A palestra a seguir foi proferida por Nick Beams, secretário nacional do Partido Socialista pela Igualdade (SEP) da Austrália e membro do Conselho Editorial do WSWS, na Escola de Verão do SEP/WSWS, realizada de 14 a 20 de agosto de 2005, em Ann Arbor, Michigan.
O pós-Primeira Guerra Mundial: condições revolucionárias na Europa
Na conclusão da palestra sobre a Primeira Guerra Mundial, examinamos algumas das proposições do professor Neil Harding. A acusação mais significativa que ele levanta contra Lênin, e o marxismo como um todo, é de que não há, e não pode haver, uma “ciência da revolução” e, portanto, “a busca por orientação definitiva no que diz respeito aos limites ‘objetivos’ da ação, particularmente e especialmente em períodos de crise revolucionário, [está] fadada ao fracasso.” [1] Se essa acusação é verdadeira, então seria preciso reconhecer o fracasso do marxismo, que, como Lênin insistia, é, acima de tudo, um guia para a ação.
Harding se baseia em observações de Engels em seu prefácio para a obra de Marx As Lutas de Classes em França. Engels nota que em qualquer dada situação política não é possível ter conhecimento pleno dos processos econômicos e mudanças subjacentes. “É por si só evidente que essa inevitável negligência das mudanças contemporâneas na situação econômica, a própria base de todos os processos a serem examinados, deve ser uma fonte de erro. Mas todas as condições de uma apresentação clara da história presente inevitavelmente incluem fontes de erro — o que, porém, não impede ninguém de escrever a história presente.”
Isso se aplica mais ainda à revolução. Na visão de Harding, o marxismo se torna, a partir daí, irresponsável, ou mesmo criminoso, porque exorta as massas a “pôr suas vidas em jogo numa guerra civil” sem que conheçam as mudanças na situação econômica subjacente, que devem ser uma fonte de erro. Embora Engels observe que os problemas que ele identificou não impediam ninguém de escrever a história presente, a questão é bastante diferente, de acordo com Harding, quando se trata de escrevê-la através da condução de um processo revolucionário.
“Precisamente as mesmas restrições”, continua ele, “podem ser estabelecidas contra a teoria leninista do imperialismo (uma constante econômica em toda sua análise) e a derivada teoria do Estado.” [2]
Isto é, o argumento central contra a teoria do imperialismo, que formava o fundamento teórico da tomada de poder pelos bolcheviques, é de que ela não poderia fornecer uma resposta definitiva quanto ao destino do capitalismo mundial.
“Lênin lançou seus seguidores para adiante com a certeza de um ideólogo, e, consequentemente, precisou ignorar as incertezas metodológicas que estão no coração de sua análise. Isso não quer dizer que Lênin violou a lógica do marxismo ao inspirar e liderar a Revolução de Outubro. Meramente significa que o marxismo jamais poderia fornecer antecipadamente uma especificação das condições necessárias e suficientes para uma revolução socialista bem sucedida. A ação revolucionária marxista poderia se basear somente em uma série de predições ou inferências mais ou menos bem informadas vindas de uma análise mais ou menos acurada de uma estrutura sócio-econômica temporalmente distante. Sua ‘justificação’, portanto, está sempre depois, em vez de antes, do evento. É justificada se, e apenas se, suas previsões se mostrarem acuradas. Era esse, precisamente, o fardo da diferença entre fazer história e meramente escrevê-la. Nenhuma das principais previsões, sobre as quais toda a aventura revolucionária bolchevique estava baseada, de fato se materializaram. O país foi engolido por seus próprios recursos arruinados e pelo baixo nível cultural. Nessas circunstâncias o regime, como o próprio Lênin estava preparado para admitir, estava fadado a degenerar. Mas o que jamais se admitiu foi a enorme responsabilidade de Lênin (e dos bolcheviques) por inaugurar uma empresa de transformação total que se tornou um cataclisma quando as principais predições sobre as quais se baseava se provaram falsas. Os homens podem, sem dúvida, ser inspirados por idéias a realizar ações heroicas e abnegadas mas, de maneira similar, essas mesmas ideias podem inspirar ações que, talvez inadvertidamente, levam ao barbarismo. Ideologias jamais são, desse modo, inocentes; elas sempre carregam a marca de Caim.” [3]
Em outras palavras, a Revolução Russa foi um “salto no escuro”, uma aposta gigantesca, uma empresa criminosa, cujo fracasso trouxe consequências trágicas. A responsabilidade última pelo stalinismo recai sobre Lênin e os bolcheviques, pois, embora eles tenham se oposto a Stálin e o aparato burocrático que liderado por ele conforme emergia, lançaram a revolução em uma situação onde, como os eventos mostrariam, as condições não existiam para que ela se espalhasse. Eles lançaram uma luta revolucionária em condições onde não podiam saber qual seria o resultado, e são portanto responsáveis por tudo o que veio depois.
A conclusão óbvia não é somente que a Revolução Russa foi um erro, mas que a estrada para a revolução jamais deve ser percorrida novamente já que é impossível prever o resultado, porque não pode ser determinado com certeza absoluta se as condições econômicas estão suficientemente maduras.
A análise teórica fundamental por trás da tomada de poder pelos bolcheviques era, como Lênin colocou, a quebra do elo mais fraco da corrente do imperialismo. Não foi apenas o elo que quebrou, mas toda a corrente — isto é, a Rússia era somente a expressão mais avançada da situação revolucionária que se desenvolvia na Europa como um todo.
Esta análise não era exclusiva a Lênin. Líderes do imperialismo Europeu e o próprio presidente dos EUA, Woodrow Wilson, a compartilhavam em maior ou menor grau.
Os famosos 14 Pontos de Wilson, publicados em janeiro de 1918, eram uma resposta direta à Revolução Russa, e, em particular ao chamado dos bolcheviques para que as negociações com o Alto Comando alemão em Brest-Litovsk se tornassem a base para um acordo geral de paz. Respondendo a um apelo de Trotsky chamando os povos da Europa a forçar a realização de uma conferência geral de paz, o Secretário do Estado estadunidense Robert Lansing aconselhou que o apelo devia ser ignorado.
Atacando os “erros fundamentais” do apelo, em um memorando para Wilson, ele preveniu que os bolcheviques estavam apelando “a uma classe e não a todas as classes da sociedade, uma classe que não tem propriedade mas espera obter uma parcela por processos de governo em vez da empresa individual”. Em uma amostra vívida das noções de superioridade biológica que eram tão conhecidas entre as elites dominantes, Lansing denunciou o documento como “um apelo aos ignorantes e mentalmente deficientes, que devido a seus números são urgidos a tornarem-se mestres. Aqui me parece haver um perigo bastante real em vista da atual inquietação social”.
O perigo do apelo, escreveu, era que “ele pode muito bem apelar ao homem comum, que não perceberá os erros fundamentais”. Além dos seus ataques à propriedade, os bolcheviques estavam minando o nacionalismo pelo avanço de “doutrinas que tornam a questão da classe superior à noção geral de nacionalidade. (...) Tal teoria seria absolutamente destrutiva para o tecido político da sociedade e resultaria em constante abalo e mudança. Isso simplesmente não pode ser feito se a ordem social e a estabilidade de governo devem ser mantidas”. [4]
Wilson, porém, sabia que os apelos dos bolcheviques não podiam ser ignorados. A situação política estava se tornando mais perigosa para todos os governos Aliados conforme a insatisfação geral aumentava. Suas preocupações foram elaboradas em uma discussão com o embaixador britânico em 3 de janeiro.
De acordo com um relato do encontro: “Ele mesmo [o presidente], com a aceitação plena do povo americano e com sua aprovação expressa fez um apelo ao povo alemão pelas costas do governo alemão. Os bolcheviques na Rússia agora adotavam a mesma política. Eles fizeram um apelo para todas as nações do mundo, para os povos e não os governos. Ele estava sem informação naquele momento, ou ao menos sem informações específicas, sobre que recepção esse apelo havia encontrado. Mas havia evidência em mãos de que certamente na Itália e provavelmente também na Inglaterra e França o apelo não havia sido ineficaz. Nos Estados Unidos agitação ativa estava procedendo. Era muito cedo para dizer com certeza positiva o quão bem-sucedida essa agitação havia sido. Mas era evidente que se o apelo dos bolcheviques ficasse sem resposta, se nada fosse feito para contrapô-lo, o efeito seria enorme e aumentaria”. [5]
Já antes do irromper da guerra, as tensões de classe desenvolviam-se em meio a avisos de todas as principais capitais europeias sobre uma situação pré-revolucionária em formação. Na Áustria, os círculos oficiais haviam concluído que a única alternativa para a guerra civil era um conflito europeu generalizado. Na Rússia, a onda de greves que se desenvolveu em 1913 e 1914 foi ainda maior do que aquela que acompanhou a revolução de 1905. Na Alemanha, especialmente depois da vitória do Partido Social Democrata nas eleições de 1912, houve especulação e discussão entre os círculos dominantes sobre a possibilidade de um conflito externo e sua eficácia para aliviar as tensões que se acumulavam. O príncipe von Bullow escreveu em suas memórias: “Ao fim de 1912 eu escutei de Dusseldorf que Kirdorf, um dos maiores industrialistas do Reno... havia declarado que se aquilo continuasse por mais três anos, a Alemanha aterrissaria na guerra ou na revolução”.
Na Itália, os meses que precederam o início da guerra foram marcados por revoltas e greves em ampla escala e pelo estabelecimento de repúblicas locais em muitas cidades. A bandeira vermelha foi hasteada sobre a cidade de Bolonha. Na França, havia uma crescente militância dentro da classe trabalhadora, com 1.073 greves envolvendo um quarto de milhão de trabalhadores em 1913, incluindo trabalhadores dos serviços postal e telegráfico antes considerados leais ao Estado. Greves de trabalhadores agrícolas frequentemente levavam à insurgências e à queima de casas de proprietários.
