Publicado originalmente em 16 de agosto de 2022
Esta resolução foi aprovada por unanimidade no Sétimo Congresso Nacional do Partido Socialista pela Igualdade (EUA), realizado de 31 de julho a 5 de agosto de 2022. Acesse todos os informes e as outras resoluções do Congresso clicando aqui.
1. O Partido Socialista pela Igualdade (PSI) denuncia e condena a guerra imperialista por procuração na Ucrânia instigada pelos EUA e seus aliados da OTAN. Os Estados Unidos e a OTAN não estão respondendo a um ato não provocado de agressão por parte da Rússia. Também não estão defendendo a democracia na Ucrânia, cujo regime infestado de neonazistas se encontra entre os mais corruptos do mundo.
2. A guerra contra a Rússia é a continuação e a intensificação do avanço dos EUA para conquistar a hegemonia global que foi iniciada com a primeira invasão do Iraque em 1990-91 e intensificada após a dissolução da URSS em dezembro de 1991. A declaração de Biden de que Putin não pode permanecer no poder revelou os objetivos básicos da guerra: a remoção do atual regime na Rússia, sua substituição por um fantoche controlado pelos EUA e a divisão da Rússia – no que é chamado de “descolonização da Rússia” – em uma dúzia ou mais de estados impotentes cujos valiosos recursos serão controlados e explorados pelo capital financeiro americano e europeu.
3. Com extrema imprudência, o imperialismo americano está ameaçando uma guerra nuclear que poderia resultar na extinção da vida humana no planeta. A destruição da Rússia e o controle da massa terrestre eurasiática, um objetivo geoestratégico de longa data do imperialismo americano, é visto pelo Pentágono e pela CIA como uma preparação essencial e parte de uma investida contra a China. O que foi referido por Lenin durante a Primeira Guerra Mundial como uma “redivisão do mundo” está agora em andamento. O imperialismo americano pretende redesenhar o mapa do globo.
4. Como está claro agora, a decisão de Biden de retirar as forças do Afeganistão não foi, como ele afirmava, o fim da “guerra para sempre”, mas a reestruturação cuidadosamente calculada dos recursos militares dos EUA antes de provocar a guerra contra a Rússia. O iminente conflito previsto na Ucrânia fez com que isso acontecesse de maneira precipitada e caótica.
5. Embora a guerra tenha sido instigada pelo imperialismo americano, o PSI se opõe inequivocamente à invasão da Ucrânia pela Rússia. Enquanto rejeita as alegações de que a Rússia é “imperialista” – uma definição adotada pelos agentes pseudoesquerdistas do Pentágono e da OTAN para legitimar seu apoio à guerra por procuração – o PSI não apoia de forma alguma as políticas de “defesa nacional” da classe dominante reacionária russa que chegou ao poder através da dissolução da União Soviética em 1990-91 e da pilhagem sistemática de seus bens. O próprio Putin se mantém no topo de um regime autocrático semibonapartista que governa precariamente um país que sofre com intensas contradições sociais.
6. Enquanto a guerra travada pelos EUA e pela OTAN é uma continuação da expansão imperialista, a invasão da Ucrânia é uma continuação das políticas reacionárias da oligarquia russa e seu repúdio a toda a herança progressista da Revolução Russa e dos princípios democráticos incorporados na fundação original da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas em 1922. O cerco da Rússia pelo imperialismo é o resultado desastroso da traição final do regime stalinista ao legado da Revolução de outubro.
7. A política da Rússia, como o próprio Putin declarou, baseia-se no renascimento do chauvinismo e do nacionalismo russo, que é incapaz de se opor ao imperialismo ou apelar para a ampla massa de trabalhadores na Rússia, muito menos na Ucrânia, na Europa e nos Estados Unidos.
8. A oposição do PSI à invasão russa, porém, é da esquerda socialista, não da direita imperialista. Todas as razões que foram dadas pelo governo Biden para justificar a guerra são um monte de mentiras.
