Publicado originalmente em 23 de julho de 2024
O genocídio de Israel em Gaza, realizado com as armas e o incentivo do imperialismo americano, provocou o maior movimento global contra a guerra desde os protestos de 2003 contra a guerra do Iraque. Após um longo período de aparente despolitização dos trabalhadores e dos jovens, milhões de pessoas foram abaladas e radicalizadas ao testemunharem o desdobramento de um genocídio no século XXI.
Nos Estados Unidos, o Partido Democrata, em particular, foi desacreditado. O governo Biden tem fornecido as armas, dinheiro e inteligência para esse genocídio, ao mesmo tempo em que decreta uma repressão policial-estatal contra os manifestantes nos campi, em colaboração com os republicanos fascistas.
A esmagadora maioria das pessoas que se juntaram aos protestos nos EUA nasceu no século XXI. Eles cresceram testemunhando as guerras intermináveis do imperialismo americano, a austeridade social e, mais recentemente, a morte em massa causada pela COVID-19, como resultado da resposta homicida da classe dominante à pandemia.
Durante todo esse período, a luta de classes foi suprimida pelas burocracias sindicais, e qualquer compreensão da história e da sociedade foi prejudicada pelo clima predominante de reação e pela promoção do antimarxismo. Nessas condições, é inevitável que o estágio inicial da radicalização em massa tenha sido vinculado à súbita proeminência de organizações e tendências que até recentemente eram pouco conhecidas.
Entre os mais proeminentes estão o Partido pelo Socialismo e Libertação (PSL), que tem co-organizado muitos dos protestos, e a Coalizão ANSWER associada. Com sua retórica, o PSL apela para sentimentos anti-imperialistas e anticapitalistas e se apresenta como significativamente mais radical do que os Socialistas Democráticos da América (DSA), que funciona como uma fração de “esquerda” dentro do Partido Democrata. Em sua campanha presidencial de 2024, o PSL também se apresenta como uma alternativa socialista ao Partido Democrata e como o núcleo de um novo “partido da classe trabalhadora”.
Mas, como qualquer organização ou tendência política, o PSL deve ser julgado não pelo que diz sobre si mesmo, mas por sua história e seu programa político. É somente com base nisso que o caráter de classe de uma organização e as implicações de sua política podem ser avaliados. Portanto, eles exigem uma análise séria.
O registro histórico do PSL e sua defesa do stalinismo, o coveiro da revolução socialista
O PSL não escreve nem diz nada sobre sua própria história. Em seu site, é inútil procurar um relato de suas raízes históricas e uma avaliação das principais experiências do século XX. Há motivos claros para esse silêncio.
Primeiro, como qualquer tendência pequeno-burguesa, o PSL rejeita uma abordagem histórica e de classe da política, ou seja, a política marxista, e, em vez disso, desenvolve suas políticas com base em considerações pragmáticas.
Em segundo lugar, todo o seu registro histórico expõe o PSL como uma tendência antitrotskista que é amargamente hostil à classe trabalhadora e ao marxismo.
Historicamente, o PSL surgiu de um racha no Workers World Party (WWP – Partido Mundial dos Trabalhadores). O racha entre as duas organizações nunca foi explicado por nenhuma delas, e as publicações do PSL até hoje citam o que chamam de “gênio organizacional” de Sam Marcy (1911-1998) e reivindicam sua herança política.
Sam Marcy se radicalizou no período entreguerras e entrou para o movimento comunista nos Estados Unidos na década de 1930. Ele foi atraído pelo trotskismo e se juntou ao Socialist Workers Party (SWP – Partido Socialista dos Trabalhadores), então seção americana da Quarta Internacional, na década de 1940.
O movimento trotskista surgiu em 1923-24 em uma luta para defender o programa da revolução socialista mundial contra o programa nacionalista do stalinismo. Stalin, expressando os interesses de uma burocracia privilegiada que havia se consolidado dentro do Estado operário como resultado do isolamento internacional da União Soviética, formulou o programa de construção do “socialismo em um só país”. Esse programa nacionalista formaria a base de uma reação violenta de décadas contra a Revolução de Outubro de 1917.