Na Inglaterra, o período imediatamente pré-guerra foi de crescente violência no qual, de acordo com o relato do escritor George Dangerfield, “chamas há muito dormentes no espírito inglês repentinamente se acenderam, de modo que ao final de 1913, a Inglaterra Liberal estava reduzida à cinzas”. O veterano político do Trabalho Emanuel Shinwell registrou em suas memórias: “A insatisfação das massas se espalhou, expressão de milhões de pessoas comuns que ganharam nada ou muito pouco com a era vitoriana de expansão industrial e imperialismo grandioso”.
De acordo com o diplomata e político Harold Nicolson, os crescentes levantes industriais, marcados pelo desdobrar de um “espírito revolucionário”, combinado com a crise de poder na Irlanda, deixaram o país “à beira da guerra civil”. Em uma conferência realizada no Palácio de Buckingham em julho de 1914, George V avisou: “Esse grito de guerra civil está nos lábios dos mais responsáveis e equilibrados entre os do meu povo.” O historiador Halevy descreveu a inquietação industrial como “em momentos beirando a anarquia”, concluindo que era uma “revolta não somente contra a autoridade do capital mas contra a disciplina dos sindicatos.”
Agora a ameaça que rondava as classes dominantes europeias — que a assim chamada “questão social” um dia daria luz à uma revolução — havia se materializado na forma da Revolução Russa. No dia 4 de novembro de 1918, Beatrice Webb, uma das principais socialistas fabianistas e advogada estridente do parlamentarismo, registrou em seu diário os medos das elites dominantes através da Europa: “Seremos confrontados com outra Rússia na Áustria e possivelmente até mesmo na Alemanha — um continente em revolução rampante?” [6]
Quando os Aliados se reuniram em Paris para esboçar um tratado a ser apresentado para a Alemanha, o governo Soviético não foi convidado. Mas nos meses de complexas negociações, conforme os Aliados tentavam solucionar seus conflitos, a revolução estava sempre presente. “A Rússia comunista”, escreveu Herbert Hoover, na época encarregado da distribuição americana de suprimentos alimentícios na Europa, “era um espectro que vagava pela Conferência de Paz quase diariamente.” [7]
Associado próximo de Wilson, o jornalista Ray Stannard Baker apontou para o contraste entre o Congresso de Viena, que aconteceu após a derrota de Napoleão em 1815, e as negociações em Versalhes. “A todo momento, em cada curva das negociações, se levantava o espectro do caos, como uma nuvem negra vinda do leste, ameaçando tomar e engolir o mundo. Não havia Rússia batendo nos portões de Viena, aparentemente, a revolução estava seguramente para trás deles; em Paris estava sempre com eles.” [8] Poucas pessoas, observou, percebiam o quão “explosiva era a situação através da Europa durante a conferência. Todos os governos estavam inseguros; um pequeno passo em falso da parte de Lloyd George, Clemenceau, Orlando, e seus ministérios poderiam ter caído.” [9]
Durante a Conferência de Paz, o primeiro-ministro britânico Lloyd George enviou uma carta para o presidente francês Clemenceau onde delineava seus medos: “O todo da Europa está preenchido pelo espírito da revolução. Há um senso profundo não só de descontentamento, mas de raiva e revolução entre os trabalhadores contra condições de pré-guerra. Toda a ordem existente em seus aspectos políticos, sociais e econômicos é questionada pelas massas da população de um extremo da Europa ao outro”. [10]
A Conferência de Paz realizou-se sob os slogans dos 14 pontos de Wilson. O documento final, entretanto, rompeu com tais princípios. Quando um membro da delegação norte-americana, Willian C. Bullitt, anunciou sua resignação e repúdio a respeito dos termos de paz a serem apresentado para a Alemanha, insistiu que Wilson deveria fazer um apelo às massas, por cima dos governantes dos outros países. O principal assessor do governo Wilson, “Colonel” Edward M. House, explicou porque aquilo não seria possível.
Não havia dúvida, disse ele, que “se o presidente exercesse sua influência entre os liberais e classes trabalhadoras, ele poderia derrubar os governos” de alguns dos Aliados. Mas isso teria desenvolvido uma curva fechada para a esquerda em toda a Europa, criando as condições onde o “Bolchevismo” poderia se fortalecer. Por isso, Wilson estava certo em não se retirar da conferência. De outro modo, haveria “revolução em todos países da Europa e... O presidente não estava pronto para assumir essa responsabilidade”. [11]
Essas citações, assim como os próprios eventos, apontam para a existência de uma situação revolucionária em toda a Europa no período do pós-guerra. Que essa situação não tenha levado a uma verdadeira revolução socialista se deve ao papel dos líderes social democratas da classe trabalhadora, acima de tudo na Alemanha. Lá, os líderes do Partido Social Democrata formaram uma aliança contra-revolucionária com o Alto Comando do Exército para preservar o Estado alemão, ao mesmo tempo liberando os Freikorps, precursores das stormtroopers nazistas, para esmagar os conselhos de trabalhadores criados durante o levante revolucionário de outubro-novembro de 1918 e assassinar os revolucionários, em particular Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht.
Apesar da inegável existência de uma situação objetivamente revolucionária após a guerra, ainda ficamos diante da questão do longo prazo. Foi esse período revolucionário meramente um momento histórico passageiro, um epifenômeno da guerra, destinado a ser seguido por uma estabilização na qual a classe capitalista retomaria o controle, ou haveria contradições profundas no coração da economia capitalista que levariam a maiores erupções? Essa questão, que diz respeito a todos os problemas levantados por Harding, pode ser respondida somente por um exame cuidadoso da economia política do período pós-guerra.
Crise capitalista, perspectiva política e direção revolucionária
Qual deve ser a base de uma abordagem científica através da qual procuramos conduzir um exame dos processos históricos à luz das leis da economia política? Na introdução de suas palestras sobre A Filosofia da História, Hegel observou que “é o desejo de conhecimento racional, e não meramente a acumulação de massas de dados, que deve possuir a mente de alguém preocupado com ciência”.
Em uma apreciação de Marx, Joseph Schumpeter apontou para “uma coisa de fundamental importância” que ele realizou. “Economistas”, escreveu ele, “sempre fizeram seu trabalho em história econômica ou então usaram o trabalho histórico de outros. Mas os fatos da história econômica eram assinalados para um compartimento separado. Eles adentravam a teoria, se chegasse a tanto, meramente no papel de ilustrações, ou possivelmente de verificação dos resultados. Se misturavam à teoria apenas mecanicamente. Mas a mistura de Marx é uma mistura reativa; quer dizer, ele introduziu os fatos da história econômica no próprio argumento que produz o resultado. Ele foi o primeiro economista de primeira linha a ver e ensinar sistematicamente como a teoria econômica pode ser transformada em análise histórica e como a narrativa histórica pode ser transformada em histoire raisoneé.” [12]
Se examinamos a história do capitalismo industrial nos últimos 200 anos, fica claro que o crescimento econômico se deu passando por uma série de flutuações. O ciclo comercial, consistindo em períodos de boom, estagnação e recessão e pontuado por crises, é uma faceta permanente da economia capitalista, apesar das afirmações periódicas de que ele foi abolido.
Também fica claro que existem períodos longos com suas próprias características e peculiaridades. Por exemplo, o período de 1849 (início do boom de meados da era vitoriana) até a quebra financeira de 1873 é diferente do período de 1873-1896, que passou para os anais da história econômica como a grande depressão do século XIX. Do mesmo modo, as décadas de 1920 e 1930 são muito diferentes do boom pós-guerra dos anos de 1950 e 1960, assim como esse período é muito diferente do de hoje. Em todos esses períodos, o ciclo comercial continuou a operar, embora o desenvolvimento econômico fosse muito diferente. Claramente, existem processos em movimento que moldam a operação do ciclo comercial e estabelecem o quadro no qual o desenvolvimento econômico se dá a longo prazo.
A relação entre o ciclo comercial e os períodos históricos mais longos na “curva do desenvolvimento capitalista” foi o assunto de um grande relatório entregue por Trotsky ao Terceiro Congresso da Internacional Comunista em junho-julho de 1921, e foi o assunto de muitos discursos e artigos de Trotsky lidando com questões da perspectiva nos anos que se seguiram.
Quando o Terceiro Congresso se reuniu, estava claro que o levante revolucionário inicial que havia se seguido à Primeira Guerra Mundial estava recuando. A classe trabalhadora havia falhado em tomar o poder na Alemanha, a revolução na Hungria havia sido derrubada, e havia uma certa retomada econômica após a profunda crise de 1919-1920. Esses acontecimentos impunham novos desafios ao desenvolvimento das perspectivas do movimento revolucionário.
Na ala direita, os social democratas, tendo se alinhado contra a Revolução Russa, declarando-a prematura, e organizando a contra-revolução em detrimento da classe trabalhadora alemã, apontaram a curva ascendente do ciclo comercial como justificativa de sua posição. O crescimento, apontavam eles, demonstrava que a conquista de poder pelos bolcheviques era inválida do ponto de vista do marxismo e constituía um “golpe” porque as forças produtivas ainda eram capazes de passar por maiores desenvolvimentos dentro do quadro do capitalismo. A perspectiva da conquista do poder pela classe trabalhadora, portanto, precisava ser circunscrita ao futuro indefinido, como antes da guerra.
