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Guerra na Ucrânia expõe a política pró-imperialista da FIT-U na Argentina

Publicado originalmente 18 de abril de 2023

Em meio às habituais negociações eleitorais e declarações de campanha nacionalistas antes das eleições de 2023, a chamada Frente de Esquerda e dos Trabalhadores – Unidade (FIT-U ou FIT) na Argentina está fornecendo uma plataforma política para apoiadores fervorosos da guerra dos EUA e da OTAN contra a Rússia na Ucrânia.

Mesmo com a presença das forças da OTAN na Ucrânia e seu papel na provocação e condução da guerra sendo inegáveis, dois dos principais parceiros da coalizão eleitoral de pseudoesquerda, a Esquerda Socialista (IS) e o Movimento Socialista dos Trabalhadores (MST), continuam fazendo campanha para enviar mais dinheiro, armas e voluntários para a frente de batalha contra a Rússia.

Os outros dois principais parceiros da FIT-U, o Partido dos Trabalhadores Socialistas (PTS) e o Partido Obreiro (PO), alegam se opor à guerra imperialista da OTAN, enquanto educadamente dizem aos seus “camaradas” da IS e do MST que todos podem concordar em discordar. Para essas forças, o apoio aberto ao imperialismo não é impedimento algum para concorrer às eleições sob a mesma bandeira.

O que une todas essas tendências é sua orientação nacionalista, que as liga intrinsecamente à sua própria burguesia nacional. Uma vez que elas agora se encontram divididas em relação à guerra da Ucrânia, isso reflete as divisões dentro da própria classe dominante capitalista argentina, pois ela busca um meio para equilibrar sua contínua subordinação ao imperialismo dos EUA e ao FMI, por um lado, e a crescente influência econômica e política da China - e, em menor grau, da Rússia - na região, por outro.

O presidente argentino Alberto Fernández com Vladimir Putin em Moscou, em fevereiro de 2022 [Photo by Casa Rosada / CC BY-SA 2.5]

Cálculos semelhantes estão sendo feitos em todo o hemisfério, como evidenciado pela viagem do presidente brasileiro Lula a Pequim e seu questionamento sobre o predomínio do dólar americano no comércio internacional. Vale a pena observar que o presidente da Argentina, Fernandez, estava reunido com Vladimir Putin em Moscou na véspera do lançamento da “Operação Militar Especial” da Rússia na Ucrânia.

Devido à sua subordinação ao meio político nacional burguês, as posições sem princípio sobre questões internacionais geralmente não chamam a atenção dos círculos da pseudoesquerda na Argentina. Mas, desta vez, o grupo Política Obreira, liderado por Jorge Altamira, um dos fundadores da FIT-U, concorrerá separadamente nas eleições de 2023. Por isso, ele achou politicamente conveniente denunciar a FIT-U por “apoiar a OTAN”.

Em uma polêmica recente, a Política Obreira denunciou seus antigos aliados do morenista PTS por “apoiar a guerra de Zelensky contra a Rússia, um agente direto da OTAN”. O artigo acusa o aliado do PTS na França, a Revolution Permanente, de promover a propaganda da OTAN ao apoiar a “independência da Ucrânia”.

“Junto com o resto da FIT-U”, acrescenta, o PTS tem usado a demanda pela “dissolução da OTAN” como uma cobertura para apoiar a guerra.

Em uma entrevista de rádio no ano passado, Altamira argumentou que a FIT-U estava sofrendo de “falta de política socialista”, como demonstrado por seu “apoio à OTAN”. Uma reportagem sobre a entrevista acrescentou que a FIT-U levanta conjuntamente a exigência de que a Rússia deixe a Ucrânia, “que é o objetivo da OTAN na guerra”. Além disso, pedir a paz nesses termos significaria uma vitória da OTAN e colocaria a Rússia “na iminência de uma divisão territorial”.

A reportagem reclamou que a FIT-U não tomou nenhuma iniciativa no Congresso para exigir o fim da guerra e concluiu dizendo que, independentemente de alegar se opor à OTAN, “essa esquerda está firmemente unida” por trás de “uma perspectiva pró-imperialista”.

Canais argentinos de “esquerda” para a propaganda da OTAN

Apesar de destacar o caráter de direita da FIT-U, essas críticas são hipócritas e não têm nada a ver com uma “política socialista”. O MST e a IS se tornaram canais argentinos de “esquerda” para a propaganda da OTAN, justificando o uso de trabalhadores e jovens ucranianos como bucha de canhão em uma guerra por procuração que visa dividir a Rússia de forma imperialista e preparar um confronto mais amplo com a China.

