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Um perfil do Grupo Volvo: Contra o que os trabalhadores em greve de New River Valley estão lutando

Publicado originalmente em 14 de junho de 2021

Quase 3.000 trabalhadores em Dublin, na Virgínia (EUA), estão entrando na segunda semana de greve contra a Volvo Trucks North America. A greve começou em 7 de junho depois de 90% dos trabalhadores rejeitarem um segundo contrato pró-empresa apoiado pelo sindicato United Auto Workers (UAW).

Na primeira semana, ficou cada vez mais evidente que os trabalhadores estavam enfrentando uma guerra em duas frentes. Por um lado, a empresa cortou os benefícios de assistência médica aos trabalhadores e suas famílias, tentou continuar a produção com fura-greves protegidos pelos soldados do estado da Virgínia, e enviou cartas de rescisão para intimidar os grevistas. Por outro lado, o UAW continuou a fazer tudo ao seu alcance para isolar os trabalhadores em greve. O sindicato não fez nada para informar os trabalhadores da indústria automotiva e de outras categorias sobre a greve. Embora o UAW tenha um fundo de greve no valor de quase 800 milhões de dólares, ele planeja manter os trabalhadores com os benefícios de fome de 275 dólares por semana.

A oposição a essa traição tem sido liderada pelo Comitê de Base dos Trabalhadores da Volvo (VWRFC), que tem insistido que os trabalhadores precisam de uma estratégia para vencer, incluindo o pagamento do salário completo pelo fundo de greve do UAW e uma luta para unificar todos os trabalhadores da Volvo. Em uma declaração de 8 de junho, o VWRFC declarou: “3. Unidade com outros trabalhadores da Volvo. A estratégia deliberada do UAW de nos separar dos outros trabalhadores da Volvo, particularmente da Volvo-Mack, termina agora. Os trabalhadores querem se unir. Se o inimigo quiser entrar em guerra contra nós, devemos estar preparados para abrir novas frentes em sua retaguarda, inclusive nas operações da Volvo em Hagerstown, Macungie e Roanoke, assim como na Suécia, França, Bélgica, Rússia, Brasil, Índia e Tailândia.”

O gigante Grupo Volvo

Para lutar por isso, é necessário ter uma visão mais clara do que os trabalhadores estão enfrentando. O Grupo Volvo, a empresa matriz da Volvo Trucks North America, é um inimigo formidável. Trata-se de uma enorme corporação multinacional com mais de 61 bilhões de dólares em ativos, operações em mais de uma dúzia de países e recursos significativos para comprar e influenciar políticos em todos os países.

A Volvo reestruturou-se nos últimos 20 anos para se tornar a segunda maior produtora de caminhões pesados do mundo. Como os trabalhadores sabem, a empresa adquiriu a Mack (uma parte da Renault Trucks) em 2001 para se expandir nos EUA. A Volvo então assumiu o controle da Nissan Diesel em 2007 para entrar na Ásia. Depois, em 2008, se tornou coproprietária da indiana Eicher e, em 2013, da empresa de caminhões pesados Dongfeng, um importante fabricante de veículos na China.

Esse agressivo desenvolvimento internacional tornou a empresa fabulosamente rica e lucrativa. A empresa teve 51 bilhões de dólares em vendas apenas em 2019, com um lucro líquido de 4,3 bilhões de dólares.

De acordo com relatórios da empresa, Martin Lundstedt, o CEO, ganhou US$ 5.272.760 em 2020 (calculado pela SEK), enquanto os trabalhadores e suas famílias sofreram com a COVID-19. Só o salário de Lundstedt seria suficiente para dar aos trabalhadores grevistas um aumento anual permanente de US$ 1.800!

Mas o dinheiro real está nas ações da empresa. A riqueza dos proprietários da Volvo quase triplicou ao longo do último ano.

Em março de 2020, o valor de mercado – o valor total da empresa – era de 22 bilhões de dólares. Em março de 2021, era de 57 bilhões de dólares! Mesmo comparando as ações com as anteriores à pandemia, os proprietários da Volvo ainda quase dobraram sua riqueza.

De fato, daqui a alguns dias, em 1º de julho de 2021, a empresa está se preparando para distribuir um enorme bônus a seus acionistas em sua Assembleia Geral. Um total de US$2.318.135.376 está sendo distribuído em dinheiro proveniente do trabalho que está sendo realizado na linha de montagem. Isso além dos US$3,68 bilhões do início do ano.

Calculamos que este total combinado de quase US$6 bilhões equivaleria a um bônus de US$116.954 para os 51.131 operários da Volvo no mundo todo, não apenas na fábrica de New River Valley.

Deve ser enfatizado que o dinheiro da Volvo não cresce em árvores. Ele vem dos trabalhadores.

Todos os dias nas linhas de montagem em todo o mundo, os grandes bancos e os fundos financeiros que controlam a Volvo usam a empresa para obter lucros dos trabalhadores. Seja na Índia ou na França, México, Canadá, Brasil ou Suécia, em todas as suas operações, os lucros da Volvo são o resultado da exploração dos trabalhadores na linha de montagem.