Por outro lado, numerosas tendências de esquerda avançavam a assim-chamada teoria da ofensiva. De acordo com essa perspectiva, não havia possibilidade de uma ascensão na economia capitalista. A crise econômica dos anos do imediato pós-guerra iria aprofundar continuamente e inevitavelmente levar à conquista do poder pela classe trabalhadora.
A análise de Trotsky tinha o objetivo de mostrar que o capitalismo não havia estabelecido um novo equilíbrio e que a perspectiva dos social democratas era falsa. A guerra e a Revolução Russa não eram acidentes, mas significavam que o sistema capitalista havia entrado em um período de profundo desequilíbrio que iria continuar.
Ao mesmo tempo, ele entrou em conflito com os “esquerdistas” que identificavam a curva descendente do ciclo comercial no pós-guerra com a crise histórica da economia capitalista. A situação era muito mais complexa. Em 1921, estava claro que um ascenso econômico acontecia. Mas isso não queria dizer que um novo equilíbrio fora estabelecido.
Em oposição aos “esquerdistas” e sua identificação de uma curva descendente no ciclo comercial com a crise histórica do capitalismo, Trotsky explicou que se desenhássemos uma curva delineando o desenvolvimento do capitalismo, ele seria visto como um “composto de dois movimentos; um movimento primário que expressa o ascenso geral do capitalismo, e um movimento secundário que consiste nas constantes oscilações periódicas correspondentes aos vários ciclos industriais.” [13]
A relação entre esses dois movimentos era a seguinte: “Em períodos de rápido desenvolvimento capitalista as crises são curtas e superficiais em caráter, enquanto os booms são duradouros e de longo alcance. Em períodos de declínio capitalista as crises são de caráter prolongado enquanto os booms são fugidios, superficiais e especulativos. Em períodos de estagnação as flutuações ocorrem ao mesmo nível.” [14]
Contra aqueles que sustentavam que a crise econômica de 1919-1920, se tornando cada vez mais grave, teria de persistir até a conquista do poder pela classe trabalhadora, Trotsky insistiu que enquanto o capitalismo existisse, iria continuar a oscilar cinicamente, como um homem continua a respirar mesmo em seu leito de morte, e que, não importa quais forem as condições gerais, uma crise econômica comercial iria agir para varrer as mercadorias excedentes, desvalorizar o capital existente, e, por essa mesma razão, criar a possibilidade de uma revitalização industrial-comercial.
Mas isso de modo algum significava que o capitalismo poderia restaurar as condições para o equilíbrio — isto é, as condições para o desenvolvimento econômico que tornaram possível o seu crescimento no pré-guerra. “Ao contrário”, Trotsky explicou, “é bem possível que após suas primeiríssimas consequências este boom irá colidir contra as trincheiras econômicas cavadas pela guerra.”
Mas e se o capitalismo continuasse? Seria possível que em algum momento do futuro um novo equilíbrio surgisse, assegurando uma expansão geral como a que havia ocorrido no século XIX e na primeira década do XX? Em seu relato ao Terceiro Congresso, Trotsky não excluiu essa perspectiva, mas deixou claro que isso era possível somente sob condições bastante específicas.
“Se supormos — e o façamos por um momento — que a classe trabalhadora falhe em levantar-se numa luta revolucionária e dê à burguesia a oportunidade de governar o destino do mundo por um longo número de anos, duas ou três décadas, digamos, então seguramente algum tipo de novo equilíbrio será estabelecido. Milhões de trabalhadores europeus morrerão de desemprego e subnutrição. Os Estados Unidos serão compelidos a se reorientarem no mercado mundial, reconvertendo sua indústria e sofrendo uma racionalização dos recursos por um período considerável. Depois disso, depois que uma nova divisão mundial do trabalho for assim estabelecida em agonia por 15 ou 20 ou 25 anos, uma nova época de ascenso capitalista pode talvez ter lugar.” [16]
Retornando a essa questão num discurso seis meses depois, no que tragicamente se mostrou uma previsão do destino da classe trabalhadora europeia e internacional, ele novamente enfatizou que não era uma questão da ação recíproca automática dos fatores econômicos. Somente se a classe trabalhadora permanecesse passiva e se o Partido Comunista cometesse um desastre após o outro seria possível para as forças econômicas “restaurar no longo prazo algum tipo de novo equilíbrio capitalista sobre a base de ossos de milhões e milhões de proletários europeus e pela devastação de um número de países. Em duas ou três décadas um novo equilíbrio capitalista seria estabelecido, mas isso ao mesmo tempo significaria a extinção de gerações inteiras, o declínio da cultura europeia e assim por diante. Essa é uma abordagem puramente abstrata, que desconsidera os fatores mais importantes e fundamentais, nomeadamente, a classe trabalhadora, sob a liderança e orientação do Partido Comunista”. [17]
As observações de Trotsky estabelecem um argumento de imensa significação metodológica. Contrariamente às posições de Harding, a evolução histórica do capitalismo não pode ser considerada por fora do desenvolvimento da luta de classes e do papel dos partidos e tendências no movimento da classe trabalhadora.
Em outras palavras, o desdobrar da economia capitalista não produziu em si e por si mesmo um único e inevitável resultado. Na verdade, estabeleceu o chão sobre o qual a luta de classes se daria — uma luta na qual o papel do fator subjetivo, a liderança revolucionária, assumiria importância decisiva.
Se a classe trabalhadora fosse incapaz de derrubar a burguesia, em razão das políticas de sua liderança, então um novo equilíbrio seria possível — obtido a um terrível custo. A obtenção de tal equilíbrio não significaria que o sistema capitalista tinha um papel histórico progressista, mas que a classe revolucionária, o proletariado, não tinha sido capaz de derrubá-lo. Com uma liderança e políticas diferentes, um resultado inteiramente diferente, vindo do mesmo conjunto de condições econômicas, teria sido possível.
As mesmas questões surgiam quando o processo histórico era enxergado do ponto de vista da burguesia. Enquanto permaneceu no poder, não o fez graças ao desenvolvimento automático das leis objetivas da economia capitalista. Ao contrário, a crise histórica do modo de produção capitalista significava que o destino da burguesia dependia diretamente de sua intervenção ativa.
O impasse econômico do pós-guerra
Análises históricas da economia política da década de 1920 geralmente começam com uma discussão sobre o impacto da guerra e seu resultado econômico. Essa foi a abordagem adotada por observadores da época, para os quais pareceu que os crescentes problemas dos anos de 1920 eram consequência da devastação da guerra que tanto havia abalado o equilíbrio da economia mundial.
Do nosso ponto de vista, porém, o prolema com essa abordagem imediatamente se torna aparente assim que comparamos o período do pós-Primeira Guerra com o do pós-Segunda Guerra. No primeiro caso, encontramos uma década de recuperação altamente instável, pontuada por uma série de recessões agudas e crises econômicas, finalmente levando à mais profunda depressão na história do capitalismo mundial e ao mais bárbaro regime jamais visto — o nazismo na Alemanha. No segundo caso, apesar da destruição de capitais e infra-estrutura muito maior, vemos que 10 anos após o fim da guerra, o capitalismo mundial passa pelo maior boom de sua história.
Em vez de examinar o impacto da guerra sobre a economia capitalista, é necessário abordar a questão pelo caminho inverso. Isto é, examinar como as mudanças e viradas de longo prazo da economia capitalista fizeram emergir a guerra e os desenvolvimentos econômicos que se seguiram. Não para sugerir que a guerra foi simplesmente um produto de processos econômicos, ou que não teve qualquer impacto sobre a economia subjacente. De fato, a guerra, e acima de tudo a reconstrução da Europa empreendida a partir do Tratado de Versalhes, teve efeitos econômicos de grande amplitude. Mas a guerra não foi a causa das crises que abateram sobre a economia europeia e mundial. Ela exacerbou tendências econômicas que já se desenvolviam.
Em sua análise dessa questão, Trotsky apontou para a relação entre a curva do desenvolvimento capitalista, tomado como um todo, e a erupção da guerra.
“Começando em 1913”, escreveu em um relatório para o Quarto Congresso da Internacional Comunista, “o desenvolvimento do capitalismo, de suas forças produtivas, parou um ano antes do irromper da guerra porque as forças produtivas se chocaram com os limites fixados pela propriedade capitalista e pelas formas capitalistas de apropriação. O mercado foi cindido, a competição levada à mais alta intensidade, e desse modo os países capitalistas puderam buscar eliminar uns aos outros do mercado apenas por meios mecânicos. Não foi a guerra que parou o desenvolvimento das forças produtivas na Europa; na verdade a própria guerra surgiu da impossibilidade das forças produtivas de se desenvolverem na Europa sob condições de administração capitalista.” [18]
O crescimento econômico na Europa capitalista era mais lento no período entre as guerras do que em qualquer outro período do século XX. No período de 1913-1950, o produto interno bruto per capita de 15 economias europeias Ocidentais aumentou numa média de 0.5% ao ano comparado com 1.4% no período 1890-1914 e 4.0% no período de 1950-1973.
O problema que confrontava as economias da Europa Ocidental nos anos de 1920 não era tanto a destruição da capacidade industrial, mas encontrar mercados para a capacidade aumentada da indústria, que havia se expandido no decorrer da guerra. Por exemplo, a capacidade mundial de construção de navios havia quase dobrado desde 1914; a capacidade de produção de ferro e aço na Grã-Bretanha e Europa Central era 50% maior em meados da década de 1920 do que havia sido antes da guerra. Ainda assim, essas indústrias experimentavam condições de contínua depressão. Ao mesmo tempo, a Alemanha, que havia sido uma líder na produção de químicos no período pré-guerra, descobriu que seus mercados de exportação haviam sido reduzidos como resultado da produção aumentada dos Aliados.