Não contentes em apenas fazer propaganda em apoio à guerra na Ucrânia em nome da defesa da “democracia” contra o “imperialismo” e o “totalitarismo” russos, ambas as tendências e seus parceiros na Ucrânia estão arrecadando dinheiro para armas e voluntários, enquanto agem como apologistas das forças fascistas que predominam nas forças armadas e no governo Zelensky.

A principal figura na Ucrânia da Liga Internacional Socialista (LIS), que é liderada pelo MST argentino, é Oleg Vernyk, um sindicalista que trabalhou para angariar apoio ao regime fantoche de Zelensky e mobilizou voluntários para seguir as ordens da OTAN na frente de guerra. Vernyk procurou justificar essas políticas e sua orientação aos nacionalistas ucranianos de extrema direita reabilitando a fascista Organização dos Nacionalistas Ucranianos (OUN), que colaborou com os nazistas durante o Holocausto e a Segunda Guerra Mundial. Vernyk falsificou a história ao afirmar que a OUN representava uma espécie de aliança entre as tendências de extrema direita e esquerda em prol da democracia e da autodeterminação nacional.

Por sua vez, a Esquerda Socialista (IS) enviou seu legislador nacional, Juan Carlos Giordano, à frente de uma delegação da Unidade Internacional dos Trabalhadores (UIT) a Kiev “para entregar ajuda material e política”. O contato ucraniano que recebeu a ajuda é Sergei Movchan, líder do “Coletivos de Solidariedade”, uma iniciativa voltada para o armamento de voluntários militares.

Em fevereiro, Movchan falou com a Fundação Rosa Luxemburgo, ligada ao pró-imperialista Partido A Esquerda na Alemanha. Ele enfatizou “a insignificância geral da violência da extrema direita [na Ucrânia]” e afirmou que seu grupo desfruta de uma “trégua” com a extrema direita no país. “Recentemente, encontrei na rua um velho conhecido meu que é um ativista de extrema direita. Tivemos uma conversa agradável e ele até se ofereceu para me ajudar em algumas questões”, disse ele.

Após anos de colaboração e campanha sob a mesma bandeira, Altamira e companhia compartilham a responsabilidade por essas políticas de direita, e suas críticas hoje são apenas uma tentativa de encobrir esse fato.

A atual campanha eleitoral da Política Obreira de Altamira está essencialmente alinhada com a da FIT-U ou, na verdade, com a de outros partidos burgueses. Ela se concentra em vagas propostas provincianas e relega a guerra e o ressurgimento da luta de classes global a questões secundárias.

“Quem rompe com a FIT comete suicídio”

Altamira foi o primeiro candidato presidencial da FIT e ficou famoso por dizer: “Quem rompe com a FIT comete suicídio”. Agora ele afirma que a coalizão é “uma variante do kirchnerismo”, a tendência peronista burguesa dominante. No entanto, isso nunca impediu que Altamira fizesse parceria com eles antes.

Ele manteve essa aliança mesmo depois que seus parceiros de coalizão se tornaram líderes de torcida para as operações de mudança de regime patrocinadas pela CIA contra Bashar al-Assad na Síria e Muammar Gaddafi na Líbia, incluindo seus apelos para armar o que eles chamavam de “rebeliões populares” e “revoluções democráticas”. Em 2014, mesmo quando a Esquerda Socialista (IS) comemorou como uma “revolução democrática” o movimento liderado por fascistas e financiado pelo Departamento de Estado para derrubar o governo eleito e pró-russo de Viktor Yanukovych, o Partido Obreiro (PO) liderado por Altamira e o PTS não viram motivo para romper sua aliança. Foi esse golpe que levou um regime fantoche pró-EUA ao poder em Kiev e lançou efetivamente a atual guerra contra a Rússia.

Não há razão para acreditar que Altamira não estaria novamente fazendo campanha ao lado da IS e do Movimento Socialista dos Trabalhadores (MST) e denunciando qualquer crítica à FIT-U como “sectária” se sua tendência não tivesse sido expulsa do PO após um racha sem princípio e politicamente não esclarecido em junho de 2019.

Poucos dias antes desse rompimento, Altamira escreveu que a FIT-U havia sido formada a partir de “um método oportunista” proposto pelo Partido dos Trabalhadores Socialista (PTS), o partido que ele havia descrito anteriormente como o “Podemos em fraldas”, referindo-se ao partido burguês que atualmente compartilha o poder na Espanha.

