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Perspectivas

A classe trabalhadora, a luta contra a barbárie capitalista e a construção do Partido Mundial da Revolução Socialista (parte quatro)

Publicada originalmente em 6 de janeiro de 2024, esta é a quarta e última parte da Declaração de Ano Novo do WSWS. A primeira parte foi publicada em 3 de janeiro, a segunda parte em 15 de janeiro e a terceira parte em 16 de janeiro.

O crescimento da luta de classes e a luta pelo socialismo

1. As seções anteriores desta declaração se concentraram nos principais elementos da crise do sistema capitalista mundial no início de 2024: 1) A escalada do militarismo imperialista, liderada pelos Estados Unidos, resultando em uma guerra por procuração contra a Rússia, os preparativos abertos para a guerra com a China e, em Gaza, a adoção do genocídio como instrumento legítimo da política do Estado; 2) Um massivo retrocesso na política social, exemplificado pelo repúdio deliberado de medidas básicas de saúde pública para combater a pandemia da COVID-19 e salvar incontáveis milhões de pessoas em todo o mundo da doença, debilitação e morte; 3) A extrema concentração de riqueza nos degraus superiores da sociedade capitalista, resultando em impressionantes níveis de desigualdade social nos países capitalistas avançados e em escala global; o que fundamenta 4) A erosão e o colapso das formas democráticas de governo em todo o mundo e o ressurgimento, em uma escala não vista desde a década de 1930, de organizações e governos políticos autoritários e fascistas.

2. Todas as “linhas vermelhas” que separam a civilização da barbárie estão sendo apagadas. O lema dos governos capitalistas é: “Nada que seja criminoso é estranho para nós”. A guerra nuclear está sendo “normalizada”; o genocídio está sendo “normalizado”; as pandemias e o acometimento deliberado de doentes e idosos foram “normalizados”; níveis incomensuráveis de concentração de riqueza e desigualdade social foram “normalizados”; a supressão da democracia e o recurso ao autoritarismo e ao fascismo estão sendo “normalizados”.

3. Como um todo, a normalização de diferentes formas de barbárie social significa que a classe capitalista chegou a um beco sem saída. Uma classe cujas políticas consistem em diferentes formas de sociocídio claramente esgotou sua legitimidade histórica, econômica, social e política.

4. As perspectivas para a humanidade seriam sombrias se não fosse pelo fato historicamente verificado de que as contradições que levam o capitalismo à destruição também colocam em movimento as condições para sua derrubada e a reorganização da sociedade sobre uma base nova e progressiva, ou seja, socialista. O potencial para essa reorganização está enraizado no ser objetivo da classe trabalhadora. A luta de classes é o meio pelo qual a possibilidade objetiva da reorganização socialista é realizada na prática.

5. Portanto, a atenção deve se voltar para o desenvolvimento da luta de classes. No início do ano, até que ponto a crise do capitalismo gerou um movimento contrário da classe trabalhadora?

6. Um exame das lutas sociais de 2023 fornece evidências claras de um desenvolvimento quantitativo e qualitativo significativo da luta de classes. O quantitativo é o crescimento indiscutível do número de trabalhadores que se engajaram em greves e formas relacionadas de protesto contra a exploração, o declínio dos padrões de vida, os ataques aos direitos democráticos e o militarismo. O desenvolvimento qualitativo é a escala global da luta de classes, a tendência do movimento da classe trabalhadora de ultrapassar as fronteiras nacionais e adquirir um caráter internacional.

Protesto na França contra a reforma da previdência em fevereiro de 2023 [AP Photo/Michel Euler]

7. Esse processo foi antecipado pelo Comitê Internacional da Quarta Internacional (CIQI) já em 1988. Analisando as implicações do desenvolvimento da globalização do processo de produção e do surgimento de corporações transnacionais, o relatório de abertura apresentado no 13º congresso nacional da Workers League (Liga dos Trabalhadores, predecessora do Partido Socialista pela Igualdade nos Estados Unidos), em 30 de agosto de 1988, afirmava

Prevemos que o próximo estágio das lutas proletárias se desenvolverá inexoravelmente, sob a pressão combinada das tendências econômicas objetivas e da influência subjetiva dos marxistas, ao longo de uma trajetória internacionalista. O proletariado tenderá cada vez mais a se definir na prática como uma classe internacional; e os internacionalistas marxistas, cujas políticas são a expressão dessa tendência orgânica, cultivarão esse processo e lhe darão forma consciente. [Fourth International, julho-dezembro de 1988, p. 39].

