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Perspectivas

A classe trabalhadora, a luta contra a barbárie capitalista e a construção do Partido Mundial da Revolução Socialista (parte três)

Publicado originalmente em 5 de janeiro de 2024, esta é a terceira parte da Declaração de Ano Novo do WSWS. A primeira parte foi publicada em 5 de janeiro, a segunda parte em 15 de janeiro e a quarta e última parte em 22 janeiro 2024.

O ressurgimento da extrema direita e o colapso global da democracia

1. Conforme o genocídio está sendo abertamente adotado como um instrumento político no ataque israelense contra Gaza apoiado pelo imperialismo, e a morte em massa foi normalizada na resposta da classe dominante à pandemia, os movimentos fascistas e autoritários fazem novamente parte do cenário político dominante em todo o mundo. Na ausência de qualquer resposta genuinamente anticapitalista por parte da classe média e das organizações de pseudoesquerda à intensificação da crise econômica e à deterioração dos padrões de vida, os ganhos políticos estão sendo acumulados pela extrema direita.

2. Nos primeiros dias do novo ano, surgiram comentários na mídia burguesa sobre a perigosa posição das formas democráticas de governo em 2024: “A Make-or-Break Year for Democracy Worldwide”, (Um ano decisivo para a democracia mundial, revista Time); “2024 Brings Wave of Elections with Global Democracy on the Ballot” (2024 traz democracia nas urnas em onda de eleições, Washington Post); “2024 Could Be a Very Rough Year for Democracy” (2024 pode ser ano muito duro para democracia, New Yorker); “Why 2024 Could Be the Biggest Year for Democracy Yet” (Porque 2024 pode ser maior ano para democracia, Economist); e “Can Democracy Survive in 2024?” (Democracia sobreviverá em 2024?, Financial Times).

3. Os comentários observam que, em 2024, irão ocorrer entre 70 e 80 eleições separadas em todo o mundo, envolvendo aproximadamente 4,2 bilhões de pessoas, ou seja, mais da metade da população global. Isso inclui a eleição presidencial nos Estados Unidos, com as eleições na Índia, União Europeia, Reino Unido, México, Indonésia, Bangladesh, África do Sul e dezenas de outros países.

4. Em meio a essas eleições, a estrutura das instituições democráticas burguesas está desmoronando. O Washington Post escreveu: “Em sociedade após sociedade, os valores iliberais e os políticos que os adotam estão ganhando espaço. Vários governos eleitos parecem empenhados em minar os princípios fundamentais do projeto democrático, desde a liberdade de imprensa até a independência de instituições como o judiciário e a capacidade dos partidos de oposição de competir de forma justa contra o establishment no poder”. O Financial Times escreveu: “A iniciativa Situação Global da Democracia do Instituto Internacional para a Democracia e a Assistência Eleitoral da Suécia constatou que 2023 marcou o sexto ano consecutivo em que a democracia diminuiu em metade de todos os países, o recuo mais longo desde que os registros começaram em 1975”.

5. No entanto, não existe qualquer análise na mídia capitalista baseada historicamente nos processos políticos subjacentes a essa “crise da democracia”, muito menos um exame dos fatores sociais fundamentais por trás da tendência à ditadura e ao autoritarismo.

6. O fortalecimento da extrema direita é um fenômeno universal. As eleições nos EUA este ano serão realizadas apenas três anos após o golpe fascista de 6 de janeiro de 2021. Trump, o principal candidato à nomeação pelo Partido Republicano, está atualmente à frente nas pesquisas em qualquer disputa com Biden. As pesquisas atuais projetam que o Grupo de Identidade e Democracia de extrema direita, que inclui o Rassemblement National de Marine Le Pen na França e o fascista Alternativa para a Alemanha (AfD), irá ganhar assentos suficientes nas eleições em junho para se tornar o terceiro ou quarto maior partido no parlamento da UE.