As políticas dos stalinistas levaram a derrotas devastadoras para a classe trabalhadora. Na China, durante a revolução de 1925-27, os stalinistas subordinaram o Partido Comunista Chinês à burguesia nacional, o que resultou em um massacre de comunistas. Essa linha desastrosa foi reproduzida posteriormente no Oriente Médio e em outras regiões, onde o stalinismo desarmou as massas oprimidas em sua luta contra o imperialismo. Nos países imperialistas avançados, os stalinistas começaram a colaborar com as frações “democráticas” da burguesia na década de 1930. Nos EUA, isso assumiu a forma de uma submissão completa do Partido Comunista ao Partido Democrata.
Na União Soviética, a burocracia desenvolveu um aparato violento para suprimir a classe trabalhadora. Em seu estudo científico sobre o surgimento do stalinismo, A Revolução Traída, Leon Trotsky enfatizou que a usurpação do poder político pela burocracia só poderia ser rompida, e a degeneração do Estado operário revertida, por meio de uma revolução política da classe trabalhadora, com o objetivo de derrubar a burocracia, como parte de uma luta para estender a revolução internacionalmente.
No Grande Terror da década de 1930, a burocracia stalinista assassinou centenas de milhares de trabalhadores socialistas, intelectuais e trotskistas na União Soviética e também em outros lugares, como na Espanha durante a Guerra Civil. Como disse Trotsky, “o atual expurgo traça entre o bolchevismo e o stalinismo não apenas uma linha sangrenta, mas um rio inteiro de sangue”. Em 1940, o próprio Trotsky seria assassinado por um agente stalinista no México.
Tendo decapitado politicamente a classe trabalhadora, no período pós-guerra o stalinismo desempenhou o papel central na sabotagem dos movimentos revolucionários da classe trabalhadora na Europa e na Ásia. Dessa forma, garantiu a sobrevivência do sistema capitalista mundial, que havia sido profundamente desacreditado pela barbárie do fascismo e pela Segunda Guerra Mundial. Para a Quarta Internacional, que havia sido fundada por Trotsky em 1938, isso criou condições extremamente difíceis. Em 1953, o Comitê Internacional da Quarta Internacional foi formado para defender o programa do trotskismo contra a tendência liquidacionista da classe média do pablismo.
Respondendo de forma impressionista à reestabilização do capitalismo no pós-guerra, os pablistas declararam que havia surgido uma “nova realidade mundial”, definida pela luta entre “dois campos”: o imperialismo e a União Soviética. A luta entre esses dois campos, de acordo com os pablistas, substituiu a luta de classes internacional. Dessa forma, os pablistas rejeitaram o papel revolucionário da classe trabalhadora e, em vez disso, atribuíram esse papel à burocracia stalinista. Com base nessa perspectiva, os pablistas trabalharam sistematicamente para liquidar a Quarta Internacional nos partidos stalinistas e socialdemocratas, bem como nos movimentos nacionalistas burgueses.
Marcy inicialmente não se juntou aos pablistas, mas logo sucumbiria às mesmas pressões políticas e de classe e desenvolveria concepções políticas semelhantes. Em um obituário de Marcy em 1998, Fred Mazelis, membro fundador da Workers League (antecessora do Partido Socialista pela Igualdade), explicou a guinada à direita de Marcy e de seções mais amplas da classe média:
A reestabilização do imperialismo no pós-guerra, facilitada pela poderosa influência e pelas políticas contrarrevolucionárias do regime soviético, desorientou profundamente muitos que haviam lutado nos anos anteriores contra a exploração capitalista, bem como contra suas agências nas burocracias socialdemocratas e stalinistas. A rápida burocratização dos sindicatos da CIO e a relativa quietude da classe trabalhadora americana [no período pós-guerra] os levaram a rejeitar a luta pelos princípios marxistas na classe trabalhadora como um projeto sem esperança. Ao mesmo tempo, a expansão do bloco soviético e as revoluções chinesa e iugoslava foram tomadas como prova de que a burocracia soviética e os partidos stalinistas de outros lugares poderiam ser forçados a tomar o caminho da revolução. A perspectiva da revolução socialista mundial, que havia animado os fundadores do movimento marxista e os líderes da Revolução Russa, foi abandonada em nome de uma “nova realidade mundial”.