8. Essa perspectiva foi confirmada pelos acontecimentos. O ano passado manteve a tendência de aumento dos protestos e das greves em nível internacional. O Carnegie Endowment for International Peace informou em dezembro que “a onda de protestos antigovernamentais que agitou países de todo o mundo nos últimos anos continuou em 2023”, incluindo novos protestos em 83 países diferentes. “Sete países que não haviam sofrido grandes protestos nos últimos cinco anos entraram para o clube: Dinamarca, Polinésia Francesa, Moçambique, Noruega, República da Irlanda, Suriname e Suécia. Além disso, algumas manifestações que começaram antes deste ano persistiram, incluindo protestos de professores na Hungria, manifestações contra o partido no poder em Bangladesh e demonstrações de oposição ao 'autogolpe' do presidente tunisiano Kais Saied em julho de 2021 e sua repressão à oposição”.

9. Protestos contra o aumento dos preços, acelerados pela guerra dos EUA e da OTAN contra a Rússia, ocorreram em muitos países, inclusive no Paquistão, em Portugal e na Eslovênia. “Queixas sobre a política monetária e a escassez de dinheiro provocaram manifestações em Gana e na Nigéria. Na França, greves e protestos contra a reforma da previdência, que aumentou a idade nacional de aposentadoria de 62 para 64 anos, agitaram o país no início do ano. Manifestações relacionadas à reforma da previdência também ocorreram na República Tcheca e em vários estados indianos”.

Grevistas e protestantes em comício do sindicato britânico TUC in Whitehall, 1º de fevereiro de 2023

10. Também ocorreram greves envolvendo centenas de milhares de ferroviários, portuários, professores e outros setores de trabalhadores no Reino Unido, que continuaram de meados de 2022 a 2023; grandes greves em Portugal, Bélgica e Alemanha; uma greve de 420 mil trabalhadores do setor público em Quebec; protestos de mais de um milhão na Polônia contra o Partido Lei e Justiça de extrema direita; e, antes do genocídio em Gaza, protestos envolvendo centenas de milhares em Israel contra as reformas judiciais antidemocráticas de Netanyahu. No final do ano, dezenas de milhares de trabalhadores participaram de manifestações em massa contra o novo presidente de extrema direita da Argentina, Javier Milei.

11. Ocorreu um aumento significativo no ano passado nas greves nos Estados Unidos, tanto no número de trabalhadores envolvidos quanto nos diferentes setores da classe trabalhadora que as lutas abrangeram. Segundo com o Bureau of Labor Statistics, em 2023, ocorreram 36 grandes greves envolvendo mil trabalhadores ou mais, em comparação com 23 em 2022. As grandes greves do ano passado envolveram quase 500 mil trabalhadores, quase quatro vezes mais do que os 120.600 que participaram de greves em 2022. Em outubro de 2023, 4,5 milhões de dias foram perdidos devido a paralisações de trabalho, o maior número mensal em quatro décadas. Um terço das principais greves (12) envolveu enfermeiros e outros profissionais de saúde, incluindo 75 mil trabalhadores da Kaiser Permanente. Outras sete envolveram professores e estudantes de pós-graduação.

12. O banco de dados de interrupções de trabalho da Escola de Relações Industriais e de Trabalho da Universidade de Cornell informa que houve 421 greves de todos os tamanhos, envolvendo 508 mil trabalhadores. Isso inclui 70 greves de 100 ou mais trabalhadores que duraram mais de uma semana, um aumento de 59% em relação ao ano anterior. Embora o número total de greves de todos os tamanhos em 2023 tenha sido praticamente o mesmo que em 2022 (421 em comparação com 424), o número de trabalhadores em greve mais do que dobrou, de 224 mil para 508 mil.

