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Publicado originalmente em 12 de agosto de 2021
“Eles gostariam que desaparecêssemos. Mas não se pode apagar quase 12.000 pessoas do mapa.” - Bob Kenney, controlador de tráfego aéreo em greve para o Bulletin, 26 de outubro de 1981.
“Reagan não só venceu a batalha. Ele venceu toda a maldita guerra.” – Douglass Fraser, presidente do UAW.
Os trabalhadores da PATCO foram lançados nas fileiras dos desempregados em meio à pior crise social desde a Grande Depressão. Os dois primeiros anos da administração Reagan marcaram um período de massacre para a classe trabalhadora.
A terapia de choque das taxas de juros do presidente do Fed, Paul Volcker, criou um redemoinho na economia industrial que, em 1982, destruiu fábricas e fazendas, cidades e vilas, e regiões inteiras. Em dezembro de 1981, havia 10,7 milhões de desempregados oficiais, ou 8,9% da força de trabalho. Em 1982, a taxa de desemprego subiu para 10,7%. Houve 2.696 demissões em massa ou fechamentos de fábricas, resultando na perda de mais de 1.287.000 empregos. [1]
O que aconteceu com as centenas de milhares de trabalhadores que foram demitidos, uma enchente de miséria humana da qual os trabalhadores da PATCO constituíram uma pequena parte? Poucos estudos sistemáticos foram feitos a esse respeito. Em uma rara exceção, um estudo da Universidade Cornell de 1982 analisou a situação de 4.700 trabalhadores demitidos na fábrica da Ford de Mahwah, no estado de Nova Jersey, em 1980. Metade dos trabalhadores horistas ainda estavam desempregados dois anos mais tarde. Entre aqueles com mais de 40 anos, 61% estavam sem trabalho; entre as mulheres, 72% estavam desempregadas. Antes da paralisação, a renda média era de US$ 21.600. Dois anos mais tarde, era menos da metade, US$ 10.400. [2]
A situação de miséria causada pelas demissões em massa foi ampliada pelos orçamentos da mais selvagem guerra de classes da história moderna. Os orçamentos de Reagan para 1981 e 1982 acabaram com os programas que ajudavam os setores mais vulneráveis da classe trabalhadora - desempregados, pobres, idosos, crianças, deficientes, veteranos do Vietnã e até mesmo mineiros aposentados que sofriam da doença conhecida como “pulmão negro”.
Ao mesmo tempo, os orçamentos proporcionaram maciços cortes de impostos aos ricos e às corporações, e aumentaram drasticamente os gastos militares. Essas políticas abertas de guerra de classes foram ajudadas e incentivadas pelo Partido Democrata, que em ambos os anos forneceu as dezenas de votos necessários para garantir sua aprovação. [3]
O objetivo declarado de criar desemprego em massa era reduzir o custo da mão-de-obra. Um após o outro, os sindicatos começaram a entrar na linha - os sindicatos dos trabalhadores das indústrias automotiva (UAW), siderúrgica (USW) e da borracha, o Teamsters (um sindicato de diversas categorias), a Federação Americana de Professores (AFT) e a Associação Nacional de Educação (NEA), além de muitos outros - renegociando contratos e impondo concessões aos trabalhadores de base.
Esses contratos foram justificados alegando que manteriam a “competitividade” dos negócios americanos ou a solvência dos vários níveis de governo. “Aceite estes cortes”, disseram os sindicatos aos trabalhadores, “ou vocês perderão os seus empregos”. Mas os trabalhadores perderam seus empregos de qualquer forma. Entre 1981 e 1982, a AFL-CIO perdeu 739.000 membros, devido, na sua esmagadora maioria, a demissões. [4]
Para os trabalhadores, o resultado catastrófico da derrota da PATCO é talvez mais claramente ilustrado pelo destino dos trabalhadores da indústria do transporte aéreo, cujos sindicatos cruzaram os piquetes da PATCO para sufocar a luta militante.
