Mesmo com o governador de extrema direita de São Paulo, Tarcísio de Freitas, lançando amplos ataques à educação e aos serviços sociais do maior e mais rico estado brasileiro, o Partido dos Trabalhadores (PT) e seus satélites na pseudoesquerda estão trabalhando para isolar as lutas que estão emergindo e impedir um movimento unificado contra o capitalismo no Brasil.
Como parte do crescente movimento da classe trabalhadora ao redor do mundo, greves, paralisações e protestos tem acontecido em São Paulo nos últimos meses, envolvendo principalmente setores da educação. No último deles, professores da rede pública estadual realizaram um dia de greve e um protesto em frente à Secretaria de Educação de São Paulo em 20 de outubro contra o projeto de lei do governo Tarcísio que diminui de 30% para 25% o investimento em educação no estado.
Aliado político do ex-presidente fascistoide Jair Bolsonaro, Tarcísio tem realizado uma série de ataques à educação pública, avançando medidas pró-corporativas na educação e de controle do trabalho dos professores contra uma suposta “doutrinação de esquerda” nas escolas.
Na semana passada, a greve dos estudantes da Universidade de São Paulo (USP), a maior universidade da América Latina, contra a falta de professores e por políticas de permanência estudantil completou cinco semanas.
Anteriormente, no início de agosto, professores de 116 escolas e faculdades técnicas de São Paulo realizaram uma greve de duas semanas por melhores salários e condições de trabalho, enquanto estudantes secundaristas realizaram paralisações e protestos contra a reforma pró-corporativa do Ensino Médio. Em setembro e outubro, professores da USP e estudantes e funcionários da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) realizaram greves contra a precarização da universidade pública.
Os ataques do governo Tarcísio aos serviços sociais não se restringem à educação, e inclui a privatização da Sabesp, uma das maiores e mais rentáveis empresas de água e saneamento do mundo, e de linhas de metrô e trem. Em resposta, trabalhadores dessas empresas públicas realizaram um dia de greve conjunta em 3 de outubro.
Apesar desse movimento amplo em defesa da educação pública e dos serviços sociais, os sindicatos e as organizações estudantis controlados pelo PT e pela pseudoesquerda, particularmente tendências morenistas e pablistas no Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), estão trabalhando para isolar cada uma dessas lutas.
Notoriamente, o sindicato dos professores de São Paulo (APEOESP), controlado pelo PT e pelo PSOL, tem realizado um boicote generalizado às lutas de professores que se espalharam pelo Brasil desde o início do ano pelo cumprimento do piso salarial nacional de professores e contra a reforma do Ensino Médio e, mais recentemente, à luta dos professores, estudantes e trabalhadores de empresas públicas de São Paulo.
Praticamente toda a pseudoesquerda brasileira se manteve em silêncio sobre a greve dos professores de São Paulo em 20 de outubro, principalmente para evitar qualquer interseção com a greve de mais de um mês na USP. Desde o início da greve, organizações estudantis morenistas e stalinistas que controlam o Diretório Central dos Estudantes (DCE) têm limitado a luta dos estudantes a negociações estéreis com a reitoria para pressioná-la a atender as suas demandas. Na última assembleia, realizada em 18 de outubro, essas organizações tentaram enterrar a greve alegando que “acabar com a greve ... não pode significar o fim da nossa mobilização”, mas 64% dos mais de 600 estudantes presentes decidiram continuar a greve.
Apesar de defender a continuidade da greve, o morenista Movimento Revolucionário de Trabalhadores (MRT) e sua organização estudantil, Faísca Revolucionária, tampouco conseguiram oferecer uma saída aos estudantes que não o beco sem saída da negociação com a reitoria. No Esquerda Diário, eles escreveram depois da decisão da assembleia que decidiu pela continuidade da greve na USP que é “preciso batalhar para unir os estudantes ... em ações que sirvam para massificar” a greve e “arrancar nossas demandas da Reitoria”. Para isso, eles propuseram um “ato-festival” com apresentações artísticas na mesma hora que milhares de professores estavam protestando em frente à Secretaria de Educação de São Paulo.
Propostas paroquiais como essas estão longe de garantir uma defesa efetiva da educação pública e, mais importantemente, de apontar uma luta contra a causa dos ataques aos direitos sociais: o sistema capitalista. Em meio a uma crescente crise social e econômica em São Paulo, no Brasil e no mundo impulsionada pela pandemia de COVID-19 e a guerra na Ucrânia, os partidos de governo de todas as colorações políticas estão lançando duras políticas domésticas de repressão e ataques aos direitos sociais e democráticos, ao mesmo tempo em que investem maciçamente no rearmamento do Estado.
No Brasil, essas políticas têm sido implementadas por governadores tanto de extrema direita quanto por supostamente os de esquerda, como os do Partido dos Trabalhadores. A Bahia, onde o PT governa há 17 anos e possui a maior letalidade policial do Brasil, e São Paulo foram recentemente destaques nacionais por massacres policiais brutais.
Assim como na USP, na Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), na Bahia, estudantes estão em greve desde o início de outubro também contra a falta de professores em diversos cursos e por assistência estudantil. Resumindo a política de sucessivos governos estaduais do PT para a educação superior na Bahia, a Associação de Professores da UEFS escreveu em seu site que eles “comprometeram significativamente ... o orçamento destinado às Universidades Estaduais da Bahia” e colocaram “o desmonte das universidades públicas como um projeto”.
