Na tarde desta terça-feira, o presidente fascistoide Jair Bolsonaro fez o primeiro pronunciamento desde sua derrota na eleição à presidência do Brasil, anunciada na noite de domingo.
Em seu breve discurso, Bolsonaro agradeceu aos “58 milhões de brasileiros que votaram em mim”, mas não reconheceu a vitória do seu concorrente, Luiz Inácio Lula da Silva do Partido dos Trabalhadores (PT), que obteve 60 milhões de votos.
Ao contrário, ele enalteceu seus apoiadores fascistas que ergueram mais de 300 pontos de bloqueio em estradas pelo Brasil, rejeitando o resultado das eleições e exigindo uma intervenção das Forças Armadas que impeça Lula de tomar posse.
Bolsonaro afirmou que “Os atuais movimentos populares são fruto de indignação e sentimento de injustiça de como se deu o processo eleitoral”.
Ao mesmo tempo, o presidente buscou se dissociar das ações violentas que está incentivando, afirmando que “nossos métodos não podem ser os da esquerda... como invasão de propriedades, destruição de patrimônio e cerceamento do direito de ir e vir”. Essa é mais uma das manobras espelhadas na conduta de Donald Trump durante sua tentativa de derrubar as eleições americanas de 2020, que serve de principal modelo político a Bolsonaro.
Nas 45 horas que antecederam seu pronunciamento, enquanto seus apoiadores criavam caos pelo país, Bolsonaro se reuniu com seus aliados políticos mais próximos, seus ministros militares, e representantes das Forças Armadas, entre eles o ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, e o comandante da Força Aérea, Carlos Baptista Junior.
Nessas reuniões, o presidente fascistoide e seus cúmplices prepararam o conteúdo dúbio de seu primeiro discurso pós-eleitoral, assim como os próximos passos de sua conspiração em andamento para subverter a democracia no Brasil.
Como parte desse plano, o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, foi escolhido para falar publicamente após Bolsonaro sobre um processo de transição ao novo governo de Lula. O indicado para liderar a equipe de transição em nome de Lula foi seu vice-presidente, Geraldo Alckmin, cujo laços políticos direitistas de longa data permitirão uma melhor acomodação do PT às forças reacionárias trazidas por Bolsonaro ao poder de Estado.
Entretanto, apesar das acomodações políticas acertadas pelo PT, as ações de Bolsonaro e seus aliados nos últimos três dias sinalizam que os próximos dois meses até a posse presidencial serão de intensificação da crise política.
No domingo das eleições, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) promoveu, sob o comando de Bolsonaro, amplos bloqueios nas estradas para dificultar o acesso de eleitores às urnas, especialmente nos estados onde Lula tinha maioria. Um dos claros objetivos da operação era fazer seus concorrentes se sentirem prejudicados e gerar um impasse sobre a validade das eleições.
Nos dias seguintes, a PRF permitiu que os manifestantes pró-golpe de Bolsonaro realizassem seus próprios trancamentos de vias. Vídeos gravados em Santa Catarina, estado que abriga importantes setores da burguesia alinhada ao presidente fascistoide, mostraram policiais da PRF praticamente integrados aos bloqueios golpistas.
Em um dos vídeos, um oficial declara: “A única ordem que nós temos é estar aqui com vocês”. Em outro, falando ao microfone, um comandante declara aos manifestantes que “em nenhum momento... nós chegaremos para atritar ou para enfrentar quaisquer dos senhores, que são nossos patrões”.
Em meio ao crescimento dos protestos, os representantes das instituições burguesas revelaram toda sua impotência política para confrontar as ameaças postas por Bolsonaro, voltando-se ao próprio presidente para refrear a crise provocada por ele.
Segundo a Folha de São Paulo, os ministros do judiciário avaliaram que “as manifestações escalaram tanto que uma declaração do mandatário era essencial para tentar conter os movimentos de seus apoiadores nas ruas”.
Em contraste com a cumplicidade da polícia e do Estado com esse movimento golpista, um episódio espontâneo revelou qual a única força social capaz de verdadeiramente defender a democracia é a classe trabalhadora. Ao deparar com o bloqueio da estrada Rio-Santos, trabalhadores do estaleiro BrasFELS, em Angra dos Reis, desceram do ônibus no qual retornavam para casa do trabalho, enfrentaram os apoiadores fascistas de Bolsonaro e desobstruíram a via.
A mobilização da classe trabalhadora contra as ameaças autoritárias promovidas por Bolsonaro e os militares traria necessariamente consigo reivindicações sociais que impulsionariam um poderoso movimento contra o capitalismo. Por esse motivo, o PT, que representa o apodrecido capitalismo brasileiro, é absolutamente contrário a dirigir qualquer apelo aos trabalhadores.
Condenando chamados por um enfrentamento com os bolsonaristas feitos pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), ligado ao PSOL e ao próprio PT, a presidente do PT, Gleisi Hoffman, declarou: “Nós não concordamos com isso porque isso é uma responsabilidade do Estado”.