Quando Marcy rompeu com o programa do trotskismo na segunda metade da década de 1950, ele o fez em uma base explicitamente pró-stalinista. Enquanto ainda estava no SWP, em 1956, Marcy reagiu à revolução política dos trabalhadores húngaros contra a burocracia stalinista denunciando os trabalhadores como estando envolvidos em uma “contrarrevolução”. Ele saudou o esmagamento do levante pelas forças militares da burocracia. Pouco mais de dois anos depois, no início de 1959, Marcy rompeu com o SWP e fundou o WWP.
Nos anos e décadas seguintes, Marcy e o WWP, como o obituário do WSWS observou, “conseguiram combinar elogios bajuladores aos tiranos stalinistas, como o falecido Kim Il Sung, da Coreia do Norte, e Nicolae Ceaușescu, da Romênia, com o apoio humilhante à burocracia anticomunista da AFL-CIO”.
Caracterizando o WWP em 2000, a falecida Helen Halyard, líder de longa data do movimento trotskista nos EUA, escreveu:
No WWP convergem várias tendências ideológicas de caráter essencialmente reacionário. Elas incluem a perspectiva da política de protesto, o stalinismo, o nacionalismo burguês e formas de políticas identitárias, como o nacionalismo negro. Todas essas são marcas registradas do que sempre chamamos de radicalismo de classe média, ou seja, uma perspectiva política que reflete os interesses não da classe trabalhadora, mas de camadas da classe média que estão insatisfeitas com sua posição na sociedade capitalista, mas incapazes de promover uma oposição genuinamente revolucionária ao status quo. Na sociedade capitalista, somente um programa que articule os interesses independentes da classe trabalhadora e lute para estabelecer a unidade da classe trabalhadora e sua independência política de todas as seções da burguesia – tanto liberais quanto conservadoras – pode fornecer a base para um movimento socialista revolucionário.
Em suas linhas gerais essenciais, o PSL herdou a perspectiva e a política do WWP.
Os aliados do PSL hoje: Submissão ao Partido Democrata e aos regimes nacionalistas burgueses
Há uma linha direta de continuidade entre a defesa histórica do stalinismo pelo PSL e sua orientação política atual.
Em seu programa político, o PSL defende uma versão moderna e reacionária do “socialismo em um país” – dessa vez nos EUA. Enquanto isso, apesar de sua retórica radical, ele é totalmente orientado para pressionar o mais antigo partido capitalista do mundo, o Partido Democrata, o principal instrumento de Wall Street e das agências militares e de inteligência dos EUA.
Em um artigo após o outro e em um discurso após o outro, o PSL tenta convencer os jovens e os trabalhadores de que, mesmo após nove meses de genocídio e mais de 186.000 mortos, “pressionar” o governo Biden “funciona”.
Essa perspectiva de pressionar o Partido Democrata animou os protestos contra a invasão do Iraque pelo governo Bush em 2003-2004, que, nos EUA, foram organizados principalmente pela Coalizão ANSWER. Naquela época, assim como agora, ela se mostrou um completo beco sem saída. Da mesma forma que essa perspectiva não conseguiu impedir a invasão do Iraque e o massacre resultante de até um milhão de iraquianos em uma década de ocupação, o genocídio em Gaza não foi interrompido ou impedido, mas sim intensificado.