No início de agosto de 1981, com a greve da PATCO já em andamento, executivos da indústria aérea se reuniram com o Secretário de Transportes Drew Lewis e exortaram a administração Reagan a adotar um cronograma de voos de longo prazo “mesmo que isso signifique continuar com os limites [de voos] por vários meses”. Quando um repórter perguntou se as companhias aéreas não iriam diminuir os lucros com a greve e com a redução de voos, sorrisos abriram na sala, e Lewis riu. Como concluiu um historiador, “A greve permitiu que muitas companhias aéreas tomassem iniciativas que teriam sido impossíveis sem a greve... As companhias aéreas aproveitaram para se consolidar e diminuir de tamanho”, eliminando rotas, desativando aviões e reduzindo o efetivo de voos e terminais. [5]
A desregulamentação do setor aéreo realizada por Kennedy-Carter em 1978 iniciou uma vasta reorganização da indústria. Antigas companhias aéreas foram dizimadas, absorvidas por rivais, ou levadas à falência - incluindo a Eastern, TWA, Braniff, Pan American, Continental, Republic e Western. O período durante a greve da PATCO foi o pior de todos os tempos para a indústria aérea, que acumulou US$ 137 milhões em prejuízo em 1980 e mais US$ 201 milhões no primeiro trimestre de 1981.
As companhias aéreas, a começar pela Eastern e Braniff, impuseram cortes salariais maciços aos trabalhadores sindicalizados, com a ameaça de demissões se eles resistissem. Em 30 de julho, apenas quatro dias antes do início da greve da PATCO, a Associação de Pilotos de Linha Aérea (ALPA) aceitou cortes no valor de US$ 75 milhões, incluindo a redução para dois pilotos nos Boeing 737 e um aumento das horas de voo de 62 para entre 81 e 85 por mês.
Enquanto isso, o presidente da Associação dos Funcionários de Linhas Aéreas, Victor Herbert, levou para casa US$ 98.585 em 1982. O presidente da ALPA, Henry Duffy, recebeu US$ 246.557 em 1983, e outros US$ 74.737 em “despesas”, fazendo dele o burocrata sindical mais bem pago dos EUA. Seu “primeiro vice-presidente”, G.A. Pryde, levou para casa US$ 130.818. [6]
O fracasso dos sindicatos da indústria aérea em defender a PATCO custou caro a seus próprios trabalhadores, mas isto não foi o resultado de uma política equivocada. Esses sindicatos, como todos os outros nos anos 1980, estavam ocupados em dissociar-se dos trabalhadores que supostamente representavam, assegurando novas fontes de riqueza e renda. Em todos os casos, os sindicatos da indústria aérea negociaram cortes salariais e de benefícios em troca de novas fontes de renda controladas pela burocracia sindical.
A Pan American Airlines em 1981 vendeu 11 milhões de ações, o que correspondia a 13% da empresa, a um ESOP (Programa de Propriedade de Ações dos Empregados) gerido pelo sindicato. Foram desenvolvidas uma série de organizações capital-trabalho. Mas, em 1985, a administração não cumpriu com os aumentos salariais prometidos.
Em 1983, a ameaça de falência levou a negociações de crise com os cinco sindicatos da Western Airlines. Os sindicatos fizeram concessões maciças e concordaram com a eliminação das normas trabalhistas. Em troca, eles receberam quatro cadeiras no conselho da companhia aérea ameaçada de falência, bem como a participação nos lucros e a aquisição de ações. As ações recebidas equivaliam a metade do valor dos cortes salariais, “pagos de volta” na forma de ações da empresa. Desta forma, os funcionários da Western ganharam 32% das ações da companhia aérea moribunda.
A participação cada vez maior dos sindicatos no controle proprietário deu um grande passo em 1985, quando a ALPA, a Associação Internacional de Mecânicos (IAM) e o Sindicato dos Trabalhadores dos Transportes (TWU) abriram o caminho para a aquisição da companhia aérea TWA por Carl Icahn, um explorador corporativo. Os sindicatos negociaram concessões salariais de US$ 200 milhões por ano por 20% das ações ordinárias da TWA e, teoricamente, uma participação de 20% nos lucros por três anos, bem como outras opções de ações e uma participação nos lucros de Icahn no caso de uma venda da companhia aérea. O “sucesso” dos sindicatos foi sua capacidade de trocar “salários e concessões de condições de trabalho necessários para atrair capital externo”, como escreveu uma análise.
E assim continuou.
Em 1993, a Northwest Airlines negociou US$365 milhões em cortes salariais para os pilotos durante três anos em troca de ações da empresa e três cadeiras no conselho corporativo.