Altamira escreveu: “A FIT encobre o longo histórico de colaboração de classe do MST”. A “declaração programática” da coalizão, acrescentou, representa um chamado para uma “frente popular de colaboração de classes”. Ele descreveu como “capitalistas” as exigências da plataforma, incluindo “impedir a fuga de capitais” e “oferecer créditos baratos”.

Depois de fazer essas acusações, que efetivamente demonstram que a Frente de Esquerda e dos Trabalhadores não é de esquerda nem uma organização operária, Altamira explicou que o PO precisava permanecer na coalizão e fazer campanha para “ganhar mais assentos parlamentares”. Lá se vai seu “esquerdismo” vazio e suas polêmicas hipócritas.

Comício da FIT em 2015 (Jorge Altamira é o segundo da esquerda para a direita) [Photo by Ignacio Smith/Partido Obrero / CC BY 4.0]

Significativamente, Altamira reconheceu que a IS concebe a FIT-U como uma repetição da Frente Popular (FREPU) formada em 1985 como uma coalizão eleitoral entre o stalinista Partido Comunista e o Movimento ao Socialismo (MAS) fundado por Nahuel Moreno, o partido do qual surgiram o PTS, o MST, a IS, o PSTU e vários outros grupos nos rachas após a morte de Moreno em 1987.

Não se trata de mera especulação sugerir que o apoio da pseudoesquerda a alianças com forças autoritárias e de extrema direita na Ucrânia poderia ser replicado na própria Argentina. Os morenistas da FIT-U defendem abertamente sua aliança anterior com os stalinistas, que apoiaram a junta fascista argentina enquanto ela matava dezenas de milhares de trabalhadores e jovens. A ditadura havia renunciado ao poder apenas dois anos antes da fundação da FREPU.

“Refundando a Quarta Internacional” em aliança com o stalinismo

O mesmo vale para Altamira. Em abril de 2018, apenas um ano antes de implodir, o Partido Obreiro (PO) organizou uma conferência para “refundar a Quarta Internacional” junto com o stalinista Partido Comunista Unificado da Rússia (OKP), que está alinhado com as forças fascistas na Rússia e internacionalmente e apoia o governo Putin.

O World Socialist Web Site realizou uma exposição sistemática desse evento reacionário, que foi organizado por Altamira em colaboração com Savas Michael-Matsas, do Partido Revolucionário dos Trabalhadores Gregos (EEK), com base em políticas nacionalistas de direita e no repúdio a toda a história da Quarta Internacional.

No evento, o próprio Altamira justificou a presença de Darya Mitina, secretária de assuntos internacionais do OKP, como palestrante principal. Ele disse: “Vocês tiveram uma camarada que fala em nome da tradição do comunismo na Rússia, que para ela seria o stalinismo... Estamos realizando discussões políticas com esses camaradas para saber se podemos trabalhar juntos para dar um passo à frente em direção à construção de uma Internacional...”.

O WSWS alertou que, por trás do pacto do PO com os stalinistas russos, “um eixo profundamente reacionário está sendo preparado, envolvendo uma aliança com correntes nacionalistas burguesas e até mesmo de direita”, cujo objetivo é “subordinar a classe trabalhadora à burguesia precisamente em um momento em que um ressurgimento da luta de classes está se manifestando em todos os continentes”.

Recentemente, o PTS levantou esse episódio como prova de que os altamiristas são “pró-russos”. No entanto, o PTS não se preocupou com o evento até depois do racha do PO. A falsa polêmica entre essas tendências pode ser resumida em: “Vejam, vocês são ainda mais reacionários do que nós”.

A Política Obreira de Altamira respondeu ao PTS com um artigo na semana passada tentando defender sua conferência de “refundação” de 2018 mentindo descaradamente para seus leitores. Foi “interessante” realizar “um debate com uma ex-stalinista que pertence a um partido minoritário da oposição dentro da própria Rússia”, escreveram eles. A “ex-stalinista” Mitina escreve com orgulho que leva flores ao túmulo de Stalin duas vezes por ano. A tentativa de encobrir sua política só pode ser explicada por sua intenção de manter uma aliança política com tais forças.

De fato, em junho de 2022, Osvaldo Coggiola, um historiador da Universidade de São Paulo (USP) que seguiu a fração de Altamira no racha com o PO, participou de uma “Conferência Internacional de Emergência Antiguerra”, um nome claramente equivocado, organizada pelo “Centro Internacional Christian Rakovsky”, liderado pelo líder do EEK, Savas Michael-Matsas, e co-moderado por Darya Mitina. A conferência também contou com a participação proeminente do marido de Mitina, Said Gafurov, ex-conselheiro de Putin.