Javier Milei, presidente eleito da Argentina, fala em sua sede de campanha após o fechamento das seções eleitorais durante as eleições primárias em Buenos Aires, Argentina, domingo, 13 de agosto de 2023. [AP Photo/Natacha Pisarenko]

7. No ano passado, a personalidade de TV fascista, Javier Milei, na Argentina foi eleito em novembro, e o Partido da Liberdade (PVV) antimuçulmano de Geet Wilders se tornou a maior força na política holandesa após as eleições de dezembro. A primeira-ministra da Itália é Giorgia Meloni, eleita em 2022, cuja linhagem política remonta diretamente a Mussolini. Na Índia, é esperado que o primeiro-ministro Narendra Modi e seu partido fascista Bharatiya Janata (BJP) conquistem o terceiro mandato após as vitórias nas eleições estaduais de dezembro.

8. Politicamente, a ascensão de partidos e indivíduos fascistas é muito menos um movimento das massas vindo de baixo do que o resultado de uma guinada universal para a direita da classe dominante. Independentemente do seu rótulo – social-democrata, democrata, trabalhista ou conservador – as políticas dos partidos do establishment são essencialmente as mesmas: cortes massivos nos gastos sociais e aumentos de gastos militares, juntamente com o apoio à guerra dos EUA-OTAN contra a Rússia na Ucrânia e ao genocídio israelense em Gaza.

9. Ao mesmo tempo, os partidos capitalistas tradicionais estão adotando cada vez mais o programa e as políticas dos fascistas. O ano terminou com os representantes dos Estados-membros da UE e do Parlamento Europeu adotando o “sistema europeu comum de asilo” (CEAS), que abole o direito de asilo, amplia a Fortaleza Europeia e sanciona deportações em massa e a detenção de refugiados no que são na prática campos de concentração.

10. Essa mudança para a direita inclui partidos da “esquerda” nominal: o Syriza na Grécia, que chegou ao poder em 2015 com promessas de acabar com a austeridade apoiada pelo FMI e passou a implementar medidas de austeridade ainda mais profundas do que seu antecessor; o corbynismo no Reino Unido, que trabalhou para canalizar a oposição ao Partido Trabalhista, culminando com a ascensão de Keir Starmer e a expulsão do próprio Corbyn do partido; o Partido de Esquerda na Alemanha, cujas políticas de direita levaram a um colapso no apoio entre trabalhadores e jovens.

Oligarquia e desigualdade social

11. Por trás desses processos políticos estão processos sociais mais fundamentais. Explicando a crise da democracia burguesa no período entre a primeira e a segunda guerra mundial, Trotsky comparou a democracia a “um sistema de fusíveis e disjuntores para a proteção contra correntes sobrecarregadas pela luta nacional ou social... Sob o impacto das contradições de classe e internacionais que são muito carregadas, os fusíveis da democracia queimam ou explodem. É isso que o curto-circuito da ditadura representa”.

12. As contradições internacionais que provocam um curto-circuito nos fusíveis da democracia são as mesmas contradições que sustentam o conflito global em expansão e a normalização do genocídio como instrumento da política externa. Como explicou Lenin, o imperialismo é “reação em todas as esferas”. O capital financeiro, tanto em sua política externa quanto interna, “não luta pela democracia, mas pela ditadura”. A subordinação de toda a sociedade a uma política de guerra interminável implica não apenas o desvio de recursos sociais para financiar orçamentos militares explosivos, mas também ações cada vez mais diretas para suprimir a oposição contra a guerra domesticamente.

13. As contradições essenciais de classe que minam as formas democráticas de governo se manifestam, acima de tudo, no crescimento extremo da desigualdade social. A sociedade capitalista assumiu a forma de uma oligarquia, na qual toda a vida econômica, social e política é controlada por uma pequena elite. Utilizando outra analogia, as concentrações extremas de riqueza estão se transformando como um tumor em metástase descontrolado, infectando todas as instituições do Estado, os tribunais e a mídia.