Em 1994, a United Airlines ofereceu 55% da propriedade aos funcionários em troca de um corte salarial de 16% para os pilotos, um corte de 10% para os mecânicos e uma promessa de não realizar greves por seis anos. Os sindicatos também conseguiram três cadeiras no conselho de administração da empresa.
Talvez a derrota mais devastadora de todas tenha sido a sofrida pelos trabalhadores da Eastern Airlines. Em dezembro de 1983, três sindicatos representando 37.500 empregados (mecânicos, assistentes de bordo e pilotos) concordaram em cortar os salários em US$367 milhões, uma redução salarial entre 18% e 22%, em troca de 25% das ações da empresa e cadeiras para quatro funcionários do sindicato no conselho corporativo.
Não obstante, as dificuldades financeiras aumentaram, e em 1985 a ALPA concordou com um corte salarial de 20%, bem como com uma redução salarial para os novos contratados. A Eastern ainda foi vendida ao especulador inescrupuloso Frank Lorenzo e à Texas Air, que já haviam absorvido a Continental, impondo concessões salariais massivas de 50%.
Lorenzo imediatamente começou a transferir parte das operações da Eastern para suas operações de baixo custo na Continental e Texas Air. A IAM suplicou a Lorenzo em negociações durante meses antes de autorizar uma greve em 1989 e, pela primeira vez nos anos 1980, a ALPA se recusou a cruzar os piquetes de greve. Mas a AFL-CIO também sabotou essa greve, realizando apenas uma campanha desmoralizante chamada “Justiça na Eastern”. Para lidar com a greve, Lorenzo simplesmente declarou falência. Os tribunais e a administração Bush apoiaram a corporação, e os trabalhadores sindicalizados perderam não apenas seus empregos, mas também suas pensões e benefícios.
Um funcionário desesperado da Eastern escreveu a seu congressista da Geórgia em 1991:
Nosso auxílio-desemprego vai acabar em julho. Muitos de nós ficamos sem seguro de saúde ou de vida e agora estamos muito perto de perder nossas casas. Muitos de nós estamos na faixa etária dos 50 anos e assistimos impotentes a tudo o que construímos por tanto tempo e com afinco se desintegrar lentamente diante de nossos olhos.
Quanto aos controladores de tráfego aéreo da PATCO, a classe dominante americana nunca os perdoou pela posição determinada que tomaram contra os ataques da administração Reagan.
Em 23 de dezembro de 1982, apenas dois dias antes do Natal e um ano após a derrota total da greve, um juiz federal apreendeu US$ 4 milhões em doações em apoio às famílias necessitadas dos controladores. As doações foram enviadas pelo correio e transferidas para os grevistas por trabalhadores nos EUA e internacionalmente. O juiz admitiu que as doações não eram propriedade da falida e descertificada PATCO, e em vez disso pertencia a ex-membros individuais do sindicato. No entanto, ele declarou que esta pequena quantia de dinheiro tinha que ser entregue às companhias aéreas.
“Permitir a devolução das doações aos membros do sindicato que tenham agido em claro desafio à lei estabelecida seria recompensar os membros da PATCO por sua ação ilegal”, decidiu o Juiz Roger M. Whelan.
Em 1986, um terço dos membros da PATCO ganhava tão pouco que suas famílias se qualificavam para receber assistências alimentares. [7] Naquele ano, o Deputado Republicano Guy Molinari apresentou um modesto projeto de lei que teria permitido que 1.000 dos 12.000 trabalhadores da PATCO se candidatassem a empregos como controladores de tráfego aéreo da FAA. A medida foi derrotada pela Câmara dos Deputados, controlada pelo Partido Democrata, por 226 a 193.
A proibição de recontratação dos grevistas da PATCO foi oficialmente revogada pela administração Clinton somente em 1993. Isso representou um ato final de humilhação. No prazo de um ano, cerca de 40% dos controladores se candidataram de novo para trabalhar na FAA. Entretanto, eles descobriram que “suas solicitações foram processadas sem preferência” e, logo no ano seguinte, em 1994, a FAA impôs um congelamento sistemático das contratações. Apenas 37 dos controladores da PATCO foram recontratados.
O sindicato que substituiu a PATCO na indústria aérea, a Associação Nacional de Controladores de Tráfego Aéreo (NATCA), nunca poderia reivindicar a ficção de ser um “sindicato livre”. Era uma organização criada e controlada pelo Estado e povoada de fura-greves. Desde o início prometeu que nunca realizaria uma greve “ilegal” como a da PATCO - em outras palavras, nunca autorizaria uma greve de forma alguma.