A erupção da guerra na Europa em 1914 significou que as forças produtivas haviam entrado em conflito com o sistema do Estado-nação. O caráter agressivo do imperialismo alemão representava o impulso da seção mais dinâmica do capital europeu de reorganizar o velho continente e criar as condições para sua expansão. O Tratado de Versalhes, porém, não fez nada para resolver os problemas contidos no desenvolvimento capitalista que haviam feito surgir a guerra. Em vez disso, os exacerbou. De fato, de acordo com a avaliação de um historiador do período, “pode ser dito que as consequências imediatas de mais de quatro anos de hostilidades eram menos importantes que o acordo realizado no imediato pós-guerra em determinar o futuro de longo prazo da Europa.” [19]
Os acordos do pós-guerra envolviam o maior exercício de redesenho da geografia política europeia jamais assumido. Mas esse processo aprofundou todos os problemas. Houve a separação de áreas que formavam unidades econômicas. A Alemanha perdeu 6,5 milhões de habitantes e 13% de seu território. A Alta Silésia foi perdida e o elo entre o carvão do Ruhr e o minério de ferro de Lorena foi quebrado.
O número de unidades econômicas na Europa dentro das quais fatores produtivos podiam se mover sem restrições aumentou de 20 para 27. A economia austro-húngara integrada foi fragmentada e distribuída em sete estados. Cinco novas nações brotaram nas fronteiras ocidentais da Rússia. Haviam agora 27 moedas separadas na Europa em vez das 14 de antes da guerra e um adicional de 12.500 milhas em fronteiras, muitas das fronteiras separavam fábricas de suas matérias primas, fazendas de seus mercados, siderúrgicas das minas de carvão.
Resumindo esse processo, o historiador William Keylor observou: “Diferentemente do processo de unificação nacional da Europa Ocidental no século XIX, que alargou unidades econômicas e aumentou a produtividade, a formação de nações na Europa Oriental depois da Primeira Guerra Mundial reduziu o tamanho de unidades econômicas existentes e assim fez cair a eficiência que tradicionalmente resulta de economias de escala”. [20]
Além das fronteiras redesenhadas, a questão mais polêmica que surgiu do Tratado de Versalhes foi a decisão de impor retaliações de guerra sobre a Alemanha. O artigo 231 do tratado, a infame cláusula da “culpa pela guerra”, declarava: “Os Governos Aliados e Associados afirmam, e a Alemanha aceita, a responsabilidade da Alemanha e seus Aliados por causar toda a perda e dano aos quais os Aliados e Governos Associados e suas populações nacionais foram submetidos como consequência da guerra imposta sobre eles pela agressão da Alemanha e seus Aliados”.
As retaliações foram frequentemente apresentadas como uma consequência do impulso da França de infligir o máximo dano econômico sobre a Alemanha. Mas a França não agiu diferente das outras grandes potências capitalistas, incluindo os Estados Unidos, cada qual buscando estabelecer para si a melhor posição possível no mundo pós-guerra. Se tiveram respostas diferentes para os problemas surgidos, era porque tinham interesses diferentes para perseguir.
A posição do presidente francês, Clemenceau, como apontou Keynes, foi inteiramente lógica para alguém que “assumia a visão de que a guerra civil europeia deveria ser considerada como um estado normal, ou ao menos um estado recorrente da conjuntura, e que o tipo de conflitos entre grandes potências organizadas que ocupou os cem anos anteriores também ocuparia os próximos cem anos.” Quaisquer concessões para a Alemanha baseadas em um tratamento igualitário e justo teriam meramente o efeito de “encurtar o intervalo da recuperação alemã e apressar o dia em que ela novamente atacaria a França com seus números, recursos e habilidades técnicas superiores”. Assim, a política da França tinha o objetivo de cortar o território alemão, reduzindo sua população e, acima de tudo, reduzindo sua força econômica para tentar remediar a desigualdade de forças entre os dois principais rivais na disputa pela hegemonia européia.
Se a Grã-Bretanha estava disposta a algumas vezes adotar uma abordagem mais conciliatória — apesar das exortações feitas na eleição de dezembro de 1918, na qual Lloyd George prometeu que a Alemanha seria apertada “até virar suco” — foi porque seus objetivos haviam sido servidos pela destruição da frota alemã e pela entrega de suas colônias. Com a posição do Império assegurada, a Grã-Bretanha estava ansiosa por garantir a revitalização da economia alemã, que era um valoroso mercado de exportação.
A posição dos Estados Unidos era orientada pela determinação em capitalizar sobre sua recém-estabelecida dominância econômica e, consequentemente, recusar todas as sugestões de que as dívidas entre países Aliados, particularmente aquelas das quais os EUA eram credores, fossem eliminadas ou reduzidas para atenuar as reparações de guerra impostas sobre a Alemanha.
Depois da entrada dos EUA na guerra, um boletim oficial do Tesouro dos EUA publicado no final de abril de 1917 declarava que ao colocar uma parte da riqueza americana à disposição dos Aliados europeus, o governo dos Estados Unidos não estava apenas prestando auxílio, mas “diminuindo o trabalho e perigo de nossos próprios homens ao trazer a guerra para um término adiantado”. Com os EUA incapazes de colocar soldados em batalha até um anos depois da declaração da guerra, as potências europeias consideravam os empréstimos como, de certo modo, um pagamento por homens colocados na linha de frente. Elas consideravam lutar como substitutos dos EUA, ao menos depois de abril de 1917, e portanto não deveriam ser obrigadas a pagar os empréstimos. Esse não era o ponto de vista do Tesouro dos EUA. Assumiu a posição em dezembro de 1918, que manteve por toda a década de 1920, de que não havia qualquer conexão entre as dívidas inter-Aliados e as reparações de guerra com os alemães. Os Aliados seriam obrigados a pagar não obstante o que a Alemanha pudesse pagar.
Quando o grande industrial Walther Rathenau propôs que a Alemanha assumisse a dívida de guerra dos Aliados para os Estados Unidos, equivalente a cerca de 44 bilhões de marcos de ouro, em vez de pagar as reparações, os americanos não concordaram, insistindo que não havia conexão entre as reparações e as dívidas de guerra. Os EUA estavam relutantes em fazer essa transferência, pois temiam que a habilidade da Alemanha em pagar era menor que a da França, Grã-Bretanha e outros aliado pela hipoteca de uma Alemanha insolvente e derrotada.
Havia uma complexa rede de dívidas. A Alemanha tinha 11 credores. Os EUA recebiam pagamentos de 16 devedores. A Grã-Bretanha coletava dívidas de 17 países e a França de 10. Pequenos países como Hungria, Bulgária, Romênia e Checoslováquia possuíam até 9 ou 10 credores cada.
Não menos que 28 países estavam envolvidos em relações de dívidas de guerra. Cinco eram devedores apenas, 10 eram credores apenas, e 13 eram devedores e credores ao mesmo tempo. Dez eram devedores líquidos e 18 eram credores líquidos. Dos US$ 28 bilhões em dívidas inter-Aliados, o governo dos EUA era credor de US$ 12 bilhões, cerca de US$ 4,7 devidos pela Grã-Bretanha. A Grã-Bretanha, por sua vez, era credora de US$ 11 bilhões devidos pelos seus aliados europeus. Cerca de US$ 3.6 bilhões eram devidos pela Rússia.
Antes das conversas de paz começarem, o governo francês fez um pedido oficial em carta ao secretário do Tesouro dos EUA, Carter Class, em 15 de janeiro de 1919, demandando que a questão das dívidas se tornasse parte do acordo da paz, e que fosse resolvida simultaneamente.
Glass respondeu que os EUA não apoiavam a discussão das dívidas em Paris junto com a Conferência de Paz. O efeito dessa decisão foi garantir que os Aliados, e a França em particular, pressionassem a Alemanha pelo máximo em reparações. Um valor para reparações não foi incluído no tratado, mas a questão foi encaminhada para uma Comissão de Reparações de Guerra que emitiria um relatório em maio de 1921.
Em fevereiro de 1920, o governo britânico propôs um cancelamento geral das dívidas de guerra, observando que “a existência de uma vasta massa de endividamento inter-governos não apenas envolve perigos políticos muito graves, mas também forma no momento presente um sério obstáculo à recuperação do mundo e particularmente da Europa Continental do imenso abalo e sofrimento causados pela guerra.” [21]
A resposta oficial do secretário do Tesouro dos EUA David F. Houston deixou claro que os EUA estavam determinados a fazer que suas exigências fossem atendidas. Rejeitando a afirmação de que o cancelamento das dívidas iria auxiliar na recuperação econômica da Europa e do mundo em geral, Houston insistiu que o cancelamento “não toca problemas dos quais advém principalmente as presentes dificuldades financeiras e econômicas da Europa”. [22]
Ele então prosseguiu para realizar uma palestra sobre as virtudes do livre mercado e do equilíbrio nas finanças governamentais. “O alívio dos presentes males, na medida em que pode ser obtido”, escreveu, “está primariamente dentro do controle dos governos devedores e das próprias pessoas. Muitos dos países devedores não absorvem suficientes impostos de modo a equilibrar seus orçamentos, e sequer tomaram quaisquer medidas enérgicas e adequadas para reduzir gastos e atingir a meta dos recursos disponíveis. Pouquíssimo progresso foi feito no desarmamento. Nenhum progresso apreciável foi feito em deflacionar emissões excessivas de moeda ou em estabilizar as moedas em novos níveis, e na Europa Continental tem havido um constante aumento em emissões de notas. A iniciativa privada não foi restaurada. Barreiras econômicas desnecessárias e pouco inteligentes ainda existem. Em vez da liberação do comércio e das trocas através de medidas apropriadas, parece haver esforços direcionados em obter vantagens discriminatórias e concessões exclusivas. Não há ainda qualquer disposição aparente da Europa em fazer um acordo imediato e razoável sobre as reparações contra a Alemanha ou adotar políticas que liberem a Alemanha e a Áustria para as necessárias contribuições à reabilitação econômica da Europa.” [23]
Além do mais, continuou Houston, a proposta de cancelamento “não envolve sacrifícios mútuos por parte das nações envolvidas; ela simplesmente envolve uma contribuição vinda primariamente dos Estados Unidos”. Enquanto os EUA não teriam recebido ou buscado quaisquer benefícios substanciais vindos da guerra, os Aliados “embora tenham sofrido enormemente em perdas de vidas e propriedade, sob os termos do tratado de paz e de outras formas, adquiriram consideráveis porções de território, populações, vantagens econômicas e de outros tipos. Parece que, portanto, se tudo fosse contabilizado não haveria qualquer desejo ou razão para pedir ao governo deste país que continuasse a contribuir.” [24]
A Comissão de Reparações entregou seu relatório no dia 5 de maio de 1921. Fixou as reparações alemãs em 130 bilhões de marcos de ouro, cerca de US$ 33 bilhões. No que diz respeito aos Aliados, eles agora se orientariam pela extração de pagamentos da Alemanha, que então seriam usados para pagar os empréstimos feitos pelos EUA.