14. Globalmente, segundo a Oxfam, o 1% mais rico da população possui hoje quase metade da riqueza do mundo, enquanto os 50% mais pobres possuem apenas 0,75%. Apenas 81 bilionários possuem mais riqueza do que metade da população global.

15. O World Inequality Database (WID, Base de dados da desigualdade social), desenvolvido por Thomas Piketty, Emmanuel Saez e Gabriel Zucman, calcula que a riqueza dos 0,01% mais ricos da população (hoje, aproximadamente 800 mil pessoas) aumentou de 8% em 1995 para 12% atualmente. A diferença de riqueza entre os 0,01% mais ricos e os 50% mais pobres é 50% maior hoje do que era em 2008. A desigualdade de renda também está aumentando. Os 10% mais ricos da população mundial ficam com mais da metade (52%) de toda a renda global, enquanto a metade inferior fica com apenas 8,5%.

16. O “Relatório sobre a desigualdade mundial 2022” do WID, a última atualização disponível, constatou:

Os multimilionários globais capturaram uma parcela desproporcional do crescimento da riqueza global nas últimas décadas: o 1% do topo ficou com 38% de toda a riqueza adicional acumulada desde meados da década de 1990, enquanto os 50% da base capturaram apenas 2% dela. Essa desigualdade decorre de uma grave desigualdade nas taxas de crescimento entre os segmentos superior e inferior da distribuição de riqueza. A riqueza dos indivíduos mais ricos do planeta cresceu de 6 a 9% ao ano desde 1995, enquanto a riqueza média cresceu 3,2% ao ano. Desde 1995, a parcela da riqueza global detida pelos bilionários aumentou de 1% para mais de 3%. Esse aumento foi exacerbado durante a pandemia de COVID-19. Na verdade, 2020 marcou o aumento mais acentuado já registrado na parcela de riqueza dos bilionários globais.

17. Os Estados Unidos abrigam a maior concentração de bilionários do mundo, cuja riqueza coletiva, de acordo com a organização Americans for Tax Fairness, cresceu e atingiu US$ 5,2 trilhões em novembro de 2023, o valor mais alto já registrado. A partir do terceiro trimestre de 2023, os 10% mais ricos da população dos EUA possuíam dois terços da riqueza total, enquanto a metade inferior possuía apenas 2,6%.

18. “O acúmulo de riqueza em um pólo”, observou Marx, “é ao mesmo tempo acúmulo de miséria, agonia do trabalho, escravidão, ignorância, brutalidade, degradação mental, no pólo oposto”. Cerca de 700 milhões de pessoas, ou quase 9% da população global, incluindo 333 milhões de crianças, vivem no que a ONU define como pobreza extrema, subsistindo com menos de US$ 2,15 por dia.

19. A acumulação de riqueza pessoal, embora imensamente significativa por si só, é secundária e está ligada à imensa concentração de poder econômico em um pequeno número de mega conglomerados de propriedade das elites capitalistas dominantes.

Jamie Dimon em conferência de investimentos em saúde da JPMorgan. [Photo by Steve Jurvetson / CC BY 2.0]

20. A escala de recursos controlados pelos gigantescos bancos e instituições financeiras é enorme. Em 2023, o JPMorgan Chase (CEO Jamie Dimon) se tornou o maior banco do mundo após adquirir o First Republic, com US$ 3,7 trilhões em ativos (mais do que o PIB do Reino Unido). Gigantescas empresas de investimentos como a Vanguard (US$ 7,7 trilhões) e a BlackRock (US$ 9,4 trilhões) controlam, por meio de suas participações, grandes parcelas da economia. Por si só, a Vanguard é a maior acionista de 330 empresas do S&P 500, enquanto a BlackRock é a investidora número um em outras 38.