Roteiristas da WGA fazem greve em frente à Paramount Pictures em Los Angeles, Ca-lifórnia

13. O envolvimento de 11 mil roteiristas e 65 mil atores no movimento grevista em desenvolvimento expressou a ampliação da definição da própria classe trabalhadora, que abrange camadas crescentes da população que antes se consideravam “classe média”. Os avanços revolucionários da ciência, incluindo a inteligência artificial (IA), que guarda um enorme potencial para o desenvolvimento da humanidade, estão sendo usados para aumentar a exploração dos trabalhadores da cultura e técnicos e facilitar uma ampla reestruturação da economia como um todo.

14. Juntamente com esse desenvolvimento global da luta de classes, um movimento antiguerra em massa contra o genocídio em Gaza varreu o mundo nos últimos três meses de 2023 e irá continuar no novo ano. Esse já é o maior e mais sustentado movimento contra a guerra desde os protestos de 2003 contra a invasão do Iraque pelos EUA, ocorrendo em um estágio muito mais avançado do colapso do capitalismo mundial. Em centenas de cidades de todos os continentes habitáveis, milhões de pessoas saíram às ruas para expressar sua oposição à brutalidade do governo israelense e de seus apoiadores imperialistas. Esses protestos envolveram amplos setores da sociedade, com os jovens desempenhando um papel de liderança.

15. As maiores manifestações nos países imperialistas ocorreram em Londres (quase 1 milhão em 11 de novembro e 100 mil pessoas em vários outros protestos); Washington D.C. (mais de 300 mil em 4 de novembro); Nova York, Chicago e Los Angeles (10 mil em várias manifestações); Sydney e Melbourne (mais de 50 mil cada uma em 12 de novembro); Berlim (mais de 10 mil em 28 de outubro, apesar das proibições pela polícia); Paris (mais de 15 mil em 22 de outubro); Amsterdã (mais de 15 mil em 15 de outubro); Toronto (mais de 15 mil em 10 de outubro); e Tóquio (1,5 mil em 20 de novembro). Outras milhões de pessoas protestaram contra o genocídio, principalmente no mundo árabe.

16. A mídia corporativa fez todo o possível para encobrir o genocídio em si e os protestos globais. A realidade da guerra e a oposição a ela só podem ser totalmente compreendidas por meio das redes sociais, onde as massas acompanharam de perto os acontecimentos e organizaram manifestações. Como resultado, os oligarcas que controlam essas plataformas, em especial Elon Musk (Twitter/X) e Mark Zuckerberg (Facebook, Instagram e Threads), estão recorrendo cada vez mais à censura.

Trabalhadores da saúde em passeata em São Francisco, Califórnia em 28 de outubro de 2023

17. Chamar a atenção para os problemas fundamentais revelados nos estágios iniciais do ressurgimento global da luta de classes não diminui a importância objetiva das greves e dos protestos. Ainda existe uma imensa distância entre o nível avançado da crise objetiva e a compreensão subjetiva dessa crise e de suas implicações políticas na consciência da classe trabalhadora. Essa lacuna encontra expressão, em primeiro lugar, na contínua dominação das lutas dos trabalhadores pelas burocracias sindicais reacionárias pró-imperialistas e seus aliados na socialdemocracia, ex-stalinistas e várias formas de organizações pseudoesquerdistas pequeno-burguesas.

18. Em todos os países, as lutas dos trabalhadores foram estranguladas pelo aparato sindical pró-corporativo e nacionalista, e os protestos em massa foram sufocados e encerrados por várias organizações de esquerda e pseudoesquerda que funcionam como parte do establishment político.

19. Na França, a oposição aos cortes nas pensões do presidente Emanuel Macron foi esmagadora, com dois terços da população apoiando uma greve geral para impedir esses cortes. Entretanto, as burocracias sindicais da CGT e da CFDT trabalharam com a organização França Insubmissa de Jean-Luc Mélenchon para desmobilizar os protestos e limitar a ação grevista. Eles promoveram a ficção de que o ataque às aposentadorias poderia ser interrompido por meio de negociações com o governo Macron ou por meio das instituições do parlamento, enquanto encobriam a conexão entre o ataque aos trabalhadores e a guerra dos EUA e da OTAN contra a Rússia na Ucrânia. No final, Macron conseguiu forçar os cortes em uma manobra extraparlamentar, enquanto os sindicatos trabalharam para isolar e suprimir as greves e os protestos que se seguiram.