“Que curioso espetáculo!” Churchill observaria num discurso cerca de quatro meses depois. “As grandes nações do mundo civilizado... Todas esperando conseguir enormes somas umas das outras ou da Alemanha. De fato, você poderia dizer que a coleta de dívidas se tornou nossa principal indústria...”[25]
Uma das motivações para o estabelecimento desse sistema era a crise subjacente das finanças no pós-guerra. De acordo com um cálculo, o custo total da guerra era de US$ 260 bilhões, representando “cerca de seis e meio vezes a soma de todo o endividamento nacional acumulado no mundo desde de cerca do final do século XVIII até vésperas da Primeira Guerra Mundial”.[26]
Juntando todas as potências beligerantes, cerca de 80% do excesso de gastos em relação aos níveis dos últimos três anos de paz antes da guerra foi financiado por empréstimos. Muito disso foi financiado por créditos bancários. Esse método de financiamento foi escolhido pelos beligerantes na crença de que poderiam fazer o perdedor pagar.
A observação irônica de Churchill de que a coleta de dívidas havia se tornado “nossa principal indústria” aponta para o problema subjacente que confrontava a Europa capitalista do pós-guerra — a incapacidade em estabelecer um novo fundamento para expansão econômica.
Em sua crítica ao Tratado de Versalhes, Keynes havia apontado para a importância da economia alemã para o todo da Europa continental. Mas para a França, o crescimento econômico alemão era uma ameaça, não um benefício. A expansão econômica no continente europeu havia se tornado uma luta de todos contra todos — uma luta na qual a coleta de débitos formava uma parte componente. Parecia não haver uma saída na arena internacional.
Europa e América na crise do pós-guerra
A inviabilidade do esquema de reparações não tardou a se tornar aparente. A inflação na Alemanha, que havia escalado rapidamente durante a guerra e o período do imediato pós-guerra, começou a decolar durante 1922. Em janeiro de 1923, em retaliação ao não-pagamento de reparações pela Alemanha, forças francesas ocuparam o Ruhr, pondo em movimento uma crise política que continuaria até outubro.
Durante esse período a moeda alemã entrou em colapso de hiperinflação, causando a falência de seções inteiras das classes médias, mas beneficiando setores da indústria que foram capazes de liquidar suas dívidas. Não há duvidas de que já nos meses de verão, com o colapso do governo Cuno, derrubado por uma greve geral em Berlim, em agosto, a crise política assumia proporções revolucionárias.
O Partido Social-Democrata alemão e seus sindicatos filiados, que haviam fornecido a principal viga de sustentação à ordem capitalista no período do pós-guerra, rapidamente perdiam apoio dentro da classe trabalhadora para o Partido Comunista Alemão (KPD). Mas em nenhum estágio desse período o KPD avançou uma estratégia revolucionária pré-determinada e desenvolveu as táticas para implementá-la.
Nesse momento não nos cabe uma análise do papel do KPD. Basta dizer que seus problemas vieram de uma profunda e duradoura crise de direção que afligia o partido desde o assassinato de Rosa Luxemburgo em 1919. Os problemas do partido foram ainda mais exacerbados pelo início de um processo de degeneração política no Comintern, vinculado a crescentes ataques contra Trotsky vindos da burocracia que emergia sob a direção de Stalin.
A crise política na Alemanha chegou ao seu término em outubro, quando a liderança do KPD cancelou uma insurreição após sua proposta de uma greve geral não ter sido aceita por uma reunião de delegados sindicais e fabris em Chemnitz. A paralisia política do KPD foi depois resumida por Heinrich Brandler, dirigento do partido na época, que explicou que, embora não se opusesse às preparações para o levante de 1923, tampouco via “a situação como agudamente revolucionária.” [27]
As experiências da crise de janeiro-outubro prontificaram uma reavaliação nos círculos dirigentes, tanto na França quanto na Alemanha. A ocupação francesa do Ruhr havia sido impulsionada pelas sucessivas falhas da Alemanha em pagar reparações de guerra durante todo o ano de 1922. Mas a ocupação nada resolveu. Em vez de receber pagamentos adicionais, os franceses coletaram apenas $625.000 francos correspondentes a custos operacionais nos primeiros quatro meses de 1923, em comparação a $50 milhões no mesmo período de 1922. [28]
Para a burguesia alemã, a política de resistência passiva contra a ocupação francesa e a inflação da moeda apenas criaram uma crise política duradoura e aprofundada — com ameaças à estabilidade da ordem burguesa vindas da direita, na forma dos fascistas, e a ameaça mais séria da esquerda, na forma do KPD.
Uma virada tática foi feita por ambos os lados. O governo francês concordou com a mediação internacional para os pagamentos de reparação, de modo a alinhá-los com a capacidade da Alemanha em pagar, enquanto que as elites dominantes alemãs agiram para estabilizar a moeda e aceitar a obrigação de realizar pagamentos de reparação.
A erupção da crise de 1923 significou a exaustão das capacidades das classes dominantes europeias em organizar o restabelecimento político e econômico do continente no pós-guerra. Os antagonismos que levaram à guerra permaneceram, enquanto a turbulência econômica e política levava a confrontos com a classe trabalhadora que sustentadamente ameaçavam a estabilidade da ordem burguesa.
O período desde o armistício havia visto uma série de insurreições, não apenas na Alemanha, mas na Itália, Inglaterra e França. O levante revolucionário do pós-guerra havia sido contido, acima de tudo devido ao papel dos partidos social-democratas em fornecer apoio à burguesia para prevenir que o “bolchevismo” se espalhasse. Mas, como os acontecimentos da crise alemã de 1923 haviam demonstrado, a instabilidade política e econômica continuada tornaria a tarefa dos social-democratas incrivelmente difícil. Foi nesse ponto que uma nova potência entrou na cena da Europa pós-guerra — os Estados Unidos.
Os Estados Unidos intervieram para proteger seus próprios interesses econômicos, prevenir o espalhar da revolução social e efetivar uma reorganização do mundo em linha com seus interesses crescentemente globais. Essas motivações estavam no cerne de sua intervenção na crise das reparações de guerra.
Uma comissão foi estabelecida sob a direção de Charles Dawes, o primeiro diretor do Birô Americano de Orçamento, para considerar meios de equilibrar o orçamento alemão, estabilizando sua moeda e desenvolvendo um sistema viável de pagamentos de reparação anuais. O plano fornecia um calendário de pagamentos anuais começando em 1 bilhão de marcos de ouro no primeiro ano e atingindo 2,5 bilhões no quinto, com variações de acordo com as mudanças na situação econômica mundial e no preço do ouro. Uma Agência de Reparações deveria ser estabelecida em Berlim para supervisionar o processo e um empréstimo de 800 milhões de marcos deveria ser levantado para o governo alemão, com uma garantia fornecida por títulos das ferrovias alemãs.
O Plano Dawes e a restabilização da economia alemã viram a criação de uma nova moeda, o Reichsmark, convertido do antigo marco na razão de 1 trilhão para 1, em agosto de 1924. Sob o acordo, o Reichsbank se tornava independente do governo alemão, mantendo uma reserva de ouro e moedas estrangeiras e seguindo um regime de altas taxas de juros como base para seu programa deflacionário.
O Plano Dawes era tão necessário para a estabilidade da economia dos Estados Unidos quanto para as economias da Alemanha e do resto da Europa. O sistema de reparações sozinho, como originalmente pensado, era inviável.
O sistema de dívidas e reparações dependia de que a Alemanha e outras potências europeias fossem capazes de acumular moedas estrangeiras através de exportações. Mas os Estados Unidos não estavam inclinados a devolver os mercados ganhos de seus rivais durante a guerra, e nem estavam preparados para abrir seu mercado às exportações europeias. De fato, em 1921 os EUA subiram suas tarifas alfandegárias em antecipação a uma tentativa da Alemanha e outros exportadores europeus de aumentar sua penetração no mercado dos EUA através da depreciação de suas moedas.
Mas a economia dos EUA, tendo se tornado dependente dos mercados fornecidos pela Europa, não podia permitir que a Europa escorregasse em direção ao caos econômico. Como então suprir a Alemanha e outros países europeus endividados com dólares para pagar suas reparações e empréstimos sem comprometer a posição econômica dos EUA? O Plano Dawes parecia fornecer a resposta.