9. Em primeiro lugar, a alegação de que a guerra está sendo travada para preservar a “democracia” é exposta pelo fato de que o governo ucraniano é um regime corrupto de oligarcas, subordinado ao imperialismo americano e europeu, e fruto do golpe de fevereiro de 2014 apoiado pelos EUA e liderado por organizações de extrema direita. A política do governo ucraniano é baseada na promoção de grupos fascistas como o Batalhão Azov e a reabilitação de Stepan Bandera e a Organização dos Nacionalistas Ucranianos (OUN), os colaboradores nazistas durante a Segunda Guerra Mundial.
10. A alegação de que os EUA estão defendendo a democracia é ridícula, uma vez que o governo que está buscando a guerra foi quase impedido de assumir o poder pelo golpe fascista de 6 de janeiro de 2021, e que Biden ainda se refere ao partido envolvido nesta conspiração como seus “amigos” e “colegas”. Além disso, enquanto alega defender os “direitos humanos” contra o “criminoso de guerra” Putin, o imperialismo americano é responsável pela morte de milhões de civis inocentes, pela maior crise de refugiados desde a Segunda Guerra Mundial e por legitimar ditaduras em todo o mundo, como seus aliados da Arábia Saudita.
11. Em segundo lugar, a alegação de que a Ucrânia está travando uma guerra pela “autodeterminação nacional” é refutada pelo fato de que entre as primeiras ações tomadas pelo regime chauvinista em Kiev após o início da guerra foi a privação de direitos de um grande setor da população de língua russa. O governo ucraniano, além disso, demonstra total indiferença pela vida dos ucranianos apanhados na guerra, que são tratados como bucha de canhão na busca dos interesses da classe dominante ucraniana, em consonância com o imperialismo americano e europeu.
12. Em terceiro lugar, a alegação de que a guerra é uma resposta à invasão russa da Ucrânia em 24 de fevereiro de 2022 ignora os esforços sistemáticos das potências imperialistas para instigar o conflito através da expansão implacável da OTAN para a Europa Oriental e a transformação da Ucrânia em um palco de ataques da OTAN contra a Rússia. Nos meses anteriores à invasão russa, o governo Biden recusou-se a negociar as objeções da Rússia à integração da Ucrânia na OTAN e endossou, em novembro de 2021, uma Parceria Estratégica entre os EUA e a Ucrânia destinada a colocar a Rússia contra as cordas.
13. As verdadeiras forças motrizes por trás da guerra são: 1) Os interesses geopolíticos do imperialismo americano e sua busca pela hegemonia global; 2) O esforço do imperialismo americano e europeu para obter acesso direto às matérias-primas imensamente valiosas e estrategicamente críticas da Rússia; e 3) A tentativa da classe dominante de resolver sua intratável crise doméstica por meio da guerra no exterior.
14. A guerra contra a Rússia é o resultado de uma estratégia geopolítica levada adiante pelos Estados Unidos desde a dissolução da União Soviética há mais de 30 anos. Nas últimas três décadas, os EUA lançaram uma série de guerras com o objetivo de usar seu poder militar incomparável para compensar seu prolongado declínio econômico: a guerra do Golfo Pérsico de 1990-91; a guerra contra a Sérvia em 1999; a invasão do Afeganistão em 2001; a segunda guerra contra o Iraque em 2003; a guerra contra a Líbia em 2011; e a guerra civil apoiada pela CIA na Síria.
15. Ao longo desse período – ano após ano e guerra após guerra –, o Comitê Internacional da Quarta Internacional analisou as implicações e consequências da busca do imperialismo americano por dominação global. Em 2016, o CIQI declarou:
Os últimos 25 anos de guerras instigadas pelos Estados Unidos deve ser estudado como uma cadeia de eventos interconectados. A lógica estratégica da busca dos EUA por hegemonia global se estende além das operações neocoloniais no Oriente Médio e na África. As guerras regionais em andamento são elementos do confronto em rápida escalada dos Estados Unidos com a Rússia e a China. [Prefácio de A Quarter Century of War: The US Drive for Global Hegemony 1990-2016, David North, 11 de julho de 2016]
16. As outras grandes potências imperialistas aliadas dos Estados Unidos estão, da mesma forma, perseguindo seus próprios interesses econômicos e geoestratégicos reacionários. O conflito com a Ucrânia deu ao imperialismo alemão a oportunidade de implementar a maior campanha de rearmamento desde o colapso do regime nazista. O imperialismo britânico e francês também está ansioso para participar da guerra para promover seus próprios interesses na Europa e em todo o mundo.