Bancos e sindicatos que controlam a empresa

Esse dinheiro é canalizado para os principais bancos e firmas de investimento – BlackRock, Vanguard, Industrivärden (gerente de ativos sueco), SEB, Nordea, JP Morgan, só para citar alguns – que detêm a maioria das ações da empresa.

O terceiro maior proprietário da Volvo é na verdade os sindicatos suecos, especificamente o AMF, um administrador de seguros e fundos controlado conjuntamente pela Confederação Sindical Sueca e a Confederação de Empresas Suecas. Vários anos atrás, os dirigentes deste fundo estiveram envolvidos em um escândalo relacionado aos pagamentos de enormes bônus e de pensão, ao mesmo tempo em que cortavam as pensões dadas aos trabalhadores suecos comuns.

Isso soa familiar?

Assim como os representantes do sindicato sueco lucram com a parceria com a Volvo, o UAW faz parte dos conselhos das principais empresas de caminhões e automóveis nos EUA. Por exemplo, Ray Curry, que assinou o acordo podre com a Volvo, está no conselho da Daimler AG, proprietária da Freightliner Trucks. Isso permite que os dirigentes do UAW recebam vantajosos salários de fundos controlados em conjunto com a empresa. Representantes do IF Metall e Unionen (dois dos maiores sindicatos suecos) estão no conselho de administração do Grupo Volvo, assim como na administração do fundo de pensão VFF. Esses “representantes dos trabalhadores” não disseram uma palavra sobre a greve em New River Valley e não pretendem fazer isso.

Comprando políticos

Onde quer que opere, a Volvo exerce poderosa influência sobre primeiros-ministros, presidentes, governadores. Em 10 de junho, o CEO Martin Lundstedt foi nomeado Cavaleiro da Legião de Honra na residência do embaixador francês na Suécia “por seu compromisso com a indústria na França”. Durante a cúpula da UE há quatro anos, realizada em Gotemburgo, na Suécia, Lundstedt recebeu o Primeiro-Ministro francês Emmanuel Macron, conhecido na França como o “Presidente dos Ricos”, e o Primeiro-Ministro da Suécia na sede do Grupo Volvo.

Nos Estados Unidos, a Volvo e suas afiliadas gastaram US$750.000 em 2020 para pressionar políticos e outros US$131.646 em contribuições de campanha na Virgínia, Oregon, Carolina do Norte e outros estados. A senadora republicana Shelley Moore Capito, da Virgínia Ocidental, teve 51,15% das doações de campanha eleitoral vindas da Volvo, enquanto o senador democrata Mark Warner, da Virgínia, teve 48,85% das doações vindas da empresa sueca. Isso resultou em enormes cortes de impostos e outros incentivos para suas operações em New River Valley, Hagerstown (Maryland) e em outros lugares.

A empresa tem laços muito estreitos com o governador democrata da Virgínia, Ralph Northam. Em abril passado, Northam nomeou Franky Marchand, vice-presidente e gerente geral da fábrica da Volvo Trucks em Dublin, para se juntar a sua Força-Tarefa Empresarial contra a COVID-19. O objetivo da força-tarefa era aconselhar o governador sobre como aliviar as restrições às empresas, pois a pandemia mortal estava se espalhando pelos locais de trabalho e greves selvagens de trabalhadores em Michigan, Ohio e outros estados, desafiando o UAW, forçaram o fechamento de plantas de automóveis, caminhões e outras fábricas.

Os gastos por estudante na Virgínia caíram 8% desde 2008 e o corte no orçamento por Northam tem provocado repetidas greves e protestos nos últimos anos em Richmond, a capital do estado, por parte de educadores, cujos salários estão muito abaixo da média nacional. Isso não impediu que o governador concedesse à empresa US$16,5 milhões em subsídios, juntamente com outros incentivos do Programa Zona Empresarial da Virgínia, quando a Volvo anunciou a expansão da fábrica de New River Valley em 2019. Na época, o governador gabou-se de que a Volvo era a “base desta comunidade” que “tem impulsionado a economia regional”.

Northam está agora protegendo os interesses da Volvo, enviando soldados do estado da Virgínia, à custa dos contribuintes, para escoltar fura-greves pelos piquetes dos trabalhadores da Volvo.

Os aliados dos trabalhadores

A Volvo e seus concorrentes internacionais como a Daimler há muito usam a globalização da produção para colocar os trabalhadores de todo o mundo uns contra os outros. O UAW e outros sindicatos, que se baseiam em uma perspectiva nacionalista completamente ultrapassada, são incapazes de responder à globalização de forma progressista e, em vez disso, têm procurado se juntar aos esforços das corporações para dividir e enfraquecer a classe trabalhadora.

Mas a integração global da produção criou condições sem precedentes para travar uma luta global para defender os empregos, os padrões de vida e as condições de trabalho de todos os trabalhadores, não importando de que país sejam.