Um sistema triangular de pagamentos foi estabelecido — dos Estados Unidos para a Alemanha, da Alemanha para os Aliados, e então dos Aliados de volta para os Estados Unidos, com Wall Street na posição de principal beneficiária. Em 1926, o parlamentar do Partido Trabalhista Philip Snowden observou que os EUA receberiam $600 bilhões de dólares por ano em função das dívidas europeias. As reparações alemãs eram estimadas em $250 milhões por ano.
“Desse modo, tudo isso quer dizer que a América ficará com o todo das reparações alemãs e provavelmente uma soma adicional no mesmo valor. Esse não é um mau arranjo para um país que entrou na guerra com `Nada de indenizações, nada de ganhos materiais` grafado em suas bandeiras.`” [29]
O sistema de empréstimos e pagamentos não apenas demonstrava o caráter predatório do capital financeiro dos EUA — o Tio Sam era cada vez mais denunciado como Tio Shylock — era também, mais fundamentalmente, uma expressão da crise histórica da economia capitalista global.
O recurso às atividades financeiras — escravagismo das dívidas, especulação acionária, arbitragem financeira — é sempre uma manifestação de problemas no coração da economia capitalista, nos mecanismos para a acumulação de mais-valia. Isto é, quando o capital é incapaz de extrair mais-valia numa taxa suficiente para aumentar, ou ao menos manter, a taxa média de lucro, ele tenta superar esse problema através de métodos puramente financeiros, sem precisar assumir as árduas e complexas tarefas associadas com a produção industrial. E assim foi nesse caso.
O Plano Dawes, que procurava estabilizar a economia alemã, e mais generalizadamente a economia européia, abria o caminho para uma corrida do capital dos EUA para a Europa. Concomitantemente, outra pré-condição para esse processo foi estabelecida — o retorno do padrão ouro e a instituição de políticas deflacionárias para assegurar a estabilidade monetária. No caso da Alemanha, a deflação era necessária para atrair fundos dos EUA. Na Inglaterra, o impulso pelo retorno ao padrão ouro veio da cidade de Londres, onde foi reconhecido como essencial se a cidade deveria ter qualquer chance de manter sua posição no sistema financeiro global em face do desafio vindo de Nova Iorque.
Um memorando do Banco da Inglaterra para o chanceler do tesouro no início da década de 1920 declarava: “A primeira e mais urgente tarefa diante do País é retornar ao padrão ouro pelo descarte desta depreciação específica da moeda. Esse fim somente pode ser alcançado por uma reversão do processo pelo qual a depreciação específica foi produzida, a criação artificial de moeda e crédito, e para tanto o instrumento apropriado é a taxa de juros. O processo de deflação dos preços que pode ser esperado em seguida ao barrar da expansão do crédito deve necessariamente ser doloroso para algumas classes da comunidade, mas isso é inevitável.” [30]
O empréstimo do Plano Dawes, que teve $110 milhões de seu total levantados em Nova Iorque, foi a fagulha que pôs em movimento um fluxo financeiro vindo dos EUA. Os bancos e casas de investimento de Nova Iorque não mais esperariam que os aplicadores viessem até eles. Eles saíam com planos e propostas de empréstimos de uma maneira que não seria vista novamente até a “reciclagem” de petrodólares árabes na década de 1970.
A moeda estável e as altas taxas de juros na Alemanha encorajavam a compra de títulos do país. Entre 1924 e 1930 essas compras totalizaram $2,6 bilhões, com investidores americanos embolsando mais de 60 por cento. Em 1930, a Alemanha tinha uma dívida de 26 bilhões de Reichmarks, em relação a uma renda nacional de cerca de 75 bilhões de Reichmarks por ano. Ao mesmo tempo, os empréstimos alemães se tornaram uma parte importante do sistema financeiro dos EUA. Durante esse período, 20 por cento do mercado de capitais americano consistia na venda de títulos estrangeiros.
O Plano Dawes e a restabilização da Europa através da intervenção dos EUA levantavam questões fundamentais de perspectiva que Trotsky passou a elaborar.
A estratégia que guiara os bolcheviques durante a Revolução Russa partia de que a Guerra Mundial significava que o capitalismo havia exaurido seu papel historicamente progressista e que isso colocava a necessidade objetiva da transformação socialista. A tarefa não era construir o socialismo em um só país — a utopia reacionária mais tarde lançada por Stalin — mas a transformação socialista do planeta. A Revolução Russa era portanto um passo nessa direção.
Mas enquanto a primeira onda revolucionária retrocedia e a burguesia, não sem considerável dificuldade, conseguia se segurar ao poder e efetivar uma certa restabilização política e econômica, a questão surgia: a conquista do poder político na Rússia foi prematura? O capitalismo havia mesmo se exaurido?
Abordando essas questões num discurso feito em 1926, Trotsky explicou: “Se no final das contas o capitalismo se mostrasse capaz de exercer uma missão histórica progressista, de aumentar a riqueza dos povos, de tornar o trabalho mais produtivo, isso significaria que nós, o Partido Comunista da URSS, fomos prematuros em cantar sua de profundis; em outras palavras, significaria que nós tomamos o poder cedo demais para tentar construir o socialismo. Porque, como Marx explicou, nenhum sistema social desaparece antes de exaurir todas as suas possibilidades latentes. Confrontados com a nova situação econômica que se desdobra diante de nós no presente, com a ascendência da América sobre toda a humanidade capitalista e a virada radical na correlação das forças econômicas, nós precisamos novamente colocar a questão: o capitalismo está superado ou tem ainda diante de si mesmo uma perspectiva de tarefas progressistas?”
Para a Europa, Trotsky continuou, essa pergunta fora respondida no negativo. A guerra fora o resultado de uma revolta das forças produtivas contra o confinamento do sistema do Estado-nação. Mas o resultado da guerra foi uma situação “dez vez pior do que antes”—barreiras tarifárias ainda mais rígidas, mais fronteiras, mais exércitos numerosos, insolvência aumentada junto com mercados mais restritos. A América, porém, passava por um desenvolvimento dinâmico, enquanto na Ásia e na África o capitalismo havia dado apenas os seus primeiros passos importantes.
“A conclusão parece ser a seguinte: o capitalismo foi superado na Europa; na América ainda avança as forças produtivas, enquanto na Ásia e África tem diante de si um vasto campo virgem de atividade para muitas décadas senão séculos. Será mesmo este o caso? Se assim fosse ... isso significaria que o capitalismo ainda não exauriu sua missão em escala mundial.
“Mas vivemos sob condições de uma economia mundial. E é apenas isso o que determina o destino do capitalismo—para todos os continentes. O capitalismo não pode ter um desenvolvimento isolado na Ásia, independente do que acontece na Europa ou na América. A época de processos econômicos provinciais está muito aquém da memória. O capitalismo americano é muito mais forte do que o capitalismo europeu; pode olhar para o futuro com confiança muito maior. Mas o capitalismo americano não mais basta a si próprio. Não pode se manter sobre um equilíbrio interno. Precisa de um equilíbrio global. A Europa depende mais e mais da América, mas isso também significa que a América está cada vez mais dependente da Europa.” [31]
Dinâmica de uma crise sistêmica
A economia global do pós-guerra sofria de uma profunda crise estrutural. O capitalismo dos EUA passava por um rápido desenvolvimento, mas ao mesmo tempo se tornava cada vez mais dependente do capitalismo europeu, que havia começado a retroceder não apenas relativamente, mas em alguns casos absolutamente. Essa contradição se aprofundaria através da década de 1920, apesar da recuperação do pós-guerra, e assumiria formas ainda mais explosivas ao final da década.
Houve um grande influxo de investimento estrangeiro na Alemanha desde 1924—um total de $7 bilhões ao longo de seis anos. Mas uma grande parte desse investimento foi usada para financiar fusões, em vez de possibilitar a modernização da indústria alemã.
Por um tempo, o sistema de reciclagem posto em movimento pelo Plano Dawes, onde o capital excedente de investimento fluía dos EUA para a Alemanha e então de volta para os EUA na forma de pagamentos de empréstimo, financiados pelas reparações de guerra alemãs, parecia funcionar. A Alemanha importava cerca de 28 bilhões de RM no período de 1924-1930, dos quais pagava reparações no valor de 10,3 RM. Desde que o influxo de capital continuasse, o sistema funcionava bem.
Mas em 1928-1929 o investimento Americano começou a decair, e logo veio uma retirada dos fundos de curto prazo. Embora a retirada dos fundos fosse a causa imediata da crise financeira que engoliu a Alemanha de 1929 em diante, todo o sistema financeiro era inerentemente instável. Como colocava uma análise, escrita em 1932: “Mesmo se a depressão global não houvesse começado ao final de 1929 e o empréstimo internacional não houvesse repentinamente decaído para um ponto de quase desaparecimento, era inconcebível que novos empréstimos pudessem ter continuado a exceder as crescentes parcelas de reparações e dívidas devidas aos Aliados, mais encargos de juros sobre o vasto volume de insolvência privada que já havia sido criado.” [32]
A situação financeira inerentemente instável estava enraizada em problemas fundamentais das economias alemãs e européias como um todo. Como todos os historiadores do período perceberam, a maior parte do influxo de capital para a Alemanha não foi usada para modernizar e expandir a indústria, mas foi empregada no financiamento a projetos e atividades governamentais. Isto é, os empréstimos não foram investidos em capital produtivo.
