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Sindicato se prepara para suprimir oposição às demissões na GM do Brasil

Menos de um ano após o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos (SindMetalSJC), filiado à CSP-Conlutas, a central sindical controlada pelo morenista Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU), ter suprimido a greve dos trabalhadores de três plantas em São Paulo contra a demissão de 1.245 trabalhadores e a falsa promessa de estabilidade no emprego, a GM está mais uma vez contando com os serviços dessa organização corrupta para suprimir a oposição a uma nova rodada de cortes.

Trabalhadores da GM de São José dos Campos na assembleia de segunda-feira que rejeitou as duas propostas de contrato [Photo: Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos]

Em assembleia no pátio da fábrica da GM em São José dos Campos na segunda-feira, os mais de 3 mil trabalhadores rejeitaram por ampla maioria as duas propostas apresentadas pelo sindicato após reuniões com a montadora. Na primeira, a GM ofereceu um acordo coletivo de um ano, um aumento salarial de 1% acima da inflação, vale-alimentação de R$ 500 e Participação nos Lucros e Resultados em 2025 no mesmo valor deste ano corrigido pela inflação.

Na segunda proposta, a GM ofereceu um acordo coletivo de dois anos sem aumento real de salário, vale-alimentação de R$ 700, Participação nos Lucros e Resultados de R$ 20 mil em 2025 e reajustado pela inflação em 2026. Caso os trabalhadores aceitem essa proposta, a GM apontou que poderá alocar parte do investimento de R$ 7 bilhões anunciado em janeiro na fábrica e realizar futuras contratações em São José dos Campos.

As propostas negociadas pelo sindicato foram apresentadas aos trabalhadores no final de agosto, quando a GM prometeu contratar 200 trabalhadores temporários a partir de outubro. No início deste mês, a GM confirmou seu investimento do início do ano nas fábricas de São José dos Campos e de São Caetano do Sul, na região industrial do ABC também em São Paulo. A montadora, porém, não anunciou quanto seria investido em cada uma das plantas. Presente no anúncio da empresa, o presidente em exercício do SindMetalSJC, Valmir Mariano, declarou: “Estamos otimistas com o anúncio e esperamos que a industrialização seja retomada não só no estado, mas em todo o país”.

Contra todo o “otimismo” e as ilusões promovidas pelos burocratas do sindicato, os trabalhadores da GM mostraram sua determinação de luta na assembleia de segunda-feira. No entanto, com medo de que uma possível greve imediata saísse do controle, o sindicato está totalmente concentrado em desviar a oposição dos trabalhadores mais uma vez para as negociações com a empresa, que começaram a acontecer na terça-feira. Essa manobra do sindicato serve apenas para dar tempo à empresa para se preparar e enfraquecer a vontade de luta dos trabalhadores.

Criticamente, os burocratas do sindicato estão procurando acobertar a grave ameaça de novas demissões, que encontrou massiva oposição entre os trabalhadores nos últimos meses. Isso foi confirmado na quinta-feira, quando os trabalhadores receberam uma proposta de contrato semelhante à de segunda-feira e foram orientados a aceitar outra rodada de cortes de empregos sob o pretexto de um novo Programa de Demissão Voluntária (PDV).

Para auxiliar a GM a impor cortes dos trabalhadores mais bem remunerados, o SindMetalSJC tem promovido o seu desligamento através de PDVs. Ao mesmo tempo, o sindicato busca dividir esses trabalhadores das seções mais exploradas de trabalhadores com contrato temporário, apresentando o PDV como a possibilidade de abertura de novas vagas temporárias.

Em dezembro do ano passado, após uma greve de 17 dias em outubro e novembro contra a demissão de 1.245 trabalhadores nas três fábricas da GM em São Paulo, Mariano declarou que o “PDV já era uma pauta nossa como alternativa às demissões arbitrárias”. Em outras palavras, os cortes eram aceitáveis contanto que fossem executados sob o intermédio do sindicato.

Neste ano, a GM realizou mais demissões. Em maio, 50 trabalhadores da fábrica de São José dos Campos foram demitidos depois de supostamente terem conquistado estabilidade em negociação entre a GM e o sindicato. Mais recentemente, nos dias 26 e 29 de julho, 2 mil trabalhadores realizaram paralisações após a GM anunciar a demissão de outros 50 trabalhadores efetivos.

As paralisações no final de julho foram uma resposta direta às falsas promessas do sindicato de que repetidas concessões e subordinação aos planos de “reestruturação” da GM trariam investimentos para a fábrica e significariam a proteção dos empregos e a abertura de novas vagas.

Com os cortes, os dirigentes do SindMetalSJC foram forçados a admitir a completa falência dessa perspectiva, afirmando no seu site: “A GM também alega necessidade de redução na massa salarial, o que é uma contradição, já que o lucro líquido da empresa teve crescimento de 14,3% no segundo trimestre deste ano”.

As paralisações do final de julho foram suprimidas sob a mesma estratégia do sindicato, que promoveu a promessa da GM de “estabilidade” para todos na planta por dois meses enquanto apresentou as demissões como um fato irreversível. Os dirigentes do SindMetalSJC afirmaram nesse período que o sindicato “reivindicou estabilidade para todos, a reintegração dos demitidos e, se os cortes fossem inevitáveis, abertura de PDV”.

Durante a assembleia na segunda-feira, os próprios dirigentes sindicais admitiram que não existia qualquer garantia pela GM de novas contratações e de novos investimentos na fábrica de São José dos Campos, ao contrário do que foi anunciado pela companhia e promovido pelo sindicato nas últimas semanas. Isso significa que os trabalhadores temporários estão sob ameaça imediata de não terem seus contratos renovados, mesmo dentro do regime temporário de um ano.