Os ataques do PT à educação estão também acontecendo no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Desde agosto, ele “congelou” 116 milhões de reais do orçamento deste ano da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), responsável pelo pagamento de bolsas e pela pesquisa científica nacional. Desse total, 50 milhões já foram cortados. Para o ano que vem, o assim chamado “regime fiscal sustentável”, aprovado pelo governo Lula em maio no Congresso Brasileiro atendendo às exigências do FMI e da oligarquia financeira do Brasil, ameaça os tetos constitucionais da saúde e educação.
As prioridades de classe do governo Lula também se expressaram no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), um amplo programa de investimento em infraestrutura principalmente através de Parcerias Público-Privadas para, entre outras áreas, a construção de presídios, linhas de trens e metrôs e saneamento básico – exatamente os alvos da privatização do governo Tarcísio em São Paulo.
Como o World Socialist Web Site tem reportado, a resposta de direita do PT à tentativa de golpe de Bolsonaro e do comando das Forças Armadas tem buscado melhorar suas relações tensas com os militares fascistas. Nesse sentido, o governo Lula anunciou recentemente uma série de medidas para impulsionar as Forças Armadas, incluindo a alocação de mais investimentos para os militares do que para a educação e a saúde.
Os sindicatos e organizações estudantis controlados pelo PT e pela pseudoesquerda têm encoberto de maneira criminosa essas políticas reacionárias. Antes das eleições do ano passado, essas organizações desviaram todas as lutas dos trabalhadores e da juventude semeando ilusões na eleição de Lula. Hoje, elas estão insistindo que a luta contra o governo de extrema direita em São Paulo deve ser realizada por meio de uma “frente ampla” com setores supostamente “desenvolvimentistas” e “antineoliberais” da burguesia brasileira.
Essa política tem sido expressa mais vocalmente pela tendência morenista Resistência do PSOL, que controla o Sindicato dos Metroviários de São Paulo e possui vários cargos na direção da APEOESP. No balanço do recente congresso da APEOESP, ela avançou a ilusão que o governo Lula pode “reverter os retrocessos gigantes dos últimos anos sob [os governos] Temer e Bolsonaro”, e que é preciso “defender o governo contra os ataques da extrema direita” e manter “erguidas posições de defesa do programa [do PT] que foi vitorioso nas eleições de 2022”.
O apoio de tendências morenistas e pablistas do PSOL ao programa nacionalista e pró-corporativo do PT fez com que se juntassem pela primeira vez com a odiada burocracia sindical do PT numa vitoriosa chapa para a eleição da APEOESP de maio deste ano. Esse movimento também representou um esforço conjunto para tentar encobrir o amplo descrédito que o sindicato possui entre a base dos professores avançando uma falsa “unidade” de correntes sindicais outrora rivais.
Grandes batalhas de classe estão à frente de professores, estudantes e dos trabalhadores de empresas públicas de São Paulo. Na semana passada, o governo Tarcísio lançou uma dura medida repressiva contra os trabalhadores do metrô, demitindo 5 deles e suspendendo 3 dirigentes sindicais em represália à greve do dia 3 de outubro. Na USP, a reitoria ameaçou os estudantes de serem reprovados nas matérias matriculadas e até serem jubilados se continuarem em greve.
Essas lutas fazem parte de um movimento mais amplo da classe trabalhadora em São Paulo, no Brasil e no mundo. Além das recentes greves de professores e dos trabalhadores de empresas públicas, os trabalhadores de três fábricas da GM em São Paulo estão em greve contra o banho de sangue de mais de mil empregos que a empresa anunciou há uma semana.
Internacionalmente, os trabalhadores da GM, Ford e Stellantis nos EUA estão em greve há sete semanas, enquanto professores e outras categorias têm se manifestado sucessivamente em todo o mundo contra os ataques sociais e econômicos impulsionados pela pandemia em curso e pela guerra na Ucrânia.
Para liberar o potencial dessas lutas, os trabalhadores devem romper as amarras da burocracia sindical e criar comitês de base independentes e democraticamente controlados unidos internacionalmente sob a Aliança Operária Internacional de Comitês de Base.
De maneira significativa, as assembleias de estudantes da USP e de professores de São Paulo expressaram amplo apoio ao levante do povo palestino contra o genocídio israelense apoiado pelos países imperialistas. Assim como em todo o mundo, manifestações contra a guerra de Israel contra Gaza têm acontecido nas últimas semanas em São Paulo e outros estados brasileiros, indicando o enorme potencial de união entre as crescentes lutas da classe trabalhadora e o movimento antiguerra no Brasil e internacionalmente.
Os estudantes universitários em greve representam uma nova geração que está passando por um profundo processo de radicalização política internacionalmente. Para lutar contra a injustiça social e a reação política, e para defender seu futuro da catástrofe nuclear e climática, a juventude deve fazer a mais crítica escolha política. Ela deve se voltar para a única força social e para o programa político capaz de derrubar o capitalismo, que é a causa raiz desses problemas: a classe trabalhadora internacional e o partido da revolução socialista internacional, o Comitê Internacional da Quarta Internacional.
Leia mais
- Governo Lula nomeia defensores da gestão empresarial na educação para o MEC
- Em meio a greves em universidades de São Paulo, trabalhadores do Metrô, CPTM e Sabesp realizam paralisação contra privatizações
- CPMI do 8 de Janeiro indicia Bolsonaro e generais por tentativa de golpe
- Protestos globais contra o genocídio de Israel em Gaza devem se voltar para a classe trabalhadora