Como o World Socialist Web Site afirmou:

Os trabalhadores da Volvo em Dublin, na Virgínia, estão bem cientes do fato de que a corporação, com sede em Gotemburgo, na Suécia, emprega quase 100.000 trabalhadores em fábricas localizadas em 18 países diferentes, abrangendo todos os continentes. Muitas dessas instalações são interdependentes, exigindo um fluxo de produtos de uma fábrica para outra. Ao contrário das afirmações da burocracia de que a resistência às corporações é inútil, os trabalhadores percebem que seu potencial poder, se organizado e mobilizado globalmente, é imenso.

Se os trabalhadores de New River Valley querem combater esta máquina gigantesca, eles não podem fazer isso sozinhos. A vantagem de lutar contra uma corporação multinacional é que há muitos outros trabalhadores que estão enfrentando a mesma situação em outras partes do globo.

A seguir encontra-se uma lista dos principais centros das principais operações do Grupo Volvo em todo o mundo. Os trabalhadores não podem lutar de forma isolada. A empresa dirige uma operação global; os trabalhadores devem levar adiante uma greve global.

Além de alcançar seus colegas de trabalho na Pensilvânia, Maryland e outros estados, os trabalhadores devem estabelecer meios de comunicação com seus companheiros na Europa, onde dezenas de milhares de trabalhadores estão na linha de montagem todos os dias. Da mesma forma, isso deve acontecer na Índia, uma importante ligação para o mercado asiático. Neste momento, a maioria desses trabalhadores em outros países não sabe sobre a greve – a empresa, o UAW e os sindicatos em outros países estão completamente em silêncio. É preciso que o maior número possível de trabalhadores saiba da greve, muitos deles que podem se tornar aliados.

América do Norte (todos os centros)

  • Lehigh Valley Mack Trucks, Macungie, Pensilvânia: 2.100 funcionários
  • Hagerstown, Maryland: 1.700 funcionários
  • Centro de Remanufatura de Middletown, Pensilvânia
  • Equipamentos de Construção Volvo, Shippensburg, Pensilvânia: 800 funcionários
  • Nova Bus (1.500 trabalhadores): Plattsburgh, NY; Saint-Eustache, Québec (Canadá); Saint-Francois-du-Lac, Québec
  • Grupo Volvo México, Cidade do México: 1.300 funcionários
  • Volvo Penta, Lexington, Tennessee: 130 funcionários
  • Centro de Distribuição da Volvo, Byhalia, Mississippi: 500 funcionários

Europa (grandes centros)

  • Fábrica de Tuve, Gotemburgo, Suécia: 1.900 funcionários
  • Fábrica de Blainville, Lyon, França: 1.900 funcionários
  • Skövde, Suécia: 3.000 funcionários
  • Umeå, Suécia: 1.600 funcionários
  • Ghent, Holanda: 2.300 funcionários
  • Kaluga, Moscou, Rússia: 700 funcionários
  • Renault Trucks, Bourg-en-Bresse, França: 1.350 funcionários
  • Fábrica de motores de Vénissieux, França: 700 funcionários

Ásia (principais centros)

(A Volvo tem 12.000 funcionários na Índia em todas as suas empresas. Três fábricas principais localizadas próximas umas das outras em Bangalore empregam 3.500 trabalhadores.)

  • Fábrica de caminhões Hoskote, Bangalore, Índia
  • Equipamentos de Construção Peenya, Bangalore, Índia
  • Pithampur Veículos Comerciais, Bangalore, Índia
  • Brisbane, Austrália: 600 funcionários

América do Sul (principal centro)

  • Curitiba, Paraná, Brasil: 3.700 funcionários

África (todos os centros)

  • Fábrica de caminhões de Durban, África do Sul: 170 funcionários

O caminho a seguir

Existem bilhões de dólares nos cofres da empresa para atender às demandas dos trabalhadores. Da mesma forma, existem milhões de dólares no fundo de greve do UAW para apoiar a greve.

Somente expandindo a greve, rejeitando a mentira de que não há dinheiro, e expandindo a rede de comitês de base para avançar genuinamente os interesses dos trabalhadores é que esta greve poderá sair vencedora. Ao mesmo tempo, é dever de todos os trabalhadores, especialmente os trabalhadores da indústria automotiva, vir em auxílio dos trabalhadores da Volvo e quebrar o isolamento da greve pelo corporativista UAW.

Os trabalhadores precisam de suas próprias organizações que representem seus interesses e lutem, com tudo o que possuem, para vencer a greve. Os trabalhadores da Volvo devem se juntar ao Comitê de Base dos Trabalhadores da Volvo e ter um alcance internacional coordenado para conscientizar sobre a greve e encontrar e construir aliados para esta luta.

Os trabalhadores de muitos países já enviaram declarações de apoio aos trabalhadores grevistas da Volvo. O World Socialist Web Site dará aos trabalhadores toda a assistência possível para estabelecer meios de comunicação com os trabalhadores do mundo inteiro e coordenar seus esforços para vencer esta importante batalha.

Os trabalhadores da Volvo podem entrar em contato com o Comitê de Base dosTrabalhadores da Volvo pelo e-mail volvowrfc@gmail.com, ou enviar uma mensagem de texto para (540) 307-0509.