estimou que algo entre um quarto e um quinto de seu corpo de membros foi preso durante a greve.”
O próprio PCGB divulga um número de 2.500 presos no total e estima que 1.000 de seus membros estavam nessa estatística, com mineiros especialmente mirados. O membro Comunista do parlamento Shapurji Saklatvala foi preso em 1926 após um discurso em apoio à greve dos mineiros do carvão, e mantido encarcerado por dois meses.
O TUC tinha sua própria versão da mesma política anti-comunista, insistindo que apenas a propaganda que aprovasse podia circular. Emitiu uma declaração contra espiões e outros que “usam linguagem violenta para incitar os trabalhadores à desordem.” Ramos do sindicato e comitês de greve chegaram ao ponto de insistir que reuniões terminassem com uma cantoria de “Deus Salve a Rainha” e “Governe Bretanha” em vez de “Bandeira Vermelha.”
Longe de se opor a essa supressão burocrática, o PCGB fez seu melhor para assegurar a cooperação de seus membros. Hardy do NMM explicou, “Enviamos instruções do quartel-general do Movimento de Minoria orientando nossos membros ao estabelecimento de conselhos de ação em todas as áreas. Avisamos, porém, que os conselhos de ação em nenhuma circunstância deveriam assumir o trabalho dos sindicatos... Os conselhos de ação deveriam garantir que todas as decisões do Conselho Geral e dos delegados sindicais fossem executadas.”
Em 12 de maio, o Conselho Geral do TUC visitou o primeiro ministro para anunciar sua decisão de chamar o fim da greve. Sua única exigência era que as propostas da Comissão Samuel fossem implementadas e que o governo garantisse que não haveria qualquer vitimização dos grevistas. Quando o governo se recusou a fazer tal promessa, o TUC previsivelmente acabou com a greve assim mesmo. Lord Birkenhead depois escreveu que sua rendição foi “tão humilhante que algo instintivo nos tornava indispostos a até mesmo olhar para eles.”
É testemunho da escala da traição que 100.000 saíram às ruas após a Greve Geral ser interrompida e que havia mais gente em greve em 13 de maio do que em qualquer momento dos nove dias de greve oficial.
A manchete do Northern Light dizia, “Há somente uma explicação para esta traição — nossos líderes não acreditam no Socialismo.” O Newcastle Workers Chronicle escreveu, “Nunca antes na história da luta dos trabalhadores — com a exceção da traição de nossos líderes em 1914 — houve uma traição tão calculada contra os interesses da classe proletária.”
Mesmo nesse ponto, a possibilidade existia de reverter a trilha desastrosa que o PCGB percorria. Com uma luta em favor da linha correta, dezenas ou centenas de milhares haveriam respondido. Como Perkins reconhece, “A greve estava acabada. Mas nem o governo nem o TUC acreditavam que o status quo anterior podia ser restaurado da noite para o dia. Os dois lados sabiam que para os extremistas, uma oportunidade sem precedentes havia emergido. Milhões de homens inertes, muitos deles perplexos e inconformados com o fato da greve ter terminado com a derrota quando eles estavam prontos para continuar a luta, constituíam um campo de recrutamento para o Comunismo que o próprio Lenin teria sonhado em criar...
“Ao longo de nove dias, o pesadelo que havia perseguido tanto o governo quanto o TUC era o de que `uma situação revolucionária´ do tipo que os estrategistas de greve Comunistas almejavam poderia se desenvolver. Agora as ações do governo e do TUC pareciam perigosamente próximas de conseguir isso.”
Milhares de fato inundaram o P,c cujo número de membros dobrou naquele ano, de 6.000 para 12.000. O stalinista História do Partido Comunista da Grã-Bretanha, Volume 2, escrito por James Klugmann, explica que “o verdadeiro influxo ao Partido Comunista começou nos últimos dias da Greve Geral e imediatamente em seguida... Era algo novo na história do Partido. O Conselho Geral havia vendido a greve. Os mineradores continuavam a lutar. Em todas as minas de carvão grandes encontros de massas eram realizados, e neles os trabalhadores, acima de todos mineradores, passavam para o Partido Comunista às centenas. A Executiva de 14 de julho relatou 3.000 novos membros desde a Greve Geral e vendas do Workers Weekly de até 70.000 exemplares.”