As condições de trabalho dos controladores de tráfego aéreo só pioraram. De 1981 a 1985, o número de voos aumentou de 66,7 milhões para 71,4 milhões. No mesmo período, o número de controladores de tráfego aéreo de “nível de rendimento integral” (FPL) caiu de 13.205 para 8.315. Em 1988, apesar do aumento de voos, ainda havia muito menos controladores de FPL do que em 1981, apenas 8.904 no total. [8]
As consequências desta grave falta de pessoal foram tragicamente reveladas em 2006 em Lexington, Kentucky, quando um voo da Comair caiu depois de tentar decolar da pista errada, matando todos os 47 passageiros e dois dos três membros da tripulação. Após informar corretamente ao avião a pista correta, o único controlador de tráfego aéreo de plantão passou a realizar outras tarefas, como exigido pelo protocolo da FAA.
Quando a greve da PACTO estava prestes a completar 30 anos, em abril de 2011, a mídia revelou um escândalo de incidentes de controladores de tráfego aéreo que adormeciam no trabalho. O Presidente Obama, que parecia ignorar o aniversário da greve da PATCO, rapidamente se junto a essa campanha hipócrita para atacar os controladores.
“Os indivíduos que estão adormecendo no trabalho, isso é inaceitável”, disse Obama. “O fato é que, quando você é responsável pela vida e segurança das pessoas no ar, é melhor fazer seu trabalho. Portanto, há um elemento de responsabilidade individual que tem que ser tratado.”
O caso mais significativo ocorreu em 23 de março de 2011, quando o voo 1012 da American Airlines de Miami e o voo 628 da United Airlines de Chicago pediram permissão para pousar no Aeroporto Nacional Ronald Reagan de Washington. Após repetidas tentativas de sinalizar à torre de controle, os voos foram forçados a pousar sem assistência. Ninguém foi ferido entre os cerca de 165 passageiros e tripulação dos dois voos. Após este incidente ter chegado à atenção do público, foi revelado que havia uma série de outros casos de controladores cochilando durante o ano anterior.
Obama não considerou o fato de que os controladores poderiam estar sobrecarregados de trabalho. Mas um estudo recente do Conselho Nacional de Segurança dos Transportes (NTSB) descobriu que 61% dos controladores de tráfego aéreo tinham horários de trabalho “contrários aos horários normais de sono”. Uma reportagem da mídia na época resumia uma semana típica na vida de um controlador de tráfego aéreo: “Um cronograma de trabalho pode ter este formato: No primeiro dia, início do turno às 15h; no segundo dia, início às 14h; no terceiro dia, às 7h; no quarto dia, às 6h. O trabalhador pode retornar ao trabalho para um quinto turno às 22h para ter um fim de semana mais longo, disse a diretoria.”
A falta de funcionários continua até hoje. A NATCA, que funciona principalmente como uma organização de lobby, relata grave escassez de pessoal nas torres de controle aéreo americanas. Em 2019, disse que a categoria de Controlador Profissional Certificado (CPC) estava com a menor quantidade de funcionários em 30 anos.
A FAA, por sua vez, diz que 14.000 controladores de tráfego aéreo estão trabalhando nos EUA – um número menor do que em 1981. A dificuldade de aprender a profissão significa que muitos estudantes nunca completam o treinamento da Academia da FAA ou desistem após um curto período no trabalho. A NATCA relata que os controladores “nas instalações mais importantes são obrigados a trabalhar horas extras obrigatórias a fim de manter a capacidade atual”.
Conclusão
A greve da PATCO anunciou o fim definitivo do período de relativo compromisso de classe e reforma social que prevaleceu nos EUA e em outros países industriais avançados desde o fim da Segunda Guerra Mundial. A partir daquele momento, a classe capitalista realizou uma ofensiva implacável para reverter os ganhos que a classe trabalhadora obteve ao longo de décadas de luta.
Apenas 10 dias após o início da greve da PATCO, o Comitê Político da Workers League publicou uma declaração no Bulletin intitulada “A Greve da PATCO: Um Alerta à Classe Trabalhadora”, que dizia:
A greve de 13.000 membros da Organização Profissional de Controladores de Tráfego Aéreo é um ponto de inflexão histórico para a luta da classe trabalhadora nos Estados Unidos e internacionalmente. É o primeiro grande confronto político entre a classe trabalhadora americana e o governo.