17. A busca dos EUA por hegemonia global está ligado aos interesses econômicos específicos da classe dominante na divisão da vasta extensão do território russo. A Rússia abrange onze fusos horários e é fonte de enormes reservas de matérias-primas, metais e minerais, incluindo ouro, platina, paládio, zinco, bauxita, níquel, mercúrio, manganês, cromo, urânio, minério de ferro, cobalto e irídio. Muitas dessas matérias-primas, especialmente minerais de terras raras, são essenciais para a produção de semicondutores e outros componentes da tecnologia avançada.
18. Como Lenin enfatizou em sua análise do imperialismo, “Quanto mais o capitalismo se desenvolve, mais surge a necessidade de matérias-primas, mais acirrada se torna a competição, e quanto mais febrilmente avança a caça de matérias-primas em todo o mundo, mais desesperada torna-se a luta pela aquisição de colônias”. O acesso e o controle sobre esses minerais não são apenas cruciais para as operações das corporações americanas e europeias. O controle sobre esses materiais é visto como parte de um movimento mais amplo de dominação global, particularmente contra a China.
19. Finalmente, a política militar dos Estados Unidos é impulsionada por uma insolúvel crise política, social e econômica, que foi enormemente exacerbada pela pandemia de COVID-19. Em apenas dois anos e meio, mais de um milhão de pessoas morreram de COVID nos Estados Unidos. A escala colossal de mortes pela pandemia é o produto da decisão deliberada da classe dominante de priorizar os lucros em detrimento das vidas humanas.
20. Essa catástrofe se soma a uma sociedade já dilacerada por níveis extremos de desigualdade social. Já existem muitas expressões de um movimento crescente da classe trabalhadora em oposição ao aumento dos preços e à exploração. Essa não seria a primeira vez que uma classe dominante desesperada, enfrentando crises internas e conflitos de classe, se volta para a guerra como meio de impor uma falsa “unidade nacional”.
21. Apesar de sua feroz luta interna, não existem diferenças fundamentais entre os democratas e os republicanos na condução da guerra. Isso inclui a fração do Partido Democrata apoiada pelos ou dos membros dos Socialistas Democráticos da América (DSA), incluindo Bernie Sanders e Alexander Ocasio-Cortez, todos os quais votaram a favor do armamento militar maciço da Ucrânia.
22. A guerra expôs completamente as organizações da pseudoesquerda que representam seções privilegiadas da classe média alta, incluindo os DSA nos Estados Unidos. Sob o pretexto de se opor ao “imperialismo” russo, os DSA, junto com várias organizações pablistas e “capitalistas de Estado” internacionalmente, alinhou-se com os EUA e a OTAN e defendeu o armamento imperialista da Ucrânia. Seu apoio à guerra contra a Rússia é a consequência de uma política que levaram adiante em relação à guerra imperialista contra a Líbia, a Síria e outros países.
23. O PSI rejeita a caracterização da Rússia e da China como “imperialista”. Essa designação, arrancada de todo contexto histórico e econômico, serve a um propósito: justificar e legitimar uma política de “descolonização” da Rússia e da China, ou seja, dividir esses países em uma série de regimes fantoches controlados pelas potências imperialistas dos EUA e da OTAN. A “teoria” do imperialismo russo e chinês é uma continuação das posições de Shachtman e outros que rejeitaram a defesa da URSS com as falsas alegações de que a União Soviética era um regime “capitalista de Estado” e “imperialista”.