Klugmann escreve corretamente, “Com esse novo influxo uma tremenda tarefa e responsabilidade se abriu para o Partido Comunista. Era algo excelente, ganhar para o Partido Comunista tantos trabalhadores militantes, principalmente das minas. Mas esses eram em geral homens e mulheres que passaram a odiar os líderes de direita, vendo-os como traidores, que passaram a sentir raiva e desgosto quanto ao sistema capitalista. Eles queriam um novo e melhor sistema social, desejavam uma mudança radical... Mas não eram ainda Marxistas em sua perspectiva teórica...”
Longe de treinar esses trabalhadores no Marxismo e dar forma teórica ao ódio por aqueles que os traíram, o PCGB e o Comintern trabalharam para desorientá-los, insistindo em manter a aliança com o TUC no Comitê Anglo-russo.
Em sua vergonhosa biografia de Trotsky, ( Trotsky, Routledge, 2003), Ian D. Thatcher novamente defende Stalin das críticas de Trotsky, afirmando:
“Um importante elemento da crítica da Oposição de Esquerda ao poder de Stalin era, é claro, a visão de que a revolução mundial era traída pelo socialismo em um só país. No outono de 1926 Trotsky chamou Stalin de `coveiro da revolução.´ Se com isso queria dizer que Stalin por vontade própria desperdiçava oportunidades revolucionárias, a crítica é claramente injusta. Na Greve Geral britânica de 1926, por exemplo, Stalin insistiu que os comunistas trabalhassem dentro do comitê sindical anglo-russo estabelecido em 1925, não para que o reformismo triunfasse (como Trotsky acusava), mas para que os reformistas pudessem ser mais facilmente desmascarados. Pode-se questionar o sentido da estratégia de frente única empregada aqui, mas Stalin pensava sinceramente que ela traria aos comunistas mais influência que qualquer alternativa.”
Assim como muito do que Thatcher escreve, essa não é meramente uma defesa de Stalin — cuja “sinceridade” dificilmente é o problema — que cospe na cara do registro histórico. É uma defesa que poderia ter vindo diretamente da boca de Stalin.
No pós-greve imediato, Trotsky e a Oposição insistiram que o Comintern rompesse imediatamente com o TUC. Em uma carta ao Pravda de 26 de maio de 1926, Trotsky declarou, “Toda a presente `superestrutura´ da classe trabalhadora britânica, em todas as suas gradações e grupos, sem exceção, é um aparato para pôr um breque à revolução.”
Stalin denunciou essa avaliação como ultra-esquerdismo e defendeu a continuação do comitê anglo-russo — como uma frente única que serviria para desmascarar os reformistas!
Em um discurso no comitê de unidade anglo-russa em 15 de julho de 1926, Stalin afirmou que o problema era se “nós, como Comunistas, trabalhamos nos sindicatos reacionários. É essencialmente essa a questão que Trotsky nos coloca em sua recente carta no Pravda ....
“Podemos nós, como Leninistas, como Marxistas, de fato pular e ignorar um movimento que ainda não caducou, podemos pular e ignorar o atraso das massas, podemos virar nossas costas e passar por eles; ou devemos nos livrar desses traços conduzindo uma luta irrefreável contra eles entre as massas?”
Indo ao ponto, Stalin declarou que “se os sindicatos reacionários da Bretanha estão preparados para unirem-se num bloco contra os imperialistas contra-revolucionários de seu país, porque não deveriamos dar as boas vindas a esse bloco?”
Coerentemente com a retórica sofista de Stalin, as teses da plenária do Comitê Executivo da Internacional Comunista (CEIC) sobre as lições da Greve Geral, 8 de junho de 1926, declaravam que “que os líderes sindicais ingleses quebrassem o comitê seria um ato tão demonstrativamente anti-classe trabalhadora que iria acelerar fortemente o movimento das massas trabalhadoras britânicas para a esquerda.
“Nessas circunstâncias, que os sindicatos Soviéticos tomassem a iniciativa de deixar o comitê... seria um golpe à causa da unidade internacional, um ato de todo `heróico´, mas politicamente não-aconselhável e infantil.”