Longe de “responder” à pressão, os Democratas e os Republicanos não apenas intensificaram o ataque aos direitos democráticos no país, mas também convidaram – de forma demonstrativa – o açougueiro-chefe, Benjamin Netanyahu, para discursar no Congresso em 24 de julho e fornecer um “relatório” sobre o genocídio. A principal demanda da Coalizão ANSWER e do PSL foi novamente direcionada ao governo Biden: Fazer com que Benjamin Netanyahu seja preso e entregue ao Tribunal Penal Internacional.
Nesses esforços, o PSL e a Coalizão ANSWER receberam o apoio da burocracia sindical do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Automotiva (UAW, na sigla em inglês), que está totalmente integrado ao governo Biden e ao Partido Democrata, os principais apoiadores do genocídio israelense em Gaza. O presidente do UAW, Shawn Fain, foi convidado de honra no discurso de Biden sobre o Estado da União e visitou a Casa Branca várias vezes desde sua eleição fraudulenta em 2022, prometendo a Biden que ele “iria à guerra e colocaria o poder dos filiados atrás de você”.
O PSL também defende uma das principais ferramentas da classe dominante americana para dividir os trabalhadores: as políticas raciais e identitárias. Em um testemunho particularmente revelador de sua rejeição ao marxismo, à verdade histórica e aos princípios democráticos básicos, o PSL endossou os ataques às revoluções americanas e a Abraham Lincoln que encontraram sua expressão mais vil no Projeto 1619 do New York Times.
Ao mesmo tempo em que se engaja em políticas raciais e nacionalistas e colabora com as burocracias sindicais nos EUA, no Oriente Médio e internacionalmente, o PSL apoia regimes nacionalistas burgueses e se opõe à mobilização independente da classe trabalhadora contra o imperialismo e o sistema de Estados-nação. Em seus artigos sobre o genocídio em Gaza, o PSL combina a promoção de uma política de protesto ineficaz com o objetivo de pressionar o imperialismo dos EUA, com uma glorificação descarada de forças nacionalistas burguesas e pequeno-burguesas, como o Hamas e os rebeldes Houthis no Iêmen, que ele descreveu como o “eixo de resistência” que já infligiu uma “derrota estratégica” a Israel.
Outros heróis políticos do PSL incluem figuras como Jose Maria Sison, que foi responsável por derrotas sangrentas da classe trabalhadora nas Filipinas e acabou apoiando o governo fascista de Duterte no final de sua vida. No entanto, o PSL o descreveu como um “camarada” e um “revolucionário brilhante e dedicado”.
Na China, o PSL glorifica o regime capitalista de Xi Jinping. Em 22 de outubro de 2022, ele descreveu o Partido Comunista Chinês como um “partido governante” que está “profundamente preocupado com o bem-estar do povo chinês”. Isso foi apenas algumas semanas antes de o PCC sucumbir à pressão das potências imperialistas e abandonar completamente quaisquer medidas de mitigação contra a COVID-19, levando a mais de 1 milhão de mortes em questão de semanas. Deve-se ressaltar que o PSL, espelhando a classe dominante nos EUA e internacionalmente, declarou que a atual pandemia da COVID não é um problema, ignorando-a completamente em sua campanha presidencial e em seu site.
Embora de forma menos evidente, o PSL também defende uma orientação para o regime de Putin e se recusou a condenar sua invasão reacionária da Ucrânia em 24 de fevereiro de 2022.
Em uma declaração emitida dois dias antes da invasão, o PSL descreveu a expansão da OTAN como uma ameaça existencial à Rússia e uma “justificativa clara do ponto de vista geopolítico” para a “tomada de decisão” da Rússia. Como “solução”, o PSL apelou para a OTAN, pedindo que ela se dissolvesse. O PSL declarou: “A abolição da OTAN resolveria as tensões explosivas na Europa Oriental e representaria um passo histórico em direção à paz mundial”. Não é preciso dizer que a classe dominante dos países imperialistas não deu esse “passo histórico em direção à paz mundial”!
