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Trabalhadores brasileiros realizam greves e protestos contra a propagação da COVID-19 e a crise social

Publicado originalmente em 20 de abril de 2021

Trabalhadores têm feito greves e protestos em todo o Brasil contra a propagação assassina e descontrolada da pandemia da COVID-19 e a consequente crise social, que levou dezenas de milhões de pessoas à pobreza.

Às longas greves dos professores em São Paulo contra a mortífera reabertura de escolas juntam-se um número crescente de paralisações de motoristas de ônibus, petroleiros, ferroviários, trabalhadores de aplicativos de entrega e outros setores, enquanto o Brasil registra quase 14 milhões de infecções e impressionantes 375.000 mortes pelo coronavírus.

Os motoristas de ônibus têm feito paralisações em várias capitais estaduais. Enquanto a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística (CNTTL) tem buscado isolar estas lutas, ela foi forçada a chamar para terça-feira uma "greve sanitária" em todo o país.

Entregadores de aplicativos protestam por pagamentos e condições de trabalho melhores em São Paulo, em 16 de Abril. (Twitter)

Enquanto isso, cerca de 1.700 trabalhadores da Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar) no estado do Paraná, entraram em greve em 12 de abril contra um plano para trazer 2.000 trabalhadores de todo o país para serviços de manutenção não essenciais. Uma operação similar em março na Refinaria Gabriel Passos (Regap), no estado de Minas Gerais, resultou em um surto de coronavírus que provocou pelo menos 200 infecções e cinco mortes. Um estudo do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) previu que, dadas as atuais taxas de infecção do Brasil, o envio de 2.000 trabalhadores para a Repar provocaria um surto que resultaria em pelo menos uma morte adicional por dia na cidade de Araucária.

Ontem, diante de um surto de infecções em plataformas costeiras lotadas, o Sindicato dos Petroleiros do Litoral Paulista (Sindipetro-LP) convocou um "estado de greve e assembleia permanente", evitando uma paralisação completa das plataformas. A ação foi desencadeada por planos de mudança nas escalas da Petrobras, que está introduzindo aumentos de carga de trabalho sob o pretexto de reduzir as infecções. As operações petrolíferas na costa de São Paulo empregam 900 trabalhadores e têm a capacidade de extrair mais de 1,3 milhões de barris de petróleo por dia.

O aumento da militância alimentado pelo impacto combinado das mortes por COVID-19 e pela crise social também colocou em ação os trabalhadores de aplicativos de entregas empregados por gigantes tecnológicos como iFood e Uber Eats. Na última sexta-feira, milhares de entregadores fizeram uma paralisação e percorreram as ruas de São Paulo, sendo recebidos com aplausos por caminhoneiros e trabalhadores da saúde nas principais vias da cidade.

Motoristas de ônibus do ABC paulista em manifestação contra as altas taxas de casos e mortes por COVID-19 (Crédito: Sintetra)

Por sua vez, metalúrgicos realizaram uma semana de greve contra o fechamento da fábrica da LG em Taubaté, no Vale do Paraíba, o corredor industrial que liga as duas principais cidades do país, São Paulo e Rio de Janeiro. Os trabalhadores da LG voltaram ao trabalho depois que o SINDIMETAL anunciou a retomada das negociações com a empresa. Como parte de planos de reestruturação globais, a LG anunciou que cessará a produção de monitores na planta, resultando na demissão de 700 dos 1.000 trabalhadores da fábrica. Os trabalhadores dos produtores terceirizados de componentes da região, que empregam 430 pessoas, estão em greve contra o encerramento da produção na LG desde 6 de abril.

A greve nacional dos trabalhadores de transporte e logística sucede uma semana de manifestações e paralisações dos motoristas de ônibus nas entradas de turno em algumas das maiores cidades do Brasil. Os ônibus deixaram de circular em diferentes dias na capital federal Brasília, a terceira maior cidade do país; Salvador, Bahia, a quarta maior; Recife, Pernambuco, a nona maior e São Luís-Maranhão, a 15ª maior. Os ônibus também foram parados em Vitória, capital do estado do Espírito Santo. Na segunda-feira, começou uma greve por tempo indeterminado no metrô de Brasília.

Na terça, estavam previstas manifestações em 14 estados, que pela primeira vez incluiriam a paralisação dos serviços ferroviários em São Paulo, o maior sistema de transporte público do país, assim como em Porto Alegre. Motoristas e cobradores de ônibus, fariam uma paralisação de 24 horas em todas as principais regiões do estado de São Paulo, incluindo o Vale do Paraíba e outros centros industriais como Sorocaba, Jundiaí e Guarulhos, cobrindo mais de 80% da população do estado de 44 milhões de habitantes.

A militância dos trabalhadores dos transportes é uma resposta direta à política de imunidade de rebanho adotada pela classe dominante brasileira e todos os seus representantes, desde o presidente fascistóide Jair Bolsonaro, até os governadores de estados da dita oposição política liderada pelo Partido dos Trabalhadores (PT).