Darya Mitina (a segunda da direita para a esquerda) com Vladimir Putin

Gafurov explicou que a posição oficial do OKP é que “Putin é nosso aliado, nada mais, nada menos”, na luta contra o “capital global”. Foi “a pressão da classe trabalhadora da Ucrânia e da Rússia sobre Putin” que o forçou a realizar sua operação militar. Esse, acrescentou, “é o papel independente da classe trabalhadora na Ucrânia e na Rússia... Devemos usá-lo [Putin] como parte da luta de classes internacionalista”.

Mesmo antes da conferência, o Centro Rakovsky conclamou os trabalhadores a “não permanecerem neutros” e a lutarem pela vitória militar da Rússia na guerra, apresentando-a como uma “luta anti-imperialista”.

Durante a conferência, Coggiola não criticou essas posições e insistiu com essas mesmas organizações pró-stalinistas que a tarefa de refundar a Quarta Internacional - evidentemente ainda em aliança com o stalinismo russo - “não foi deixada de lado”.

Essas tentativas de retratar a invasão russa da Ucrânia como uma luta “anti-imperialista” se encaixam na perspectiva de uma camada não insignificante de nacionalistas pequeno-burgueses na América Latina e em outros lugares que se baseiam no antiamericanismo e nas ilusões de uma nova ordem mundial “multipolar”. Eles estão unidos por rejeitarem o papel revolucionário da classe trabalhadora como a única resposta à guerra imperialista.

Não há nada de progressista, muito menos de anti-imperialista, na “Operação Militar Especial” de Putin na Ucrânia. É uma resposta reacionária do Estado capitalista que ele lidera à crescente pressão militar dos Estados Unidos e da OTAN. Ela não pretende derrotar o imperialismo, mas preservar os interesses econômicos de uma classe dominante de oligarcas russos que enriqueceram com o saque da propriedade anteriormente nacionalizada da União Soviética. Nesse sentido, as classes dominantes da Rússia e da Ucrânia compartilham as mesmas raízes criminosas.

“Uma verdadeira autodeterminação nacional para a Europa”

Outro historiador que se juntou à fração de Altamira, Daniel Gaido, adotou a posição de que “somente após o desmantelamento das instituições militares e políticas que transformam os países europeus em Estados vassalos do imperialismo americano será possível falar sobre uma verdadeira autodeterminação nacional na Europa, incluindo a possibilidade de criar uma federação continental para evitar a eclosão de futuras guerras”.

De acordo com essa posição, que ele publicou na revista International Critical Thought em março, qualquer luta independente dos trabalhadores para derrubar o capitalismo e seu sistema de Estados nacionais, que são as verdadeiras origens das guerras, está fora da agenda. Em vez disso, Gaido insinua que os trabalhadores da França, da Espanha e do resto da Europa devem apoiar suas respectivas burguesias no estabelecimento de uma “verdadeira autodeterminação nacional”.

No contexto atual, isso significa se curvar às demandas dessas classes dominantes por cortes sociais e outros ataques aos padrões de vida para financiar o fortalecimento militar e desafiar o poder dos EUA na Europa. Essa é explicitamente a linha adotada pelo presidente francês Emmanuel Macron, que recentemente insistiu que a Europa não pode ser um “vassalo” de Washington, mesmo quando ele emprega a polícia de choque militarizada contra as massas nas ruas que se opõem a sua reforma da previdência de austeridade.

Como exposto por David North em seu prefácio de 2018 do livro A Herança que Defendemos, Gaido já havia apresentado um argumento semelhante em um ensaio de 2014, escrito em parceria com Velia Luparello, intitulado Estratégia e tática em um período revolucionário: o trotskismo americano e a revolução europeia, 1943-1946. Esse ensaio insistiu que a Quarta Internacional deveria ter seguido a posição defendida pela fração liderada por Felix Morrow e Albert Goldman dentro do Socialist Workers Party (SWP) dos EUA após a Segunda Guerra Mundial: que não existia uma situação revolucionária na Europa, mesmo com os trabalhadores de todo o continente armados e radicalizados pelos crimes bárbaros do capitalismo, e que o movimento trotskista deveria se converter em um movimento por reformas democráticas burguesas.

Gaido argumentou que esse fracasso em transformar a Quarta Internacional em um apêndice da democracia burguesa foi a verdadeira fonte das crises após a Segunda Guerra Mundial na Quarta Internacional, e não as tentativas, uma década mais tarde, da tendência revisionista liderada por Michel Pablo de liquidar o movimento trotskista no stalinismo, na democracia burguesa e no nacionalismo pequeno-burguês.