A décima quinta Conferência do Partido Comunista da União Soviética (PCUS) aprovou uma resolução de 26 de outubro de 1926 declarando: “O Partido sustenta que os países capitalistas avançados estão, no todo, em um estado de parcial, temporária estabilização; que o presente período é inter-revolucionário, tornando incumbência dos Partidos Comunistas a preparação do proletariado para a revolução vindoura... O bloco de oposição parte de premissas inteiramente diferentes. Sem qualquer fé nas forças internas da revolução, e caindo no desespero devido ao atraso da revolução mundial, o bloco de oposição escorrega para longe das bases de uma análise Marxista das forças de classes da revolução e chega em uma que consiste em auto-engano `ultra-esquerdista´ e aventureirismo `revolucionário´; nega a existência de uma estabilização parcial do capitalismo, e, conseqüentemente, se inclina ao putschismo.
“Daí a exigência da oposição pela revisão da tática da frente única e quebra do comitê anglo-russo, sua falha em compreender o papel dos sindicatos, e seu chamado para substitui-los por novas organizações proletárias `revolucionárias´ de sua própria invenção.”
O Conselho Russo de Sindicatos publicou um manifesto com base na Greve Geral declarando que fora traído pelo TUC e pela ala direita do Partido Trabalhista, mas insistindo que “apesar do fato de os líderes sindicais terem infligido um golpe pesado sobre a classe trabalhadora britânica, a causa da unidade internacional e o comitê anglo-russo, nós não somente não propomos a abolição do comitê anglo-russo, mas chamamos por sua completa ressuscitação, e um fortalecimento e intensificação de sua atividade.”
Naturalmente essa linha exigia que o PCGB continuasse a fazer tudo em seu poder para não contrariar os líderes sindicais.
Após a greve geral, o Conselho Geral do TUC emitiu um ultimato aos conselhos sindicais proibindo-os de afiliarem-se ao Movimento de Minoria. Conselhos sindicais em Glasgow, Sheffield e Manchester se opuseram, mas a liderança do PCGB exigiu a concordância!
Pearce cita Murphy ao explicar, “Os trabalhadores não podiam entender essa nova aliança entre os comunistas e o Conselho Geral, e sua resistência foi assassinada.”
Similarmente, em setembro de 1926, Harry Pollitt escreveu sobre o congresso do TUC naquele ano, “Em vista da decisão majoritária em favor da completa solidariedade registrada em Scarborough, o novo Conselho Geral simplesmente terá de prosseguir mais vigorosamente com a luta em defesa dos trabalhadores. É verdade, a ala direita do Conselho é fortalecida pelo retorno de um ou dois que não apóiam a idéia de que estamos envolvidos em uma luta de classes, mas eu penso que a pressão das massas por detrás forçará mesmo esses a entrar na linha.”
Coube ao próprio TUC deixar o comitê anglo-russo em seu Congresso de Edimburgo, 1927, no qual os delegados soviéticos tiveram a entrada negada.
O terrível impacto da traição da greve geral não pode ser colocado o suficiente. Trotsky argumentara que a própria sobrevivência do imperialismo britânico agora dependia não dos social-democratas de direita, mas dos supostos esquerdistas, sem os quais a direita não poderia manter sua posição no movimento trabalhista.
Em sua autobiografia, Trotsky pergunta, “Qual foi o resultado do experimento britânico dos stalinistas? O Movimento de Minoria, abarcando quase um milhão de trabalhadores, parecia muito promissor, mas continha os gérmens da própria destruição. As massas conheciam como líderes do movimento apenas Purcell, Hicks e Cook, que, além do mais, Moscou referendava. Esses amigos de `esquerda´, em um teste sério, traíram vergonhosamente o proletariado. Os trabalhadores revolucionários foram jogados num estado de confusão, afundaram em apatia e naturalmente estenderam seu desapontamento ao próprio Partido Comunista, que havia sido apenas a parte passiva de todo esse mecanismo de traição e perfídia. O Movimento de Minoria foi reduzido à nulidade; o Partido Comunista retornou à existência de um secto irrelevante. Desse modo, por conta da concepção radicalmente falsa do partido, o maior movimento do proletariado britânico, que levou à Greve Geral, não apenas não abalou o aparato da burocracia reacionária, mas, ao contrário, reforçou-o e comprometeu o Comunismo na Grã-Bretanha por um longo tempo.”
Ele escreveu em 1928: “Acordos temporários podem ser feitos com os reformistas sempre que eles derem um passo a frente. Mas manter um bloco quando, assustados pelo desenvolvimento de um movimento, eles cometem traição, é equivalente a tolerar criminalmente os traidores e velar a traição...