A ampla rejeição aos contratos apresentados pelo sindicato nesta semana mostra que os trabalhadores estão em alerta para quaisquer novas ofensivas contra os empregos e não estão dispostos a tolerar novos ataques às condições de trabalho e aos padrões de vida. Porém, os trabalhadores não podem aguardar o sindicato assumir as rédeas da oposição deles a esses ataques, ou confiar que ele irá defender as suas reivindicações de empregos e salários. A greve do ano passado possui valiosas lições para as lutas dos trabalhadores.

Em outubro de 2023, os trabalhadores paralisaram a produção após serem informados repentinamente via correio de que a GM cortaria 1.245 empregos sob a cobertura do PDV. A greve envolveu as três plantas da montadora no estado de São Paulo e ameaçou se espalhar por toda a indústria automotiva. A seriedade com que a elite dominante viu essa greve foi refletida no envolvimento preventivo dos dirigentes sindicais e ministros do governo do presidente Luís Inácio Lula da Silva (Partido dos Trabalhadores - PT), que defenderam o Tribunal Regional do Trabalho (TRT) como árbitro final das demandas dos trabalhadores. Na realidade, isso significou inevitavelmente a supressão da luta dos trabalhadores em prol da empresa e a imposição dos cortes.

Durante a greve iniciada em outubro, os sindicatos de todas as fábricas, incluindo o SindMetalSJC na planta de São José dos Campos, promoveram junto com o governo as negociações com o TRT como uma “grande vitória” que protegeria os empregos. Após três semanas, a greve foi finalmente suprimida. Desde então, o SindMetalSJC atuou como o representante do governo Lula, promovendo a ilusão de que os investimentos das montadoras anunciados entre dezembro do ano passado e janeiro deste ano protegeriam os empregos e novos seriam anunciados.

Em 24 de janeiro, o presidente da GM internacional, Shilpan Amin, se encontrou com Lula para anunciar um investimento de R$ 7 bilhões, entre 2024 e 2028. Segundo o site agência gov, “esses valores seriam empregados em melhorias significativas na capacidade e nas condições de produção, além do desenvolvimento tecnológico, em particular nas áreas de veículos elétricos, energias renováveis e controle de poluentes”.

Na realidade, a indústria automotiva global tem usado a transição energética para realizar uma reestruturação massiva, combinando investimentos bilionários com cortes de empregos, salários e benefícios. Os anúncios de investimentos no início do ano pela GM e todas as grandes montadoras ocorreu ao mesmo tempo em que o número de empregos em montadoras atingia 98,9 mil em dezembro, seu menor número desde 2006.

Apenas na fábrica da GM em São José dos Campos, o número de trabalhadores passou de 12 mil no início dos anos 2010 para um pouco mais de 3 mil hoje. Do ano passado para cá, 700 trabalhadores apenas na fábrica de São José dos Campos ingressarem em PDVs propostos pela GM e defendidos pelo sindicato.

Esse nível de empregos foi produto dos cortes massivos a partir de 2013, com o arrefecimento das políticas econômicas anticíclicas durante o governo petista de Dilma Rousseff.

Esses cortes, impossíveis sem o auxílio dos sindicatos na órbita do PT, estão sendo hoje implementados com o papel indispensável da pseudoesquerda e seus sindicatos. O SindMetalSJC e a CSP-Conlutas têm desempenhado um papel crucial ao defender os cortes sob a cobertura tóxica do nacionalismo econômico e do militarismo enquanto o governo Lula está implementando implacavelmente as políticas de austeridade para garantir a “competitividade” da indústria nacional e os interesses das grandes corporações.

A única maneira de combater a imposição de novos cortes e garantir os interesses dos trabalhadores da GM e de toda a indústria automotiva é rompendo com as organizações sindicais, que se transformaram há muito tempo em verdadeiras agências policiais dentro das fábricas.

Além disso, os trabalhadores automotivos na fábrica de São José devem conectar a sua luta àquela dos trabalhadores de toda a indústria no Brasil e internacionalmente. Em junho, os trabalhadores da Renault no Paraná entraram em greve exigindo mais empregos para acompanhar a intensificação da linha de produção. Nesta semana, os trabalhadores da maior empresa de defesa do Brasil, a Avibras, rejeitaram mais um layoff na fábrica, que fica localizada próxima a São José dos Campos e onde o SindMetalSJC tem defendido uma perspectiva militarista e chauvinista para suprimir seus interesses. Os trabalhadores da Avibras estão em greve há dois anos depois de a empresa entrar em recuperação judicial.

Nos EUA, a atual greve de 33 mil trabalhadores da Boing está acontecendo depois de a Stellantis ter anunciado a demissão de mais de 2.400 trabalhadores há um mês na fábrica de Warren Truck. Ao longo de agosto, os trabalhadores da fábrica de autopeças Dakkota Integrated Systems em Chicago realizaram uma greve poderosa que derrotou quatro acordos vendidos negociados pelo UAW.

Na Europa, milhares protestaram na Bélgica na segunda-feira contra a ameaça de fechamento de uma fábrica da Audi, enquanto na Alemanha a Volkswagen recentemente anunciou que poderá fazer o mesmo e eliminar milhares de empregos.

Esse movimento expressa uma unidade objetiva dos trabalhadores da indústria em todo o mundo. Em muitos lugares, comitês de base independentes dos sindicatos estão sendo erguidos para unificar a luta através das fronteiras nacionais. Esses comitês estão sendo unificados pela Aliança Operária Internacional de Comitês de Base (AOI-CB), lançada pelo Comitê Internacional da Quarta Internacional (CIQI) para auxiliar os trabalhadores a organizarem suas lutas internacionalmente.

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