24. Ao se opor à guerra, o Partido Socialista pela Igualdade condena a campanha de propaganda internacional contra a cultura russa. Esse importante componente do impulso para a guerra envolveu medidas discriminatórias contra músicos, diretores de cinema, atletas e outros indivíduos russos, bem como contra a língua, literatura, música, cinema e cultura russa em geral. A campanha anti-russa rejeita e nega os laços históricos e culturais entre a Ucrânia e a Rússia. Isso inspirou uma onda de crimes de ódio deploráveis cometidos contra russos e pessoas de língua russa em vários países. Uma consequência da campanha internacional anti-russa é que legitima o regime de Putin dentro da Rússia. Assim, em todo o mundo, a campanha confunde e polui a consciência política, intimida a oposição à guerra e serve para combater a luta objetiva da classe trabalhadora pela unidade internacional.
25. A base social de oposição à guerra é a classe trabalhadora internacional. Em sua declaração inicial de oposição à invasão russa da Ucrânia, publicada em 24 de fevereiro de 2022, o Comitê Internacional da Quarta Internacional escreveu:
O perigo de uma catástrofe só pode ser evitado pela ação da classe trabalhadora, dentro dos EUA e em todo o mundo, com base em um programa socialista revolucionário.
Um princípio fundamental deste programa é a rejeição da defesa do “Estado nacional”, uma estrutura política historicamente obsoleta, cuja existência está em contradição com o domínio da economia mundial e a interdependência global das forças produtivas.
Trotsky acrescentou: “Não se vincular ao Estado nacional em tempos de guerra, seguir não o mapa da guerra, mas o mapa da luta de classes, só é possível para o partido que já declarou guerra irreconciliável ao Estado nacional em tempos de paz”. Seguir “o mapa da luta de classes” significa enraizar a oposição ao imperialismo na luta pela unificação da classe trabalhadora internacional contra a exploração, a desigualdade e o sistema capitalista.
26. Em seu nível mais fundamental, a guerra imperialista surge das contradições básicas do sistema capitalista – entre uma economia global e a divisão do mundo em Estados nacionais rivais, nas quais está enraizada a propriedade privada dos meios de produção. Essas mesmas contradições, no entanto, produzem a base objetiva para a revolução socialista mundial. As consequências da guerra já estão intensificando enormemente os conflitos sociais dentro dos Estados Unidos. O impacto da alta da inflação está impulsionando a luta de classes, incluindo a erupção de greves e protestos entre trabalhadores das industrias automotiva, aérea, da saúde, de serviços, educadores e outros setores da classe trabalhadora.
27. O PSI resolve lutar pela construção de um poderoso movimento anti-imperialista nos Estados Unidos, como componente crítico de um movimento internacional da classe trabalhadora contra a guerra. O fato de os Estados Unidos serem o centro do imperialismo mundial e a linha de frente do conflito global em desenvolvimento impõe imensas responsabilidades políticas ao PSI nos EUA.
28. O PSI exige o fim imediato da guerra dos EUA e da OTAN contra a Rússia. Essa guerra está sendo travada a partir de uma conspiração contra a população dos Estados Unidos e do mundo inteiro. Foi imposta sem qualquer discussão sobre suas causas e consequências. Exigimos a dissolução da aliança militar da OTAN e a liquidação do maciço aparato militar do imperialismo americano, financiado com mais de US$ 1 trilhão por ano. Todos os recursos usados para financiar a máquina militar serão pagos por meio de austeridade brutal e ataques à classe trabalhadora.
29. A realização deste programa não é possível senão através da mobilização política da classe trabalhadora em oposição a toda a classe dominante e seus dois partidos, os Democratas e os Republicanos. O desenvolvimento de um movimento anti-guerra nos EUA deve estar ligado à luta para unir os trabalhadores de todos os países, inclusive na Rússia e na Ucrânia, contra a guerra e o imperialismo.
30. Embora haja uma enorme oposição à guerra na população americana, essa oposição carece de um programa, perspectiva e liderança. A tarefa do Partido Socialista pela Igualdade é desenvolver dentro da classe trabalhadora e sua vanguarda uma compreensão da conexão inextricável entre a guerra no exterior e a exploração interna e, nesse processo, construir uma liderança revolucionária na classe trabalhadora que tenha como objetivo a conquista do poder do Estado e a reorganização socialista da economia americana, como parte integrante da revolução socialista mundial.
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