21. O aumento acentuado do índice de ações S&P 500 em 2023 foi impulsionado por sete empresas de tecnologia: Amazon, Apple, Alphabet (Google), Meta Platforms (Facebook e Instagram), Microsoft, Nvidia e Tesla. A capitalização de mercado combinada dessas empresas aumentou em US$ 5,2 trilhões apenas no ano passado, representando mais de 60% do aumento de US$ 8,2 trilhões no S&P 500 como um todo. Apenas quatro investidores nessas ações – Jeff Bezos (Amazon), Mark Zuckerberg (Meta), Elon Musk (Tesla) e a Vanguard – ganharam US$ 491 bilhões com suas participações. Segundo a Forbes, metade dos ganhos em riqueza dos bilionários dos EUA no ano passado veio do aumento das ações de tecnologia, com oito bilionários de tecnologia aumentando suas fortunas em pelo menos US$ 10 bilhões.

22. Essas empresas e seus proprietários exercem enorme poder sobre a Internet e as redes sociais, especialmente após a aquisição do Twitter/X por Musk em 2022. Elas estão intimamente ligadas ao Estado e usam seu controle sobre as comunicações para censurar opiniões de oposição e contra a guerra. O World Socialist Web Site é regularmente escanteado nos resultados de pesquisa para termos-chave, um processo de censura exposto inicialmente em 2017 e que continua desde então.

Presidente francês Emmanuel Macron recebe primeiro-ministro indiano Narendra Modi no Museu do Louvre antes de jantar em paris, 14 de julho de 2023. [AP Photo/Aurelien Morissard]

23. Essa dinâmica social existe em todos os países imperialistas, juntamente com as potências menores. Atualmente, o homem mais rico da Ásia é Mukesh Ambani, da Índia (patrimônio líquido de US$ 100 bilhões), um dos principais apoiadores de Modi, cuja riqueza disparou após as vitórias do partido BJP nas eleições estaduais de dezembro. A riqueza de Ambani deriva de seu controle da Reliance Industries, a maior empresa da Índia por capitalização de mercado, um conglomerado com grandes negócios em energia, varejo, telecomunicações e têxteis. A pessoa mais rica do México é Carlos Slim (patrimônio líquido de US$ 105 bilhões), que controla grande parte da economia mexicana por meio de seu conglomerado, Grupo Carso, e outros investimentos.

24. Essas são as forças que sufocam a democracia em todo o mundo. A ideia de que os direitos democráticos básicos podem ser preservados sem abordar as forças e os interesses econômicos subjacentes em ação é mera ilusão.

A crise da democracia americana e as eleições de 2024

25. Em nenhum outro lugar esses processos são mais evidentes do que nos Estados Unidos, a plataforma do imperialismo mundial e o centro global do capital financeiro. A campanha eleitoral de 2024 está se desenrolando sob a sombra do golpe fascista de 6 de janeiro de 2021, durante o qual Donald Trump tentou impedir a certificação pelo congresso de sua derrota eleitoral para Biden, abolir a Constituição e estabelecer uma ditadura personalista.

Ex-presidente Donald Trump discursando durante comício antes de eleições primárias em Waterloo no estado de Iowa, 19 de dezembro de 2023. [AP Photo/Charlie Neibergall]

26. Em sua declaração publicada no dia seguinte ao golpe, o World Socialist Web Site escreveu que esse foi “um ponto de virada na história dos Estados Unidos”:

A antiga exaltação da invencibilidade e da atemporalidade da democracia americana foi totalmente exposta e desacreditada, mostrando ser um mito político. A frase popular: 'Não pode acontecer aqui', tirada do título do famoso relato ficcional de Sinclair Lewis sobre a ascensão do fascismo estadunidense, foi decisivamente superada pelos acontecimentos. Não só um golpe fascista pode acontecer aqui, mas aconteceu, na tarde de 6 de janeiro de 2021.

Além disso, mesmo que o esforço inicial não tenha alcançado o seu objetivo, acontecerá novamente.