Quando o regime de Putin invadiu o país, menos de 48 horas depois, o PSL emitiu uma declaração focada novamente no papel da OTAN em provocar a guerra e insistiu que a OTAN era a agressora. Embora corretos em si mesmos, na ausência de uma condenação da invasão reacionária do regime de Putin e do avanço de uma linha clara para a classe trabalhadora na Rússia, na Ucrânia, na Europa e nos EUA para se opor a essa guerra, esses apelos condenando a OTAN equivalem a uma adaptação de fato e a uma justificativa das políticas do regime de Putin. O PSL chegou a usar a linguagem do Kremlin, descrevendo a guerra como uma “operação militar especial”. Desde então, o PSL não emitiu um único documento programático sobre a guerra na Ucrânia.
Em contraste, o Comitê Internacional da Quarta Internacional, poucas horas após o início da guerra, denunciou inequivocamente a invasão. Em uma declaração de princípios em 24 de fevereiro de 2022, o CI afirmou:
Apesar das provocações e ameaças dos EUA e das potências da OTAN, os socialistas e os trabalhadores com consciência de classe devem se opor à invasão da Ucrânia pela Rússia. A catástrofe que foi desencadeada pela dissolução da União Soviética em 1991 não pode ser evitada com base no nacionalismo russo, uma ideologia totalmente reacionária que serve aos interesses da classe dominante capitalista representada por Vladimir Putin.
O que é necessário não é um retorno à política externa do czarismo anterior a 1917, mas sim um renascimento, na Rússia e em todo o mundo, do internacionalismo socialista que inspirou a Revolução de Outubro de 1917 e levou à criação da União Soviética como um Estado operário. A invasão da Ucrânia, independentemente das justificativas dadas pelo regime de Putin, servirá apenas para dividir a classe trabalhadora russa e ucraniana e, além disso, atenderá aos interesses do imperialismo americano e europeu.
Aparentemente, pode parecer contraditório que o PSL apele ao governo Biden e à OTAN para “abolir a si mesmo” e, ao mesmo tempo, dê apoio de fato ao regime de Putin e ao regime de Xi. Do ponto de vista básico da orientação histórica e social, entretanto, essa linha é perfeitamente consistente.
De fato, especialmente em seus apelos à classe dominante imperialista, o PSL espelha as políticas neostalinistas do regime de Putin, que surgiu como um regime bonapartista a partir da restauração do capitalismo na União Soviética pela burocracia stalinista. Com sua invasão reacionária da Ucrânia, o regime de Putin tem procurado exercer pressão sobre as potências imperialistas e forçá-las a sentar-se à mesa de negociações. Embora esse cálculo tenha saído catastroficamente pela culatra, o Kremlin não o abandonou. O regime de Putin, cuja principal preocupação é a salvaguarda dos bens dos oligarcas contra a ameaça de uma revolução social, compartilha a orientação da burocracia stalinista em relação à “coexistência pacífica” com o imperialismo. Essa política externa neostalinista não é apenas pró-capitalista, mas também inviável.
Como David North explicou em 2023:
A distribuição e alocação pacífica de recursos globais entre os estados capitalistas e imperialistas são impossíveis. As contradições entre a economia global e o sistema capitalista de Estados-nação levam à guerra. De qualquer forma, a realização de um mundo “multipolar”, deixando de lado seus fundamentos teóricos incorretos, exige sua aceitação pacífica pela potência imperialista dominante de hoje, os Estados Unidos. Essa não é uma perspectiva realista. Os Estados Unidos se oporão com todos os meios à sua disposição aos esforços para bloquear sua busca pela hegemonia “unipolar”. Assim, o esforço utópico de substituir um mundo “unipolar” por um mundo “multipolar” leva, por sua própria lógica distorcida, à Terceira Guerra Mundial e à destruição do planeta.