“A essência desse argumento é que o movimento trotskista deveria ter se liquidado na década de 1940”, escreveu North. “Seus esforços mal concebidos para sustentar um programa revolucionário irrealista o condenaram à ‘impotência política’, e foi a fonte de crises posteriores na Quarta Internacional. O objetivo da nova narrativa proposta por Gaido e Luparello é transferir a responsabilidade pelas crises da Quarta Internacional daqueles que procuraram liquidar o movimento trotskista para os ombros dos que procuraram defendê-lo.”

Como explicado por North, Gaido ignorou a perspectiva de classe demonstrada por Morrow e Goldman, que rapidamente rejeitaram a luta pelo socialismo e apoiaram o imperialismo americano durante a Guerra Fria. O que suas políticas e as de Altamira, da FIT-U e de todas as outras tendências que romperam com a Quarta Internacional têm em comum é a hostilidade de classe à revolução socialista.

O “erro” de uma política pró-imperialista

Isso foi resumido no único debate organizado pela FIT-U em maio de 2022 para descartar de uma vez por todas como inconsequentes suas posições conflitantes sobre a guerra na Ucrânia. Lá, o representante do Partido Obreiro (PO), Pablo Giachello, criticou a “política pró-imperialista” do Movimento Socialista dos Trabalhadores (MST) e da Esquerda Socialista (IS), concluindo: “Prestem atenção, porque acontece que eles sempre cometem erros em relação ao mesmo lado. Portanto, é evidente que há fortes pressões imperialistas que se refletem no movimento dos trabalhadores, certamente, e, como resultado, se refletem na esquerda.”

Se um partido sempre opta por apoiar o imperialismo, isso não é um “erro”. É sua orientação de classe como uma ferramenta pró-guerra do imperialismo. E os partidos que chamam essas forças de “camaradas” e as descrevem como de “esquerda”, enquanto concorrem com elas a cargos legislativos e sindicais, são eles próprios instrumentos pró-guerra do imperialismo.

A resposta de todas essas tendências da pseudoesquerda na Argentina e de seus parceiros internacionais à guerra da Ucrânia demonstrou seu compromisso incondicional na defesa do capitalismo, mesmo quando ele ameaça a humanidade com uma guerra nuclear, desarmando politicamente a classe trabalhadora e dividindo-a em linhas nacionalistas.

Despidos de sua verborragia “socialista”, restam organizações e publicações que falam em nome de burocratas sindicais, acadêmicos, representantes de ONGs e outros elementos da classe média abastada que veem nas crescentes lutas da classe trabalhadora em todo o mundo contra a guerra, a inflação e a austeridade uma ameaça à sua riqueza e às suas posições confortáveis.

Essas são as camadas sociais reacionárias atraídas pela política historicamente enraizada no oportunismo nacional de Nahuel Moreno, que rompeu com o Comitê Internacional no início da década de 1960, rejeitando a necessidade de construir uma direção revolucionária consciente na classe trabalhadora e buscando substitutos de todos os tipos, desde caudilhos nacionalistas burgueses como Juan Domingo Perón, passando pelo guerrilheirismo castrista pequeno-burguês até as coalizões no estilo da Frente Popular com os stalinistas, todos com resultados desastrosos.

Os morenistas e seus aliados altamiristas não estão construindo organizações para lutar pelo socialismo, mas sim trabalhando para acorrentar a classe trabalhadora às burocracias sindicais nacionalistas e pró-capitalistas e a setores da burguesia. Hoje, essas tendências da pseudoesquerda representam o principal obstáculo entre os trabalhadores da América Latina e o trotskismo - a única perspectiva que oferece um caminho para combater a guerra.

Em 1939, Trotsky escreveu em seu ensaio A questão ucraniana que os oportunistas que empregam “frases de esquerda” para apoiar os nacionalistas e as “Frentes Populares” na Ucrânia “não devem ser admitidos nas fileiras do movimento operário”. O mesmo vale hoje na Ucrânia, na Rússia, na Argentina e em toda a parte.

O Comitê Internacional da Quarta Internacional é a única tendência política no mundo que luta para construir um movimento político de massas da classe trabalhadora e da juventude contra a guerra em uma base socialista e internacionalista. A tarefa mais urgente hoje é construir seções do CIQI em toda a América Latina e no mundo como a direção necessária para essa luta.

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