Após décadas nas quais a luta de classes nos EUA foi totalmente rejeitada ou minimizada, na qual o trabalhador americano foi retratado como tendo se tornado a classe média, na qual os EUA foram considerados a grande exceção em um mundo em fermentação revolucionária, a greve da PATCO explodiu todos esses mitos.
A greve dos controladores aéreos demonstrou que, sob a aparência de estabilidade política e conservadorismo, as mais insolúveis contradições sociais e econômicas de qualquer país capitalista têm crescido...
Ao mesmo tempo, a máscara da democracia e do governo “do povo, pelo povo e para o povo” está caindo, e o Estado capitalista está se revelando pelo que é: um instrumento de opressão das massas em prol dos interesses de um punhado minúsculo de bilionários.
Os trabalhadores são presos, suas mãos e pés acorrentados; seu sindicato é descertificado por fazer o que 95% dos membros votaram; multas punitivas são aplicadas com o objetivo de confiscar todos os bens do sindicato e entregá-los ao governo ou às companhias aéreas; agentes do FBI e policiais federais monitoram os piquetes e visitam os trabalhadores e suas famílias em suas casas para intimidá-los.
Uma conclusão política acima de tudo deve ser tirada da greve da PATCO: longe de ser uma aberração ou exceção, ela revela a verdadeira essência das relações de classe nos Estados Unidos.
A classe dominante está atacando todos os direitos básicos dos trabalhadores - serviços sociais, empregos, normas de segurança, padrões de vida e agora o direito à organização sindical - e invocando os poderes repressivos e a violência do Estado capitalista para fazer valer esses ataques.
A classe dominante conta com os burocratas sindicais para sabotar a luta da classe trabalhadora contra o governo. Essa sabotagem toma a forma, não apenas de um ataque aberto à greve como na luta dos controladores de tráfego aéreo, mas, acima de tudo, mantendo a classe trabalhadora politicamente marginalizada, apoiando o sistema bipartidário capitalista.
Os sindicatos e todas as antigas organizações da classe trabalhadora de base nacional desempenharam um papel fundamental neste retrocesso social. A cumplicidade da AFL-CIO com o governo Reagan e sua rejeição das reivindicações populares para ampliar a luta da PATCO estabeleceu o padrão para todas as lutas operárias dos EUA nos anos 1980 e 1990. Em uma situação após a outra, os sindicatos isolaram, traíram e ajudaram a derrotar as greves, apesar da dura resistência da classe trabalhadora.
O mesmo processo se desenvolveu em todo o mundo, talvez de forma mais semelhante no Reino Unido, onde em 1985 o Congresso dos Sindicatos (TUC) assistiu à primeira-ministra Margaret Thatcher esmagar os mineiros, o que preparou o cenário para a destruição das indústrias e do padrão de vida da classe trabalhadora.
Em todos os lugares, os velhos partidos trabalhistas e socialdemocratas abraçaram completamente as exigências dos financistas e ajudaram a encher os bolsos dos ricos, empobrecendo os trabalhadores. Na África, América Latina e Ásia, os velhos movimentos de libertação nacional seguiram o mesmo caminho, eliminando os planos de substituição de importações e a indústria nacionalizada e competindo uns contra os outros sobre quem poderia fornecer ao imperialismo a mão-de-obra mais barata e os recursos naturais mais lucrativos do “seu” povo.
O exemplo mais abrangente desta transformação ocorreu na União Soviética. Como Leon Trotsky havia advertido mais de 50 anos antes, a burocracia stalinista acabou desmantelando as relações de propriedade estabelecidas pela Revolução de Outubro de 1917, convertendo-se em uma nova classe dominante capitalista.
O laço que liga esses processos é a transformação de burocracias sindicais e partidos políticos de organizações que, dentro de limites estreitos e historicamente definidos, defenderam os interesses dos trabalhadores, em instrumentos abertos de opressão de classe. Por trás disso, por sua vez, estava a integração global sem precedentes da produção, que intensificou a contradição entre a economia global e o Estado-nação e tornou todos os programas nacionalistas impotentes e reacionários.