“Dada tal condição das massas trabalhadoras como a revelada pela greve geral, o posto mais alto no mecanismo da estabilização capitalista não mais é ocupado por MacDonald e Thomas, mas por Pugh, Purcell, Cook, e Companhia. Eles fazem todo o trabalho e Thomas dá os toques finais. Sem Purcell, Thomas estaria pendurado em pleno ar, e junto com Thomas também Baldwin. O principal freio sobre a revolução inglesa é a máscara diplomática do `esquerdismo´ de Purcell, que confraterniza, às vezes alternadamente, às vezes simultaneamente, com cléricos da igreja e bolcheviques, e que está sempre pronto não só para retiradas mas também para traição.”
Respondendo à afirmação de Stalin que uma estratégia revolucionária era putschismo devido a estabilização do capitalismo, ele continuou, “ Estabilização é Purcellismo. A partir disso vemos que profundezas de absurdo teórico e oportunismo cego são expressados na referência à existência de `estabilização´ para justificar o bloco político com Purcell. Ainda assim, precisamente para quebrar a `estabilização´, o Purcellismo deveria primeiro ser destruído. Em tal situação, mesmo uma sombra de solidariedade com o Conselho Geral era o maior crime e infâmia contra as massas trabalhadoras.”
Quanto ao impacto desse infame crime político na Bretanha, os mineradores retornaram ao trabalho em outubro de 1926 e as vitimizações e demissões começaram. Ao final da década de 1930, o emprego na mineração havia caído em mais de um terço, enquanto a produtividade por homem havia subido na mesma proporção.
Em 1927, o governo britânico passou o Ato de Disputas Comerciais e o Ato Sindical, que tornava as greves de solidariedade e o piquete de massa ilegais, proibia que sindicatos de servidores civis se afiliassem à TU,c e declarava que membros do sindicato eram obrigados a concordar com o pagamento dos seus impostos sindicais ao Partido Trabalhista.
Em 1928, instigados por Citrine e Hicks, o presidente do TUC Ben Turner e SIr Alfred Mond, presidente das Indústrias Químicas Imperial, engajaram-se em diálogo. Seu objetivo era estabelecer a maquinaria para a consultoria sobre os problemas gerais da indústria entre as organizações dos empregadores e os sindicatos. Esse plano de colaboração de classe corporativista nunca foi adotado formalmente, mas isso não quer dizer que ele não tenha sido implementado.
Em junho de 1929, o Partido Trabalhista veio ao poder novamente, sob Ramsay MacDonald. Em novembro do mesmo ano a quebra de Wall Street mergulhou o mundo em recessão. MacDonald respondeu pressionando por medidas de austeridade exigidas pelo serviço civil, que não foram aceitas pelo gabinete.
Em 24 de agosto de 1931 o governo caiu. MacDonald, junto com JH Thomas e outros, pisou sobre os cadáveres para formar o Governo Nacional com os Conservadores e os Liberais. Thomas foi encarregado da área de emprego. A “década do diabo,” os Anos Trinta Famintos, quando o desemprego alcançou a marca dos três milhões em 1932, havia começado.
Thomas, deve ser observado, foi forçado a deixar o parlamento em maio de 1936 depois de ser considerado culpado de vazar segredos orçamentários para seu filho, o corretor de ações Leslie, o parlamentar Conservador Sir Alfred Butt e o empresário Alfred Bates.
A linha assumida pelo Comintern também teve um impacto terrível sobre a classe trabalhadora soviética. Disseram-lhes que os esquerdistas no Conselho Geral do TUC estavam à frente da luta da classe trabalhadora internacional e ela respondeu de acordo. Durante a greve, trabalhadores coletaram o equivalente em rublos a mais de 1 milhão de libras—em 1926!—para ajudar os grevistas britânicos.
No ápice da greve, o TUC recusou-se a aceitar o dinheiro, com Hicks do comitê anglo-russo chamando-o de “este maldito ouro russo.” Dias depois esses mesmos esquerdistas assinaram a traição da greve, mas ainda foram louvados por meses a fio como aliados vitais dos trabalhadores soviéticos na luta pela paz e contra a intervenção.
Foi uma experiência que não poderia ter sido melhor projetada para espalhar desorientação e cinismo político—um humor que ajudou a consolidar o controle da burocracia stalinista sobre o aparato do Estado e do partido, e que ajudou a pavimentar o caminho para a expulsão da Oposição para fora do PCUS em dezembro de 1927. Além disso, foi uma aliança ligada a outra que se provaria bem mais letal—com o Kuomintang na China de Chiang-Kai-Shek.