20. No Sri Lanka, os protestos em massa contra o aumento dos preços e as reformas apoiadas pelo FMI forçaram a renúncia do presidente Gotabaya Rajapaksa em julho de 2022. O aparato sindical, apoiado por grupos como o Partido Socialista da Linha de Frente (FSP, Frontline Socialist Party), trabalhou para manter a oposição dentro da estrutura parlamentar e dos partidos oficiais de oposição. Rajapaksa foi substituído em uma votação parlamentar por Ranil Wickremesinghe, uma das figuras políticas mais odiadas em todo o Sri Lanka. Durante todo o ano passado, Wickremesinghe trabalhou em conjunto com todos os principais partidos burgueses para forçar a aprovação das mesmas políticas do FMI apoiadas por Rajapaksa, incluindo, no final de 2023, novos impostos que aumentaram drasticamente o custo dos produtos básicos e irão trazer um aumento acentuado da pobreza.

Presidente Ranil Wickremesinghe, acompanhado por chefes das forças armadas em ce-rimônia do 75º Dia da Independência em Colombo, 4 de fevereiro de 2023 [Photo: Sri Lanka president’s media division]

21. Nos EUA, todas as principais greves de 2023 foram isoladas e encerradas pelo aparato sindical, trabalhando em estreita colaboração com o governo Biden. O UAW, sob a liderança do presidente Shawn Fain, realizou uma falsa greve (“stand-up strike”) em setembro e outubro, que manteve trabalhando a grande maioria dos 145 mil trabalhadores da Ford, Stellantis, GM (as chamadas “Três grandes”) e, em seguida, encerrou a greve antes mesmo que os trabalhadores votassem sobre os contratos de concessões que não atendiam a nenhuma das reivindicações dos trabalhadores. Fain foi fortemente promovido por grupos de pseudoesquerda, incluindo os Socialistas Democráticos dos EUA (DSA), que foram diretamente incorporados ao aparato sindical pró-corporativo.

22. As ações do UAW não são únicas. Em todos os lugares, os sindicatos são controlados por uma camada de classe média alta com interesses sociais distintos, independentes e hostis aos interesses dos trabalhadores que eles dizem representar. A renda acumulada da burocracia sindical nos Estados Unidos, que emprega centenas de milhares de pessoas, chega a dezenas de bilhões de dólares. A folha de pagamento anual da equipe empregada na sede do UAW em Detroit é superior a US$ 75 milhões. Os executivos de alto escalão dos sindicatos afiliados à AFL-CIO, como Randi Weingarten, presidente da Federação Americana de Professores (AFT), recebem substanciais salários de seis dígitos, que são dez a vinte vezes superiores aos salários dos membros da base dos sindicatos.

23. Em 1940, Trotsky analisou a degeneração dos sindicatos no que ele chamou da 'época da decadência imperialista'.

Existe uma característica comum no desenvolvimento ou, mais corretamente, na degeneração das organizações sindicais modernas em todo o mundo: é a sua aproximação e crescimento junto com o poder estatal. Esse processo é igualmente característico dos sindicatos neutros, socialdemocratas, comunistas e “anarquistas”. Esse fato, por si só, mostra que a tendência de “crescimento conjunto” não é intrínseca a esta ou àquela doutrina como tal, mas deriva de condições sociais comuns a todos os sindicatos.

O capitalismo monopolista não se baseia na concorrência e na livre iniciativa privada, mas no comando centralizado. Os círculos capitalistas à frente de poderosos fundos de investimentos, sindicatos, consórcios bancários, etc., veem a vida econômica das mesmas alturas que o poder estatal; e exigem a cada passo a colaboração dele. Por sua vez, os sindicatos nos ramos mais importantes da indústria se veem privados da possibilidade de lucrar com a concorrência entre as diferentes empresas. Eles precisam enfrentar um adversário capitalista centralizado, intimamente ligado ao poder do Estado. Daí flui a necessidade dos sindicatos – na medida em que permanecem em posições reformistas, ou seja, em posições de adaptação à propriedade privada – de se adaptarem ao Estado capitalista e lutarem por sua cooperação.