Conclusão
Um princípio básico da oposição socialista à guerra imperialista é que ela deve estar enraizada na classe trabalhadora e em sua unificação internacional. Além disso, desde a Primeira Guerra Mundial, os socialistas revolucionários sempre insistiram que, em um conflito reacionário, os trabalhadores de todos os países devem assumir a posição de derrotismo revolucionário, ou seja, uma política de oposição revolucionária à sua “própria” classe capitalista que, por meio da guerra, busca defender seus próprios interesses nacionais e econômicos contra a classe trabalhadora, tanto no exterior quanto em casa.
O PSL vira todos esses princípios de cabeça para baixo: Sob as condições de uma guerra mundial emergente e do descrédito das tendências de pseudoesquerda mais conhecidas, como os DSA, ele tenta desesperadamente manter a classe trabalhadora e a juventude ligadas a essa ou àquela facção da burguesia. Longe de ser uma tendência socialista genuína, é um grupo radical nacionalista pequeno-burguês cuja função principal consiste em impedir que jovens e trabalhadores radicalizados encontrem o caminho para uma política socialista e revolucionária genuína.
Isso encontrou uma expressão clara no papel do PSL como a “polícia política” dos protestos contra o genocídio: apesar do seu uso de frases radicais no palco, sem o conhecimento da maioria dos manifestantes, o PSL tem impedido rotineiramente que os membros da Juventude e Estudantes Internacionais pela Igualdade Social (JEIIS) e do Partido Socialista pela Igualdade (SEP, na sigla em inglês) falem nos protestos.
Há um cheiro desagradável em toda a história e política do PSL, cuja política pode ser melhor descrita como neostalinista. Ele recicla todas as velhas manobras podres do coveiro da revolução socialista do século XX, seja no centro do imperialismo mundial, nos EUA, ou nos países oprimidos. Isso mostra as profundezas da crise da classe dominante, que agora precisa contar com essas forças para impedir a oposição das massas às suas políticas e sustentar seu governo.
Não é necessária uma profunda previsão histórica para prever que esse apoio é, de fato, instável. O PSL é um dos principais candidatos para o que Trotsky chamou apropriadamente de “lata de lixo da história”. Sua política não resistirá ao teste dos choques da guerra e da luta de classes que se aproximam. O surgimento e o desaparecimento de tais tendências não é a exceção, mas a regra de qualquer processo de radicalização das massas.
O movimento das massas em direção à revolução não acontece da noite para o dia. A classe trabalhadora e os jovens passam por experiências definidas de luta, no decorrer das quais entram em contato com diferentes tendências políticas e precisam superar os obstáculos políticos e ideológicos lançados em seu caminho pela classe dominante.
Mas isso só torna ainda mais urgente a tarefa de extrair as lições políticas dos últimos 10 meses de protestos e o papel de organizações como o PSL.
O movimento de protesto contra o genocídio de Gaza está em uma encruzilhada. Se continuar a ser dominado por organizações nacionalistas pequeno-burguesas e subordinado ao Partido Democrata, ele inevitavelmente entrará em colapso, agravando um sentimento de desmoralização e desespero político entre os jovens que já levou ao trágico protesto suicida de Aaron Bushnell.
O outro caminho está em se voltar para a classe trabalhadora e na construção de um poderoso movimento socialista contra a guerra, capaz de pôr fim à Terceira Guerra Mundial em desenvolvimento, que está em metástase no Oriente Médio e na Europa Oriental, com a Rússia, a China e o Irã na mira do imperialismo americano.
A Juventude e Estudantes Internacionais pela Igualdade Social, a organização estudantil e de juventude do movimento trotskista mundial, portanto, conclama todos os jovens e trabalhadores que se opõem à guerra imperialista a assumir a luta pela construção de uma liderança socialista na classe trabalhadora! Estudem a história e a política do trotskismo! Participem da manifestação organizada pelo SEP (EUA) e pela JEIIS em Washington, D.C. no dia 24 de julho para construir um movimento socialista genuíno contra a guerra para deter o genocídio em Gaza, a guerra na Ucrânia e a escalada rumo à Terceira Guerra Mundial!