Nos EUA, os sindicatos oficiais responderam conscientemente ao declínio da posição econômica mundial do capitalismo americano, oferecendo seus serviços à elite corporativo-financeira, colaborando no esforço de tornar as corporações americanas globalmente competitivas às custas diretas dos empregos, salários e condições de trabalho dos trabalhadores americanos.
No início dos anos 1990, os sindicatos não podiam mais ser considerados genuinamente organizações operárias, mesmo em um sentido defensivo limitado. Ao tirar as implicações do colapso dos sindicatos e da traição contrarrevolucionária final da burocracia soviética, a Workers League e seus colaboradores no Comitê Internacional da Quarta Internacional (CIQI) tomaram a decisão, nos anos 1990, de transformar suas organizações de ligas para partidos. Foi a vez do movimento trotskista mundial, o Comitê Internacional da Quarta Internacional, lutar diretamente pela direção da classe trabalhadora.
Com base nas lições da história e numa análise objetiva da posição real dos sindicatos na economia política global, o CIQI foi capaz de prever que um novo movimento da classe trabalhadora surgiria, e que entraria em conflito com os aparatos sindicais onde quer que eles ainda existissem. A forma inicial que isso assumiria, o CIQI também previu, seria através de uma rebelião de trabalhadores de base.
Em abril de 2021, o Comitê Internacional da Quarta Internacional lançou a iniciativa da Aliança Operária Internacional de Comitês de Base. “A AOI-CB”, escreveu, “irá trabalhar para desenvolver a estrutura para novas formas de organizações de base independentes, democráticas e militantes de trabalhadores em fábricas, escolas e locais de trabalho em escala internacional. A classe trabalhadora está pronta para lutar. Mas está acorrentada por organizações burocráticas reacionárias que reprimem toda a expressão de resistência.”
A importância da formação da AOI-CB já foi confirmada no curso da luta, mais notadamente na greve dos trabalhadores da Volvo Trucks de New River Valley, 40 anos depois da greve da PATCO. Os trabalhadores em Dublin, na Virgínia, formaram um comitê de base que derrotou três contratos e realizou duas greves. Os trabalhadores recorreram ao Partido Socialista pela Igualdade e ao World Socialist Web Site para obter apoio. Em todo os EUA e internacionalmente, eles conquistaram o apoio dos trabalhadores da indústria automotiva - incluindo significativas expressões de solidariedade dos trabalhadores belgas da Volvo.
O UAW e a Volvo encontraram um meio de se recuperar através de alguma combinação de fraude eleitoral e chantagem em uma segunda votação do já rejeitado terceiro contrato. Mas essa luta ainda não terminou. A crise do capitalismo é muito mais poderosa do que os truques sujos da burocracia sindical e de seus companheiros de cama corporativos. A greve contra a Volvo mostrou um caminho a seguir na luta independente da classe trabalhadora e na solidariedade internacional.
Como o CIQI escreveu em sua declaração Construir a Aliança Operária Internacional de Comitês de Base!:
A luta contra a pandemia, assim como contra a guerra, a desigualdade, a exploração e a ditadura, é uma luta contra toda a ordem social e econômica capitalista. Os trabalhadores de todos os países devem se unir em uma ofensiva política comum para tomar o poder, expropriar os oligarcas e estabelecer uma sociedade socialista baseada no controle racional, científico e democrático da produção.
Concluído.
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Referências
[1] Bensman, David, and Roberta Lynch. Rusted Dreams: Hard Times in a Steel Community. Berkeley: University of California Press, 1989: p. 3.
[2] Reich, Robert B, and John D Donahue. New Deals: The Chrysler Revival and the American System. New York, NY: Penguin Books, 1986: p. 260.
[3] Galenson, Walter. The American Labor Movement, 1955-1995. Westport, Conn.: Greenwood Press, 1996: p. 134.
[4] Minchin, Timothy J. Labor under Fire: A History of the AFL-CIO since 1979. Chapel Hill: The University of North Carolina Press, 2017: p. 70.
[5] Nordlund, Willis J. Silent Skies: The Air Traffic Controllers’ Strike. Westport, Conn.: Praeger, 1998: p. 114.
[6] Troy, Leo, and Neil Sheflin. U.S. Union Sourcebook: Membership, Finances, Structure, Directory, 1985: pp. 4.1-4.32.
[7] Minchin, Labor under Fire: p. 68.
[8] Nordlund, Silent Skies: p. 59.