Leon Trotsky no México

24. A tendência identificada por Trotsky 84 anos atrás assumiu, desde então, proporções tão monstruosas que as organizações atualmente descritas como sindicatos não têm, na prática, nenhuma relação com o significado histórico do termo. Mesmo antes de seu ensaio de 1940 sobre “Os sindicatos na época da decadência imperialista”, Trotsky advertiu (em 1937) contra a tendência de transformar a terminologia em um fetiche, a ponto de determinar a política não com base no papel objetivo de uma determinada organização, mas em seu título formal. Ele escreveu:

O que define uma organização operária como sindicato, é sua relação com a repartição da renda nacional. O fato de que Green e companhia [na época os líderes da Federação Americana do Trabalho, AFL] defendam a propriedade privada dos meios de produção, define-os como burgueses. Se além disso estes senhores defendessem os benefícios da burguesia contra todos os atentados por parte dos trabalhadores, quer dizer, se lutassem contra as greves, contra os aumentos de salários, contra as ajudas aos desempregados, teríamos então uma organização amarela e não um sindicato. [“Um Estado não operário e não burguês”].

25. Empregando os critérios de Trotsky, as principais organizações e federações sindicais nacionais funcionam como organizações de “fura-greves”, mesmo no sentido mais literal da palavra. A tarefa das seções do CIQI é auxiliar a classe trabalhadora na preparação de uma insurreição em larga escala dos trabalhadores contra as burocracias sindicais, para desenvolver novas formas de organização militante dos trabalhadores nas fábricas e nos locais de trabalho, para as quais todo o poder de decisão será transferido. Essa abordagem se baseia no Programa de Transição, no qual Trotsky exortou os quadros da Quarta Internacional a “criar, em todas as ocasiões possíveis, organizações de combate autônomas que respondam melhor às tarefas da luta de massas contra a sociedade burguesa; e, se necessário, não hesitar mesmo diante de uma ruptura direta com o aparato conservador dos sindicatos”.

26. O CIQI luta para libertar os trabalhadores das restrições do aparato sindical por meio do desenvolvimento de organizações controladas pelos próprios trabalhadores. Quando lançou a iniciativa para a Aliança Operária Internacional de Comitês de Base (AOI-CB) em abril de 2021, o CIQI explicou que “lutará para unificar os trabalhadores em uma luta comum mundial, opondo-se a todos os esforços dos governos capitalistas e dos defensores reacionários das inúmeras formas de chauvinismo nacional, étnico e racial e das políticas de identidade para dividir a classe trabalhadora em frações em conflito”.

Naturalmente, as condições enfrentadas pelos trabalhadores variam de região para região e de país para país, e isso pode afetar a escolha das táticas. Porém, é uma clara verdade que os sindicatos burocratizados existentes funcionam em todos os países como uma força policial institucionalizada, determinada a proteger os interesses corporativos e financeiros das elites dominantes e de seus governos contra a crescente resistência popular.

27. Não existem limites para a burocracia sindical quando se trata de bloquear o desenvolvimento da influência socialista entre os trabalhadores. Porém, apesar de seus recursos, ampliados pelo apoio do Estado capitalista e da pseudoesquerda, ela não é invencível. A crescente militância da classe trabalhadora nos Estados Unidos e internacionalmente está sendo impulsionada pela crise objetiva do capitalismo. A tarefa que o partido possui pela frente é intervir nas lutas da classe trabalhadora e colocar nessa militância uma perspectiva socialista completamente elaborada, conscientemente voltada para a derrubada do capitalismo e o estabelecimento do poder dos trabalhadores em escala mundial.