A indústria alemã, que havia sido líder global no período pré-guerra de ascenso capitalista, agora estava sendo eclipsada em meio à luta por mercados mundiais. As exportações alemãs caíram marcadamente na primeira metade da década de 1920. A recuperação econômica em geral foi lenta. Foi só em 1925 que a Europa retornou aos níveis de produção que haviam sido obtidos em 1913. Foi calculado que se a economia européia tivesse continuado a crescer segundo sua taxa de crescimento do pré-guerra, os níveis de produção obtidos em 1929 teriam sido alcançados em 1921. Era essa a profundidade do declínio geral da economia européia.
Na Alemanha de 1928, o produto doméstico líquido havia subido para exatamente 103 por cento de seu nível em 1913. As exportações, porém, ainda estavam em 86% dos valores de 1913. No período de 1910-1913, a taxa de exportações para renda nacional era de 17,5%. Nos anos de 1924-1928 ela caiu para 14,9%. [33]
Conforme a Alemanha e outras potências européias decaíam, os Estados Unidos eram erguidos. Já em 1923 os EUA haviam se tornado o maior exportador mundial e o segundo maior importador. Entre 1926 e 1929 sua parcela da produção industrial mundial era de 42,2%, comparado com 35,8% em 1913. A importância de seus fluxos de investimento para a estabilidade da economia européia e mundial pode ser medida a partir das estatísticas seguintes. Entre 1919 e 1929 as posses americanas de investimentos de longo-prazo aumentaram em $9 bilhões. Em 1929 os investimentos americanos eram dois terços de todos os novos investimentos no mundo. As posses de investimentos estrangeiros pelos EUA subiram para $15,4 bilhões, dos quais $7,8 bilhões eram investimentos de portfólio e $7,6 bilhões eram investimentos diretos.
O segredo da expansão dos EUA não era difícil de discernir. Se encontrava nos novos métodos produtivos da indústria americana que, com o desenvolvimento do sistema de linha de montagem, haviam trazido um vasto aumento da produtividade do trabalho e na extração da mais-valia.
A estabilização financeira que se seguiu ao Plano Dawes e o ambiente deflacionário que ela criou impulsionaram uma intensa discussão nos círculos políticos, acadêmicos e industriais alemães sobre a necessidade da racionalização e modernização da indústria alemã. Não mais era possível acumular lucros simplesmente através do processo da inflação. Agora a estrada para lucros aumentados estava na maior produtividade, racionalização e redução de custos.
Em seu valoroso estudo desse processo, a historiadora Mary Nolan resume o impacto da indústria americana da seguinte forma: “Era a terra industrial da América que fascinava os alemães, ou a terra da segunda revolução industrial do ferro, aço e fabricação de máquinas. Essa era `a tecnologia de plataformas móveis e engrenagens,` um mundo de contínua produção e partes componentes, absurda produtividade, e um processo de trabalho subdividido aos minutos. Seus símbolos mais visíveis eram as fábricas da Ford Highland Park e River Rouge e o Modelo T, mas também incluíam as vastas plantas de ferro e aço que se estendiam da Pensilvânia ocidental, através de Ohio e Indiana, para dentro de Chicago. Essa era a contraparte bem-sucedida do setor de indústria pesada alemão; grande, intensivo em trabalho e tomado pela crise, que estava ao centro do movimento de racionalização em Weimar....
“O colossal tamanho das plantas Highland Park e River Rouge da Ford impressionavam os visitantes alemães. Highland Park, que abriu em 1910-1911 e introduziu a linha de montagem em 1912-1913, abarcava mais de 50 acres e empregava mais de 68.000 trabalhadores em 1924. E essa era a velha planta da Ford! River Rouge, cuja construção começou em 1916 e foi completada uma década depois, possuía 160 acres de espaço ao longo de mais de 93 prédios. Tinha 27 milhas de esteiras e 75.000 empregados... Ainda mais impressionante para os visitantes alemães do que a escala da produção era seu caráter inovador. Na Ford tudo era subordinado ao princípio da produção eficiente e barata de um produto padrão, em vez de uma multiplicidade de diferentes mercadorias. Partes individuais eram simplificadas e padronizadas num grau que causava inveja aos alemães, que viam as normas como o pré-requisito essencial da padronização com sucesso em seu país. Em vez de máquinas universais que podiam realizar muitas tarefas, as fábricas da Ford eram preenchidas com máquinas especializadas, talhadas para a produção de uma parte padronizada em particular e servidas por trabalhadores que realizavam apenas uma tarefa.” [34]
Os líderes sindicais e social-democratas não estavam menos entusiasmados quanto à introdução dos métodos americanos. Eles saudaram os métodos da Ford como criadores da possibilidade de reformar o capitalismo e resolver a questão social. Em setembro de 1925 a Confederação Geral de Sindicatos Alemães (ADGB) enviou uma delegação de 14 para os Estados Unidos, produzindo um relatório, assinado por quatro dos delegados, saudando o novo sistema como provedor da possibilidade de reestruturação do capitalismo segundo os interesses da classe trabalhadora. O relatório afirmava que “o problema central da economia européia é e continuará sendo o aumento do poder de compra das massas.... Assim está completamente claro que a luta sindical para aumento dos salários não é somente uma necessidade social mas também uma tarefa de cuja realização a continuação do desenvolvimento de toda a economia depende.” [35]
Essa avaliação era baseada em uma absoluta má-leitura do novo sistema de produção, em linha com o pensamento do próprio Henry Ford, que algumas vezes afirmou que o pagamento de salários mais altos criava o mercado de massa para carros e outros bens de consumo. De fato, a essência do novo sistema não era que pagava salários mais altos, mas que extraía lucros maiores, fornecendo a base para novos investimentos e maior expansão econômica.
Apesar do grande entusiasmo pelos métodos americanos, o fordismo, como passava a ser conhecido, não criou raízes na Alemanha. A razão se encontra nas profundas diferenças entre a situação do capitalismo americano e aquela do alemão.
O sistema Americano de produção era o resultado de uma verdadeira segunda revolução industrial que tinha suas origens nos anos seguintes à Guerra Civil. A consolidação da União, através da vitória da burguesia industrial do norte, e a criação de um mercado nacional estabeleceram o quadro para o sistema de produção em massa que se desenvolveria nas próximas cinco décadas, culminando no desenvolvimento da linha de montagem na indústria automobilística e na produção de bens de consumo em massa. Os lucros vinham dos métodos de produção intensivos em capital nos quais a escala das economias permitia a redução dos custos.
O capitalismo Americano foi capaz de se espalhar por todo um continente, com um vasto mercado interno criado através do desenvolvimento do sistema de ferrovias e um sistema comum de leis. O capitalismo alemão não pôde seguir esse caminho. Em todas as direções era contido pelas barreiras e fronteiras do sistema de Estado-nação europeu—um sistema de constrições que pioraram após o Tratado de Versalhes. Enquanto na América a concentração de capital se deu através do estabelecimento de companhias de grande tamanho, produzindo a baixo custo, na Alemanha e Europa em geral as restrições do mercado levaram à formação de cartéis, através dos quais os lucros eram extraídos pela restrição da produção e pela manutenção de altos preços.
O movimento de cartel alemão havia começado na década de 1890 precedido por uma rápida expansão industrial nos 20 anos anteriores, e foi uma faceta de todas as seções da indústria na década de 1920. No ínterim, as constrições sobre o mercado haviam se tornado ainda mais severas.
A industrialização germânica recebeu seu ímpeto inicial da Zollverein na década de 1830, levando eventualmente à unificação dos estados alemães sob Bismarck. Mas agora, mesmo uma união aduaneira com a Áustria estava banida pelo Tratado de Versalhes, para que uma economia alemã expandida não fosse capaz de trazer para sua órbita as economias da Europa do leste e do sudeste, enfraquecendo a posição da França.
Essas restrições impunham que o movimento de modernização alemão dos anos de 1920 era baseado em fusões e formação de cartéis, em combinação com a racionalização da força de trabalho em vez da expansão da produção. Em vez do desenvolvimento da produção em massa para um mercado em expansão, a modernização alemã envolvia maior cartelização, restrição da produção e manutenção de custos mais altos.
Enquanto a racionalização alemã envolvia o fechamento das fábricas mais ineficientes e a reestruturação de outras, ela nunca significou a “nova revolução industrial” que era saudada por alguns observadores. “A realidade da reestruturação industrial alemã era mais limitada, contraditória, e, para todos os envolvidos, insatisfatória do que tais declarações arrebatadoras implicavam. Entre a crise da estabilização e a depressão econômica mundial, apenas alguns anos e um capital relativamente limitado estavam disponíveis para modernizar a economia de Weimar, e as ações práticas não podiam se equiparar ao constante fluxo de palavras sobre a racionalização. As transformações dentro de um dado ramo da indústria eram altamente desiguais, e muitos projetos ambiciosos e de longo prazo para modernização diminuíram de ritmo ou pararam completamente quando a crise econômica começou em 1929.” [36]
Existe uma vasta diferença entre a racionalização desenvolvida com base em métodos existentes de produção e o desenvolvimento de novos sistemas e processos. A racionalização com base num sistema existente, através de maior exploração e cortes na força de trabalho, aumenta a produtividade do trabalho e melhora a posição de lucro da firma individual pela redução dos custos. Mas não leva a uma expansão na massa total de mais-valia ao longo da economia.