27. Nos meses que antecederam o golpe e no seu desfecho, o WSWS documentou a extensa conspiração por trás da insurreição fascista, na qual a invasão do Capitólio, a pedido de Trump, foi apenas o estágio final. A conspiração envolveu não apenas o presidente em exercício, mas a maior parte da liderança do Partido Republicano, juntamente com seções significativas do aparato militar-policial e do judiciário.

28. Nenhuma instituição do establishment político se opôs ativamente à tentativa de estabelecer uma ditadura, que chegou muito perto de ser bem-sucedida. As forças armadas e a guarda nacional ficaram de braços cruzados enquanto a multidão fascista de Trump tomava o prédio do Capitólio, buscando reféns. O Partido Democrata não disse nada enquanto o golpe se desenrolava, e o próprio Biden esperou horas antes de finalmente fazer um apelo patético para que Trump fosse à televisão nacional e cancelasse o golpe.

29. As informações substanciais sobre os eventos de 6 de janeiro que foram divulgadas nos últimos três anos confirmaram essa avaliação do que aconteceu. As condições sociais e políticas que produziram o golpe só se intensificaram nesse período.

Membros do grupo Oath Keepers em entrada oeste do Capitólio em 6 de janeiro de 2021. [AP Photo/Manuel Balce Ceneta]

30. As eleições de 2024 ocorrem em condições de crise política existencial e de colapso de todas as instituições do aparato de Estado. supondo que a eleição seja realizada conforme programado, não está claro se ela produzirá um resultado que será aceito como legítimo pelo partido perdedor.

31. No final de 2023, a suprema corte do estado do Colorado e o secretário de estado de Maine decidiram que Trump não poderia concorrer à eleição por causa de suas ações anticonstitucionais em 6 de janeiro, enquanto as autoridades dos estados controlados pelos republicanos ameaçaram como retaliação remover Biden. O estado do Texas tomou medidas que desafiam abertamente a autoridade constitucional do governo federal para determinar a política de imigração. Uma contestação semelhante ao resultado da eleição de novembro é totalmente possível, e não apenas no Texas.

32. As crescentes tendências de secessão ameaçam destruir todo a ordem pós-Guerra Civil que restabeleceu a autoridade federal unificada sobre os estados. Em 1860, Lincoln não apareceu nas cédulas de votação em nenhum dos estados do sul. A decisão de sete estados do sul de se separarem e formarem os Estados Confederados da América antes da posse de Lincoln inaugurou os eventos que levaram ao início da Guerra Civil alguns meses depois.

33. É claro que o conflito que está destruindo as estruturas políticas existentes não é entre frações progressivas e reacionárias da classe dominante. Os democratas e os republicanos são duas frações reacionárias da oligarquia corporativa e financeira. Por mais intensas que sejam suas discordânicas táticas, elas estão totalmente subordinadas à sua agenda reacionária comum.

34. Existem relatos de que Biden irá colocar a ameaça à democracia por Trump no centro de sua campanha à reeleição. Isso é semelhante a um dono de bordel proclamando que irá construir a reputação de seu estabelecimento defendendo práticas comerciais éticas. Foi Biden quem declarou, poucos dias após a insurreição de 6 de janeiro, que seu objetivo era ter um Partido Republicano “forte”. O Partido Democrata fez todo o possível para evitar qualquer exposição das forças políticas e sociais por trás do golpe. As várias investigações e comissões foram e voltaram e terminaram não produzindo nada.

Presidente Joe Biden é recebido pelo primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu após chegar no Aeroporto Internacional Ben Gurion em Tel Aviv, 18 de outubro de 2023. [AP Photo/Evan Vucci]

35. Nos últimos três anos, a preocupação central do governo Biden foi a escalada da guerra contra a Rússia, seguida pelo apoio aberto ao genocídio em Gaza. Quando o ano chegou ao fim, as principais autoridades do governo Biden reiteraram sua promessa de apoiar a agenda fascista contra a imigração dos republicanos em troca de maior financiamento militar para a Ucrânia.