28. Quatro anos atrás, a declaração de Ano Novo do World Socialist Web Site foi publicada em 3 de janeiro de 2020 sob o título “Começa a década da revolução socialista”. Sem dúvida, os falidos políticos das organizações de pseudoesquerda de classe média veem essa avaliação da situação mundial como risível. Para eles, nada parece mais invencível do que a ordem capitalista, sobretudo em sua fortaleza estadunidense. Eles não apenas consideram inconcebível o início de uma crise revolucionária na década de 2020, como também dificilmente conseguem imaginar uma revolução socialista nos 76 anos restantes do século XXI. Rejeitando a teoria da revolução permanente de Trotsky, a prática política da pseudoesquerda se baseia em uma fé inabalável na permanência do capitalismo.

29. Porém, tudo o que ocorreu desde janeiro de 2020 comprovou o prognóstico político do CIQI. No primeiro mês da nova década, a COVID-19 estava se espalhando por todo o mundo. Quase exatamente um ano após a publicação da declaração, Trump e sua multidão levaram adiante a tentativa de derrubar a Constituição e estabelecer uma ditadura fascista. O terceiro e quarto anos foram dominados pela escalada da guerra e pela crescente resistência social da classe trabalhadora.

30. Não existe razão para acreditar que a crise do capitalismo mundial diminuirá e que seus sintomas irão retroceder como uma curta gripe. Pelo contrário, a crise irá se intensificar e a resistência global da classe trabalhadora irá se tornar mais determinada e politicamente consciente. Nesse último processo, o papel do CIQI assumirá um caráter decisivo.

31. Isso não é ostentação ociosa. O Comitê Internacional da Quarta Internacional é um partido da história. O seu trabalho teórico, político e prático se baseia na vasta experiência da luta revolucionária na época imperialista, que se estende por mais de um século. Ele é o único que representa a continuidade do marxismo, como tem sido defendido e desenvolvido pelo movimento trotskista desde sua fundação em 1923, em oposição ao stalinismo, à socialdemocracia, ao revisionismo pablista, ao nacionalismo burguês e ao radicalismo pequeno-burguês de todas as variedades reacionárias.

32. O Comitê Internacional não subestima os perigos que a classe trabalhadora enfrenta nem a enorme escala do desafio que a vanguarda revolucionária enfrenta. O CIQI ainda não lidera um movimento de massa. Para que isso ocorra, é necessário o desenvolvimento nas lutas de massa da classe trabalhadora. Porém, o crescimento da influência marxista entre os trabalhadores foi prenunciado na recente campanha de Will Lehman para a presidência do sindicato UAW. Fazendo campanha abertamente como socialista e defendendo o programa da AOI-CB, Lehman recebeu os votos de quase 5 mil trabalhadores do setor automotivo. Essa conquista foi ainda mais significativa porque a burocracia não informou os trabalhadores sobre a eleição e conseguiu limitar a votação a menos de 10% dos membros do UAW.

33. Foram lançadas as bases para um crescimento significativo dos quadros do CIQI e para a criação de novas seções. O World Socialist Web Site, no decorrer de um quarto de século de publicação diária contínua, estabeleceu um grande número de leitores internacionais. Apesar da censura implacável, o WSWS é lido por dezenas de milhares de pessoas todos os dias, e sua influência na classe trabalhadora internacional e entre a juventude estudantil está em constante crescimento.

34. Além disso, o trabalho do movimento trotskista não ocorre em um vácuo político. A crise mundial está radicalizando dezenas e centenas de milhões de pessoas. O abismo entre os interesses essenciais das massas e os privilégios da classe dominante está se tornando cada vez mais óbvio. A normalização da guerra, do genocídio, das epidemias e do fascismo por parte do imperialismo fornecerá um poderoso impulso para a revolução da consciência das massas e, portanto, para a normalização do socialismo na perspectiva política da classe trabalhadora.

35. Convidamos todos os leitores do World Socialist Web Site a tirar a conclusão inevitável que decorre dessa perspectiva. Parem a derrocada à barbárie! Mobilizem o poder da classe trabalhadora contra a ditadura, a desigualdade e a guerra! Enfrentem a luta pelo trotskismo, o marxismo do século XXI! Junte-se ao Partido Socialista pela Igualdade e construa o Partido Mundial da Revolução Socialista!

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