Trabalhadores da LG votam por greve contra o fechamento da planta de Taubaté (Twitter)

O excesso de mortes entre os motoristas de ônibus em todo o Brasil no último ano é de 62%, segundo um estudo encomendado pelo El País com base no Novo Cadastro Geral de Empregados (Novo Caged). Isto é o triplo da média nacional de 22%. Ambos os números são baseados nas mortes registradas em 2020, e ainda não incorporaram o terrível número de mortes da última onda da COVID-19, que viu as mortes diárias aumentarem para 3.000, triplicando o número registrado durante o pico da primeira onda em meados de 2020. Estes números também não dão nenhuma ideia de quantos familiares de trabalhadores dos transportes foram vítimas das infecções que eles trouxeram de seus empregos para casa.

Os números em São Paulo expõem esta realidade de forma ainda mais acentuada. Na região da Grande Sorocaba, a quarta maior região metropolitana do estado, com mais de um milhão de habitantes, chocantes 10% dos motoristas de ônibus já perderam suas vidas para a COVID-19. Apesar de toda a propaganda afirmando que o estado estava mantendo apenas "serviços essenciais" abertos, só na cidade de São Paulo o transporte público registrou 3 bilhões de viagens durante a pandemia - mais de 1,6 bilhões em ônibus, e 1,4 bilhões no sistema ferroviário. No metrô, 22 trabalhadores já morreram e 1.500 dos 8.000 trabalhadores já foram infectados. No sistema de trens da CPTM, ainda mais congestionado, 50 dos 8.000 ferroviários morreram, assim como 131 motoristas de ônibus.

Os trabalhadores dos transportes também foram atingidos com mais de 50.000 demissões durante a pandemia, já que as empresas de transporte aproveitaram a propaganda do governo sobre uma vasta redução na circulação, resultante das restrições para conter a pandemia, para reestruturar as operações e reduzir o número de ônibus e trens.

A greve dos transportes em São Paulo foi convocada ao mesmo tempo em que o governo estadual anunciava a reabertura das vendas presenciais no varejo após o encerramento da chamada "fase emergencial," que viu os leitos de UTI do estado reduzirem sua ocupação para pouco menos de 90% pela primeira vez em um mês. A mudança veio depois que a Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce) anunciou que as lojas despediriam 60.000 trabalhadores na cidade se o varejo fosse mantido fechado por mais uma semana. Isso representaria 1% dos trabalhadores da cidade jogados nas ruas do dia para a noite. O estado está registrando atualmente mais de 820 mortes por dia.

As mortes em massa foram acompanhadas de enorme miséria e de um crescimento sem precedentes na desigualdade social. Dezenas de milhões de brasileiros foram jogados na pobreza desde o início da pandemia, e o desemprego está em níveis recordes. Mais da metade da população enfrenta a insegurança alimentar. Enquanto isso, o número de bilionários brasileiros subiu no último ano de 45 para 65, enquanto sua riqueza combinada aumentou em espantosos 72%, para US$ 219 bilhões.

A onda de greves e protestos dos trabalhadores no Brasil é uma expressão da raiva e militância crescentes dos trabalhadores em relação às mesmas condições que existem em todo o mundo. Depois de um ano que viu 3 milhões de mortes por COVID-19 e imensa privação social, estão surgindo as condições para uma erupção da luta de classes em escala global.

No Brasil, como em todos os países, a classe dominante se recusa a tomar as medidas necessárias para deter as mortes e evitar a pobreza e a fome em massa, porque elas iriam colidir com seus interesses de lucro. Portanto, a batalha contra a COVID-19 não pode ser travada com sucesso fora de uma luta política contra o sistema capitalista.

Para travar esta batalha, os trabalhadores brasileiros precisam de uma nova liderança e de novas organizações de luta. Os sindicatos existentes, vinculados ao Partido dos Trabalhadores (PT) e seu programa capitalista, recusaram-se a lutar por medidas necessárias para conter a pandemia. Ao invés disso, promoveram as políticas assassinas de reabertura econômica e imunidade de rebanho, tentando isolar cada luta, enquanto exigiam apenas que aos trabalhadores que eles dizem representar fosse dada prioridade sobre outros setores da população no fornecimento extremamente escasso de vacinas.

Os trabalhadores brasileiros, incluindo motoristas de ônibus e condutores de trens, petroleiros, entregadores e professores, devem formar seus próprios comitês de base, independentes dos sindicatos pró-capitalistas, para travar uma luta unida por um fechamento real de todos os serviços não essenciais até que a propagação do vírus seja interrompida e as vacinas estejam disponíveis para todos. Eles devem exigir compensação total aos trabalhadores e pequenas empresas arruinadas para acabar com a chantagem econômica que obriga o trabalho em condições inseguras.

Estas demandas só podem ser alcançadas por meio de um ataque frontal à vasta riqueza acumulada pela elite dominante, que deve ser expropriada como parte de um programa socialista para financiar uma resposta global à pandemia baseada na saúde e nas necessidades sociais de todos.

O desenvolvimento do crescente movimento da classe trabalhadora em uma luta consciente e revolucionária pelo socialismo exige a construção de uma nova liderança revolucionária: o Comitê Internacional da Quarta Internacional e sua organização simpatizante no Brasil, o Grupo Socialista pela Igualdade.

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