36. Os democratas e os republicanos uniram forças para apoiar o genocídio em Gaza e na campanha cada vez mais agressiva classificando a oposição a Israel como antissemita. A renúncia forçada da reitora de Harvard, Claudine Gay, faz parte de uma campanha de intimidação política e censura nos campi universitários, incluindo a proibição de grupos de estudantes que se opõem ao genocídio.

Socialismo versus capitalismo e oligarquia

37. Afirmar que as formas democráticas de governo podem ser defendidas sem um ataque frontal contra a riqueza da elite dominante e seu domínio sobre a economia é o cúmulo da charlatanice política e intelectual.

38. O fato da direita estar se fortalecendo possui menos relação com seu poder intrínseco do que com a completa falência do que se apresenta como esquerda. Sustentando a impotência das várias formas de política de pseudoesquerda – Bernie Sanders e os Socialistas Democráticos dos EUA (DSA); o Partido de Esquerda na Alemanha; Podemos na Espanha; Syriza na Grécia; o movimento da 'Maré Rosa' e os apoiadores de Lula na América Latina – existe a subserviência à propriedade privada, aos lucros corporativos e riqueza pessoal. As suas ocasionais referências ao “socialismo” consistem inteiramente de retórica. O “socialismo” com que sonham é aquele que pode ser alcançado sem causar uma queda no valor das ações em Wall Street, ou seja, um socialismo sem a luta de classes, sem a expropriação da classe dominante e sem a transferência de poder para a classe trabalhadora. O “socialismo” de Jeremy Corbyn faz com que o dos antigos fabianos pareçam quase bolcheviques. Aquele de Sanders, Ocasio-Cortez e dos DSA está bem à direita do reformismo burguês durante o período que vai do New Deal de Roosevelt à Grande Sociedade de Johnson.

39. O verdadeiro eleitorado social da pseudoesquerda são os setores privilegiados da classe média alta. O seu objetivo não é a reestruturação radical da vida social e econômica, mas sim a redistribuição da riqueza no topo. A promoção interminável de vários tipos de políticas raciais e de gênero é a forma pela qual os setores da classe média alta competem por posições de poder e privilégio nas nas empresas, academia, mídia, aparato sindical e no Estado.

40. Nos Estados Unidos, os três anos do governo Biden serviram para expor de forma abrangente as pretensões de “esquerda” dos DSA. Os principais membros do DSA no Congresso, incluindo Ocasio-Cortez, votaram para proibir a ação de greve dos trabalhadores ferroviários e financiar a guerra dos EUA-OTAN contra a Rússia na Ucrânia. Em meio ao genocídio israelense em Gaza, Ocasio-Cortez anunciou que apoiaria o financiamento da Cúpula de Ferro de Israel.

41. Toda a conversa sobre defender a democracia e combater o fascismo, ignorando a questão fundamental de classe e poder econômico – e, portanto, reconhecendo a necessidade de mobilização da classe trabalhadora em escala global para a derrubada do capitalismo – é demagogia cínica e politicamente impotente. A riqueza dos bilionários deve ser expropriada e as corporações gigantescas devem ser transformadas, sem compensação para os grandes acionistas, em empresas de serviços públicos controladas pelo poder público, administradas com base na necessidade social e não no lucro privado. As instituições antidemocráticas e os órgãos repressivos do Estado capitalista (o exército profissional, a polícia e as agências de inteligência) devem ser abolidos e substituídos por organizações de controle e poder dos trabalhadores, para estabelecer uma economia democrática e planejada em escala mundial.

42. As lutas crescentes dos trabalhadores em todo o mundo são a base objetiva para o desenvolvimento de um movimento internacional massivo pelo socialismo. A transformação desse movimento objetivo em uma luta consciente pelo poder exige o desenvolvimento, na classe trabalhadora, de um movimento socialista internacional de massa baseado na teoria marxista e no programa e nos princípios defendidos pelo Comitê Internacional da Quarta Internacional.

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