A significação do sistema americano era que trazia de fato tal expansão, e não através de práticas restritivas e aumento dos preços, mas através da produção em massa a custo menor. Na Europa, as constrições do sistema do Estado-nação tornaram tais métodos impossíveis na década de 1920. Conseqüentemente, os negócios procuraram manter seus lucros através de restrições produtivas que mantinham os preços no alto, de modo que o processo de racionalização na Europa era “apenas a simulação do despertar da visão produtiva americana conforme originalmente concebida.” [37]
O influxo de empréstimos dos Estados Unidos permitiu, porém, que a economia européia crescesse significativamente na segunda metade da década de 1920. Tomando os níveis de 1920 como a base 100, a produção industrial européia havia crescido para 123,1 em 1929, e a agrícola para 122,2. Mas o crescimento nunca foi auto-sustentado. O desemprego na Alemanha caiu para 7% em 1925, subiu para 18% em 1926, e então caiu para 8% e 9% até os meses finais de 1928, novamente aumentando sem paradas até a primavera de 1933.
A inundação de capital na Alemanha no despertar do Plano Dawes não trouxe uma reestruturação da economia alemã, mas tornou-a mais vulnerável aos fluxos de capital americanos, sob condições onde esses fluxos se tornavam cada vez mais instáveis. Com o começo do boom do mercado de ações, o capital de investimento, que se tornava cada vez mais de curto prazo em sua natureza, olhou para os mercados domésticos em busca de retornos rápidos. Em 1927 houve um declínio acentuado nos níveis de investimento estrangeiro no leste europeu, e no ano seguinte o influxo de capital para a Alemanha caiu também. Nos anos de 1927 e 1928, o influxo de investimento para a Europa era de $1,7 bilhões; em 1929 caiu para $1 bilhão. Isso numa época onde os crescentes influxos eram necessários para cobrir os pagamentos de juros de empréstimos passados.
Nenhuma das contradições da economia capitalista européia e do sistema de Estado-nação, que haviam erguido a guerra, havia sido superada. Em vez disso, elas tinham se intensificado. Havia tendências deflacionárias tanto nos países industriais quanto nos produtores de bens primários, capacidade em excesso em todas as seções da indústria, tarifas aumentadas e problemas financeiros vindos das reparações de guerra e dívidas, pareados com sistemas bancários cada vez mais instáveis.
Todos esses problemas eram exacerbados conforme a orgia de especulação em Wall Street levava à seca do influxo financeiro para a Europa. Quando o mercado de ações entrou em colapso em 1929, isso não foi tanto a causa da Grande Depressão quanto o cataclisma que pôs a catástrofe em movimento.
O Plano Dawes trouxe uma certa estabilização do capitalismo europeu e mundial. Mas não estabeleceu um novo equilíbrio. Para retornar ao quadro da análise de Trotsky no Terceiro Congresso, não criou as condições para um Nov ascenso na curva do desenvolvimento capitalista.
O que teria sido necessário para que isso acontecesse? Acima de tudo, o desenvolvimento e espalhamento de novos métodos de produção que pudessem avançar a acumulação de mais-valia e restaurar a taxa de lucro. Nomeadamente, os métodos que haviam sido desenvolvidos nos Estados Unidos.
Porém, isso não era suficiente. O capitalismo americano não podia mais avançar com base em um único continente. Sua expansão continuada estava vinculada com o crescimento da economia mundial, e, acima de tudo, da economia européia. Pois, como Marx colocara: “A mais-valia criada em um certo ponto requer a criação de mais-valia em outro ponto, pela qual ela pode ser trocada...” [38] O desenvolvimento de métodos mais produtivos na Europa, porém, era bloqueado pelas constrições do sistema do Estado-nação. Em outras palavras, as contradições que levaram à guerra não haviam sido superadas mas assumiam formas ainda mais malignas.
A revolução socialista não se espalhou depois da conquista vitoriosa do poder em outubro de 1917, e por isso a humanidade pagaria um preço terrível. A razão para o isolamento da URSS não está na força objetiva da economia capitalista, como Harding mantém, mas no papel exercido pelas lideranças social-democratas da classe trabalhadora. Consideremos as posições de Harding desse ponto de vista.
A erupção da guerra havia exposto uma crise excruciante no movimento operário—os partidos e organizações que a classe trabalhadora havia construído num período anterior para organizar sua luta contra o capitalismo, e transformar a própria sociedade, haviam eles mesmos se tornado o mecanismo central através do qual a classe trabalhadora estava acorrentada à ordem capitalista em decadência. Como esse problema poderia ser resolvido?
Suponhamos que os bolcheviques houvessem renunciado à luta pelo poder na Rússia. O resultado teria certamente sido algum tipo de regime militar-fascista. Embora várias possibilidades estivessem contidas na situação, a variante que pode definitivamente ser descartada é a do estabelecimento de algum tipo de democracia burguesa. De fato, os democratas burgueses, e seus apoiadores, os mencheviques e social-revolucionários, haviam tomado as rédeas do poder no período de fevereiro-maio. Dentro de alguns meses, tendo se provado incapazes de atender às exigências do movimento revolucionário, eles estavam abrindo as portas para a imposição da ditadura militar.
Era essa a situação na Rússia. O quadro internacional mostra as mesmas tendências. Se os bolcheviques não houvessem tomado o poder, então o controle da social-democracia teria se fortalecido. Os elementos revolucionários que buscavam um caminho para adiante após as traições dos líderes social-democratas teriam sido segurados para trás. Essa situação teria levado à formas ditatoriais de poder.
Se pode ser dito que os bolcheviques “apostaram” no espalhar da revolução socialista, então a social-democracia definitivamente apostou na manutenção da democracia burguesa e no retorno às condições pré-guerra de crescimento e expansão capitalista, o que teria permitido que buscassem um programa de reforma social. Mas a democracia burguesa provou não ter maior força no resto da Europa do que tinha na Rússia—fora da Rússia sua decomposição apenas demorou mais. E em vez de experimentar um novo ascenso, o capitalismo mundial mergulhou na maior crise econômica já vista.
Na Alemanha, não havia advogado mais fervoroso da democracia burguesa do que o Partido Social-Democrata (SPD). Eles até mobilizaram as forças armadas do Estado para caçar seus oponentes na esquerda. O SPD, no governo ou fora dele, era a fundação de todo regime parlamentar durante o período da República de Weimar. E mesmo depois que o SPD foi incerimoniosamente removido do governo na Prússia durante o golpe de 20 de julho de 1932, ele demonstrou sua lealdade inabalável ao Estado se submetendo às objeções da Corte Constitucional.
Os social-democratas apostaram na democracia burguesa e na estabilidade do capitalismo. O resultado de sua aposta foi ditadura militar e fascismo por toda a Europa. Sua aposta falhou precisamente porque as contradições objetivas da economia capitalista mundial, cuja existência havia sido reconhecida e servido de base para as práticas efetivas dos bolcheviques, se aprofundaram e intensificaram.
Notas:
[1] Leninism (1996), p. 115.
[2] Ibid, p. 111.
[3] Ibid, p. 112.
[4] See Lloyd C. Gardner, Safe for Democracy, p. 161.
[5] See George F. Kennan, Russia Leaves the War (Princeton, Princeton University Press, 1989) p. 249.
[6] Cited in Arno Mayer, Politics and Diplomacy of Peacemaking (New York, Alfred A. Knopf, 1967), p. 8.
[7] Cited in William Appleman Williams, The Tragedy of American Diplomacy, pp. 113-114.
[8] Mayer, op. cit., p. 10.
[9] Cited in John M. Thompson, Russia, Bolshevism and the Versailles Peace (Princeton, Princeton University Press, 1966), p. 14.
[10] Cited in E. H. Carr, The Bolshevik Revolution, 1917-1923, Vol. 3, pp. 135-136.
[11] Mayer, op. cit., pp. 800-801.
[12] Joseph Schumpeter, Capitalism, Socialism and Democracy (London, Allen and Unwin, 1976), p. 44.
[13] Leon Trotsky, First Five Years of the Comintern, Volume 1, pp. 252-253.
[14] Trotsky, op. cit., pp. 253-254. [15] Leon Trotsky, First Five Years of the Comintern, Volume 2, p. 81.
[16] Leon Trotsky, First Five Years of the Comintern, Volume 1, p. 263.
[17] Leon Trotsky, First Five Years of the Comintern, Volume 2, p. 61.
[18] Leon Trotsky, First Five Years of the Comintern, Volume 2, p. 306.
[19] Aldcroft, Studies in the Interwar European Economy, p. 1.
[20] William Keylor, The Twentieth Century World, pp. 96-97.
[21] Harold Moulton and Leo Pasvolsky, War Debts and Reparations, p. 61.
[22] Moulton, op. cit., p. 63.
[23] Ibid, p. 63.
[24] Ibid, p. 64.
[25] Cited in David Felix, Walther Rathenau and the Weimar Republic pp. 110-111.
[26] See Paul Kennedy, Rise and Fall of the Great Powers (New York, 1989), p. 279.
[27] Veja Isaac Deutscher, Marxism, Wars and Revolutions (Londres, Verso, 1984), p. 162.
[28] Kindelberger, The World in Depression 1929-1939, (Harmondsworth, Penguin, 1986), p. 21.
[29] Michael Hudson, Super Imperialism, p. 14.
[30] Citado em Feinstein, et. al., The European Economy Between the Wars (Oxford, Oxford University Press, 1997), p. 46.
[31] Trotsky, Europe and America (Nova Iorque, Pathfinder, 1970), pp. 57-59.
[32] Moulton, op. cit., p. 91.
[33] Veja Gilbert Ziebura, World Economy and World Politics (Nova Iorque, Berg, 1990), p. 69.
[34] Veja Mary Nolan, Visions of Modernity (Oxford, Oxford University Press, 1994), pp. 27-36.
[35] Nolan, op. cit., pp. 67-68.
[36] Nolan, op. cit., p. 132.
[37] Charles. S. Maier, In Search of Stability (Cambridge, Cambridge University Press, 1987), p. 51.
[38] Marx, The Grundrisse, p. 407.